Maglor disse:
Não, ele diz "desejo que criam juntos, em harmonia, uma Música magnífica...". Melkor não cantou em harmonia, então não fez [...]
De novo, é tudo uma questão de interpretação porque até onde eu entendo eles criaram sim uma música magnífica e em harmonia: "
E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeros coros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; [...] Nunca, desde então, os Ainur fizeram uma música como aquela [...]" Ou seja, Melkor fez sim o que Eru Ilúvatar pediu, ao menos de início. Mas eles deveriam ter cantado assim para todo o sempre? Era isso que Ele desejava? Nada foi especificado quanto ao diferente. Se era essa a melhor música que os Ainur poderiam ter criado e era da vontade dEle e continha os próprios pensamentos e recursos de todos eles em perfeita harmonia, sem falhas, então Ele deveria ter dito: "Eä!", estando satisfeito. Mas aquilo parecia não ser suficiente para Eru, apesar de lhe parecer bom, pois por muito tempo ele escutou aquela sinfonia perfeita. Foi então que surgiu o estímulo no coração de Melkor, a dissonância, a mudança na Música que não poderia ocorrer contra a vontade de Ilúvatar.
Havia problema em não aceitar sua natureza. Melkor não aceitou sua natureza de Ainu, ainda que fosse o maior. Ele queria ser um deus. É um problema [...]
Não existe problema em não querer se conformar. É muito natural um indivíduo desejar extrapolar os seus próprios limites. Seja Melkor na dissonância, Aulë com os anões, elfos com a Terra-Média ou os homens com a mortalidade. Essa é a diretriz primeira do dito livre-arbítrio fornecido por Eru, a capacidade de desejar o impossível.
Tulkas sozinho conseguia vencer Melkor. Melkor foi enxotado por ele ainda no início dos tempos [...]
Na força física, talvez, no poder em geral improvável. Melkor fugiu pois tinha medo de Tulkas, não significa que era menos poderoso.
Se a preocupação dos Valar era com a destruição que resultaria de uma guerra contra Melkor, era exatamente porque eles não podiam contê-lo, concorda? A vitória somente poderia vir com a derrota pela exaustão. Se o pudessem, não tinha problema em primeiro lugar.
Essa lógica é interessante, mas existem alguns indícios no Ainunlindalë bem fortes mostrando que Tolkien usou a idéia de tempo [...]
Lembremos que este é um livro escrito por elfos e para elfos. É claro que o autor élfico desse trecho de O Silmarillion utilizou palavras como: vozes, harpas, flautas e trombetas, sentado, sons, tempestade, tempo, etc. Achar que existiam vozes e instrumentos musicais antes mesmo de o ar e a matéria ter sido criado é forçar mesmo a barra.
Isso é um simples artifício literário do elfo que escreveu o trecho, ou mesmo a maneira como a ele foi ensinada ou descrita pelo ainu "professor", que sabendo da incapacidade do elfo de compreender um momento transcendental como aquele teve que usar de metáforas e alegorias.
Mas não aparece o principal [...]
Ou o pior, que é a única alternativa onde existe a possibilidade real e concreta de toda a realidade se tornar um completo fracasso, todos os seres se auto-condenarem à miséria e ao sofrimento e onde o mal tem a possibilidade, quase fatal, de vitória sobre o bem. Eu prefiro acreditar em um Deus bondoso e justo que garanta que isso é impossível de ocorrer.
Não, não estavam. Tanto que a morte dos elfos era algo que não estava de acordo com a natureza inicial deles. Elfos foram feitos, lá no Terceiro Tema [...]
"[...] E afinal pareceu haver duas músicas evoluindo ao mesmo tempo diante do trono de Ilúvatar, e elas eram totalmente díspares. Uma era profunda, vasta e bela, mas lenta e mesclada a uma tristeza incomensurável, na qual sua beleza tivera principalmente origem. [...]"
Seres que estão predestinados a serem lindos, perfeitos, felizes, alegres a saltitantes são incompatíveis com seres dotados de uma tristeza incomensurável. Tristeza conota em pesar, em dor, em sofrimento. Essa era a natureza dos elfos, prevista na própria música, antes de sua criação e testemunhada pelos ainur, que sabiam de sua importância antes de sua chegada, pois a música não era o futuro do mundo mas o seu destino e muito do que iria acontecer estava nitidamente previsto na visão. Era o destino inevitável do mundo.
Cësarin disse:
[...] eu não sou um ser criado por Illúvatar e, por isso mesmo, as limitações que ele inventou pros filhos dele de maneira alguma se aplicam a mim, e tão-pouco a você. Parece que você está se inserindo no contexto e se considerando um filho Dele [...]
Cara tipo... não leva isso a sério. É para tornar a discussão mais descontraída... Se não tá funcionando então vou parar. Mas não sou louco não...
O problema é que, como você mesmo lembrou ao dizer que Tolkien era católico fervoroso e imprimiu muito de sua crença em sua obra, o Deus de Tolkien é o Deus católico, Eru é Jeová, segundo o próprio Tolkien. Então pouco me importa se você acredita em Deus ou não, o que importa é a equivalência entre os dois que você deve admitir ela.
É perfeitamente possível um ser de poder absoluto, mas de conhecimento limitado
Um ser onipotente é onisciente e onipresente por definição. Onipotência é a capacidade de tudo, capacidade de saber tudo e capacidade de estar em tudo. Um ser onipotente não pode ser pela lógica limitado em nenhum aspecto.
Não vejo por que Ele criaria todo um teatro, posto que sabia tudo que aconteceria de antemão
Não vê porque você é um ser limitado, com uma mente limitada enclausurada em um corpo limitado, como todos nós aqui o somos. Por que seria entediante para um autor ler a sua própria obra publicada?
creio que ao fim da primeria dissonância Eru sorria porque estava préstes a maravilhar os ainur com outra de suas invenções; do contrário ele teria sorrido na segunda e terceira dissonâncias.
Somente existiram duas dissonâncias, aquela aplicada ao Primeiro Tema e aquela aplicada ao Segundo Tema. Não houve uma dissonância aplicada ao Terceiro Tema que se refere à criação dos elfos e dos homens, de total e inteira responsabilidade de Eru Ilúvatar. Se você ler com cuidado o trecho você verá que após o surgimento do Terceiro Tema tanto a dissonância quanto Melkor e os próprios ainur perdem total importância e a única coisa que é trabalhada é a natureza e conflito dos eruhíni.
Maglor disse:
Ela necessariamente não inclui o mal, mas a forma exata que ela vai ter é impossível de se saber (apenas por dedução).
Ainda assim sobre essa ótica, não faria diferença no final. Se no final não existe o mal, tudo que resta é o bem. Se tudo que resta é o bem, a felicidade é completa, imutável, eterna e universal.