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[SÉTIMO LIVRO] Esaú e Jacó (Machado de Assis)

Nessa semana vimos aumentar ainda mais a participação de Aires. Personagem que chegou de forma discreta, mas que tem exercido grande influência sobre os gêmeos. Machado mostra os rapazes interagindo mais com o ex-diplomata conselheiro do que com o próprio pai.

O caso do burro, Cap 41, é muito interessante, e tem uma passagem que evoca a liberdade no estilo "dominas meu direito de ir e vir, mas não minha mente":
Enquanto te esfalfas em ganhar a vida, eu vou pensando que o teu domínio não vale muito, uma vez que não me tiras a liberdade de teimar.

No cap.43, como observado pelo JLM, temos a confirmação de que Natividade realmente teme por ter um filho liberal, republicano. O interessante é que Pedro dá apoio ao artigo do irmão, mas Machado não deixa claro se é por solidariedade ou para comprometer Paulo e vê-lo em apuros.

Na prática a preocupação não adiantou muito, pois como vimos no Cap. 47, os conservadores (Império) caíram mesmo. Aqui, Machado retratou bem, através de Batista, o costume da elite política brasileira de ficar sempre ao lado do poder. Como Claudia, esposa de Batista, afirma:

- Você estava com eles, como a gente está em um baile, onde não é preciso ter as mesmas idéias para dançar a mesma quadrilha.

Ou seja, Batista possuía ideais liberais, mas estava do lado dos conservadores em nome do benefício próprio. Pelo visto, não é de hoje que ideologias mudam rapidamente em se tratando de um cargo político ¬¬

Não imaginei que Esaú e Jacó tivesse um teor histórico-político tão intrínseco ao enredo.

Mudando de assunto, no capítulo 48 Machado faz um desabafo contra a velhice:
Deixa lá dizerem os filósofos que a velhice é um estado útil pela experiência e outras vantagens. Não envelheças amiga minha, por mais que os anos te convidem a deixar a primavera; quando muito, aceita o estio
Desta vez, nem usa o recurso de falar pelo personagem, Machado mesmo reclama do "inverno" da vida.XD

Há neste capítulo mais uma alusão histórica. Todos vão ao "Baile da Ilha Fiscal", que ocorreu no dia 9 de novembro de 1889, em homenagem aos oficiais do navio chileno "Almirante Cochrane". Foi a última grande festa da monarquia antes da Proclamação da República. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Baile_da_Ilha_Fiscal)

Flora fica encantada com todo luxo e pompa da festa, e mostrou inveja profunda da Princesa, não tanto pela sua posição, mas pela liberdade de mandar e desmandar em sua própria vida. Aparece então o conselheiro Aires, e diz a moça:
- Toda alma livre é imperatriz.
Singelo, profundo e conciso. Isso é Machado em seu apogeu literário. XD


E por fim, o cap 49, onde Machado usa mais uma metáfora para demonstrar as mudanças ocorridas naquela época. A tabuleta da Confeitaria do Sr. Custódio precisava de uma reforma, mas o estado da tal tabuleta era tão deplorável que não sobrou alternativa senão trocar por uma nova. Fica claro aí que ele se refere ao fim do regime imperial e a proclamação da República. Custódio fica desalentado, gostava da tabuleta antiga. Aires por sua vez aconselha:
- Está bom, lá vai; agora é receber a nova, e verá como daqui a pouco são amigos.

E Custódio:
Diante da confeitaria deteve-se um instante, para ver o lugar onde estivera a tabuleta velha. Deveras tinha saudades.
G-E-N-I-AL

Ufa! Acho que me empolguei, mas a cada semana a leitura fica mais fascinante. Não tem como não comentar :timido:
 
semana de 27/04

notaram como os capítulos desta semana os irmãos gêmeos deixaram de serem os protagonistas (se é q já foram antes) e a ação fugiu do rumo algumas vezes?

1º no cap. 40 aparece uma justificativa mais profunda pra história do gatuno do cap. 39. a ação neste cap., assim como no c42, fica focada no flashback histórico-geográfico-amoroso de aires. dos capítulos 46 ao 49 ñ se fala especificamente dos gêmeos como protagonistas, mas eles passam a ser personagens secundários, esporádicos, mesmo q em tese o livro gire em torno deles. essa mudança de focos, saindo totalmente daquilo q se espera seguir linearmente, é algo q pega o leitor/leitora desprevenidos...

2º no c41 a alusão ao burro, como o sammy disse. interessante q veio na hora duas outras passagens com burros sendo espancados: a bíblica, onde um anjo fez o bichinho literalmente falar com o dono, e a q envolveu nietzche, q segundo alguns afirmam de pés juntos, foi oq fez ele pirar.
frase marcante disse:
o olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio.

3º no c43, o foco são os pais, ou melhor, a importância q estes dão ao discurso de paulo.
frase marcante disse:
a opinião é um velho óleo incorruptível.

4º o meu ponto alto da semana, no c44 mostra um problema mto comum aos escritores, e até a todos os q escrevem na internet hj, a interpretação errônea de seus escritos. simplesmente fantástica a conclusão:
aires disse:
...o que importa é que cada um tenha as suas idéias e se bata por elas, até que elas vençam. agora que outros as interpretem mal é cousa que não deve afligir o autor.

5º no c47, caso tenham preguiça de olhar ou lembrar o texto bíblico, fala das 3 tentações q o diabo fez a cristo. no cap. o papel de diaba tentadora fica com d. cláudia.
frase marcante disse:
batista, se tivesse de ceder, cederia à mulher ou ao diabo, sinônimos neste capítulo. não cedeu de fraqueza.

6º no c48 MA alterna tantas vezes entre leitor e leitora q fica impossível afirmar q foi um lapso ou erro. claro q foi intencional, a frase/parágrafo q ele se dirige a um homem, como se estivesse numa conversa a três, são diferentes das q ele dirige a mulher.
 
JLM disse:
**Maniaca do Miojo** disse:
ou oq ela vai aprontar pra conquistar ambos. :sacou:

ah XD
tá bom q Machado não descreve as mulheres com bom olhos :anjo:
todavia, quem são os pestes da história são os gêmeos :P

olha oq eu disse antes se confirmando no capítulo xxxv: "paulo gostava mais de conversa que de piano; flora conversava. pedro ia mais com o piano que com a conversa; flora tocava. [...] flora é que fazia de orfeu, ela é que era a cantiga. oportunamente, escolheria a um deles, pensava a mãe."

Pois é, ela vai fazer o papel de controladora, bem, será que ela querer os dois?


sammynewton disse:
E o Aires? Personagem interessante, não?

A dúvida que fica é porque um homem tão afável com as mulheres tenha ficado solitário. O que poderia ter dado errado entre ele e Perpétua?

Eu penso que foi opcional, ele parece não gostar de ser preso.

sammynewton disse:
JLM disse:
frase marcante disse:
batista, se tivesse de ceder, cederia à mulher ou ao diabo, sinônimos neste capítulo. não cedeu de fraqueza.

Achei essa frase bem machista, comparando as mulheres ao diabo. O que o publico feminino tem a dizer?XD

hehehehe
não falei que Machado gosta de por a mulher como ser depravador
isso é errado :anjo:

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

No Capi. XLIII ~O Discurso
deu para ver o que o sammy dizia da Natividade, o medo dela por causa do discurso pró republicano de Paulo

Só não entendi o sentido de LIBERAL DE 1848?
o que será q significa?

Deu para notar agora:
de uma lado Paulo-República-idéias inovadoras
do outro lado Pedro-Monarquia-idéias coloniais como Machado escreveu
nem imaginava que ia tomar esse rumo a história, agora com política no mei que vai dar briga =D

Cap. XLVII

"não haver nada mais parecido com um conservador do que um liberal e vice-versa..."


Pertinente essa reflexão, hien?

Ve o Lula xD
era liberal, revolucionário, ...
e agora?
é
boa reflexão :sim:

A história cada vez fica melhorar e cheia de acontecimentos interessantes =D
 
RE: semana de 27/04

sammynewton disse:
JLM disse:
frase marcante disse:
batista, se tivesse de ceder, cederia à mulher ou ao diabo, sinônimos neste capítulo. não cedeu de fraqueza.

Achei essa frase bem machista, comparando as mulheres ao diabo. O que o publico feminino tem a dizer?XD

sei ñ, sammy, eu já encarei diferente a comparação. a mulher no cap. é a tentadora, a astuciosa, a q, provavelmente, tinha mais razão q o marido. assim, a comparação, longe de soar machista, foi um elogio à esposa do batista. alguém mais cristão dq eu encararia como um sinal de menosprezo.
 
Interessante o olhar de Aires sobre o burro, no capítulo XLI:

"Nos olhos redondos do animal viu Aires uma expressão profunda de ironia e paciência. Pareceu-lhe o gesto largo de espírito invencível. Depois leu neles este monólogo; "Anda, patrão, atulha a carroça de carga para ganhar o capim de que me alimentas. Vive de pé no chão para comprar as minhas ferraduras. Nem por isso me impedirás que te chame um
nome feio, mas eu não te chamo nada; ficas sendo sempre o meu querido patrão. Enquanto te esfalfas em ganhar a vida, eu vou pensando que o teu domínio não vale muito, uma vez que me não tiras a liberdade de teimar..."
— Vê-se, quase que se lhe ouve a reflexão, notou Aires consigo.

Depois riu de si para si, e foi andando. Inventara tanta coisa no serviço diplomático, que talvez inventasse o monólogo do burro. Assim foi; não lhe leu nada nos olhos, a não ser a ironia e a paciência, mas não se pôde ter que lhes não desse uma forma de palavra, com as suas regras de sintaxe. A própria ironia estava acaso na retina dele. O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio."


Aires é um personagem interessante, gosto das observações feitas por ele. Como já comentaram, acho que ele tem um pouco do Machado sim... quanto à questão de estar só, acredito que seja pelo fato de não querer de prender mesmo. Por enquanto ele me pareceu um personagem mais preocupado com aquilo que vê e escreve, talvez não se apegue tanto à relacionamentos.

"O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio." - engraçado, como é um livro do Machado, resolvi usar um marcador de páginas dele, que ganhei em uma ida à Livraria Cultura. Quando bati o olho nesta frase notei que não era estranha, está no marcador ,) Escaneei para vocês verem, está no anexo.
-
"O discurso é que ele não esqueceu, mas quem é que esquece os discursos que faz? Se são bons, a memória os grava em bronze; se ruins, deixam tal ou qual amargor que dura muito. O melhor dos remédios, no segundo caso, é supô-los excelentes, e, se a razão não aceita esta imaginação, consultar pessoas que a aceitem, e crer nelas. A opinião é um velho óleo incorruptível."
Destaquei este trecho por ser corriqueiro para muitos. Ao fazer um discurso, independente da situação, quando obtemos êxito é uma festa, ficamos com aquela coisa na memória, uma sensação boa. Quando o êxito não vem, permanece aquela ideia de que alguém pode gostar (a não ser em casos onde a pessoa simplesmente desiste do próprio discurso).

No capítulo seguinte, XLIV, há uma fala de Aires que está mais ou menos na mesma linha do trecho anterior:

"— Não vale a pena, moço, o que importa é que cada um tenha as suas idéias e se bata por elas, até que elas vençam. Agora que outros as interpretem mal é coisa que não deve afligir o autor."

Machado gosta de falar sobre características de um autor. Estas provavelmente se aplicavam à ele.
-
"Bem sei que há gente para quem a dança é antes um prazer dos olhos. Nem as bailadeiras são outra coisa mais que mulheres de ofício. Também eu, se é lícito citar alguém a si mesmo, também eu acho que a dança é antes prazer dos olhos que dos pés, e a razão não é só dos anos longos e grisalhos, mas também outra que não digo, por não valer a pena. Ao cabo, não estou contando a minha vida, nem as minhas opiniões, nem nada que não seja das pessoas que entram no livro. Estas é que preciso pôr aqui integralmente com as suas virtudes e imperfeições, se as têm. Entende-se isto, sem ser preciso notá-lo, mas não se perde nada em repeti-lo."
Quando comentamos sobre os personagens, o fato do autor fugir do maniqueísmo - a frase em negrito relembra esta característica.
-

Já comentaram sobre a preocupação de Natividade para com as ideias políticas do filho. Gosto de ver essa oposição de ideias dos gêmeos, ainda mais dentro do tema - garante boas discussões! Além de relembrar fatos históricos importantes do nosso país. Tenho matado a saudade dos estudos de história com este livro, saio pesquisando todas as datas importantes ali comentadas (só não posto aqui porque já foram postadas, mas se achar algo novo coloco aqui!).

Interessante também o tal baile. Natividade toda preocupada com os preparativos, enfim, com o "físico" da festa, e D. Claudia preocupada com o lado político.

Ah, Machado adora citar os clássicos. Tenho reparado que a frequência destes tem aumentado com o decorrer do livro, e não me lembro de terem comentado aqui. Se não me engano, nos capítulos desta semana há uma citação para Ilíada e Odisséia, no capítulo XLV:

"No fim do almoço, Aires deu-lhes uma citação de Homero, aliás duas, uma para cada um, dizendo-lhes que o velho poeta os cantara separadamente, Paulo no começo da Ilíada:
— "Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu, cólera funesta aos gregos, que precipitou à estância de Plutão tantas almas válidas de heróis, entregues os corpos às aves e aos cães..."
Pedro estava no começo da Odisséia:
— "Musa, canta aquele herói astuto, que errou por tantos tempos, depois de destruída a santa Ílion...""


E Macbeth, no capítulo XLVIII:

A imaginação de Batista era menos longa que a de Natividade. Quero dizer que ia antes do princípio do século, Deus sabe se antes do fim do ano. Ao som da música, à vista das galas, ouvia umas feiticeiras cariocas, que se pareciam com as escocesas; pelo menos, as palavras eram análogas às que saudaram Macbeth: — "Salve, Batista, ex-presidente de província!" — "Salve, Batista, próximo presidente de província!" — "Salve, Batista, tu
serás ministro um dia!" A linguagem dessas profecias era liberal, sem sombra de solecismo. Verdade é que ele se arrependia de as escutar, e forcejava por traduzi-las no velho idioma conservador, mas já lhe iam faltando dicionários. A primeira palavra ainda trazia o sotaque antigo: "Salve, Batista, ex-presidente de província!" mas a segunda e a última eram ambas daquela outra língua liberal, que sempre lhe pareceu língua de preto. Enfim, a mulher, como lady Macbeth, dizia nos olhos o que esta dizia pela boca, isto é, que já sentia em si aquelas futurações. O mesmo lhe repetiu na manhã seguinte, em casa. Batista, com um sorriso disfarçado, descria das feiticeiras, mas a memória guardava as palavras da ilha: "Salve, Batista, próximo presidente!" Ao que ele respondia com um suspiro: Não, não, filhas do Diabo...
 
Lethaargic disse:
"O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio." - engraçado, como é um livro do Machado, resolvi usar um marcador de páginas dele, que ganhei em uma ida à Livraria Cultura. Quando bati o olho nesta frase notei que não era estranha, está no marcador ,) Escaneei para vocês verem, está no anexo.

Olha só a coincidência, ontem chegaram minhas compras e o marcador era bem esse, lembrei na hora do livro :grinlove:
 
Anica disse:
Lethaargic disse:
"O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio." - engraçado, como é um livro do Machado, resolvi usar um marcador de páginas dele, que ganhei em uma ida à Livraria Cultura. Quando bati o olho nesta frase notei que não era estranha, está no marcador ,) Escaneei para vocês verem, está no anexo.

Olha só a coincidência, ontem chegaram minhas compras e o marcador era bem esse, lembrei na hora do livro :grinlove:

[size=small]Tbm tenho esse marcador \o/[/size]
 
Lethaargic disse:
E Macbeth, no capítulo XLVIII:

A imaginação de Batista era menos longa que a de Natividade. Quero dizer que ia antes do princípio do século, Deus sabe se antes do fim do ano. Ao som da música, à vista das galas, ouvia umas feiticeiras cariocas, que se pareciam com as escocesas; pelo menos, as palavras eram análogas às que saudaram Macbeth: — "Salve, Batista, ex-presidente de província!" — "Salve, Batista, próximo presidente de província!" — "Salve, Batista, tu
serás ministro um dia!" A linguagem dessas profecias era liberal, sem sombra de solecismo. Verdade é que ele se arrependia de as escutar, e forcejava por traduzi-las no velho idioma conservador, mas já lhe iam faltando dicionários. A primeira palavra ainda trazia o sotaque antigo: "Salve, Batista, ex-presidente de província!" mas a segunda e a última eram ambas daquela outra língua liberal, que sempre lhe pareceu língua de preto. Enfim, a mulher, como lady Macbeth, dizia nos olhos o que esta dizia pela boca, isto é, que já sentia em si aquelas futurações. O mesmo lhe repetiu na manhã seguinte, em casa. Batista, com um sorriso disfarçado, descria das feiticeiras, mas a memória guardava as palavras da ilha: "Salve, Batista, próximo presidente!" Ao que ele respondia com um suspiro: Não, não, filhas do Diabo...

No livro que tenho ele fala um pouco de Lady Macbeth, vou transcrever aqui, pode ajudar na compreensão do texto citado:

Lady Macbeth: Personagem do drama de Shakespeare, Macbeth. MUlher ambiciosa, instiga seu marido a matar o rei Duncan, hóspede em sua casa, para assumir o trono, o que efetivamente acontece. No ato I, cena terceira, prevendo o que acontecerá logo depois, uma das feiticeiras saúda Macbeth com a seguinte frase: "Viva Macbeth, que há de ser rei mais tarde!"
 
"Bem sei que há gente para quem a dança é antes um prazer dos olhos. Nem as bailadeiras são outra coisa mais que mulheres de ofício. Também eu, se é lícito citar alguém a si mesmo, também eu acho que a dança é antes prazer dos olhos que dos pés, e a razão não é só dos anos longos e grisalhos, mas também outra que não digo, por não valer a pena. Ao cabo, não estou contando a minha vida, nem as minhas opiniões, nem nada que não seja das pessoas que entram no livro. Estas é que preciso pôr aqui integralmente com as suas virtudes e imperfeições, se as têm. Entende-se isto, sem ser preciso notá-lo, mas não se perde nada em repeti-lo."

Quando comentamos sobre os personagens, o fato do autor fugir do maniqueísmo - a frase em negrito relembra esta característica.

Isso é bem interessante mesmo, quando eu penso q tal personagem está indo para o caminho do mal, Machado vem e faz aquela análise psicológica de tudo.
Bem, eu estou tentando pensar agora não só nas atitudes dos personagens, mas o porquê dessas atitudes e no enredo todo.

Que lindo esse marcador de página, quero um xD
 
Os capítulos dessa semana se concentraram nos esforços em vão de Flora para evitar que seu pai (Batista) aceitasse o cargo político e então permacesse no Rio do Janeiro. A moça está com o coração partido por ter de abandonar os gêmeos.

O curioso é que ela não se decidiu por nenhum deles. Acho que Flora só vê o lado bom, cortês e cavalheiresco de seus pretendentes, o que deve dificultar a escolha. Além de serem idênticos fisicamente.

No capitulo 50 temos uma revelação interessante. Aires simplesmente detesta o pai de Pedro e Paulo:
Aires não podia negar a si mesmo a aversão que este lhe inspirava. Não lhe queria mal decerto; podia até querer-lhe bem, se houvesse um muro entre ambos. Era a pessoa, eram as sensações, os dizeres, os gestos, o riso, a alma toda que lhe fazia mal.
Qual seria o motivo deste ódio ao Barão?

Outro ponto interessante é o conflito interno de Batista. Ele passa por uma certa "crise de identidade" política. Fez o maior rodeio para contar a Aires que foi convidado pelos liberais a assumir um cargo. Não quer que o julguem. Se diz um conservador-liberal ou liberal-conservador. Ele diz:
Um homem pode muito bem ter o temperamento oposto às suas idéias.

Como se estivesse tentando justificar seu comportamento.
 
parece q o tópico deu uma minguada... :think: será q essa semana louca ñ tá acontecendo só comigo? bem. consegui terminar de ler os caps. da semana hj, e vou às considerações.

pelo menos na minha edição, passamos da metade do livro. em uma análise geral, até agora me parece que ele foi tudo, menos linear: falou de coisas, de pessoas, de eventos, e a história parece cada vez menos focada em um (ou neste caso dois) personagem principal. tanto é q se me perguntarem quem é o principal do livro, hj fico na dúvida. são os gêmeos, é o aires, ou é o narrador q brinca com os leitores(as), ou os pais, ou flora, ou os pais dela? parece q todos são protagonistas.

outra coisa, do jeito q MA escreve, ñ dá pra prever absolutamente nada dq vai acontecer. q os gêmeos vão se apaixonar por flora (e brigar por causa disso, oq ñ chega a ser novidade na vida deles) já ficou subntendido, principalmente no cap. 59. e MA tb ñ diz claramente se eles é q se apaixonam por ela 1º e a tentam conquistar ou se é ela quem se apaixona por ambos. fica no ar para leitores e leitoras escolherem oq melhor lhes parece.

gostei mto das brincadeiras literárias dessa semana, indicando para ler tal capítulo, ou até zoando com o título de um cap., o 47. ou quando aparece "a reticência do marido era a primeira figura de aquiescência" juro q voltei os olhos nas reticências q terminavam a frase de batista no cap. 45.

e tenho de concordar, a mulher realmente é a desolação do homem. boa, gostosa e necessária desolação.
 
eu gosto mas de livros de ficção...
mas se é pra ser mais ''real''
eu voto por saramago..ou autores mais do tipo dele..
atualmente estou lendo um brasileiro OS SETE e estou lendo um outro MUITO LONGE DE CASA,O MENINO SOLDADO...
o 1º é ficção já o segundo é uma história rela q se passou em Serra leoa...os dois são muito bons..um brasileiro e outro não..
^^
 
interessante q quem votou e elegeu o livro pro clube da leitura da vez são os q menos estão aparecendo por aqui.
 
Isso acontece desde o primeiro livro e por isso que passei a dar peso 2 para o voto dos destaques do clube.

De qualquer modo, eu fui uma das que votou em Esaú e Jacó mas confesso que estou simplesmente sem saco de participar. Tenho cuidado do Clube desde o primeiro livro, o que é bem esgotante, e como vi que dessa vez estava fluindo sem eu ter que ficar "ajudando" resolvi me dar férias.
 
bem, nesta semana, caiu o império. e caiu tb um ficha aqui na minha cabeça: seriam os 2 irmãos, ambos belos e inteligentes, cada um a sua maneira, uma forma q MA achou para retratar 2 brasis? o imperial e o republicano, o povo q apoiava um e o q apoiava outro? pensando assim, acho q a ilustração se encaixaria melhor q a tabuleta, não?
 
Tendo um trabalho para entregar, significa uma montanha de leituras técnicas, que faço com a maior dedicação possível, pois um olho está espichado para o livro ao lado. Desculpas mil. Voltei
_______________________
Tem uns lances do Machado que parecem referir-se (é uma viagem minha) a forma como testava seus textos talvez, lembrando que ele ditou à esposa um dos seus livros. O teatro era um dos assuntos e locais que Machado dedicava sua atenção. Talvez, unindo a técnica de chamada de atenção, ao público que que o rodeava, ele dirigia-se as leitoras com maior freqüência. Não era pouco o público feminino nesse meio (na época).
Maníaca do Miojo diz:Isso é bem interessante mesmo, quando eu penso q tal personagem está indo para o caminho do mal, Machado vem e faz aquela análise psicológica de tudo.
Bem, eu estou tentando pensar agora não só nas atitudes dos personagens, mas o porquê dessas atitudes e no enredo todo.

Eu já havia percebido isso em alguns autores, a trama parece que está toda armada, meus músculos estão todos tensos e o narrador acha que eu já mereço relaxar um pouco, tomar um suco, bater na cabeça, sacudir as idéias, ou pegar no tranco mesmo. Só que, as vezes, me parece que um Machado matreiro, dá uma risadinha travessa e diz: — Ainda não, a hora de saber tudo está aquém desse momento, leitora. Perverso, mas em vez de fazer o que todos fazem, jogar conversa fora, ele disseca a personalidade de alguém mais amiúde.

As mulheres diabas

Batista vê sua alma espelhada até nos olhos de feiticeiras cariocas, que se pareciam com as escocesas. O engraçado é essa mulheres não prestam, na opinião da maioria, mas emprestam feições ao diabo. Ahahahah, só que o diabo já estava dentro e espelhos são só espelhos, não?
Outra questão sobre mulheres e diabos: Segundo a religião oficial brasileira, a mulher dá ouvidos a cobra, e como o homem e a cobra são um só e voltados para o exterior de si, portanto não se ouviriam, usou o demônio a cobra para falar com a mulher. A mulher atenta e fascinada que é por todas as cobras, empresta sinuosidade e volúpia a esta. Coisa nata a todas as cobras, porém não entendidas pelo tico, ou pelo teco masculino, que assustados pensam ser o próprio diabo. Caras, é só dança do ventre, balanço e etc...

Aires: "Depois riu de si para si, e foi andando. Inventara tanta coisa no serviço diplomático, que talvez inventasse o monólogo do burro."
E foi desse monólogo que saiu uma das lindas frases do livro. E dizem que um jegue não é inspirador :rofl:

Postado por JLM - Ontem 09:33 PM
bem, nesta semana, caiu o império. e caiu tb um ficha aqui na minha cabeça: seriam os 2 irmãos, ambos belos e inteligentes, cada um a sua maneira, uma forma q MA achou para retratar 2 brasis? o imperial e o republicano, o povo q apoiava um e o q apoiava outro? pensando assim, acho q a ilustração se encaixaria melhor q a tabuleta, não?

Juro pra vocês, meu interesse por Machado sempre foi, como esse sujeito teve sucessos em vida, se ele nunca deixou de ser um crítico social e se sempre foi tão revelador.

Alguém que ainda não tinha lido o livro, desconfiava que os gêmeos eram uma alusão ao império e a república?
 
sammynewton disse:
Os capítulos dessa semana se concentraram nos esforços em vão de Flora para evitar que seu pai (Batista) aceitasse o cargo político e então permacesse no Rio do Janeiro. A moça está com o coração partido por ter de abandonar os gêmeos. (...)
O curioso é que ela não se decidiu por nenhum deles.

Não sei, será que é por causa dos gêmeos que ela ficou tão deprimida?
Às vezes parece que é só uima questão de vaidade, que o que ela gosta mesmo é de "ser gostada" pelos gêmeos, por isso não se decidiu por nenhum...


sammynewton disse:
No capitulo 50 temos uma revelação interessante. Aires simplesmente detesta o pai de Pedro e Paulo:
Aires não podia negar a si mesmo a aversão que este lhe inspirava. Não lhe queria mal decerto; podia até querer-lhe bem, se houvesse um muro entre ambos. Era a pessoa, eram as sensações, os dizeres, os gestos, o riso, a alma toda que lhe fazia mal.

Ele é bem detestável, não?
A Natividade também, não gosto de nenhum dos dois, ambos extremamente hipócritas, egoístas e metidos a besta. :blah:

sammynewton disse:
Outro ponto interessante é o conflito interno de Batista. Ele passa por uma certa "crise de identidade" política. Fez o maior rodeio para contar a Aires que foi convidado pelos liberais a assumir um cargo. Não quer que o julguem. Se diz um conservador-liberal ou liberal-conservador.

Outro bocó esse Batista...
Não quer admitir que é bunda-mole e sem-espinha e fica dizendo que as mulheres são demoníacas.... ¬¬
M.A. reflete bem o caráter (e a falta deste) da classe dominante brasileira.
E (que tristeza!) como isso é atual!

Atual também é a mudança da monarquia para a República e a (falta de) atitude das pessoas.
Tanto os dominantes como o povo (representado pelo confeiteiro e sua placa) só querem saber de manter o seu.
Mas no fim é óbvio que tudo vai ficar na mesma...
 

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