Decididamente, romance policial não é meu gênero literário. Talvez por isso (e por estar tão em voga), não tenha me interessado em ler O Código Da Vinci. Entretanto, o livro acabou por cair em minhas mãos (minha irmã o comprou), então, por que não lê-lo?
Como era de se esperar, não encontrei nada de extraordinário nas 475 páginas nas quais a trama se desenrola. É um livro bem escrito, e o número expressivo de páginas não condiz com o tempo que demanda para ser lido (li-lo em 3 dias, sem ter que ficar grudado nele o dia todo), posto que a leitura é fácil e não exige muito do leitor. É bem verdade que não perdi tempo tentando adivinhar quem era o Mestre, ou as respostas para os enigmas, ou as simbologias; contudo, não teria feito diferença: eu não teria nem chegado perto, da mesma forma que nunca descobria o assassino dos livros da Agatha Christie. Quando eu era menor, adorava os livros dela; depois passei a achar todos iguais.
As 24 horas em que se desenrolam o livro de Dan Brown justificam o fato de, ao fim do livro, Robert (praticamente meu xará) e Sophie serem dois desconhecidos. Desconhecidos mesmo; se tiveram uma ou duas conversas que não fosse por causa dos enigmas foi muito. Aliás, deve ter havido uma ou duas conversas desse tipo durante todo o livro, e acho que as considerações mais interessantes partiram do Teabing, ainda que algumas tenham sido clichês, mas caíram bem. Particularmente, não acho muito legal essa inexistência de um maior trabalho psicológico das personagens, mas ok, o livro não se propõe a isso mesmo. Pergunte-se quem é Robert Langdon ao final do livro. Arrisco dizer que é um simbologista bastante famoso, ávido por conhecimento, inteligente e que se encaixa perfeitamente no perfil universal de bom moço. Medroso no começo, mas que no final demonstra impressionante talento para a situação. E Sophie? É ela quem, no início, carrega nas costas o professor de Harvard. Dona de uma memória excelente, apesar de ter umas tiradas sensacionais não consegue imaginar, por exemplo, que o carro-forte do banco suíço teria um localizador... Ok, coisa da pressão do momento. Ah, sim, encontramos nela outro modelo de bondade.
Ótimo, e o que mais eles são? Não consigo moldar o caráter deles baseado em suas ações. O "drama" de Sophie e o avô só é um pouco desenvolvido porque é peça fundamental para a trama (se ela ainda mantivesse contato com ele, não haveria necessidade de descobrir coisa nenhuma).
Volto a tocar na questão de o livro ocorrer em 24 horas (excluído o epílogo). É uma boa jogada do sr. Castanho (ou Marrom, como quiserem); uma desculpa muito boa.
Entretanto, não achei que o livro tenha um ritmo meio "frenético"; dinâmico, sim, em especial em relação aos capítulos, bem curtos (são mais de 100 capítulos para quase 500 páginas), mas há partes de total tranqüilidade. Fiquei um pouco estarrecido ao perceber, lá pra frente no livro, que ainda estava na mesma madrugada da primeira página.
Os enigmas não são tantos, as obras analisadas do renascentista são apenas três.
Sem dúvida a história do sr. Castanho tem bastantes elementos atraentes, primeiro porque questiona dogmas católicos particularmente polêmico (desculpem-me pela heresia, mas Cristo deve ser o maior apelo propagandístico do mundo), envolve um artista conhecidíssimo (Léo Da Vinci), bem como elementos diversos naturalmente apelativos, como os Templários, irmandades secretas milenares, o Graal, e um braço particularmente poderoso da Igreja, tudo isso tendo como cenário locais bem famosos e alguns fatos reais (outro dia ouvi dizer que todo fato já é real; alguém pode esclarecer a existência ou não de pleonasmo na expressão??)
Como já foi frisado, é bastante "esfumaçado" o limite entre o real, o hipotético e a ficção no livro. São possibilidades que, como é bem dito no livro, dependem puramente de fé. Já dizia a Xuxa: "Tudo pode ser, basta acreditar"; acho que esse é o espírito. E, com um pouco de lógica, pegam-se as peças certas e completa-se um quebra-cabeças, deixando outras de fora, mas tudo bem.
Estranhamente, não me senti atraído pelas hipóteses levantadas. Achei bem interessante a parte da simbologia [Está ela tão viva atualmente?], mas também ela é subjetiva. Acho que se no final do livro houvesse uma bibliografia, talvez eu me interessasse por essa última.
Bom, é isso. Para sentar e relaxar (inclusive o cérebro), é um bom livro. Como tantos outros, aliás; nada que justifique o sucesso estrondoso, a não ser os temas envolvidos [Mas será possível que não tenham escrito sobre essas coisas antes? Fiquei sabendo que um dos três autores de um livro da década de 80 (se não me engano, aquele mesmo que é citado n'O Código) estava processando o Dan Brown por plágio. Afirmara que este último apropriara-se do enredo dele]. Temas esses que certamente permitirão aos mais interessados viajar nas idéias propostas. Infelizmente, não foi meu caso.
Obs: caso também este texto saia sem parágrafos (o que vem ocorrendo com todos os que eu mando...), desculpas; não sei por que isso ocorre. Fica bem pior pra ler...