Eu acabei de ver
HERÓI.
Resumindo: esse é o pior filme que eu vi (por completo, pelo menos) nos últimos 3 ou 4 anos. O Zhang Yimou é um homem extremamente burro, sem nenhuma gota de criatividade, inventividade, perspicácia ou talento, se fosse julgá-lo só por esse trabalho (o que não é verdade, já que o outro filme dele que eu vi, "Nenhum a Menos", é bem assistível). O problema real é que o Zhang Yimou não faz a menor idéia de como fazer cinema estilizado e abstrato, que foi a intenção dele aqui. O máximo que ele conseguiu foi criar um filme seco e inerte, uma coleção de composições "belas" do jeito mais clichê e morto possível.
Eu percebi das intenções "abstratas" dele nos primeiros 20 minutos, quando eu notei que ele tinha jogado qualquer tentativa de contar uma história interessante pela janela, repetidamente. O diálogo era um horror, dito de forma declarativa em atuações podres. A história em si mal faz sentido. Logo logo, eu deixei de acompanha-la (um bom palpite meu, pq se eu tivesse tentado, provavelmente teria achado o filme mais horrível ainda). Tentando ver o filme puramente em termos visuais abstratos, eu já me deparei com o primeiro problema na primeira luta: o Zhang parecia tentar simultaneamente fazer a luta "excitante" e "grandiosa" e "emocionante" ao mesmo tempo que "artística" -- só que as primeiras características anulam a segunda. A estética surreal não combina com o resto. Yimou
claramente não fazia a menor idéia do que estava fazendo. Logo que a luta acabou, eu pensei "Essa deve ter sido a cena de luta mais chata que eu já vi na minha vida." (e eu adoro lutas). Ela é ruim ao ponto de ser hilária: em um momento em particular, o Jet Li diz que a luta já estava acontecendo na cabeça deles, e corta pra uma cena de luta "mental" em preto-e-branco, o que leva você a pensar "Essa foi a
melhor desculpa que o Zhang conseguiu inventar pra descolorir essa luta? Wow, ele queimou os neurônios e tal. Pobre Zhang. Vamos dar à ele o Oscar de Melhor Roteiro. Ou o Oscar de Maior Criatividade em Geral."
Sobre a falta de senso de ritmo completa do Zhang: ele não sabe montar, ele não sabe quando ou como usar camera lenta, ele não sabe como gerar suspense por intercutting, ele não sabe como gerar intensidade e energia visceral através de montagem não-linear e não-convencional, etc etc etc. Ele mal consegue montar um diálogo sem fazer você querer apertar o botão de fast forward. Zhang, amigo, existem umas pessoas, elas chamam montadoras. Elas sacam melhor que você. Elas não são retardadas. Não dê palpites pra elas, deixem elas fazerem o trabalho delas, você claramente não tem essa capacidade, etc. E a camera lenta realmente machuca o filme. Quando não é do estilo Matrix -- Jet Li atravessando um redemoinho de água criado pelo Donnie Yen, que ficou simplesmente hilário -- é do tipo balé -- escolha qualquer momento em que Maggie Cheung está caindo para a sua morte, girando que nem uma retardada e as suas roupas balançam ao vento.
Anyway, com 40 minutos de filme, eu estava quase desligando o DVD de tanto tédio e constrangimento. Mas eu decidi dar uma pausa, relaxar, e após uns 40 minutos eu voltei ao filme disposto a dar mais uma chance e tentar me conectar. Quando eu coloco no play, o Zhang corta pra um plano de steadicam que fica balançando verticalmente de um lado pro outro, por motivo
nenhum, enquanto segue um personagem. Sabe... Eu juro que já vi o meu primo com uns 6 anos de idade fazendo umas coisas menos retardadas com uma camera Super 8 VHS na mão. Juro. Esse é o ápice da criatividade do Zhang? Meu deus. Não, a criatividade dele não para por aí. Ele também tem a mania de colocar tudo na tela no maior número possível. "Não precisamos de 200 flechas. Precisamos de 200 mil trilhões."; "Não precisamos de 140 folhinhas amarelas pra ficarem voando no vento. Nós precisamos de todas disponíveis na Terra."; "Você disse 500 soldados para as cenas no Império? Não, não. Eu quero 8 bilhões. Sim, pode começar a procriar. Não chegamos ao número mágico ainda. Estamos na China, isso não vai ser difícil."
Ah, sim. Tem outros momentos que são simplesmente ridículos e estúpidos e violentamente retardados. Não tem desculpa. Eu não consigo nem imaginar os tipos ultra-fanboy-de-anime-e-metal-baba-ovo que conseguiram apreciar esse cocô, não consigo imaginar nem
esses vendo graça, por exemplo, em (1) uma luta num lago onde Jet Li bate numa gota d'água com sua espada, e Tony Leung rebate a gota de volta para Jet Li, e Jet Li corta a gota no meio, e uma fração da gota cai no rosto da Maggie Cheung (eu não sabia se ria, chorava, ou me matava), ou por exemplo quando (2) a Maggie Cheung e o Jet Li acham que fazem parte do elenco de DRAGON BALL Z e começam a rebater zilhares de flechas de CGI, tanto com uma espada quanto com o pano da roupa dela -- e nessa sequência ainda tem de bônus o pior "olha, a camera está grudada em uma flecha" já feito na história, ou então (3) quando o Imperador fala "As minhas velas me contaram sua intenção assassina!" (
). E o que vocês acharam do subtexto conformista, fascista, do negócio? Ninguém se importou? Essa merda de "guerreiros morrendo por um bem maior", e "uma morte não importa em meio ao sofrimento de um povo" e essa bosta de "como o povo vai se entender se existem 19 jeitos de escrever uma palavra"? Isso é apologia comunista da China. O momento que esses assuntos são discutidos fez virar o meu estômago.
Eu gostei de alguma coisa? Alguma? Bem, a trilha sonora ficou escrota, é uma cópia descarada da de O TIGRE E O DRAGÃO, só que bem pior. A fotografia é desagradável, com uma imagem de textura extremamente artificial, seca, plana, sem nenhuma riqueza ou sensação de vida na tela, e iluminação completamente banal (O Christopher Doyle provavelmente dormiu no serviço). A direção de arte simplesmente espera que só porque um cenário inteiro e seus personagens estão vestindo exatamente a
mesma cor, que a platéia simplesmente delire. Eles provavelmente agradaram o pessoal que achou foda a cena que o Zach Braff usa uma camisa com a mesma estampa do papel de parede dele em HORA DE VOLTAR, ou o pessoal que teve o contato mais próximo com arte abstrata em TV Colosso. Não, Zhang, deixar tudo da mesma cor não é esperto nem interessante. Aliás, é bem retardado. O que eu gostei então? Bem, o Tony Leung, a Maggie Cheung e a Zhang Zi Yi, embora tenham atuado mal, são
bonitos (isso conta como um elogio ao filme? Dizer que os atores são bonitos?).
Ah, sim. Teve
um momento que o visual teve algum impacto: quando, durante a (espetacularmente, inacreditavelmente ridícula e não-intencionalmente hilária) luta entre a Maggie e a Zhang naquele pomar, as árvores amarelas lentamente ficam vermelhas durante um long shot. O plano em si durou uns 5 segundos, mas o efeito foi forte. Era esse o tipo de invenção estética que o Yimou devia estar fazendo. Mas não. Esse foi o único momento remotamente interessante que eu consigo lembrar do filme. Não, me engano. Também houve uma cena onde um quilhão de flechas são lançadas em direção a um templo vermelho, e elas vão lentamente atingindo as paredes e telhados. Mas essa cena não conta, pois ela já foi estragada de multiplas formas já mencionadas -- a camera flecha, a Maggie virando Dragon Ball Z, etc. E ela ainda me faz lembrar de outro momento retardado: durante o ataque de flechas, o Tony Leung começa a escrever alguma merda no chão com um pincel enorme, e o Yimou tenta filmar de um jeito emocionante -- ele coloca tudo em camera lenta, um ventiladorzinho pra balançar os cabelos do Tony, e eu suspeito que essa foi a direção que ele deu pro ator: "Tony, finja que você está em cima de uma prancha. Sim, isso. Agora finja que você está no Havaí, pegando as ondas do tipo radical. Isso, muito bom. Agora escreva, e imagine que tá tocando alguma música do Van Halen. Isso, ótimo! Ação!".
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EDITANDO: Esqueci de mencionar algo. No DVD, tem uma cena deletada que mostra uma cena de luta onde o Jet Li e o Tony Leung estão lutando no deserto, aí o Tony joga um monte de areia no Jet com a espada, e o Jet faz a espada dele cortar um grão de areia no meio, e as duas frações do grão de areia voam em direção ao Tony, que corta as duas frações do grão de areia em 16 pedaços, e os 16 pedaços do grão de areia caem nos lábios do Jet Li, que lambe eles, os engole, e logo em seguida os vomita, e ele rebate o vômito dele com a espada, que voa para o céu e desaparece. 10 segundos depois, o Jet Li e o Tony Leung começam a lutar em meio à uma chuva de vômito. O Yimou devia ter deixado essa no filme, IMO.
EDITANDO 2:
*O filme tem uma qualidade Kitsch nojenta. Parece que eu to assistindo alguma comédia espanhola local.
*Lembra a abertura de AMORES EXPRESSOS, quando o Wong Kar-Wai subverteu a cena de ação fazendo uma perseguição pelas ruas de Hong Kong com um slow motion borrado e surreal e eletrizante? Lembra que dava pra sentir o gosto da imagem, dava pra sentir o cheiro dela, de tão palpável? HERÓI tentou isso e passou tão, tão longe.
*Meu deus esse filme é totalmente retardado.
*Aquela cena (retardada) toda azul que o Jet Li corta um monte de pedaços de empilhos de madeira em volta dele era tão surrealmente escrota que eu tava esperando algum Telletubbie aparecer ali. De preferência, o Telletubbie amarelo com uma camiseta azul, pra dar mais contraste (!!!!!).