Re: 1) Qual a sua personagem feminina favorita?
Arya Stark sem dúvida alguma.
Daenerys é impressionante também, bem mais que a vadia da Cersei ou a Sonsa.
Ainda assim, Sansa é uma personagem que vai se desenvolver, vem se desenvolvendo. Pelos livros percebemos que no segundo, ela já está bem menos ingênua e desencantada, cheia de ódio e zanga. Mesmo essa zanga é imatura, mas... o desencanto diante do contraste entre o que cantam os bardos e o que a realidade mostra é o trampolim para que ela amadureça. Isso a série pôde captar bem, trazer bem, mas corre o risco de se perder em diferenças mais sutis de amadurecimento. Mas aí é pedir demais.
Já Cersei é uma traidora, venenosa, ardilosa. No primeiro livro. No segundo, pelos olhos mais sagazes de Tyrion percebemos suas fraquezas: o amor 'leonino', a instabilidade constante, raiva, desejo louco de vingança, ambição desmedida. Tudo nela é desproporcional, como o irmão Jaime. E é moralmente difícil de avaliar, muito por ser uma mãe admirável, diferente de uma Guinevere cornwelliana, por exemplo, que cospe na própria fundação da maternidade.
Catelyn é uma mulher como vejo a mulher medieval ideal. Ela não tem exércitos, nem habilidades marciais, nem a simplicidade do caminho da espada. É uma mãe dedicada e amorosa, uma esposa fiel, uma mulher fortíssima que faz das tripas coração para proteger suas crias, e, ao mesmo tempo, lhes dá liberdade de seguir com suas próprias patas. É o exemplo de mulher inserida em uma sociedade e extremamente forte exatamente pela entrega ao seu dever de senhora, mãe e esposa. Dever, dever, dever. Uma verdadeira Stark.
Daenerys tem a seu favor o fardo de ser filha da Tormenta, a última Targaryen, aquela que conduzirá guerra a Westeros para tomar o que lhe pertence pelo fogo e pela espada. Independente de como você olha para sua pretensão, é inegável que ela é parte central da trama desde o início. Isso atrai, causa devoção. Mas o impressionante é que ela transcende toda essa devoção, ela consegue arrastar para sua causa pela sensualidade ardente, a inocência nada ingênua, o poder que se revela nela, a jornada que ela atravessa.
Já Arya é muito menos superficial do que a série mostra. Nem ali ela é superficial, mas aponta para uma superficialidade já vista antes. Mas mesmo na série o caminho de Arya é bem prefigurado, como ele se desenvolve ao longos dos livros. Ela não é só mais uma princesinha revoltada que acaba tendo de se virar sozinha, como nos clichês. Ela anda pelo caminho da morte. É a morte que norteia o horizonte dela. A morte, a perda da inocência, a destruição das esperanças. Arya se defronta com desgraças, tragédias, ela tem de se mostrar forte o bastante pra encarar a solidão, o perigo da morte que se avizinha, ela é uma sobrevivente, alguém que se arrasta silenciosa e indo contra todas as convenções infantis de aventuras doces que ela esperava, tem de experimentar a morte em seu encalço, a morte que é sua companheira constante, a morte a que ela se alia, a morte cujo rosto e função ela assume. Pra sobreviver.
Todo o caminho dela é incerto, pedregoso, cheio de morte e sofrimento, é um caminho escuro, trágico, de sangue e um teste eterno de todos os sentimentos humanos. A jornada dela é um caminho de dor que a leva a superar-se a si mesma o tempo todo, que a leva longe. Ela é muito maior que aparenta, porque o que ela sofre é muito mais profundo, as transformações são muito mais sérias, é o crescimento de uma astúcia animal, é uma metáfora da vida que abraça a morte com o objetivo de enganá-la, desviar-se dela, dela ser senhor, é matar a morte.
Por isso, de longe, independente dos rumos das guerras e condicionada a elas, Arya é minha personagem favorita dentre todos de Westeros, Asshai, Ilhas do Verão, Valíria etc.