Sobre os capítulos 81-91
Vimos que a família Batista saiu da casa dos Santos e retornou à Rua São Clemente. Confesso que gostaria de ter visto essa estadia da Flora na casa de seus pretendentes um pouco mais explorada. Machado poderia ter criado algumas situações para enfatizar o triângulo amoroso.
No capítulo 83, "A Grande Noite", ocorre a descrição de mais um surto imaginativo de Flora. A moça começa a ter alucinações com Pedro e Paulo. Ela experimenta sensações diferentes em cada encontro imaginário com um dos gêmeos. Cada um a completa de uma forma diferente, mas é somente no final do "sonho", quando ambos se fundem em um só homem, é que Flora se realiza por completo em um sentimento "indefinível".
Mas foi o capítulo 90, "O Ajuste", que mais me chamou a atenção. Nele, Aires intima os gêmeos a se definirem de vez em relação à Flora:
"... a moça não era como a República, que um podia defender o outro atacar; cumpria ganhá-la ou perdê-la e vez."
E então ele propõe:
"Não havendo terceiro, e não se podendo prolongar a situação, porque é que vocês não combinam alguma coisa?"
A princípio eles acharam a idéia estranha, mas antes de adormecerem chegaram a um acordo. Isso mesmo, um "contrato com poucas cláusulas":
"... concordaram em esperar por ela durante um prazo curto; três meses. Dada a escolha, o rejeitado obrigava-se a não tentar mais nada"
Nesse pequeno trecho, vemos o fim do romantismo, e constatamos que "Esaú e Jacó" é representante importante do Realismo. O sofrimento da paixão, a defesa e busca pelo amor, a idealização da amada como deusa inalcançável, tão presentes nas obras do período Romântico, são substituídos aqui pelo objetivismo, pelo determinismo/materialismo, pelo racionalismo frio e lógico.
A disputa pelo amor de Flora não é tratado pelos gêmeos como um conceito metafísico, mas sim como uma propriedade. Algo que se resolve em um acordo de cavalheiros "... sem escritura de tabelião, apenas pela aceitação da palavra".
A Maníaca do Miojo citou:
Penso que deva haver alguma desgraça na história, está muito cor de rosa. É que apesar das análises bem feitas, eu estou sentindo falta do lado negro da força.
Estamos chegando ao final da obra. Pela frieza do acordo entre os pretendentes e pela complacência de Flora, acredito que não teremos nenhum evento trágico.
Como a Zafira bem analisou, me convenço cada vez mais que o personagem principal dessa obra é a troca de regime governamental. Os acontecimentos entre essas duas famílias aristocráticas são detalhes, meras alegorias usadas por Machado para representar a Monarquia e a República.
Porém, sobra o mistério das "Coisas futuras", que a cabocla vislumbrou no primeiro capítulo. Ficamos no aguardo para saber se até o final da obra Pedro e Paulo serão realmente "grandes".