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'Infiltrado' na PM, jornalista revela rotina e o que pensam os policiais do Rio

ricardo campos

Debochado!
In Memoriam
Raphael Gomide decidiu prestar o longo concurso para a PMERJ, certo de que só conseguiria acessar a visão de mundo dos agentes se estivesse na corporação. Rotina é relatada em livro que concorre a prêmio da Amazon
Por Beatriz Perez

Publicado às 09h10 de 01/02/2019 - Atualizado às 10h23 de 01/02/2019

Rio - No ano em que o Rio teve 151 policiais assassinados, o jornalista Raphael Gomide decidiu se infiltrar para entender quem eram e como pensavam aqueles que almejam ingressar na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. No ano de 2007, quando prestou concurso, 1.330 civis foram mortos pelas polícias Civil e Militar no estado. O número de mortes em decorrência de ação policial só seria superado em 2018, quando 1.532 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia no Rio.

Naquele ano, o repórter decidiu prestar o longo concurso para a PMERJ, certo de que só conseguiria acessar a visão de mundo dos recrutas e instrutores da corporação se estivesse infiltrado. Após passar pelas provas intelectual, física e social, frequentou o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da Polícia Militar (CFAP) em Sulacap, na Zona Oeste do Rio.

As impressões retidas da cansativa rotina militar eram anotadas em um caderno didático, que substituía o bloco de repórter. À noite, as informações eram registradas no computador no apartamento do Leblon, Zona Sul do Rio. A experiência resultou na publicação de uma reportagem, em 2008, que foi aprofundada no livro “O Infiltrado: Um repórter dentro da polícia que mais mata e mais morre no Brasil”, publicado no fim de 2018 e que, agora, é finalista do Prêmio Livro-Reportagem Amazon. O autor compartilha, em entrevista ao DIA, o que motivava e ressentia os colegas que almejavam integrar a corporação.

Como foi a decisão de prestar o concurso?

Eu queria entender os motivos dessa violência típica do Rio de Janeiro. O meu objetivo era tentar chegar o mais próximo da verdade. Experimentar a formação militar. Estar junto dos recrutas. Conhecer as visões de mundo deles e dos instrutores para entender a polícia do Rio e ver se o processo de formação tinha impacto na violência policial.

Qual é esta violência típica do Rio?

Os policiais não morriam assim há 20 anos. Em algum momento dos anos 90, criou-se um ciclo de violência. Muitas vezes a polícia, em vez de prender, matava, mesmo com o cara sob custódia. Por outro lado, os bandidos também pensavam: "Se me render, vou morrer. Vou trocar tiro até morrer”. E quando tinham a oportunidade de se vingar, passaram a matar policial na rua.

O que te chamou a atenção na formação dos policiais?

Todos falam muito contra a corrupção: os oficiais, o comandante do CFAP, o comandante do Curso de Formação de Soldados (CFSd), os instrutores, sargentos. Eles falam: “Se quiser ser corrupto, vai desonrar sua família, acabar preso ou morto”. É um discurso muito forte.

Por outro lado, há um discurso de normalização da violência no CFAP. “Se deu um tiro pelas costas, pega a arma do cara, dá um tirinho, e diz que foi legítima defesa”, disse um aspirante. “Isso vocês vão aprender na rua”, completou.

O que corrobora para esta violência policial?

O policial teme pela própria vida no futuro e acaba fazendo a justiça com as próprias mãos, o que é criminoso. Eu ouvi de um colega: “Prender (o suspeito) é a mesma coisa que colocar um animal na jaula. Depois ele vai sair e te matar”. Ele não confia no aparato judicial, de que o cara vai continuar preso. Todo esse estresse e insegurança aumentam a violência policial.

O medo é uma marca do policial?

Dos recrutas até os instrutores, todos relatavam episódios em que se envolveram em situações de risco. O cara conta que na folga teve o carro roubado, que estava no ônibus e teve que jogar a carteira para fora para não ser identificado como policial. Os instrutores ensinam a guardar a farda pelo avesso na mochila, embaixo do banco traseiro. São estratégias para diminuir o risco de morte.

Como os policiais lidavam com o porte de armas?

Era um dilema permanente. A maioria achava que tinha que carregar a arma. Menos gente achava que não. O problema é que o policial circula no bairro e, muitas vezes, todos o conhecem. Se depois, desarmado, ele for abordado por um criminoso, não teria nem a possibilidade de se defender. Para o policial é difícil não andar armado. Mas, o cara armado tem mais chance de ser morto do que desarmado. Os policiais andam de carro prontos para reagir. O bandido nunca está sozinho. A maioria das mortes é durante a folga. No trabalho, você raramente está sozinho. É mais difícil ser abordado.

O policial é ressentido com a sociedade?

Existe um ressentimento grande porque eles estão expondo a vida o tempo todo, não só durante o trabalho. A taxa de mortalidade do policial é seis vezes maior que a da população média do Rio. Eles estão muito expostos.

Como os colegas reagiram ao saber que era um jornalista infiltrado?

Quando publiquei a reportagem os colegas adoraram. Nenhum veio falar que eu estava criticando a violência indevidamente. Quando reproduzo na reportagem, ou no livro, os discursos, eles não veem como uma crítica. Os colegas adoraram a matéria porque mostrava a falta de estrutura do CFAP, o medo e a insegurança com que convivem. Depois fui na formatura, já como jornalista, tiramos fotos e tudo.

Você teve medo de se infiltrar na PM?

Eu fiquei preocupado, mas minha família ficou mais. Eu tinha medo de algum tipo de vingança. De alguém ficar incomodado com a matéria. Mas, por outro lado, eu achava que, diferentemente de outras situações, eu estava dentro do aparelho estatal. Eu podia recorrer ao estado no caso de alguma intimidação, e foi o que aconteceu quando a matéria foi publicada.

O que houve?

Policiais da inteligência foram para a porta da minha casa no dia seguinte à publicação. Ficaram lá o dia inteiro. Eles são os responsáveis pela pesquisa social, fase da seleção em que os policiais vasculham a vida prévia do candidato. Depois que saiu a reportagem, se sentiram enganados. Devem ter levado uma bronca. Aí, quando a matéria saiu houve esta intimidação. A minha família ficou muito assustada. Mas, falei com a assessoria do Pezão, vice-governador na época, e tiraram os caras de lá.

O que mudou na sua cobertura policial como jornalista?

Eles se sentem injustiçados. Acham que a imprensa só fala mal deles. Não mostra nada bom. Só mostra o policial fazendo besteira. Também é uma dificuldade de aceitar críticas e entender que a imprensa fiscaliza todos os poderes, inclusive o policial.

Para mim, foi muito importante para criar mais empatia pelos policiais. Quando você está na favela levando tiro, você atira. É claro que quanto mais bem preparado, menos vai atirar, mais preciso vai ser. É preciso repensar o confronto e treinar melhor.

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Fonte: https://odia.ig.com.br/rio-de-janei...-o-que-pensam-os-policiais-do-rio.html#foto=7
 
Eu gosto bastate do programas policiais justamente por isso. Muita vezes criticamos duramente a máquina e esquecemos que o que a move são humanos.
Apesar de toda corrupção e abuso, há por trás pessoas fragilizadas e já beirando a insanidade. Eu leria o livro
 

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