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Não sei se acompanharam a polêmica que rolou este ano envolvendo o Booker Prize, o principal prêmio britânico. Os escolhidos para a lista final (lá eles divulgam uma lista prévia (longlist) e uma final (shortlist)) foram tachados de fracos, pouco significativos, etc. Depois os juízes rebateram, afirmando que eram livros que alcançavam o público, ou algo assim, o que obviamente só inflamou os ânimos. Essencialmente, não é muito diferente do que tem rolado no Brasil, e daí o interessante em acompanhar a discussão: praticamente tudo se aproveita, substituindo-se "Booker" por "Jabuti". Tudo bem que esse tipo de coisa já deve ter sido discutida aqui umas setenta vezes sete vezes, mas sei lá...
Achei interessante esse texto que saiu na Economist esta semana, em geral tendo a concordar com esse ponto de vista.
(Fiz a tradução e coloquei algumas notas no final)
Outro comentário a respeito: uma resposta mais quente do lado dos críticos (em inglês). Daí dá para ir pulando de link em link para outros participantes da discussão...
Então, o que vocês acham? Alguém acompanhou mais alguma coisa? Alguém já leu Julian Barnes (ou algum dos outros indicados)? Acham que a R.B. tem razão ou é uma posição muito "paz e amor"? Esses prêmios merecem ou não ser levados em contas? É factível a indicação que ela faz no último parágrafo?
Achei interessante esse texto que saiu na Economist esta semana, em geral tendo a concordar com esse ponto de vista.
(Fiz a tradução e coloquei algumas notas no final)
O Man Booker Prize está encerrado por mais um ano, tendo sido entregue dia 18 de outubro a Julian Barnes, por "The Sense of an Ending". Mas o alvoroço provocado pela lista final do Booker deste ano continuará a mostrar seus efeitos.
Quando os juízes anunciaram sua escolha para os seis livros da lista final, em setembro, muitos comentadores afirmaram que os selecionados (entre eles o do colunista A. D. Miller, da Economist) eram leves, pouco densos e tinham uma linguagem propositadamente simples [1]. Dame Stella Rimington, presidente da comissão julgadora e ex-chefe do MI5, foi intensamente criticada por dizer que os juízes estavam procurando por "livros agradáveis" com "acessibilidade" [2]. A disputa se multiplicou na imprensa e além dela: antigos juízes ofereceram listas alternativas; em um acesso de orgulho ferido, um grupo de críticos até mesmo afirmou que irá estabelecer um rival do Booker, "The Literature Prize", o qual será, dizem, um padrão de excelência.
Jornalistas (e aqui me incluo) sempre tentam encontrar uma história envolvendo o Booker. No passado, me lembro de escrever notícias comentando que todos os livros eram "históricos", por exemplo, como se isso mostrasse uma inclinação ou preconceito por parte da comissão. Outro comentário favorito é apontar quem foi deixado de fora -- embora algum autor famoso sempre será deixado de fora dessas listas, já que praticamente ninguém consegue escrever um livro excelente todas as vezes.
Quando eu mesma fui juíza, percebi quão bobos eram todos esses comentários. Foi ano passado, e a imprensa observou que tínhamos uma lista "cômica" e tentaram nos encaixar nesse tema. Estávamos buscando livros engraçados? Não. Achávamos que livros engraçados eram particularmente incisivos em tempos de recessão e insegurança? Não. Na verdade, nem mesmo pensei que os livros da nossa lista eram especialmente engraçados. Apenas pensei que eram bons. Suspeito que, apesar de todo o furor, a comissão deste ano pensa o mesmo.
A escolha de Barnes como vencedor do Booker 2011 deverá abrandar parte da revolta levantada nas últimas semanas. É um escritor renomado e brilhante; esta é a quarta vez que chega à lista final. "The Sense of an Ending" não é o seu melhor livro, na minha opinião (acho que "O Papagaio de Flaubert" é excepcional). Mas seu novo romance pode muito bem ser o melhor livro deste ano, e é isso que os juízes do Booker estão procurando.
Mas essa agitação levanta algumas questões maiores quanto para que esse tipo de prêmio -- e particularmente este prêmio -- serve. Barnes já foi criticado por ter rotulado o Booker de "bingo sofisticado" [3], mas em certo sentido ele está certo. É uma competição. É valorizada, e merecidamente, porque é uma competição sobre algo que muitas pessoas, entre as quais me incluo, pensam ser importante: literatura. E é para o bom crédito da ficção que nós esperemos que a sua produção seja boa, ao contrário do prêmio Turner para arte contemporânea, por exemplo, que já rendeu muita arte brilhante mas que é mais conhecido pelas obras que muitos consideram besteira.
Prêmios cumprem muitas funções. Eles são ótimos para o vencedor, dão um impulso para os outros nomeados e, mais importante, oferecem uma medida duradoura quanto ao melhor da ficção contemporânea de qualquer ano. Mas é uma boa ideia não se ater de forma muito reverente a tudo isso. Milhares de romances são publicados todos os anos, demais para que sejam lidos ou até mesmo folheados. Prêmios como o Booker estão aí para guiar os leitores através de um mar de papel (ou tinta eletrônica) até obras que se consideram boas. Existem outras maneiras de se encontrar novos títulos: listas de bestsellers, páginas de resenhas, recomendações pessoais ou mesmo serendipidade [4]. Mas prêmios são úteis. Os juízes não são deuses, e ler e julgar não é uma ciência. Mas talvez se os juízes fossem tratados mais como "personal shoppers" [5] do mundo dos livros, tudo isso faria um pouco mais de sentido -- eles apresentam o público leitor a autores e livros que poderiam não ter sido vistos, à espera de que ao menos alguns deles acabarão servindo.
Já que a comissão julgadora de cada prêmio literário britânico muda a cada ano, às vezes parece estranho falar em uma "tradição do Booker", assim como seria estranho considerar que tipo de livro poderá ganhar o prêmio Orange [6], digamos, ou qual poderá agradar aos juízes do Costa [7]. Houve uma proliferação de prêmios literários desde que o Booker foi iniciado, com prêmios para ficção romântica, divulgação científica, livros de negócios, entre outros. E para mim parece empolgante, também, que as pessoas ainda se importem o bastante com a literatura a ponto de brigarem em torno dela. Acho que é uma situação ruim que um novo prêmio seja criado em meio à raiva. Mas acho que não fará nenhum mal ao Booker se isso for levado em frente, o que dará uma nova oportunidade aos leitores de ouvir as escolhas de um outro grupo de pessoas com os quais eles podem ou não concordar.
Do meu ponto de vista, não existem assim tantos livros realmente brilhantes no mundo. Toda a ficção bem sucedida é de alguma maneira um reflexo de si mesmo (tanto do escritor quanto do leitor), e a literatura contemporânea frequentemente nos diz bastante a respeito das preocupações do nosso tempo. Mas de todos os muitos livros publicados todos os anos, a maioria é no máximo medíocre e muitos poucos resistirão ao teste do tempo. É algo bastante positivo para os escritores da lista final deste ano que seus livros tenham vendido tão bem, melhor que a de qualquer outro ano. Também é verdade que a maioria das listas de bestsellers é feita de escritores muito mais mainstream, e que o tipo de literatura de ficção que o Booker avalia continua compondo um grupo minoritário.
Minha recomendação, tendo visto o hoo-ha provocado pelo prêmio deste ano, seria de que as pessoas deveriam ler a lista final. Deveriam também ler os livros que outros comentadores disseram que deveriam estar lá. E talvez deveriam também circular por uma livraria e escolher alguns outros títulos que nunca ouviram ninguém mencionar. Por mais perfeita que seja uma comissão julgadora, simplesmente não existe outra maneira de decidir qual livro poderá conquistar o coração e a alma de qualquer leitor particular.
por R.B. (pelo que procurei, seria a jornalista literária Rosie Blau)
Fonte: http://www.economist.com/blogs/pros...on?fsrc=scn/tw/te/bl/literatureprizesandhooha
[1] light, slight and dumbed-down
[2] readability
[3] posh bingo
[4] serendipity. O dom de encontrar coisas por acaso. (Palavra legal né...)
[5] Alguém que é contratado para fazer compras no lugar do seu cliente. Mais comum lá fora.
[6] Exclusivo para mulheres, quanto a romance escrito em língua inglesa.
[7] Um prêmio que julga a qualidade, mas que também dá peso à capacidade de alcançar um público mais amplo.
(Tudo bem que ficou parecendo Speak-Up com essas notas, mas a intenção é boa.)
Outro comentário a respeito: uma resposta mais quente do lado dos críticos (em inglês). Daí dá para ir pulando de link em link para outros participantes da discussão...
Então, o que vocês acham? Alguém acompanhou mais alguma coisa? Alguém já leu Julian Barnes (ou algum dos outros indicados)? Acham que a R.B. tem razão ou é uma posição muito "paz e amor"? Esses prêmios merecem ou não ser levados em contas? É factível a indicação que ela faz no último parágrafo?