Fúria da cidade
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5 - Mrs Dalloway, de Virginia Woolf
Faz pouco tempo que li este romance da Virginia, mas já se tornou uma das minhas obras favoritas. Provavelmente o efeito desenvolvido no texto, do fluxo de consciência que passa pela transição sem pausa de focos narrativos, já era anterior a ela, mas sua escrita tem uma graça absoluta que até me deixa extático. É que é difícil tornar o “banal”, o comezinho em algo digno de atenção — um dos motivos por que admiro cronistas —, mas o fio ariadniano dela faz justamente isso. Se fosse só estilo, já teríamos um caleidoscópio narrativo do caramba, só que então temos a exploração da vida interior de cada uma das personagens e o texto se torna algo mais.
4 - O dia do Chacal, de Frederick Forsyth
Teoricamente, deve ter sido o primeiro romance que li na vida — não sei se dá pra considerar a adaptação infanto-juvenil de Os irmãos corsos, de Dumas, um romance per se. Mas divago. A questão é que não foi só um livro que me chamou pra leitura como também me chamou pra escrita. Fiquei viciado em thrillers e até tentei escrever um quando estava no colégio — as páginas se perderam, mas ainda tenho a ideia na cabeça. Agora, o que há de tão especial num thriller? Embora o foco seja a trama, creio que o mais impressionante em Forsyth seja o trabalho que ele põe na página pra gerar verossimilhança. Ele desenrola um fato — a tentativa real de assassinato de Charles De Gaulle por um grupo extremista — até chegar nos nós e fiapos. Uma pena que muitos thrillers de então ou confundiram isso com criar blocos informativos, como se precisassem ser enciclopédias, ou vieram a diluir isso se passando por aulas de história — sim, é de você mesmo que estou falando, Dan Brown.
3 - O lobo da estepe, de Hermann Hesse
Tenho me afastado do jungianismo e questionado bastante as teses de Campbell sobre o monomito, mas creio que dos autores que exploraram a ideia do autodesenvolvimento e da iluminação por introspecção, Hesse foi o mais bem-sucedido, mesmo que sua obra seja composta de idas e vindas por essa jornada. A leitura começa num ponto em que o próprio leitor pode estar — a contemplação com o niilismo e o desespero advindo ou da falta de bliss ou de sentido — mas logo se torna algo labirintinesco, gradual, tal como a imagem da mandala como representação do eu. Conforme se lê, parece que você salta esses círculos concêntricos de forma palpável. Deve ser uma das melhores representações em literatura — e uma das mais acessíveis — sobre como funciona a mente humana.
2 - A máquina do tempo, de HG Wells
É raro eu ler um livro mais de uma vez, salvo quando gosto muito do estilo ou quando dou uma segunda chance. A primeira vez que li A máquina do tempo tinha uns 13 ou 14 anos e me encantei na hora com as alegorias sociohistóricas de Wells em forma de ficção científica. Faz uns anos, sem ter como sair de um shopping por conta de uma chuva daquelas, resolvi passar o tempo lendo e achei uma edição desse romance. Foi aí que outro encanto tomou conta de mim: o da capacidade imaginativa do fantástico. A essa altura do campeonato, todo mundo já escreveu o que tinha de ser escrito sobre essa obra, mas sempre me surpreende como Wells consegue tornar crível para o leitor o sentido de awe que o Viajante experimenta. É uma pegada quase impressionista, embora não seja passível de ser qualificada nessa escola literária. Volta e meia vivo atrás de uma fantasia que me proporcione essa mesma sensação.
1 - O diabo no corpo, de Raymond Radiguet
Eu sempre digo sobre esse livro: queria tê-lo escrito. Radiguet morreu cedo, creio que só deixou dois romances e um punhado de poemas, mas que obra que ele deixou! A escrita é uma mistura de modernismo com traços românticos-realistas, é quase como se Flaubert estivesse escrevendo sob a tutela de André Gide, em que a potência da subversão às claras encontra o subentendido, gerando uma obra de alto teor erótico acompanhado de reflexão moral. Trata-se de um adolescente que aos poucos vai seduzindo uma moça noiva de um soldado que está em combate. O protagonista cativa pela dissimulação e você se sente, tal como ela, refém da situação. Para mim a melhor obra sobre a exploração da capacidade do mal e da amoralidade — cada um pese seus princípios — em forma de arte.
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Faz pouco tempo que li este romance da Virginia, mas já se tornou uma das minhas obras favoritas. Provavelmente o efeito desenvolvido no texto, do fluxo de consciência que passa pela transição sem pausa de focos narrativos, já era anterior a ela, mas sua escrita tem uma graça absoluta que até me deixa extático. É que é difícil tornar o “banal”, o comezinho em algo digno de atenção — um dos motivos por que admiro cronistas —, mas o fio ariadniano dela faz justamente isso. Se fosse só estilo, já teríamos um caleidoscópio narrativo do caramba, só que então temos a exploração da vida interior de cada uma das personagens e o texto se torna algo mais.
4 - O dia do Chacal, de Frederick Forsyth
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Teoricamente, deve ter sido o primeiro romance que li na vida — não sei se dá pra considerar a adaptação infanto-juvenil de Os irmãos corsos, de Dumas, um romance per se. Mas divago. A questão é que não foi só um livro que me chamou pra leitura como também me chamou pra escrita. Fiquei viciado em thrillers e até tentei escrever um quando estava no colégio — as páginas se perderam, mas ainda tenho a ideia na cabeça. Agora, o que há de tão especial num thriller? Embora o foco seja a trama, creio que o mais impressionante em Forsyth seja o trabalho que ele põe na página pra gerar verossimilhança. Ele desenrola um fato — a tentativa real de assassinato de Charles De Gaulle por um grupo extremista — até chegar nos nós e fiapos. Uma pena que muitos thrillers de então ou confundiram isso com criar blocos informativos, como se precisassem ser enciclopédias, ou vieram a diluir isso se passando por aulas de história — sim, é de você mesmo que estou falando, Dan Brown.
3 - O lobo da estepe, de Hermann Hesse
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Tenho me afastado do jungianismo e questionado bastante as teses de Campbell sobre o monomito, mas creio que dos autores que exploraram a ideia do autodesenvolvimento e da iluminação por introspecção, Hesse foi o mais bem-sucedido, mesmo que sua obra seja composta de idas e vindas por essa jornada. A leitura começa num ponto em que o próprio leitor pode estar — a contemplação com o niilismo e o desespero advindo ou da falta de bliss ou de sentido — mas logo se torna algo labirintinesco, gradual, tal como a imagem da mandala como representação do eu. Conforme se lê, parece que você salta esses círculos concêntricos de forma palpável. Deve ser uma das melhores representações em literatura — e uma das mais acessíveis — sobre como funciona a mente humana.
2 - A máquina do tempo, de HG Wells
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É raro eu ler um livro mais de uma vez, salvo quando gosto muito do estilo ou quando dou uma segunda chance. A primeira vez que li A máquina do tempo tinha uns 13 ou 14 anos e me encantei na hora com as alegorias sociohistóricas de Wells em forma de ficção científica. Faz uns anos, sem ter como sair de um shopping por conta de uma chuva daquelas, resolvi passar o tempo lendo e achei uma edição desse romance. Foi aí que outro encanto tomou conta de mim: o da capacidade imaginativa do fantástico. A essa altura do campeonato, todo mundo já escreveu o que tinha de ser escrito sobre essa obra, mas sempre me surpreende como Wells consegue tornar crível para o leitor o sentido de awe que o Viajante experimenta. É uma pegada quase impressionista, embora não seja passível de ser qualificada nessa escola literária. Volta e meia vivo atrás de uma fantasia que me proporcione essa mesma sensação.
1 - O diabo no corpo, de Raymond Radiguet
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Eu sempre digo sobre esse livro: queria tê-lo escrito. Radiguet morreu cedo, creio que só deixou dois romances e um punhado de poemas, mas que obra que ele deixou! A escrita é uma mistura de modernismo com traços românticos-realistas, é quase como se Flaubert estivesse escrevendo sob a tutela de André Gide, em que a potência da subversão às claras encontra o subentendido, gerando uma obra de alto teor erótico acompanhado de reflexão moral. Trata-se de um adolescente que aos poucos vai seduzindo uma moça noiva de um soldado que está em combate. O protagonista cativa pela dissimulação e você se sente, tal como ela, refém da situação. Para mim a melhor obra sobre a exploração da capacidade do mal e da amoralidade — cada um pese seus princípios — em forma de arte.