Mercúcio
Usuário
Me deparei com esse vídeo e a pergunta ficou martelando na minha cabeça. Faço algumas considerações:
1) Primeiro, vamos pensar a leitura para além das Universidades. Imagino que deve ter bastante gente escrevendo sobre isso, academicamente. Mas a minha ideia era pensar no público leitor não especializado.
2) Como a Adriana Tourinho disse, alguém poderia objetar: ok, mas mesmo se considerarmos a população leitora, há um desapreço até mesmo pela literatura nacional.
3) Beleza. Mas se isolarmos os leitores que têm essa abertura para a literatura brasileira, quantos deles lêem literatura portuguesa ou angolana ou moçambicana ou de outros países lusófonos? O que nós conhecemos dessas literaturas?
Falando por mim, de literatura portuguesa mesmo eu li 1 livro do Eça de Queirós, 1 livro do Fernando Pessoa, 1 livro do José Saramago, 2 livros do Valter Hugo Mãe (que nasceu em Angola, mas... né?) e acho que só. Sei que, com certeza, muitos de vocês devem ter uma bagagem bastante mais considerável que a minha com a literatura portuguesa, mas ainda assim, num recorte mais amplo, é uma literatura pouco consumida no Brasil, não?
Como um exemplo, cito o caso de Agustina Bessa-Luís, relevantíssima para a literatura portuguesa do século XX e pouquíssimo conhecida no Brasil. Valho-me desse trecho de um texto da Revista Bula:
Maior do que Saramago e Lobo Antunes
Na reportagem “Estudiosos criticam desdém do Brasil por autora portuguesa Agustina Bessa-Luís”, Marco Rodrigo Almeida, da “Folha de S. Paulo”, comenta a bronca que João Pereira Coutinho, colunista do jornal, deu “no mundo editorial brasileiro”. O intelectual português escreveu: “Mas como é possível só ter ouvido falar do maior gênio vivo da literatura portuguesa? Não é possível. Nem desculpável”.
Agustina quase nem é editada aqui. Eu achei um livro dela, editado por uma coleção específica da Folha de São Paulo, dedicada a mulheres na literatura. Fora isso, você tem que ir à Travessa para conseguir alguma coisa além, pra comprar as edições lusitanas da Relógio D'Água que chegam para nós ao preço de uma facada, na casa dos 150 reais cada livro.
Com relação aos autores dos países africanos lusófonos, eu não digo que eles sejam de todo desconhecidos por aqui. Algumas figuras ganharam destaque, um Mia Couto, um Agualusa, um Pepetela, etc. Mas ainda é muito pouco e é uma coisa muito de nicho, não?
4) Tenho a impressão - e é algo em que posso estar redondamente enganado - de que o mundo de língua espanhola constituiu um circuito cultural muito mais integrado que o mundo de língua portuguesa - e isso para além da literatura. Quando decidi que iria aprender espanhol e comecei a navegar em sites de língua espanhola, ouvir noticiário, consumir música em língua espanhola, me ficou forte essa impressão de que o mundo hispanohablante tem mais consciência do que está acontecendo na cena cultural de outros países de língua espanhola, quando comparamos esse quadro com o circuito cultural do mundo de língua portuguesa. Faz sentido ou é viagem minha?
Até tenho algumas hipóteses, uma coisa mais especulativa mesmo, a respeito, pensando os modelos de colonização portuguesa e espanhol e o quadro da herança colonial nesses países de língua espanhola e nesses países de língua portuguesa, sobretudo nos países africanos. Mas queria ver o que vocês pensam a este respeito e depois, se for o caso, desenvolvo melhor isso.

5) Aproveitando o ensejo, eu quero muito começar a ler mais autores lusófonos. Então, se quiserem fazer aqui algumas recomendações do que leram e acham que vale mais à pena, eu vou achar ótimo.
É isso!
