Companheiros (VAMOS A MATAR COMPAÑEROS!, Itália/Espanha 1970; com Franco Nero, Tomas Milian, Jack Palance, Karin Schubert, Fernando Rey e Francisco Bódalo. Escrito e dirigido por Sergio Corbucci. Duração 120 min.)
Assisti ontem a este Spaghetti Western. Sensacional. O diretor Sergio Corbucci, conhecido como o "outro Sergio" (em referência ao mestre Leone), escreveu e dirigiu este filme, na verdade conhecido como um "Zapata Western" um ramo dos Spaghetti, que tem como característica principal a ação que se passa no México revolucionário; ou seja, um sub-sub gênero!
México, 1913. A revolução campesina toma conta do país. O contrabandista de armas sueco (!?) Yolaf Peterson (Franco Nero) chega ao vilarejo de San Bernadino com um vagão abarrotado de armas para vender aos revolucionários comandados pelo General Mongo (Francisco Bódalo) que infestam o lugar. O problema é que o dinheiro para o pagamento das armas está trancado em um cofre ultra-resistente e todas as pessoas da cidade que sabiam a combinação foram mortas pelo espiríto totalmente insano dos revolucionários; todas menos uma: o idealista professor Xantos (Fernando Rey). O probelma é que o professor esta preso por subversão em uma fortaleza no lado americano. O sueco se propõe a resgata-lo e vai junto com um dos revolucionários o interesseiro e alucinado Vasco (Tomas Milian), assim a dupla embarca em em uma série de aventuras e contratempos, tendo que se confrontar com o exército americano, os federalistas mexicanos, um ramo de revolucionários intelectualistas e um grupo de mercenários assassinos comandados pelo insano John Mão-de-Madeira (Jack Palance), que tem contas pessoais a certar com o sueco.
Com este argumento louco, o filme se desenvolve como uma montanha russa, cenas de tiroteio em alta rotação e maravilhosamente cômico, com situações absurdas não se levando a sério em nehum momento; desde o começo a projeção nos deixa claro que estamos em um mundo onde reina o caos absoluto e bom senso não existe, pareçe que estamos e um reino de faz-de-conta, um Western-apocalipse que se passa em um mundo alternativo, onde os vilarejos são fantasmas, nas paredes das casas se amontoam inscrições com pregações políticas, palavrões e ofensas, e os mortos se pilham por toda a parte. Sergio Corbucci tem um estilo bem diverso do de Leone, esquanto este é classudo, Corbucci faz questão (pelo menos neste filme) de ser maluco e tosco. O sueco e o revolucinário Vasco fazem uma dupla bizarra, divertida e de excelente química; Franco Nero dá ao seu personagem um cinismo engraçadíssimo, provando que é um ator versátil e muito bom, enquanto Milian, um ator cubano, tranforma Vasco em um maluco de visual emulado em Che Guevara (!) e que pareçe que não está nem aí para a loucura que acontece a sua volta. A todo instante temos o planfetarismo anti-imperialista e revolucionário, mas tudo muito debochado e irônico. É claro que com o tempo a dupla de protagonistas começa a questionar se tudo aquilo vale realmente a pena e de qual lado eles realmente estão.
O pesonagem do ator clássico americano Jack Palnace é um caso a parte, hiper-caracterizado, ele representa a alma de um vilão típico do non-sense de muitos dos filmes Spaghetti: O sujeito tem o cabelo desarrumado, anda sempre com uma capa preta, tem uma mão de madeira que coça o tempo todo, possui um falcão treinado por quem é apaixonado (porque salvou ele de ser crucificado devorando a sua mão que estava pregada!), não para rir e possui um ar chapado porque é viciado em maconha e acende um baseado atrás do outro! Muito hilário. Hilário também e uma passagem do filme na qual os dois protagonistas, já com o professor em mãos tentam desesperamente passar para o lado Mexicano, mas são perseguidos pelo Mão-de-madeira e os outros grupos em um jogo de estica e puxa pelo deserto que lembra as comédias pastelões dos primeiros anos do cinema.
Outro caso a parte é a maravilhosa trilha de ninguém mais ninguém menos do que Ennio Morricone. O tema central é perfeito, uma musiquinha cantada de forma maluca que se encaixa como uma luva no éspírito do filme, vejam só a letra:
Levantando el aire los sombreros
Vamos a matar, vamos a matar, companeros
Pintaremos de rojo sol y cielo
Vamos a matar, vamos a matar, companeros
Hay que ganar corriendo al pistolero
Vamos a matar, vamos a matar, companeros
Hay que morir persiguiendo al guerrillero
Vamos a matar, vamos a matar, companeros
Luchando por el hambre y sin dinero
Vamos a matar, vamos a matar, companeros
Desafiante, rebelde, el bandolero
Vamos a matar, vamos a matar, companeros
Ver, vamos todos al tiroteo
Vamos a matar, vamos a matar, companeros...
Fica claro ao assitir esse filme identificar a fonte na qual cineastras com Robert Rodriguez bebe. A todo momento somos brindados com os elementos típicos dos Westerns italianos para a alegria dos fãs do gênero: close-ups fechadíssimos, zooms de câmera em alta velocidade, humor negro, toques de cine-exploitation e é claro as belíssimas paisagens espanholas travestidas do Oeste da américa do norte. Uma pena que são muito poucos os filmes-diversão de hoje em dia que que possuem um espírito anarquista e desvairado como este. Muito bom.
Vamos a Matar Compañeros!
Nota: 8/10
Obs 1: O DVD nacional é muito bom. A Imagem está excepcional, com formato wide e o áudio original em italiano. E temos um mini-documentário sobre a produção intitulado "Na companhia dos companheiros" onde até mesmo o arredio Ennio Morricone da o ar de sua graça. Um deleite para aficcionados como eu. Vale lembrar que o título italiano do filme foi censurado nos EUA (assim como no Brasil) para somente "Compañeros" acho que essa história de chamada para matar ficou um pouco doida demais para eles.
Obs 2: Sergio Corbucci forma uma espécie de trinca sagrada dos diretores do western italiano intitulada "Os três Sergios" formada por Leone, o já citado Corbucci e Sergio Solimna. Juntos fizeram muitos filmes maravilhosos, com leone é claro se destacando dos demais. Vou com o tempo comentar alguns outros grandes filmes de Corbucci como O Silêncio da morte e Django.