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Autor da Semana Haruki Murakami

Acabei de ler O Incolor Tsukuru Tazaki (preguiça de abrir um tópico só pro livro). Murakami é aquele autor que você lê quando quer algo familiar, de fácil digestão, e de certa forma reconfortante, sem completamente deixar o refinamento literário de lado. Ele não é de forma alguma um mau escritor, mas alguém cujas idiossincrasias se infiltram nas páginas de seus livros, para o melhor ou para o pior.

Neste caso, algo simultaneamente um pouco desconcertante e agradável é sua escolha de narrador em terceira pessoa onisciente (com pensamentos ocasionais de nosso protagonista Tsukuru Tazaki invadindo a narrativa); a história é contada de maneira factual que é ao mesmo tempo desajeitada e íntima, parecendo às vezes um tanto crua, como se Murakami estivesse convocando o essencial para mover a história adiante, as frases escritas de maneira direta, com muito telling e pouco showing, dá a impressão de que você está lendo um trabalho autobiográfico mal disfarçado e preguiçoso; os eventos, em sua maioria, são básicos, a narração é rudimentar (abundam símiles bobos), com alguma repetição desnecessária (como quando ele descreve seus personagens agindo surpresos porque não sabiam de algo, apenas para eles dizerem a mesma coisa com suas próprias palavras logo em seguida), os diálogos são truncados em alguns lugares (pelo menos na tradução brasileira)... e ainda assim, como sempre, o livro tem seus encantos.

A trama, como vocês já devem saber por ter lido a sinopse por aí, trata deste homem, Tsukuru Tazaki, na casa dos 30 anos, olhando para um tempo durante o ensino médio quando ele fazia parte de um grupo de amigos, 5 no total, incluindo ele mesmo, até que um dia, em seu segundo ano de universidade, sem motivo aparente, os amigos decidem categoricamente que não querem mais falar com ele. Isso o leva a um período de profunda depressão, quando Tsukuru se sente abandonado e solitário, e só consegue pensar em morrer; então ele meio que supera isso, ou melhor, sua ferida cicatriza, mas ainda dói, então, seguindo o conselho de sua namorada, ele vai em busca desses antigos amigos para descobrir por que decidiram se separar dele.

Leva um tempo para chegarmos lá, no entanto, e desde a descrição de sua adolescência até o presente, há algumas tramas secundárias, como quando Tsukuru faz um amigo na universidade, e eles passam muito tempo juntos, ouvindo música e conversando, até que esse amigo desaparece bem aleatoriamente também, e isso acrescenta aos sentimentos do protagonista de estar vazio, sem nada a oferecer às outras pessoas, sendo apenas um ninho temporário onde elas podem pousar por um tempo até alçarem voo e seguirem em frente com suas vidas (ah, e sim, o título do livro vem do fato de que os nomes de todos os amigos adolescentes dele têm uma cor neles, com os meninos tendo vermelho e azul, e as meninas preto e branco; apenas o sobrenome de Tsukuru não é "colorido").

Como pode-se perceber, é um romance profundamente melancólico. É melhor lido em pequenas quantidades, alguns capítulos de cada vez, deixando as imagens e emoções evocadas se assentarem, e então pegando-o novamente; imagens, sim, porque mesmo que o foco aqui seja na narração, ocasionalmente Murakami pinta cenas bastante precisas e emocionantes do cotidiano, e é essa ordinariedade que é, em última análise, atraente, juntamente com o sabor agridoce proveniente das coisas perdidas no tempo, e a sensação de que a vida pode continuar seguindo sem nada extraordinário, mais colorido ou significativo sendo possível de acontecer... nosso personagem principal só pode tentar se apegar à esperança de que um dia sua hora chegará... No geral, fiquei feliz por ter persistido na leitura; apesar desta jornada ser muito escassa para a história que tinha para contar (poucos escritores além de Murakami podem prescindir de um editor), é uma jornada emocional mesmo assim, uma que você compartilha com o protagonista, se permitir se identificar com sua situação (ou talvez a dele seja semelhante àquela que você já compartilha)...

Um livro para os solitários e melancólicos de coração.
 

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