Jules Gabriel Verne Allote nasceu em Nantes, no nº 4 da rua Olivier-de-Clisson em Ile Feydeau, em 8 de Fevereiro de 1828. Juntamente com os seus irmãos Paul, Anna, Mathilde e Marie, passou a infância neste porto do Atlântico, onde embarcavam navios carregados com especiarias e de onde zarpavam naus para terras desconhecidas. Nantes foi também o porto onde confluíam os negreiros do tráfico de escravos do século XIX.
Mas, para J. Verne, foi nesta cidade costeira que a sua imaginação se libertou das amarras: "Sonhava subir aos mastros dos navios, viajava agarrado a eles", escreveu em Souvenirs d"infance et de jeunesse (Memórias da infância e da juventude).
Aos 12 anos trocou de lugar com um adolescente para ir como grumete a bordo do Coralie, um cargueiro à vela que ia para as Bermudas e que estava atracado no porto de Poimbeuf. Foi descoberto e mandado para casa.
Filho de Sophie Allote de la Fuÿe (1800-1887), esta de uma família burguesa de Nantes, e Pierre Verne (1799-1871), um advogado proeminente, acompanhou o pai na sua mudança para Paris, em 1848, em busca de uma melhor clientela.
Aí estudou, dividindo o seu tempo entre o curso de Direito e suas aventuras literárias, às quais fora apresentado pelo seu tio. Conheceu personalidades importantes da literatura francesa, como Victor Hugo e Alexandre Dumas Filho, e não tardou ele próprio a escrever sob a sua orientação acabando por se tornar secretário do Thêatre Lyrique.
Estreou a sua primeira peça de teatro "Les Pailles Rompues" em Paris, aos vinte e dois anos de idade e, um ano depois, em 1851, o seu primeiro conto de ficção científica, Un Voyage En Ballon. Ainda incapaz de viver exclusivamente da escrita, Verne fez-se valer do seu diploma em Direito, encontrando o seu sustento como operador financeiro. Em 1857, casou-se com uma jovem viúva de 28 anos, Honorine Anne Hébe Fraysse de Viane (1829-1910), que já tinha duas filhas (Valentine e Suzanne) e com a qual teve o seu único filho, Michel Jean Pierre Verne. Arranjou então um emprego na Bolsa de Paris, para sustentar a família, mas continuou a escrever nas horas vagas.
Conheceu o fotógrafo Félix Nadar, um apaixonado pelo balonismo como todos em Paris. Nadar era conhecido pelas suas aventuras com balões até que resolveu fazer um passeio com a mulher e mais nove passageiros num enorme balão durante 16 horas. Um acidente ao pousar lhe quebrou as duas pernas. Mas esse fato não fez diminuir em Verne o desejo de escrever sobre máquinas, invenções e viagens pelo mundo. Pelo contrário, a partir daí ele passou a estudar muito mais as revistas científicas e os livros que falavam dessas invenções.
Cinco anos depois, deu-se o ponto de virada na sua vida e na sua obra, quando Nadar apresentou o editor e também autor de livros infanto-juvenis Pierre-Jules Hetzel que demonstrou interesse em publicar a sua série "Voyages Extraordinaires". A obra Cinq Semaines En Ballon (1863) garantiu a J. Verne a popularidade necessária ao seu estabelecimento como escritor em tempo integral. Essa história continha detalhes tão minuciosos de coordenadas geográficas, culturas, animais, etc., que os leitores se perguntavam se era ficção ou um relato verídico. Na verdade, J. Verne nunca tinha viajado num balão nem tampouco ido à África. Toda a informação sobre a história veio da sua imaginação e capacidade de pesquisa. Assinou um contrato no qual precisava escrever dois livros por ano, nos próximos vinte anos e depois prorrogado por toda a produção futura. Verne cumpriu o contrato durante 40 anos.
Procedendo a uma investigação metódica e rigorosa, Verne começou a escrever romances, geralmente de ficção científica, bastante convincentes e realistas. Em Le Voyage Au Centre De La Terre (1864, Viagem ao Centro da Terra), descrevia uma expedição científica ao núcleo terrestre, antecipando um sonho de muitos investigadores. O mesmo aconteceu com De La Terre À La Lune (1865, Da Terra à Lua), romance que encontraria uma continuação em Autour De La Lune (1870, À Volta da Lua) e em que Verne prefigurava em mais de cem anos a primeira expedição lunar. Nesse ano, 1865, tornou-se membro da Sociedade de Paris ficando amigo de cientistas famosos. Teve a consciência de que contribuía com as suas obras para a divulgação dos conhecimentos da época. O caráter visionário da obra de J. Verne pode também ser notado em obras como L'Île Mystérieuse (1874, A Ilha Misteriosa) e Vingt Mille Lieus Sous Les Mers (1869-70, Vinte Mil Léguas Submarinas), romance em que o carismático Capitão Nemo profetizava a pirataria submarina alemã da Segunda Guerra Mundial.
Em 1867, abandonou definitivamente Paris e instalou-se em Crotoy. Sem parar de escrever, iniciou as suas viagens com uma ida aos Estados Unidos com seu irmão Paul, no famoso Great Eastern, a última palavra da tecnologia vitoriana. Esta viagem formaram as suas principais fontes de inspiração para a obra A Cidade Flutuante.
Este gosto pelo mar, leva-o adquirir uma pequena embarcação de pesca que, em homenagem a seu filho Michel, batiza de Saint-Michel. Em 1876, substitui-a pelo Saint-Michel II, de 13 metros e 19 toneladas. Todavia, no ano seguinte, visitando o estaleiro Jollet Babin, encanta-se com um belo barco de casco de ferro, vela e vapor, de 30 metros de comprimento. O barco pertencia ao marquês de Préaulx, que por ele tinha pago 100 mil francos e estava à venda por metade do custo. Seria o Saint-Michel III com dez homens de tripulação e comandado pelo capitão Ollive, o “Pinson”, experiente capitão. O Saint-Michel III parece que só tinha um defeito: demorava duas horas a atingir a pressão nas caldeiras. Verne, entre 1878 e 1885, faz nele viagens pela costa da França, vai ao Mediterrâneo, e visita o Papa Leão XIII. Nessas suas visitas, passa duas vezes por Lisboa.
Em 1871, depois de ter sido nomeado Cavaleiro da Legião de Honra, Verne foi assediado a tal ponto que instalou-se em Amiens (primeiro no nº 23 do Boulevard Guyencourt (1871-1873), depois no nº 44 do Boulevard Longueville, (1873-1882), seguido do nº 2 da Rue Charles-Dubois (1882-1900) para finalmente regressar à casa situada em Boulevard Longueville, agora Boulevard Jules Verne, onde permaneceu até à sua morte) para ter sossego e poder escrever. Lá, em Amiens, opta pela escrita de títulos como A Ilha Misteriosa e A Esfinge dos Gelos em que foca os temas do meio ambiente, da proteção das espécies e a sobrevivência de culturas nativas. Tinha o costume de escrever dois, às vezes até três livros ao mesmo tempo. Escrevia sempre na página da direita, deixava a esquerda para corrigir o texto e raramente mudava a versão original, o que prova que ele era um redator fluente.
Desde 1871, foi membro da Academia de Ciência, de Letras e Artes da cidade, presidiu a instituição em 1875.
Onze anos mais tarde é a morte da sua alma. Vende o seu magnífico iate provavelmente por razões financeiras. Com a venda do Saint-Michel III, iniciou-se o período mais negro da sua vida. Em 9 de Março de 1886, sobrevive a uma tentativa de assassinato pela mão do seu sobrinho Gaston, filho do irmão Paul, devido a um sentimento de inveja e ciúme. Com a bala alojada entre o pé e o tornozelo, viveu coxo com a ajuda de uma bengala nos seus últimos 19 anos de vida. Caiu em depressão na mudança do século, ao perder os seres e as coisas que mais amava: o seu irmão, o seu amigo e editor Hetzel e os seus passeios de barco.
Vinte e um anos depois de ter sido nomeado Cavaleiro da Legião de Honra, foi nomeado em 1892, Oficial da Legião de Honra.
O seu neto, Jean-Jules Verne, na biografia do seu avô nos conta dos seus últimos momentos como a conclusão de um sofrido calvário: a catarata, que lhe custou a vista do olho direito; o reumatismo avançado; as pernas doentes e a crise de diabetes,...
“O meu avô morreu no dia 24 de Março de 1905 (sexta-feira), às oito da manhã. Do sul da França, de onde nós ainda estávamos arrumando a mudança de casa, o meu irmão mais velho e eu fomos chamados por telegrama para nos juntarmos aos nossos parentes e ao nosso outro irmão, no norte, ao lado do leito de Verne em Amiens. Quando ele nos viu todos ali, nos deu um olhar profundo que claramente significava: “Bom, vocês estão todos aqui. Agora, eu posso morrer”; então, ele virou-se para a parede, esperando bravamente pela morte. A sua serenidade nos impressionou enormemente, e desejamos ter uma morte tão serena quanto a dele, quando chegar a nossa hora”.
Há também um relato mais romântico onde o escritor, antes de a sua família chegar a sua casa, pediu a sua esposa, Honorine, o livro 20000 Léguas Submarinas e que o abraçou o mais que pode. Verne sentia um carinho especial por esta obra.