Vamos então a um comentário da carta 181:
John Ronald Reuel Tolkien disse:
Eu espero que você tenha se divertido com O Senhor dos Anéis? Divertido é a palavra-chave. Pois ele foi escrito para entreter (em seu sentido mais elevado): para que a leitura seja agradável. Não há ‘alegoria’ moral, política ou contemporânea em todo o trabalho.
Como Tolkien dizia, ele odeia que chamem de alegoria o seu magnifico trabalho, a sua arte é atemporal, por isso não envolve o mundo contemporâneo. Se bem que nós podemos relacionar muitos fatos com o mundo da época de Tolkien: Guerras principalmente. Na minha opinião ele foi
indiretamente influenciado por esses fatos, que apesar de não serem 'criticados' diretamente por Tolkien, pra mim parece ser uma critica sutil a ambição do homem.
J. R. R. Tolkien disse:
Mas, evidentemente, se alguém decide se dirigir a 'adultos' (mentalmente adultos, em qualquer caso), eles não serão excitados, deleitados ou comovidos ao menos que o todo, ou os incidentes, pareçam ser sobre algo que mereça consideração, mais exemplos que mero perigo e fuga: deve haver alguma relevância à 'situação humana' (de todos os períodos). Então, algo das próprias reflexões e 'valores' do contador de histórias irá, inevitavelmente, estar inserido no trabalho. Isso não é o mesmo que alegoria.
SdA foi escrito para entreter as pessoas, divertir, por isso apesar de ser profundo e dramaticamente triste, mostra os valores de uma sociedade, povo, ou raça: amizade, sacrificio, mortes, emoção, orgulho, medo e muito mais... Por isso qualquer pessoa que seja 'mentalmente' adulta, ou 'experiente' pode ler SdA (não que pessoas inexperientes ou 'infantis' não possam lê-lo, mas fica melhor entendimento para pessoas 'adultas'), e por essa e outras coisas mostradas no SdA é que tornam-na uma obra magnífica e 'fantastica'...
Tolkien disse:
Gollum, para mim, é apenas um 'personagem' - alguém imaginado - que garantiu que a situação agisse mais ou menos sob forças opostas, como se parecesse para ele que provavelmente agiria (há sempre um elemento incalculável em qualquer indivíduo real ou imaginário: de outra forma ele/ela não seria uma individualidade mas um 'tipo'.)
Por isso que ele (Tolkien) coloca na fala de Gandalf:
"Gollum tem ainda um papel a cumprir: um p/ o mal, um p/ o bem" É esse o ponto cricial na destruição do anel, Gollum foi um entre tantos outros que modificou consideravelmente a história da Guerra do Anel. Por isso que Tolkien chama de
imaginário, pois retrata verdadeiramente um 'drogado', no caso pelo Anel. (se bem que Tolkien não costuma chamar de 'drogado' ele)
Tolkien disse:
A cena final da Demanda se deu daquela forma simplesmente porque em relação à situação, e com o 'caráter' de Frodo, Sam e Gollum, aqueles acontecimentos a mim pareceram mecanicamente, moralmente e psicologicamente críveis. Mas, é claro, caso você deseje mais reflexão eu devo dizer que internamente ao desenvolvimento da história, a 'catástrofe' exemplifica (um aspecto das) palavras familiares: 'Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.'
Como devoto católico romano, Tolkien não podia deixar passar em branco esses fatos
, assim como:
'Não nos deixeis cair em tentação' é o pedido mais difícil e o menos freqüentemente considerado.
que demonstra claramente a todo momento na história: Frodo caindo em tentação várias vezes...
Tolkien disse:
Frodo estava em tal posição: uma armadilha completa, aparentemente: uma pessoa de poder natural maior nunca poderia, provavelmente, ter resistido à tentação do Anel por tanto tempo; alguém com menor poder não deveria esperar poder resisti-lo na decisão final. (Uma vez que Frodo não havia se mostrado disposto a danificar o Anel antes de partir em viagem, e era incapaz de entregá-lo a Sam.)
É como na vida real: Frodo (uma pessoa honesta, humilde e boa) cercada de 'amigos' (desonestos, gananciosos e ambiciosos) que se fazem de santinhos e/ou cobras prontos p/ atacar o amigo na hora mais oportuna. Gollum era esse 'amigo' que esperava o momento certo p/ atacar. Frodo, Sam e Gollum eram e são um ciclo muito bem feito de se contar uma história de amizade e tristezas: Frodo, o 'réu' que esta cercado de duas pessoas - Sam, o bom e Gollum, o malvado - Gollum é uma 'cobra' que fica envenenando a pessoa boa (Sam) contra seu amigo (Frodo), que depois de finalizado o plano de Gollum, Frodo é então enganado pelos tranbiques do Gollum, e sam é excluido do grupo. Com o Anel em jogo, Gollum espera o elemento 'mal' (Sam) se afastar p/ dar o bote, é aí que no momento em que Gollum se revela é que frodo percebe realmente quem é quem - bom ou mal.
Tolkien disse:
Ter 'piedade' dele, refrear de matá-lo, foi mostra de tolice, ou uma crença mítica no derradeiro valor-próprio da piedade e generosidade, mesmo que desastroso no mundo àquele tempo
Pena é o que teve Bilbo na hora de decidir o 'destino' de Sméagol. Até as criaturas mais boas e certas podem errar, mas elas precisam saber que todo erro é preciso ser concertado. Assim como de um forma ate foi bom Frodo ter 'errado' em perdoar Gollum nas primeiras discusões. De uma forma ate parecia que ele sabia que era nessessário manter vivo Gollum, isso por (talvez) a fala de Gandalf
Tolkien disse:
Ele de fato o roubou e feriu no final - mas por uma 'graça', aquela última traição deu-se em uma conjuntura precisa, quando a última ação do mal foi a mais benéfica que qualquer um poderia ter feito por Frodo!
Ou seja, quem sabe Tolkien quis demonstrar Pilatos e Cristo: Gollum (Pilatos) traiu Frodo (Cristo, nesse caso) no momento decisivo da destruição do anel, e 'crussificou' (revelou a todos, seria mais ou menos) Frodo que no final das contas o mal fez o bem! Isso é, o tiro saiu pela culatra
...
Tolkien disse:
Sua prodigiosa coragem e resistência, tão grande quanto a de Frodo e Sam, ou maior, na medida em que foi usada para o mal, é nefasta, e não honorífica
Gollum ate que se saiu bem resistindo orgulhosamente a tentação (no inicio da história) ao Anel, mas como 'não cumpriu a palavra' caiu em tentação e caiu tambem na desgraça por causa de sua droga.
Tolkien disse:
Alguma coisa perigosa deve sempre cruzar nosso caminho?
Parece ironia, mas sim. Ate que se encaixa perfeitamente em nossas vidas (a sua não ?). Sempre havera o mal para ser derrotado pelo bem (quase sempre
), é como uma forma de um aprendizado. É nos erros que as pessoas aprendem a acertar... É por isso que quem não se arrisca não aprende nada.
Tolkien disse:
Eu tomo meus modelos como qualquer outro - da 'vida' como eu a concebo.Mas não há referência ao pós-guerra.
Nesse caso eu tenho que discordar do mestre. É impossivel um autor escrever um livro sem ser influenciado pelos fatos que lhe rodeiam. A não ser que possamos chegar a uma conclusaõ de que uma forma 'indireta'. O pós-guerra no caso seria os fatos que ocorreram depois de uma guerra, seriam tambem as ocorrencias que geraram por causa das rivalidades. Culturas destruidas, seqüencias de gerações perdidas, e outras coisas que o homem constrói e destrói...
Tolkien disse:
Mas o Um retém toda a autoridade principal, e (ou assim parece se visto em tempo em série) reserva o direito de introduzir o dedo de Deus na história: é assim para produzir realidades que não poderiam ser deduzidas mesmo de um completo conhecimento do passado prévio, mas cuja existência real torna-a parte do passado efetivo por todo tempo subseqüente (uma possível definição de um 'milagre').
Eu não acredito muito em milagre, pois coisas aparentemente impossiveis podem ser alcançadas. Apesar de que p/ Tolkien isso (milagre) pode acontecer. Ainda mais em uma terra mitologica como a TM de Arda, criado por ele, por sua vez um catolico devoto. Por isso, milagres se encaixam perfeitamente nessas histórias cheias de horror, tristezas e alegrias. Portanto nesses casos por que não acreditar
? (contradição ? Não. Pense)
Tolkien disse:
É claro que, de fato exteriores a minha história. Elfos e Homens são apenas aspectos diferentes do Humano, e representam o problema da Morte como visto por uma finita mas espontânea e auto-consciente pessoa. Nesse mundo mitológico, Elfos e Homens são em suas formas encarnadas, congêneres, mas em relação aos seus 'espíritos' ao mundo no tempo, representam diferentes 'experimentações', cada um dos quais tendo sua própria tendência inata, e fraqueza.
É preciso antes de tudo resaltar que Humano do nosso planeta e homem de Arda sao 'diferentes'. Elfos já são uma representação simbólica de que a imortalidade pode causar 'inveja'. Portanto, na minha opinião elfos e homens são as principais raças benignas da TM e de toda Arda. Hobbits vem em 3º para mim, pois representa de uma outra forma, e simbólica tambem (porem diferente), a falta de ambição, já ainur e valars são outra coisa...
Tolkien disse:
Não há 'personificação' do Criador em lugar algum desta história ou mitologia. Gandalf é uma pessoa 'criada'; embora possivelmente um espírito que existia antes no mundo físico. Sua função enquanto um 'mago' é de um mensageiro angélico dos Valar ou Regentes: auxiliar as criaturas racionais da Terra-Média a resistirem a Sauron, um poder grande demais para eles lidarem sem ajuda.
Gandalf, o Peregrino; Gandalf, o Branco; Gandalf, o Cinzento; Gandalf de tantos nomes e Gandalf, o conselheiro
... Pra mim, Gandalf é visto como um velho experiente e importante e serve entre inumeras outras coisas como conselheiro.
Tolkien disse:
Mas a situação tornou-se tão grave pela queda de Saruman que o 'bem' foi obrigado a um maior esforço e sacrifício. Assim, Gandalf enfrentou e sofreu a morte; e retornou ou foi enviado de volta, como ele diz, com poder aumentado. Mas embora alguém possa nisto ser lembrado dos Evangelhos, não é na realidade, exatamente a mesma coisa. A Encarnação de Deus é algo infinitamente maior do que algo sobre o qual eu me atreveria a escrever.
Apenas, escreveu que Eru foi o criador, e não se 'atreveu' (segundo ele) a nada mais. Na minha opinião somando com a de tantas outras discutidas aqui no forum, é que Eru foi 'apenas' um personagem a mais na sua mitologia que serve como homenagem a Deus. Foi devido a seu puxa-saquismo que Deus resolveu dar tantos premios e sucesso a sua obra
.....
Tolkien disse:
Aqui eu estou apenas interessado na Morte como parte da natureza, física e espiritual do Homem, e com a Esperança sem garantias. É por essa razão que eu me refiro ao conto de Arwen e Aragorn como o mais importante dos Apêndices;
Como já foi discutido aqui no Forum, a morte é retratado por Tolkien como um dom. Um dom que dá esperança de uma 'vida nova'... Pra mim, Tolkien soube como poucos autores retratar a morte como algo 'importante' ou algo do tipo...
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Bem, é esse meu
modesto comentário que tive a vontade de me dedicar em comentar, pois gosto dessas coisas ligadas a Tolkien
. Valeu