A Lenda do Despertar dos Quendi (Cuivienyarna)

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Escrito por John Ronald Reuel Tolkien
sil-cuivienenEnquanto seus primeiros corpos estavam sendo feitos da “carne de Arda”, os quendi dormiam “no seio da terra”, debaixo  do verde gramado, e despertaram quando tornaram-se adultos. Mas os Primeiros Elfos [também chamados de Não-Nascidos, ou Nascidos de Eru] não acordaram todos ao mesmo tempo. Eru havia então determinado que cada um deveria estar ao lado de seu/sua “parceiro[a] destinado”. Mas três elfos despertaram antes de todos, e eles eram elfos homens, pois elfos homens são mais fortes fisicamente e mais ávidos e aventureiros em lugares estranhos. Estes três pais elfos são chamados nos contos antigos Imin, Tata e Enel. Eles despertaram nessa ordem, mas com pouca diferença de tempo entre cada um; e a partir deles, dizem os eldar, as palavras um, dois e três foram feitas: os mais antigos de todos os numerais.*

* As palavras eldarin a que se refere são min, atta [ou tata] e nel. O oposto é provavelmente histórico. Os Três não possuiam nomes até que desenvolveram uma linguagem, e nomes foram dados [ou tomados] após eles terem desenvolvidos numerais [ou pelo menos os doze primeiros].

Imin, Tata e Enel despertaram antes de suas esposas,e a primeira coisa que eles viram foram as estrelas, pois acordaram no crespúsculo anterior ao amanhecer. E a próxima coisa que viram foram suas esposas destinadas dormindo no gramado verde junto a eles. Eles então ficaram tão encantados com a beleza delas que seu desejo pela fala foi imediatamente acelerado e eles começaram a “pensar em palavras” para falar e cantar. E sendo impacientes, eles não podiam esperar, então acordaram suas esposas. Assim, os eldar dizem, a primeira coisa que cada mulher elfo viu foi seu esposo, e seu amor por ele foi seu primeiro amor; e seu amor e admiração pelas maravilhas de Arda veio posteriormente.

Ora, depois de um tempo, no qual viveram juntos, e inventaram muitas palavras, Imin e Iminyë, Tata e Tatië, Enel e Enelyë caminharam juntos, e deixaram o verde gramado de seu despertar, e logo eles chegaram a outro gramado ainda maior e lá encontraram seis casais de quendi, e as estrelas estavam mais uma vez brilhando no crepúsculo e os elfos homens estavam nesse momento despertando.

Então Imin declarou ser o mais velho e ter o direito da primeira escolha; e ele disse: “Eu escolho estes doze para serem meus companheiros.” E os elfos homens acordaram suas esposas, e tendo vivido juntos por um tempo e aprendido muitas palavras e inventado mais, eles caminharam juntos e logo, em outro vale ainda mais profundo e mais amplo, encontraram nove casais de quendi, e os elfos homens recém haviam acordado sob a luz das estrelas.

Então Tata reclamou o direito da segunda escolha, e ele disse: “Eu escolho estes dezoito para serem meus companheiros.” Então novamente os homens elfos acordaram suas esposas, e eles moraram e falaram juntos, e criaram muitos novos sons e palavras mais longas; e então os trinta e seis caminharam para o exterior juntos, até chegarem a um bosque de bétulas por um rio, e lá eles encontraram doze casais de quendi, e os elfos homens estavam de pé da mesma forma, e olhavam para as estrelas através dos ramos das bétulas.

Então Enel reclamou o direito da terceira escolha, e ele disse: “Eu escolho estes vinte e quatro para serem meus companheiros.” Novamente os elfos homens acordaram suas esposas; e por muitos dias os sessenta elfos moraram à margem do rio, e logo eles começaram a fazer versos e canções para a música da água.

Por fim, mais uma vez todos partiram juntos. Mas Imin notou que cada vez eles encontravam mais quendi do que antes, e ele pensou consigo mesmo: “Eu tenho apenas doze companheiros [embora eu seja o mais velho]; Farei uma nova escolha .” Em pouco tempo eles chegaram a um bosque de abetos na encosta de uma colina, e lá encontraram dezoito casais de quendi, e todos ainda estavam dormindo. Ainda era noite e havia nuvens no céu. Mas antes do amanhecer um vento chegou, e instigou os elfos homens, e eles despertaram e ficaram impressionados com as estrelas; pois todas as nuvens foram sopradas e as estrelas brilhavam de leste a oeste. E por muito tempo os dezoito novos quendi não prestaram atenção aos outros, mas olharam para as luzes de Menel. Mas quando, por fim, voltaram seus olhos novamente para a terra, eles contemplaram suas esposas e acordaram-nas para que olhassem para as estrelas, gritando-lhes elen, elen! E então as estrelas receberam seu nome.

Ora, Imin disse: “Eu ainda não escolherei”; e Tata, então, escolheu estes trinta e seis para serem seus companheiros; e eles eram altos e de cabelos negros e fortes como abetos, e deles a maioria dos noldor posteriormente originou-se.

E os noventa e seis quendi conversaram entre si, e os recém-despertos inventaram muitas palavras novas e belas, e muitos artifícios de linguagem interessantes; e eles riram, e dançaram sobre a encosta da colina, até que finalmente desejaram encontrar mais companheiros. Então todos partiram juntos novamente, até que chegaram a um lago escuro no crepúsculo; e havia um grande penhasco próximo a ele no lado leste, e uma cachoeira descia do alto, e as estrelas reluziam na espuma. Mas os elfos homens já estavam se banhando na cachoeira, e eles haviam despertado suas esposas. Havia vinte e quatro casais; mas até o momento eles não possuiam uma linguagem formada, embora cantassem docemente e suas vozes ecoassem nas pedras, misturando-se com o ímpeto das quedas d’água.

Mas novamente Imin conteve sua escolha, pensando “na próxima vez será uma companhia maior”. Porém Enel disse: “Eu tenho a escolha, e eu escolho estes quarenta e oito para serem meus companheiros.” E os cento e quarenta e quatro quendi por muito tempo moraram próximo ao lago, até que todos adquiriram as mesmas vontades e a mesma linguagem, e estavam alegres.

Por fim Imin disse: “Agora é a hora na qual devemos prosseguir e procurar mais companheiros.” Mas a maior parte dos outros estava satisfeita. Então Imin e Iminyë e seus doze companheiros partiram, e muito vagaram durante o dia e durante o crepúsculo na região ao redor do lago, próximo ao qual todos os quendi haviam despertado – por esta razão ele é chamado Cuiviénen. Mas eles nunca encontraram mais companheiros, pois o conto dos Primeiros Elfos estava completo.

E assim era que os quendi sempre contavam às dúzias, e que 144 foi por muito tempo seu número mais alto, tal que em nenhuma de suas línguas posteriores havia um nome comum para um número maior. E também sucedeu-se que os “Companheiros de Imin” ou a Companhia Mais Velha [da qual vieram os vanyar] eram, apesar de tudo, apenas quatorze ao todo, e a menor companhia; e os “Companheiros de Tata” [dos quais vieram os noldor] eram cinqüenta e seis ao todo; mas os “Companheiros de Enel”, embora fossem a Companhia Mais Jovem, era a maior; deles vieram os teleri [ou lindar], e no início eles eram setenta e quatro ao todo.

Ora, os quendi amavam toda Arda que eles já haviam visto, e coisas verdes que brotavam e o sol de verão eram seu deleite; mas apesar de tudo, eles sempre foram mais tocados no coração pelas estrelas, e as horas de crepúsculo em tempo bom, ao “amanhecer” e ao “anoitecer”, eram as horas de seu maior prazer. Pois nestas horas na primavera do ano, eles despertaram pela primeira vez para a vida em Arda. Mas os lindar, acima de todos os outros quendi, desde o seu princípio eram mais apaixonados pela a água, e cantavam antes que pudessem falar.

Famosa lenda do Despertar dos Elfos, em forma e estilo de Conto de Fadas.

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[…] dos Elfos. Em 1959 ou 1960, Tokien escreveu um relato detalhado do despertar dos Elfos, chamado Cuivienyarna, parte de Quendi e Eldar. Ingwë, Finwë e Elwë agora se tornaram os primeiros embaixadores e […]

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