A cidade élfica de Leverru, no centro da Floresta dos Pinheiros, era dividida em casas. Sendo uma cidade particularmente grande para os padrões élficos, cada casa funcionava com um clã, uma família tradicional de fundadores, que eram os maiores poderes abaixo da Senhora da cidade. Os filhos dessa casa tradicionalmente apresentavam um talento excepcional para o arco, a espada ou a magia, frequentemente se tornando chefes de guarda, professores ou, para os mais excepcionais, aventureiros. Da Casa dos Lua-de-Sangue, nasceu um dia uma menina, que recebeu o nome de Megara. Seus cabelos eram de um vermelho sangue fortíssimo,traço que dera o nome da casa. No mesmo dia em que nasceu essa menina, a Casa dos Folha-de-Prata também gerou uma garota, que foi chamada Morgana, com os cabelos prateados da família. Muitas das antigas lendas élficas contam do poder das estrelas sobre o destinos dos mortais, e tais lendas viram confirmação nas duas meninas, que nascidas sob as mesmas estrelas, continuaram a seguir caminhos unidos. Foram muito amigas desde cedo, e ambas mostraram um assombroso potencial para a magia. Megara estudou a magia oculta e violenta dos magos, muito apropriada para o temperamento flamejante e decidido da garota. Morgana, sempre calma e serena, estudou a natureza com os druidas do Círculo Viridiano.
Tanto em suas personalidades quanto em suas habilidades, as meninas pareciam se complementar. A educação élfica tipicamente faz com que seus filhos mudem de guardião ou cidade a cada dez ou vinte anos, para renovar seu círculo de amizades e rotacionar seus conhecimentos, mas as duas garotas não se permitiram separar, sempre se mudando juntas, sempre amigas. Elas aprenderam sua arte juntas, e cresceram juntas. Quando seus corpos atingiram a maturidade e suas mentes começaram a amadurecer, aos 20 anos, o começo da adolescência élfica, elas estavam sempre juntas, se metendo nos problemas e no dia-a-dia uma da outra. Megara insistia com Morgana para que começasse a sair com meninos, por esta ser muito quieta, e Morgana acalmava Megara em suas emoções sempre mutáveis e intensas, que acabavam atrapalhando tanto ela quanto seus mais chegados. E assim as garotas viveram juntas como melhores amigas, até atingirem a maioridade, aos cento e vinte anos. Nesse ponto ambas já haviam escolhido seus caminhos dentro de seus ramos específicos de magia, e mais uma vez elas convergiram: ambas se tornaram invocadoras, uma de criaturas arcanas, a outra de seres da natureza. Nessa idade, um elfo deve escolher seu nome de adulto, e abandonar seu status de criança. Megara chamou-se Sierra, e Morgana, Daena. Mas com novos nomes ou não, as duas ainda se referiam uma à outra com seus nomes antigos quando ninguém estava olhando. Uma lembrança de que sempre seriam as mesmas amigas.
Foi nessa época que Daena encontrou seu companheiro animal, e, como um presente, domesticou um falcão e o deu de presente a Sierra, para que o fizesse seu familiar. Sierra adorou seu novo companheiro, e lhe chamou Maero. Os animais de Daena poderiam mudar, conforme envelhecessem ou a terra sob seus pés mudasse, mas Maero sempre seria o mesmo. Foi também nessa época, quando as duas já tinham 150 anos, que elas descobriram que o que dividiam não era só amizade. Entre o povo élfico, a casamento era um evento raríssimo. Eles valorizavam a liberdade acima de tudo, e se prender a outra pessoa por toda a vida não era algo feito a não ser que se tivesse a certeza de que o sentimento jamais mudaria. A grande maioria dos elfos morre sem jamais ter se casado. E após dez anos vivendo juntas nas planícies chuvosas do leste, Sierra e Daena se casaram, pedindo a um antigo amigo de infância, Gaeus da Casa de Orvalho, que lhes forjasse os mais belos anéis que pudesse fazer. Gamelin, a Estrela Cerúlea, encantado com uma pequena dose de magia criomântica, como uma pequena piada com o temperamento de Sierra; e Varendin, o Olho Argentino, que brilhava com uma luz prateada quando estava escuro e uma das duas se sentia só, uma referência a como Sierra sempre disse que Daena parecia brilhar de um jeito estranho quando tentava ajudar alguém.
Cansadas da vida pacata nas planícies, as duas elfas decidiram procurar aventura e por suas habilidades reconhecidas em uso. Elas levaram uma carreira bem sucedida, se tornando bem conhecidas em algumas regiões por erradicar a besta Doppelganger que vestia a pele dos homens para roubar suas identidades, matar o wyvern Rubicante, que devorara as sete filhas do Lorde de Tintagel, e particularmente por aprisionar a Bruxa Raviollia, que aterrorizou por décadas a Ravina da Canção Negra, que mudou seu nome depois de ser libertada de seu tormento, sendo agora conhecida por Ravina das Melodias Retumbantes, lar de tantos bardos famosos. Mas aos seus 180 anos, após muitas vitórias, uma noite Daena desapareceu sem deixar rastro. Apenas uma pena negra ficara no lugar em que dormia na cama. As duas possuíam muitos inimigos, então Sierra não tinha idéia de por onde começar a procurar. A maga quase destruiu a pousada em seu acesso de fúria, por fim se acalmando para pensar em um curso de ação. Não sabendo por onde procurar, decidiu começar nos Grandes Lagos, onde derrotara o Doppleganger, mas com apenas uma semana de viagem, foi surpreendida por uma mensagem da Colina Pateada, onde já havia lutado ao lado de Daena. Haviam ocorrido desaparecimentos e sua ajuda era convocada pelo Barão, que conhecera na época. Era uma aposta arriscada, mas parecia uma pista muito oportuna, e na pior das hipóteses lhe daria tempo para pensar melhor.