Matar ou Morrer - High Noon (1952) - Dir: Fred Zinnemann
A cada dia que passa eu tenho mais certeza que enquanto os italianos possuíam o dom da criatividade, os americanos poussíam o dom da técnica.
Enquanto os italianos criaram personagens super originais, em momentos únicos, roteiros criativos, mortes não convencionais, finais inesperados, além do grande uso de vários artifícios de roteiros, como plot twist entre outros. Já os americanos preferiam o tradicional, mas sabiam trabalhar de forma magestosa com essa matéria prima. O único diretor italiano na minha opinião que conseguiu se sobrepor aos americanos no domínio das técnicas de direção (tendo como cenário o Western, obviamente) foi Sergio Leone. Ele tinha completo controle de tudo o que aparecia em seus filmes ou mesmo se ouvia. Mas excetuando-se ele, estadunienses sabiam melhor como contrar uma história.
O enredo desse aqui foca a tensão do Xerife Will Kane (Garry Cooper), que acabará de se casar, e apesar de ter a intenção de deixar a cidade que por tanto tempo protegeu em busca da paz que uma vida pacata pode oferece, acaba decidindo por ficar na cidade e aguardar o retorno do temido Frank Miller, a quem o próprio Xerife prendeu anos antes enviando-o ao norte, mas que contou com os humanitários de lá (e seus princípios) e acabou-se livrando da forca e com toda certeza busca vingança.
O filme inicia às 10:52, quando Kane está casando e três pistoleiros partem para a estação à espera de Miller, seu chefe, que chegará no trem do 12h00 (olá título original). Dai em diante o filme segue com o mesmo tempo que no tempo real. Passamos então a acompanhar cada segundo do protagonista que parte à procura de homens para lhe ajudar no duelo final.
E meus amigos, preparem-se para uma interpretação divina e uma tensão que aumenta a cada minuto (e que é potencializada com a exibição constante de algum relógio no cenário marcando a apromiximação da chegada do trem). Kane, ao perceber que nenhum homem, por medo de morrer, decide ficar ao seu lado começar a ficar angustiado. Sua feição vai mudando aos poucos, e cada vez mais ele tem certeza que só duas possibilidade: é matar ou morrer.
A questão da coragem individual vs covardia coletiva é mostrada de forma primoroza! Não só pelos diálgos inteligentes (
"People gotta talk themselves into law and order before they do anything about it. Maybe because down deep they don't care. They just don't care"). mas também pelas ótimas sequências, nas quais a câmera por exemplo mostra por cima o Xerife caminhando solitário pela cidade ao som da belíssima canção
Do Not Forsake Me, Oh My Darlin (vencedora do Oscar de Melhor Canção Original naquele ano).
Dizem por aí que o filme é uma total metáfora ao macarthismo presente naqueles tempos (no qual o filme foi lançado). Provavelmente seja mesmo.
Mas obviamente o contexto pode ser estendido. Afinal, vale lutarmos pelo aquilo que acreditamos apesar de todos ao nosso redor nos desmotivarem e alertarem para os riscos?
Um fato interessante é que este foi o filme mais assistido pelo ex-presidente Bill Clinton, que de 93 a 2001, segunda [SIZE=-1]Casa Branca, assistiu 20 vezes. Será que os conflitos psicológicos muito bem representados no personagem de Garry Cooper influenciaram de alguma forma Clinton e tiveram algum impacto na nação? Eu diria que é possível. E digo mais:
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Do not forsake me, oh my darlin'
On this, our weddin' day
Do not forsake me, oh my darlin'
Wait, wait along
Nota: 92
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