Uma Viagem Encantadoramente Imaginativa

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Escrito por Cassiano Ricardo Dalberto
tolkien-archives.gifDiretamente do Túnel do Tempo, a Valinor disponibiliza mais um artigo de época para você (os primeiros artigos foram “O Herói é um Hobbit ” e “O Mundo Sombrio de Homens e Hobbits“). Dessa vez, uma resenha do livro “O Hobbit“, escrita por Anne T. Eaton e publicada no jornal The New York Times em 13 de Março de 1938! Uma ótima oportunidade para conhecer as primeiras impressões que o trabalho de Tolkien obteve naquele tempo. Confira então “Uma Viagem Encantadoramente Imaginativa“, raridade traduzida para nós por Thais “Luz do Entardecer”.
Uma Viagem Encantadoramente ImaginativaPor Anne T. Eaton

Este é um dos livros mais estimulantemente originais e encantadoramente imaginativos para crianças a aparecer em muitos anos. Como “Alice no País das Maravilhas”, vem da Universidade de Oxford, onde o autor é professor de Anglo-Saxão e, como a história de Lewis Carroll, foi escrito por crianças que o autor conhecia (nesse caso, seus quatro filhos) e, por isso, inevitavelmente encontrou um grande público.

O período da história é entre a era do Reino Encantado e o domínio dos homens. Para um adulto que lê sobre Smaug, o Dragão, e seu tesouro, conquistado pelos anões, mas também reivindicado pelos Homens do Lago e pelo Rei Élfico, é capaz de surgir a idéia de como lenda, tradição e o começo da história se encontram e se misturam, mas para o leitor de 8 a 12 anos, “O Hobbit” é um relato glorioso de uma aventura magnífica, cheio de suspense e temperado com um humor discreto que é irresistível.

Hobbits são (ou eram) um povo pequeno, menores que anões – e eles não têm barbas – mas bem maiores que os liliputianos. Há pouca ou nenhuma magia neles, exceto do tipo comum que os ajuda a desaparecer discreta e rapidamente quando gente grande e estúpida como você e eu se aproxima de modo desajeitado, fazendo barulho como elefantes que eles podem ouvir a uma milha de distância. Eles tendem a ser gordos na barriga; vestem cores claras, principalmente verde e amarelo; não usam sapatos porque em seus pés crescem solas naturais como couro e pêlos espessos e castanhos; têm dedos morenos, longos e habilidosos, rostos amigáveis e dão gargalhadas profundas e deliciosas (especialmente depois do jantar, que eles têm duas vezes por dia, quando podem).

Bilbo Bolseiro era um hobbit que encontramos morando em sua confortável, para não dizer luxuosa, toca hobbit, pois não era uma toca suja e úmida, tampouco vazia e arenosa, mas dentro de sua porta redonda e verde, como uma escotilha, havia quartos, banheiros, adegas, despensas, cozinhas e salas de jantar, tudo ao melhor gosto hobbit. Tudo que Bilbo pedia era para ser deixado em paz em sua residência, conhecida como “Bolsão”, pois hobbits são naturalmente um povo caseiro e Bilbo não tinha anseio algum por aventuras. Quer dizer, seu lado Bolseiro não tinha, mas a mãe de Bilbo havia sido uma Tûk, e no passado os Tûks haviam se unido por casamento a uma família de fadas. Foi a porção Tûk que fez o pequeno hobbit, quase contra sua vontade, responder ao chamado de Gandalf, o Mago, para juntar-se aos anões para recuperar o tesouro deles que Smaug, o dragão, havia roubado de seus antepassados. Bilbo possui uma simpática personalidade, assim como totalmente convincente; francamente desdenhador do heróico (exceto em seus momentos mais Tûk), ele, contudo, desempenha o seu papel em emergências com uma coragem tenaz e habilidade que o faz no fim o real líder da expedição.

Depois dos anões e Bilbo terem passado pela “A Última Casa Amiga”, seu caminho os conduziu pelas Terras Ermas, sobre as Montanhas Nevoentas e por florestas que sugerem aquelas dos romances em prosa de William Morris. Como as terras de Morris, as Terras Ermas são o Reino Encantado, mas ainda assim possuem uma qualidade terrena, o aroma das árvores encharcadas pelas chuvas e o cheiro de fogueiras.

A história é repleta de dicas valiosas para o aventureiro e matador de dragões no Reino Encantado. Muitos monstros escamosos foram mortos em lendas e contos populares, mas jamais foi fornecido para leitores modernos um guia tão completo a respeito de dragões. Aqui, também, estão expostas claramente as características distintivas de anões, goblins, trolls e elfos. O relato da jornada é tão explícito que nós podemos facilmente acompanhar o progresso da expedição. Nessa tarefa somos auxiliados pelos admiráveis mapas fornecidos pelo autor que, em seus detalhes e consistência imaginativa, sugerem o “Mappe of Fairyland” de Bernard Sleigh.

As canções dos anões e elfos são poesia verdadeira, e visto que o autor é afortunado o bastante por ser capaz de fazer seus próprios desenhos, as ilustrações são um perfeito acompanhamento para o resto. Garotos e garotas de 8 anos já têm dado ao “O Hobbit” uma entusiasmada recepção, mas esse é um livro sem limite de idade. Todos aqueles, jovens ou velhos, que amam uma excelente história de aventuras, contada de forma admirável, levarão “O Hobbit” em seus corações.

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