Crítica sobre “A Batalha dos Cinco Exércitos” na Folha

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Escrito por Reinaldo José Lopes

Confiram o que escrevi para a “Folha de S.Paulo” sobre o último filme da Trilogia Hobbit. Link original aqui.

Em dado momento de “O Hobbit – A Batalha dos Cinco Exércitos”, os humanos que sobreviveram ao ataque do dragão Smaug se refugiam atrás das muralhas de uma cidade em ruínas.

Como as forças das trevas invadem o lugar? Simples: mandam um enorme troll, com um aríete amarrado à testa, para a muralha. O bichão dá uma cabeçada nas pedras, abre uma brecha no muro e cai desmaiado.

Ocorre que essa falta de sutileza, esse “estilo troll”, também é a principal técnica empregada pelo diretor Peter Jackson no capítulo final da saga. A impressão é que o cineasta neozelandês se tornou incapaz de distinguir entre a grandiosidade épica (que ele soube explorar na adaptação de “O Senhor dos Anéis”) e a overdose de pancadaria.

Se você achou o troll-aríete meio demais, prepare-se para um bestiário que nem a célebre imaginação de J. R. R. Tolkien (1892-1973), o autor dos livros que deram origem aos filmes, foi capaz de produzir.

Falando nele, o fim da trilogia “O Hobbit” deixa claro que um dos grandes problemas dos filmes foi a necessidade de expandir passagens que, nos livros, são breves descrições.

Tolkien está longe de ser unanimidade no meio literário, mas seus diálogos muitas vezes têm densidade poética e boas sacadas –não é à toa que tenham sido usados sempre que possível nos filmes.

Quando Jackson (que também assina o roteiro) e companhia são forçados a escrever falas do zero, o resultado fica muito abaixo do “padrão Tolkien de qualidade”.

Apesar disso, duas coisas impedem que o filme seja um triunfo dos orcs. A primeira é Bilbo. O britânico Martin Freeman incorporou de tal maneira a timidez, a autoironia e, lá no fundo, a coragem indomável típica dos hobbits que é difícil não acreditar que ele tenha pés peludos de verdade.

A segunda: preciosos minutos finais em que a história é amarrada com a de “O Senhor dos Anéis”, de forma surpreendentemente sutil e emocionante, criando a ilusão de um conjunto harmônico, a “hexalogia do anel”. Nem parece que a mesma equipe produziu essa passagem e as duas horas anteriores de filme.

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