• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

O Castelo (Franz Kafka)

Gente,

Acabei de ler o referido romance (inacabado) do Kafka.

Não tem ninguem que queira trocar informações e discutir sobre o mesmo?
 
"Na colônia penal" foi um dos mais belos livros de kafka que ja li. vou procurar esse "o castelo"
 
"Na colônia penal" foi um dos mais belos livros de kafka que ja li. vou procurar esse "o castelo"

Placebo, se você gosta do estilo de Kafka, vale a pena conhecer O Castelo. Para mim, dos livros desse autor que já li, este e O Processo são os melhores.
 
Eu sempre, sempre (sempre [sempre]), indico Na Colônia Penal. Quem tem preguiça pode até ler um quadrinho lançado pela Companhia das Letras uns anos atrás.
 
Eu sempre, sempre (sempre [sempre]), indico Na Colônia Penal. Quem tem preguiça pode até ler um quadrinho lançado pela Companhia das Letras uns anos atrás.

Boa indicação Pips. Ainda não li, mas pretendo ler essa obra o quanto antes.
 
Spartaco!

Meu login ficou com problema aqui no Valinor e só agora tá funcionando de novo! Também terminei o livro, ainda lembra o que queria discutir?

obs.: esse livro é que nem O Processo, o K é o mesmo, e eu terminei ele com raiva, igual quando terminei O Processo. Mas dessa vez é porque ele tá inacabado, será que o final de O Castelo seria bom para o K.?
 
Spartaco!

Meu login ficou com problema aqui no Valinor e só agora tá funcionando de novo! Também terminei o livro, ainda lembra o que queria discutir?

obs.: esse livro é que nem O Processo, o K é o mesmo, e eu terminei ele com raiva, igual quando terminei O Processo. Mas dessa vez é porque ele tá inacabado, será que o final de O Castelo seria bom para o K.?

Camila, que pena que não deu para trocar informações naquela época; já faz algum tempo que eu li (janeiro deste ano), mas lembro-me que fiquei chateado de Kafka não ter finalizado o romance em questão, pois parecia que ainda teríamos mais algumas situações interessantes para acontecer.

No entanto, devido ao estilo de escrita de nosso escritor, creio que o Senhor K. não teria um final feliz, é pelo menos o que estava parecendo para mim.

Se você quiser colocar alguma análise sua da obra, será legal.
 
Estranho que o tópico tenha começado com tanto entusiasmo e acabado numa conversa de comadres desencontradas, indo rapidamente para o limbo do esquecimento e da irresolução, igualzinho aos romances de Kafka!
Tinha 16 ou 17 anos quando li pela primeira vez "O castelo", isto é, bocejei e me entediei durante praticamente todo o livro. Faz algumas semanas resolvi tentar uma releitura e desde então quedo-me boquiaberto e já não mais o tédio me ataca, senão a insônia.
Seria inócuo requerer interpretações ou opiniões dos outros membros do fórum, pois, quando se fala de Kafka, ou é elogio supérfluo ou crítica barata, e, em qualquer dos casos, ocorre nada menos que uma inflação de adjetivos.
Apesar disto declaro impossível conter-me e pergunto: alguém sabe o significado dos assistentes de K. dentro da história? Poderiam dar uma luz sobre eles?
Já pedi. Agora vou dar, com oito anos de atraso, alguns comentários passíveis de esclarecimento, sem me aventurar em sistemáticas interpretações, mantendo uma relação mais humilde com o texto, procurando elucidar certas passagens, apontar para as repetições de elementos figurativos e discursivos e, em ocasiões convenientes, estender o potencial significante de uma cena ou palavra com base em outras análises ou epifanias alheias. Este é o método. Antes de começar gostaria de avisar que utilizarei "epígrafes imaginárias", ou seja, um excerto significativo retirado do próprio capítulo em foco, afim de orientar-nos a leitura e a observação do caráter de cada etapa da obra.

O castelo
Cap. 1


"Não era nem uma fortaleza nem uma mansão, mas um bloco desconexo de inúmeras pequenas construções de um ou dois andares; se K. não soubesse que era um castelo, poderia tê-lo tomado por uma pequena cidade"
A noite
Tanto a aparição do K. de "O processo" quanto do Gregor Samsa de "A metamorfose" dá-se em ambiente íntimo e de plena luz matutina. Nada há de mais rotineiro e desalentador do que o despertar: ninguém "inova" na hora de acordar, e há algo de decepção misturada com esperança neste abrir os olhos inicial.
É Santo Agostinho, nas "Confissões", livro VIII, capítulo 5, quem caracteriza melhor o fogo cruzado que representa o despertar: "Não há ninguém que queira dormir sempre. A sã razão de todos concorda que é preferível estar acordado. E contudo [...] retarda-se, as mais das vezes, a hora de sacudir o sono, e vai-se continuando, de boa vontade, a prolongá-lo até o aborrecimento, mesmo depois de haver chegado o tempo de despertar". A placidez matutina é enganosa por configurar-se como um limiar entre o sono que já torna-se aborrecido (quem nunca sentiu uma dorzinha de cabeça após insistir em ficar na cama alguns minutos mais?) e a realidade opressiva, a qual promete inexoráveis contrariedades durante o desenrolar do dia.
Kafka manipula tais elementos de modo bem sugestivo: o "amanhecer" é, por si só, a representação da esperança e do recomeço, porém, este símbolo é interceptado por três fatores (tipos) humanos:
1. O saudável: isto é, o trabalhador, aquele homem que acorda no momento certo, sem concessões aos "só mais uns minutinhos...", preterindo seu sono em favor dos deveres da vida real. Para este tipo de pessoa o amanhecer traz de fato o signo da esperança
2. O sonhador: mormente o que aferra-se ao seu sono, não necessariamente por mera indolência, mas para preservar algum sonho bom e que, justamente por isto, acaba pervertendo este sonho o qual tanto queria proteger. (Samsa acordou de sonhos intranquilos, Kafka não fala de pesadelo, embora o restante da história torne lícito um tal preâmbulo) A famosa frase de Kafka "existe muita esperança, mas não para nós" qualifica, com uma concisão impressionante, tal gênero de pessoas, que reconhecem o signo do amanhecer e por ele são realmente banhados (há muita esperança > há muita luz na manhã > fenômeno espaço-temporal) mas, mesmo assim, estão regidas pelo signo do despertar: dor leve e estranheza funda.
3. O insone: é o caso de Emil Cioran que, virando as madrugadas, descobriu na insônia um estado de espírito, pois o insone vive num tempo disforme, sem marcações fixas, e, sem ser constante, é desesperadamente contínuo, desgastado. O signo do amanhecer torna-se irreconhecível e o signo do despertar transforma-se apenas numa piada de mau gosto. Sim, Cioran é um pessimista.

Destes três tipos, Franz Kafka desenvolve sobremaneira o 2, ou seja, o sonhador, aquele subordinado pelo signo do despertar. Talvez possa se interpretar com estas disposições de amanhecer-despertar a hermética e curta fábula do rato encurralado escrita por Kafka -- só que isto não vem ao caso agora.

A afirmação que faço é a seguinte: existe um contraste fundamental entre o K. de "O processo" e o K. de "O castelo", e tal diferença manifesta-se logo no começo da ação narrativa, pois enquanto o primeiro K. encontra-se em seu espaço íntimo e banhado pelo amanhecer, o segundo K., por seu turno, aparece-nos em terra estranha e submergido em plena treva.

Por hora é o suficiente. Já adentramos na matéria do 1° parágrafo. Me alonguei mais do que devia e terei de continuar em outro momento a continuação da análise deste capítulo. Se alguém porventura quiser me acompanhar na empreitada será muito bem-vindo!
 
Quando eu leio O Castelo eu sinto frio. Depois você me conta se sentiu frio também. :D
Eu também sinto um frio danado só de lembrar da vez que li o livro, Lórien!
Na verdade, quero contribuir com o Cide Hamete Berinjela e dizer que existe outra diferença entre os K. dos romances do Kafka. No Processo e no Castelo encaramos o abafamento e o sufoco do homem frente aos obstáculos burocráticos. Só que enquanto o Processo transmite a sensação de quentura (Na cena, por exemplo, que K. tem tontura e pirapaque dentro daquele misto de sótão e administração burocrática), no Castelo sentimos certo frio transbordando do ambiente igualmente fechado, ou melhor dizendo, nublado. Não sei se estou sendo justo na minha percepção, por isso pergunto ao Berinjela que se propôs a interpretar toda a obra.
Outro coisa é a desolação, K. fica rodando por aquela vila deserta, e quando esbarra com alguém é geralmente com estranhamento como com aquele velho (esqueci o nome dele) que faz questão de oferecer levar K. em seu trenó só pra que ele saia da frente da fachada de sua casa, como se K. fosse um gato preto a trazer azar.
A desolação desta obra em específico do Kafka me recorda um joguinho sinistro do tempo do Super Nintendo, o "Lord of Rings": a2d14614b7b21f91f599f19a1b1ecb66.gif
A maioria dos cenários é vazia e sombria; a música de fundo, excetuando as localidades que representam as vilas e os jardins, são de um tom deprimente, de desesperança total. Os personagens possuem características próprias (vestem-se de tal forma e com cor X ou Y), mas lhes faltam totalmente ao menos um esboço de expressão facial (!).
Tudo isso me parece compartilhar o mesmo espírito do ambiente criado em torno do Castelo em que K. tenta em vão penetrar ou se comunicar.
O Castelo e este game antigo do "Lord of Rings" são de uma angústia, dão um medo congelado, que considero eles equivalentes no quesito passar desolação ao leitor/jogador.

 
Eu nunca li O Castelo, de Kafka, cês acreditam? Não me odeiem. :oops:
 
Na verdade, quero contribuir com o Cide Hamete Berinjela
Na verdade, é Cide Hamete BENENGELI.
Sim Alissolão, considero auspiciosa tua contribuição quanto às possíveis simetrias noite/dia, quente/frio, porém tenho de chamar a atenção para a precaução requerida por uma séria investigação afim de evitar-se sair patologizando a situação.
Sobre a diferenciação entre saudável, sonhador e insone avultada pelo Cide, dei de cara hoje com essa notícia que acho que tem um pouco haver com o tema:

https://g1.globo.com/bemestar/viva-...ao-grave-em-ate-23percent-aponta-estudo.ghtml
Há certo equívoco aqui e que deve ser prontamente sanado. Quando mencionei o termo saudável, o fiz em função daquilo que é natural, acessível e comum a todos os mortais. A notícia acima direciona o termo saudável em contraposição ao doentio. Ora, convém não confundir literatura e vida, sob pena de perder o referencial capaz de dar suas devidas medidas. Saudável, em termos puramente romanescos, é o exato oposto de demôniaco. A vida de Tolstoi ou Dostoiévski podem, tranquilamente, serem objetos profícuos de análises com viés patológico. Nas obras, entretanto, opera-se uma divisão central no procedimento de interpretação: a construção arquitetônica de escrita de Dostoiévski é demoníaca, enquanto a de Tolstoi é saudável, isto é, protegida dos subterrâneos e elementos obscuros do fator humano. O drama, a dor, a infelicidade ou seus contrários -- compartilham ambos os escritores da mesma forma, embora o tratamento dado a tais emoções mudem expressivamente. Charlles Campos sintetizou bem esta relação ao afirmar que Tolstoi nos faz ser espectadores dos seus romances, e, por outro lado, Dostoiévski torna-nos cúmplices.
Sobre a conexão da música (ou a falta dela) com as obras de Kafka, pretendo deter-me mais calmamente num momento oportuno futuro.
 
Na verdade, é Cide Hamete BENENGELI.
Desculpa aê, Cid :obiggraz:
A culpa é toda do corretor. (desculpa clássica na era do diálogo digital )
porém tenho de chamar a atenção para a precaução requerida por uma séria investigação afim de evitar-se sair patologizando a situação.
Não sei se tu percebeu que a incidência do ão ão ão nessa parte ficou bem cômica, parece até poeta chinfrim desesperando-se em cima de rimas como ilusão/paixão/razão/emoção/coração... :D
Há certo equívoco aqui e que deve ser prontamente sanado.
Cide é o melhor professor que jamais tive. Em vez de zombar ou ignorar ele puxa pela orelha e chega disciplinando.
Admite vai, no fundo tu gostou do meu "equívoco" :aham:
Brincadeirinha.
Só passei pra avisar que tô esperando a continuação da tal análise (que ainda nem entrou no capítulo 1 de verdade).
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo