Re: Desarmamento: você vai votar!
Muito bem, então temos o argumento da guerra fria. Logan, você foi de longe o mais consistente dos contrários. Eu lhe venderia uma arma (mesmo que você não queira), só para me livrar de você!
Infelizmente, há lugares já estavam e vão continuar à margem da lei. Se ali valia a guerra fria, vai continuar valendo. Toda lei é limitada. O maior problema é social. Enfrentar as desigualdades sociais adianta muito mais que andar armado, desarmado, ou bancando o maluco.
É muito fácil comprar uma arma, muita gente irresponsável anda armada. Esta lei tenta acabar com certas mortes bestas, evitar que uns irresponsáveis façam bobagem, que pessoas comuns, sem preparo facilmente coloquem as mãos em armas. Não haverá uma revolução na segurança pública, o fim da criminalidade. Mas será que virá o caos, uma ausência de inibidores? Vejamos...
Antes de chegar na teoria do inibidor:
Afinal, como bandido decide quem assaltar? São tantas variáveis que isolar o "ele pode estar armado" como o maior fator contrário é complicado. E quanto às outras variáveis? Por exemplo, o fator oportunidade não seria o predominante ? Você pode estar armado à beça, todos os inibidores ativados, mas se vacilar, pimba!
A propósito, um teste de campo. Se o fator de segurança é acreditarem que você anda armado, andar com um volume debaixo da camisa que se assemelhe a arma deve ser uma bela apólice de seguros.
E, dado que quase sempre são homens que andam armados, por que as mulheres não sofrem agressão à mão armada em proporção incrivelmente maior em relação a eles?
Sem querer relevar a situação de ficar de frente a uma arma, mas a essa altura aquelas probabilidades de prevenção já colapsaram, os inibidores já foram. Daí para a frente é loteria.
Feitas as ressalvas, vamos seguir com a teoria do inibidor:
Como o bandido identifica o cidadão de bem? Afinal, o cara deixa de assaltá-lo porque acha que você é um cidadão armado, um fora-da-lei armado ou outra coisa?
Como eu sei se você é um cidadão de bem? É você quem está dizendo isso. Se eu nunca tivesse tido contato com você e lhe visse na rua, como eu ia saber se aquele baixinho mal-encarado não seria um perigo em potencial?
A propósito, fora-da-lei tem rosto e biotipo definido? Quem garante que eu não tenha cara de assaltante de banco?
A campanha de entrega de armas está em andamento desde a publicação da lei (23/12/2003), na verdade está para acabar. Se era para os bandidos mudarem de atitude em vista da menor quantidade de armas, já poderiam ter começado. E, como no bairro perigoso é a presença de armas que protege as pessoas, qual o índice de sucesso da campanha nesse bairro?
E afinal, o que os bandidos pensam? Estamos todos chutando (eu me incluo, naturalmente), mas quão razoáveis são os palpites?
Então, após o referendo, o potencial assaltante vai imaginar que ele é o único que está armado no bairro perigoso? Que as outras armas sumiram? Como saber se o cara do lado também não é um fora-da-lei? Como saber se o outro é um cidadão armado que descumpre a lei? E todo mundo sabe que, em virtude dos baixos salários, moram soldados de polícia na periferia, que obviamente não andam fardados dentro do bairro, mas têm arma. Como saber se o sujeito ali não é um polícia fora de serviço?
O bairro já estava à margem da lei, que bandido vai achar que os caras que já andavam armados (regulares ou não) deixaram de andar? E, assim como você não precisa andar armado para usufruir do inibidor será-que-ele-está-armado, ninguém precisa tornar-se fora-da-lei para usufruir deste.
Qual a chance de que mude alguma coisa nos bairros perigosos? Até então, as armas que estavam nas mãos dos cidadãos nessas regiões eram legalizadas? Havia alguém preocupado com porte, registro, fiscalização, algo legalizado? Vai passar a haver essa preocupação? Se o bairro já estava fora do alcance da lei, que polícia vai instalar a fiscalização?
Bandido já está acostumado a descumprir a lei, ele vai achar que ninguém mais é capaz de fazê-lo? Na terra do jeitinho? Novamente, pela questão do inibidor, basta que ele acredite que você possa estar armado.
Não é mais fácil que ele ache que a tal lei não vai pegar, e continuar tudo como antes?
Sim, aqui não é a Suíça ou o Canadá. Aqui ninguém acredita que você sempre cumpre a lei.
A probabilidade do bandido investir contra um cara armado continua.
Sobre a posse e a venda:
A venda não é totalmente proibida, você sabe, ela é permitida para uma lista de categorias e em certos casos especiais. É um controle de venda, restritivo, mas ainda com possibilidades. O juridiquês é frustrante, desorganizado, tortuoso, eu ainda não sei como alguns artigos se relacionam com os outros, nem todas as alternativas.
Eu insisti na questão da validade da posse em casa porque a tecla mais batida pelos outros era o medo de ser obrigado a entregar as armas de casa. As que já existem, podem ficar onde estão. Se o cara quer mais (mais?! vixe!), sei lá, pode tentar se encaixar numa das categorias. Se o cara mora num lugar perigoso, acha que sua casa deveria estar armada, mas não tinha comprado nenhuma, aff, eu perguntaria por que ele não tinha comprado ainda.
E eu agora vou ter que procurar todas as maneiras para um cara se armar, enquanto os que querem se armar ficam reclamando da vida e dos outros?
Edit: alguns smiles a mais.