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[L] [V] [Treze Horas]

  • Criador do tópico Criador do tópico V
  • Data de Criação Data de Criação

V

Saloon Keeper
[V] [Treze Horas]

Bom, vou começar a postar aqui essa história que eu já estou escrevendo a um tempo, mas tinha dado uma empacada. Talvez isso seja um estímulo para que eu continue e, talvez, termine. Ela tem quatro partes, cada uma delas contendo alguns capítulos. Estou na primeira parte ainda, portanto, se alguém ler e se interessar, eu peço que tenha paciência, pois eu não sei quando e se vou terminar, pois ela tá com jeito de que vai ficar bem grandinha.
 
Treze Horas
Um drama urbano em quatro partes




Introdução

Você acredita em destino? Assumindo a existência do destino, temos que assumir, também, que nossas ações são predeterminadas, e que não somos árbitros de nossa própria sorte. Acreditar no destino é crer que a vida tem um intrincado padrão metafísico, onde tudo ocorre por um motivo e nossos atos não influem no desenlace dos acontecimentos. Mais ou menos como na matemática, onde a ordem dos fatores não altera o produto. Pode, no entanto, uma regra da matemática ser aplicável na vida? Será possível que somos meros marionetes do destino, que nossos atos são guiados por uma mão invisível e onipotente, que as linhas da existência invariavelmente convergem para um fim preestabelecido?

Embora tal afirmação venha a causar uma inevitável sensação de impotência, sua antítese está longe de ser mais reconfortante. E se não houver padrão algum? E se a existência for tão aleatória que qualquer interferência, por menor que seja, possa colocar em xeque tudo que foi planejado? Por fim, e aqueles indivíduos que têm uma participação crucial em nossa vida, mesmo que por um breve momento? Como um ilustre desconhecido que nos salva de um atropelamento, por exemplo. Há alguma profunda ligação cósmica com tal indivíduo, ou foi tudo culpa do acaso?
 
Primeira parte - Dia de transporte


1- A Lavanderia

O velho relógio de pulso marcava sete horas da manhã quando Tim chegou à lavanderia. Enquanto explorava os bolsos dos jeans surrados em busca do molho de chaves, ele olhava para os lados, apreensivo. Sempre ficava assim quando era dia de transporte, não conseguia evitar. O nervosismo era um estado passageiro, contudo – bastava constatar que tudo estava como sempre esteve, pois esse era um pensamento que o reconfortava. Tim sempre dizia: "Melhor ficar na mesma do que ficar numa pior". Naquele dia, o cenário não era diferente do habitual: o vendedor de hot dogs, que instalara seu carrinho do outro lado da rua algumas semanas antes (Tim o cumprimentou com um aceno), um velho mendigo que encontrara uma caixa confortável num canto, junto às latas de lixo, um grupo de adolescentes que matava aula e fumava maconha na quadra de basquete. "Tudo na mesma" – pensou Tim enquanto girava a chave na fechadura, e suspirou aliviado.
Tim virou a plaqueta na entrada, indicando que o estabelecimento estava aberto. Deixou a porta de vidro fechar atrás de si, acendeu as luzes e deu uma boa olhada em volta (como fazia todas as manhãs), confirmando que nada estava fora do lugar. Num momento genuinamente pueril, pulou por cima do balcão, caindo bruscamente sobre o couro verde da velha cadeira giratória, o que produziu um peculiar ruído de flatulência. Tim riu sozinho, como poucas vezes fizera desde que começara a trabalhar na lavanderia. O riso mostrou-se efêmero, entretanto, e ele logo assumiu o aspecto sisudo que havia aprendido a simular, com o tempo. Afinal, era dia de transporte.

Antes de prosseguirmos, alguns esclarecimentos devem ser feitos quanto à natureza da lavanderia: destarte, o estabelecimento não era exatamente uma lavanderia, como você deve estar pensando. Muitos a chamavam assim, embora na verdade tratasse-se de uma loja de conveniências. E tudo indicava que não passava disso, mas todos que conheciam Vinny Tacconi sabiam que se tratava de algo mais. Vinny, o patrão de Tim, dirigia um bom número de negócios ilícitos na área, e usava a loja para lavar parte do dinheiro proveniente dos mesmos. Por isso todos a chamavam de lavanderia. Não que essa alcunha fosse proferida na presença de Vinny. Não, isso seria um erro gravíssimo. Conta-se que o "apelido" fora dado por um informante chamado Charles Garland, um criminoso de terceira categoria, que vendia informação a quem pagasse o preço mais alto. Ocasionalmente Charlie trabalhava para Vinny, e quando ficou sabendo da loja, fez a associação imediatamente, demonstrando um excelente timing para a comédia. Charlie encontra-se hoje no fundo do rio leste, usando um paletó de cimento. Deveria ter tentado uma carreira como comediante.

Sim, Tim trabalhava para um gângster, mas para ele isso não importava muito, pelo menos do ponto de vista profissional. Veja bem, do ponto de vista profissional, e é bom frisar isso. Tim não morria de amores por Vinny, por motivos que veremos a seguir, mas profissionalmente ele não tinha do que reclamar. Vinny era justo com Tim, pagava sempre em dia e não o envolvia em assuntos da máfia. Na maior parte do tempo, era como ser balconista de uma loja como outra qualquer, e Tim até esquecia que seu patrão era um dos maiores criminosos da cidade. Menos em dia de transporte. Em dia de transporte ele sempre lembrava. E foi talvez essa lembrança que o fez olhar debaixo do balcão, naquela manhã, procurando uma visão reconfortante. A espingarda calibre 12 estava lá, como sempre, e Tim suspirou aliviado.


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A principio achei bem existencialista e depois surpreendentemente realista.
Muito bom! Quero ler o resto!!! :wink:
 
Sem comentários :P
Por isso que eu desisti de tentar escrever alguma coisa... Tem gente que tem dom, tem gente que não tem.
 
V, o seu jeito de escrever é muito bom. Muito bom mesmo. Mas eu acho que está muito frio e preso para contar essa história, a não ser que seja isso que você quer. Eu acho que o seu jeito de escrever me distanciou um pouco de tudo e me fez perder um pouco do interesse. IMO, eu acho que você devia deixar as coisas um pouco mais soltas, descrever mais e melhor os lugares e colocar mais adjetivos. Não exagerando, é claro.

E eu acho que você poderia ter falado um pouco mais de como estava esse momento na vida de Tim. Você falou coisas sobre os pensamentos dele e tal, mas não realmente entrou no fundo do personagem dele. Pode ser que você esteja planejando algo assim mais para frente, mas eu gosto de começar já sabendo tudo que eu devia saber sobre o personagem, mas é sempre bom deixar alguns segredos.

Sobre a história, eu imagino que seja aquela que você me contou sobre as "viagens", pareçe estar indo bem. Um pouco rápida demais, talvez. Acho que tudo fica melhor se você dar um tempo pra que os leitores se conectem com a história. Por isso que eu dei a sugestão de você falar um pouco mais sobre o personagem. Eu estou gostando. Eu só quero ver quando a história começar a chegar no lugar onde fica realmente interessante, já que eu adoro filmes sobre "viagens", heheheh!

Muito bom! Continua assim e coloca logo mais. Foi muito pouco.

PS: Lembrando que eu não escrevo livros, ou novelas, ou contos(bem, quase nunca) e que eu não entendo muito desse assunto. Meu negócio é roteiros. Então, não leve nada do que eu falei a sério porque eu não tenho o conhecimento suficiente sobre esse assunta para dar opiniões profissionais. O que eu falei é só da minha opinião.

Chills! :)
 
Ta muito bom V, a historia esta muito interresante e achei a 12 no final do capitulo mto bacana, prende mto o leitor.
 
Eu axei o conto vertiginoso tbem, mas o clima e a ambientaçao do texto foram mto bons.... tomara q o resto da historia continue nesse nivel :wink:
 
Gente, obrigado. :)

E Folco, essa não é a história das "viagens". Essa, pelo contrário é bem realista. E tudo que você falou do primeiro capítulo, acredite: foi proposital. Como eu já disse, a história vai ficar beeeem grande, e as coisas vão se desenrolando aos poucos. Aguarde e verá. Garanto que tudo está sendo friamente calculado.

Sem mais delongas:
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2 - Angela

Às nove da manhã, ela entrou na loja. Seu andar era elegante e contido, seus gestos leves e graciosos – para Tim, ela sempre parecera uma artista de cinema. Ao vê-la adentrando o recinto, Tim levantou-se. Por mais que tentasse, ele não conseguia controlar a tremedeira das pernas. Suas mãos suavam e seu coração começou a bater tão forte que ele achou que ela fosse ouvi-lo. “Merda” – pensou Tim – “Estou agindo como um adolescente. Vamos, acalme-se. Ela não é pro seu bico, você sabe muito bem”. Enquanto esses pensamentos ainda martelavam sua mente, ele percebeu que ela estava parada na frente do balcão, olhando para ele com um sorriso no canto dos lábios. Percebeu também, que seria de bom-tom cumprimentá-la.
- B-bom dia, Angela – gaguejou ele, desajeitado.
- Olá, Tim – ela respondeu, confiante.

Mesmo através dos óculos de sol ele podia notar que ela o encarava insistentemente. Ele desviou o olhar, encarando, por sua vez, a porta. Do outro lado da rua, através do vidro, uma moça jovem e bonita dizia algo ao vendedor de hot dogs. Este apontava para o norte e gesticulava, provavelmente indicando alguma rua. Um rapaz magro, com um casaco pesado, comia um hot dog e observava a fachada da lavanderia. Quando os olhos de Tim encontraram-se com os dele, Angela chamou sua atenção.
- Timothy! – bradou ela, de repente.
Ele se voltou. – O que faz aqui tão cedo, Angela? Caiu da cama?
Ela riu. Uma risada curta e discreta, porém forçada. – Não, eu só... eu não sei... queria conversar com você. Está ocupado?
- Eu pareço ocupado? – perguntou Tim, olhando para os lados.
- Não, de fato, não... – disse Angela, fazendo o mesmo, e constatando que a loja estava completamente deserta.
- Não. Pelo menos não a essa hora do dia – disse Tim. – mais tarde sim, hoje eu trabalho até tarde. É dia de transporte.
- É, eu sei – disse Angela.

Tim lembrou-se, então, que tinha trabalho a fazer. Enquanto contornava o balcão, lançou mais um olhar através da porta de vidro. A moça e o rapaz não estavam mais lá. Recostado em seu carrinho, o vendedor de hot dogs lia um jornal. Tim ergueu uma caixa de papelão que estava no chão, junto ao balcão.
- Tenho que levar isso pro quartinho lá atrás – disse ele. – Mas sobre o que você queria conversar?
- Ah, não sei... – disse Angela, seguindo-o em direção ao depósito dos fundos. – Só queria falar com alguém... você sabe...
- Não, não sei – interrompeu Tim. – Por que você não me conta?
Angela não disse nada. Tim parou no corredor, ainda com a caixa nos braços. Olhou bem para ela e perguntou, já sabendo a resposta:
- Por que você está usando esses óculos num dia nublado como hoje?
Ela tirou os óculos, revelando um grande hematoma, logo abaixo do olho esquerdo. Ele imaginou quantos outros estariam em lugares que ele não podia ver. Tim pôs a caixa no chão e se aproximou, com uma expressão séria no rosto, o que a fez desviar o olhar pela primeira vez desde que havia chegado ali. Ele não sabia o que fazer. Procurou por palavras de consolo, que não encontrou. Então, num gesto meio desajeitado, tentou pousar a mão sobre a cabeça de Angela, paternalmente.
- Não tenha pena de mim! – disse ela, repudiando-o.
Tim envergonhou-se, ao perceber o quão inadequada fora sua atitude. – Desculpe – disse ele. - Eu não quis... eu .. desculpe, Angela.
- Não, tudo bem, a culpa foi minha – disse ela, olhando-o nos olhos novamente. – Você só quis ser gentil.
Ele fitou por um momento aqueles lindos olhos azuis, tentando entender como um homem podia sonhar em macular tamanha beleza. Não era a primeira vez que isso acontecia e, naquele instante, ele tinha certeza de que não seria a última.

Tim permaneceu assim por mais alguns segundos, contemplando aqueles lindos olhos azuis. Estes, como que em resposta, começaram a se encher de lágrimas. Tim resolveu quebrar o silêncio.
- Por que você ainda agüenta isso? – perguntou ele.
- O que quer dizer? – disse Angela, sabendo exatamente o que ele queria dizer.
- Quero dizer... ele não é nem seu marido nem nada – disse Tim.- Por que você não vai embora? Por que não foge, sei lá, se manda daqui?
- Não é tão simples – disse Angela, desviando o olhar pela segunda vez. – Ele mandaria alguém atrás de mim. E mesmo que eu encontrasse um lugar seguro, onde ele não pudesse me achar, o que eu faria ao chegar lá? Eu não sei fazer nada, só... – ela parou, por um momento. – Meu passado... condenou o resto da minha vida.
Tim lembrou, então, porque ela agia e se vestia como uma artista de cinema. Havia sido treinada para tal. Sua antiga “empregadora” exigia que todas as suas “meninas” se comportassem como verdadeiras damas. Afinal, seus clientes eram todos homens de muito prestígio, membros importantes da alta roda da sociedade.
- Acho que eu deveria ser grata a ele, sabe? – disse Angela, com uma certa apatia em sua voz, enquanto fitava o piso. – Afinal, ele me tirou daquela vida...
- Isso não justifica – interrompeu Tim. – Nada justifica o que aquele canalha faz com você! Alguém deveria acabar com a raça daquele miserável...
- Não! – exclamou Angela, com uma expressão séria. – Não diga isso, nem de brincadeira. Nem pense isso. Você sabe do que ele é capaz. Lembra de Charlie Garland?
- Eu sei, eu sei – concordou Tim. – Eu só fico... indignado. Isso não é jeito de tratar uma mulher.
Angela olhou novamente para ele, com uma expressão que ele não conseguiu decifrar. Ela fazia isso de propósito, para manter uma aura de mistério sobre si própria. Tim achou melhor não quebrar a cabeça tentando descobrir o que exatamente ela queria dizer. Ergueu novamente a caixa e levou-a ao depósito. Ao sair, encontrou-se encurralado na porta por Angela, que mantinha a expressão misteriosa.
- E você, Tim? – perguntou ela.- Se o odeia tanto, por que você não vai embora?
Tim ficou surpreso com a pergunta. – Comigo é diferente – respondeu ele. – Eu só trabalho aqui. Além do mais, você é uma boa pessoa, Angela. Não merece estar nesse meio.
- Você também é uma boa pessoa, Tim – disse Angela. – Você merece uma vida melhor, muito mais do que eu.
- Eu... eu preciso do emprego – disse Tim, sem firmeza alguma na voz.
- Não minta – disse Angela. – Você poderia encontrar um emprego muito melhor se quisesse, longe daqui.
Tim não pôde discordar. Ela estava certa, absolutamente certa. Angela continuou: - Você não tem família na cidade, mora sozinho, não tem nada que te prenda aqui... ou tem?
- Não... – disse Tim, abobalhado pela perspicácia da moça.
- Não – disse Angela, enquanto se aproximava. – Não acho que seja por causa do emprego. Acho que você tem outros motivos...

Ela se aproximou cada vez mais, olhando fixamente para os olhos dele. Quando os lábios se tocaram, Tim sentiu uma espécie de torpor. Mesmo tendo visto aquela cena dezenas de vezes em seus pensamentos (e uma meia dúzia em sonhos), ele não pôde deixar de se surpreender. Afinal, ele nunca havia considerado a possibilidade como algo que realmente tivesse chance de acontecer. Ele não sabia o que fazer com seus pensamentos (tampouco com suas mãos, que suavam em bicas). Foi um daqueles momentos que parecem irreais, e você só vai assimilar o que aconteceu, horas depois. Foi um beijo longo, suave e apaixonado. Tim desejou que durasse por toda a eternidade, mas logo foi interrompido pelo tilintar dos guizos na porta de entrada.
- Alguém entrou na loja – disse Tim. – Tenho que ir lá pra frente.
- É... é melhor... – disse Angela, com uma expressão de surpresa pelo que acabara de ocorrer. Tim sabia, no entanto, que era uma surpresa fingida. Ele conhecia Angela. Sabia que ela havia planejado tudo desde o princípio.
- Venha, saia pela porta dos fundos – disse Tim, apreensivo.
- Calma, Tim – disse Angela. – Não é ele. Ainda estava roncando e fungando como um porco quando eu saí, e vai continuar assim por algumas horas.
- Eu sei – disse Tim. – Mas pode ser...
- Um dos capangas – interrompeu Angela. – É, você tem razão. É melhor eu sair por aqui.
Tim abriu a porta que dava para o Drive-In, nos fundos. A essa hora, estava tão deserto quanto a loja. Angela colocou os óculos de volta, e quando estava prestes a sair, virou-se para Tim, que segurava a porta aberta.
- Tim, não se esqueça do que aconteceu aqui – disse ela. – Mas não comente com ninguém. Que seja o nosso segredo.
- Eu nunca pensei em... – Tim estava prestes a completar a frase, quando foi interrompido por Angela.
- Eu sei que não – disse ela. – Eu confio em você, Tim. Você é uma boa pessoa.
Ela se aproximou, e encostando a palma da mão no centro do peito de Tim, disse:
- Um dia, Tim, um dia nós vamos continuar de onde paramos. E ninguém vai nos impedir.
Então ela virou-se e foi embora. E Tim ficou observando ela partir, com seu andar elegante e contido, suas roupas caras e seu penteado de artista de cinema. Angela. Ela seria a mulher perfeita, não fosse por um único detalhe: ela pertencia a Vinny Tacconi. E o termo “pertencia”, no caso, não era meramente figurativo.
Eram esses os pensamentos que passavam pela cabeça de Tim, enquanto ele observava Angela ir embora. Quando já havia quase atravessado toda a área de estacionamento do Drive-In, ela parou e voltou-se.
- Tim, a porta – gritou ela.
Como se tivesse acordado de um transe, Tim correu para dentro da loja, rezando para que não houvesse ocorrido à pessoa que entrara a brilhante idéia de esvaziar o caixa e sumir com seu conteúdo. Com um sorriso, Angela seguiu seu caminho.


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Putz , muito bom esse capitulo. Adoro romances , de todo tipo , essa será a trama central da história V ???
 
V disse:
Treze Horas
Um drama urbano em quatro partes




Introdução

Você acredita em destino? Assumindo a existência do destino, temos que assumir, também, que nossas ações são predeterminadas, e que não somos árbitros de nossa própria sorte. Acreditar no destino é crer que a vida tem um intrincado padrão metafísico, onde tudo ocorre por um motivo e nossos atos não influem no desenlace dos acontecimentos. Mais ou menos como na matemática, onde a ordem dos fatores não altera o produto. Pode, no entanto, uma regra da matemática ser aplicável na vida? Será possível que somos meros marionetes do destino, que nossos atos são guiados por uma mão invisível e onipotente, que as linhas da existência invariavelmente convergem para um fim preestabelecido?

Embora tal afirmação venha a causar uma inevitável sensação de impotência, sua antítese está longe de ser mais reconfortante. E se não houver padrão algum? E se a existência for tão aleatória que qualquer interferência, por menor que seja, possa colocar em xeque tudo que foi planejado? Por fim, e aqueles indivíduos que têm uma participação crucial em nossa vida, mesmo que por um breve momento? Como um ilustre desconhecido que nos salva de um atropelamento, por exemplo. Há alguma profunda ligação cósmica com tal indivíduo, ou foi tudo culpa do acaso?


Não é sobre as "Viagens"?

Quando eu li esse eu lembrei na hora da estória que você me falou!

Bem, daqui a pouco eu leio o segundo capítulo.
 
*Anoriell* disse:
essa será a trama central da história V ???

Não é a trama central, pois só a primeira parte trata especificamente do Tim. Mas é um fator importante.
 
Gostei do "vôo" de Tim até a cadeira flatulenta. Pensando em quando você vai nos apresentar ao resto da família...
 
Acharam que eu tinha esquecido, né?


Bom, se alguém estiver acompanhando... desculpe e por favor tenha paciência... vou tentar continuar...

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3-Frank


Ao chegar na parte principal da loja, Tim mais uma vez suspirou aliviado. Quem havia entrado era o vendedor de hot dogs, que esperava pacientemente ao lado da porta. Foi uma visão no mínimo curiosa, aquele homem grande (em excelente forma para sua área de trabalho, diga-se de passagem), de cabelos grossos e grisalhos, segurando o chapéu característico entre as mãos, como se estivesse entrando em uma igreja. Definitivamente esse era o vendedor de hot dogs mais educado que Tim já conhecera em sua breve vida. Nas poucas semanas que haviam se passado desde que ele instalara seu carrinho em frente à loja, os dois conversaram algumas vezes, e Tim o considerava um homem muito decente. Na verdade, qualquer coisa que tornasse o trabalho de balconista um pouco menos monótono do que costumava ser era muito bem-vinda. Assim sendo, uma conversa com um pai de família comum, que lutava todos os dias para sustentar dois filhos dava a Tim a sensação de que fazia parte de algo real, ao mesmo tempo em que lhe injetava alguma esperança no que dizia respeito aos residentes daquele bairro.

- Oi, Tim - disse o vendedor.
- Como vai indo, Frank? - perguntou Tim, já esperando a resposta de sempre.
- Ah, você sabe... um dia depois do outro - era a resposta de sempre.
- Pode usar o banheiro - adivinhou Tim. Na verdade, Frank usava o banheiro da loja todos os dias, religiosamente às nove e quinze da manhã.
- Obrigado - disse Frank com um sorriso, enquanto encaminhava-se ao banheiro, que ficava em frente ao depósito dos fundos.

Tim assumiu sua posição habitual atrás do balcão, e de quando em quando dava uma conferida no carrinho do outro lado da rua, para certificar-se de que estava tudo em ordem. Frank já nem precisava mais pedir para que ele fizesse isso. Nesse momento, Tim começou a pensar no que acabara de acontecer. Não no beijo em si, mas no que Angela dissera. Deixou-se levar pelos pensamentos, e viu um futuro que de alguma forma se encontrava latente em sua mente, mas que ele nunca ousara considerar. Um futuro com Angela. Um futuro no qual eles viviam juntos e felizes, longe dali, longe de Vinny, longe daquela vida. Lembrou-se, então, da situação real em que ambos se encontravam. Sentia-se impotente. A revolta crescia em seu peito, idéias começavam a brotar em sua cabeça. Sentimentos há muito reprimidos ameaçavam vir à tona, de forma devastadora. Mas todos estes pensamentos foram abruptamente interrompidos. Dois minutos haviam se passado, e Frank voltava, ajeitando o avental.

- Parece que vai chover - disse ele.
- De fato - concordou Tim, olhando para fora como se estivesse conferindo o que Frank dissera, embora não fosse possível observar o céu daquele ângulo.
- Bom, de volta à labuta - disse Frank depois de um momento, com um certo entusiasmo em sua voz. Tim tinha a impressão de que, apesar de tudo, aquele homem simples e batalhador conseguia extrair um certo prazer de seu trabalho.
- Pois é - finalizou Tim, sorrindo, enquanto assentia com a cabeça, num tom que parecia dizer algo como: "Se eu tivesse escolha, estaria em uma praia nas Bahamas, com uma bebida de um lado e uma nativa seminua do outro".

Frank abriu a porta de entrada no exato momento em que uma senhora pequena e simpática, ostentando um penteado que (com muita boa vontade) podia ser definido como "excêntrico", ameaçava erguer o braço para empurrá-la. Ela pareceu muito satisfeita ao notar que Frank segurava a porta aberta, esperando por sua passagem.

- Muito obrigada - disse a senhora, enquanto entrava.
- Às ordens, madame - respondeu Frank, com um rápido olhar para Tim (um olhar que parecia dizer: "Meu Deus, que penteado é esse?"). Tim, por sua vez, arregalou os olhos em resposta, com uma expressão que dizia: "Pare de olhar pra mim, ou eu começo a gargalhar!"

Enquanto Frank voltava ao seu local de trabalho, empenhando-se em conter o riso, e Tim concentrava um esforço sobre-humano para manter-se impassível, a pequena senhora aproximava-se do balcão, a passos curtos.
 
Muito bom. Só que como eu falei uma vez, acho que devia "esticar" um pouco mais as passagens e paragrafos. Expandir as discrições e ações e os sentimentos de Tim.

Eu estou percebendo que o seu estilo é bem ciente de si mesmo, perspicaz e inteligente e elegantemente engraçado. Quero ler mais.
 
Que maldade V! :evil: Ainda bem que eu não estava acompanhando antes, deixar seus leitores esperando quase 3 meses pela continuação! Parece até o Jorge Amado, de década em década escreve algo. Mas tá muito bom cara :obiggraz:, essa parte do Frank me fez perguntar: De onde veio esse cara? Pra que ele entrou na estória? Vê se não demora tanto dessa vez, OK?
 
Calma cara, eu vi. mas nos outros ele era apenas parte do cenário, assim como os basquetero fumando um. Não tô dizendo que você pôs o cara do nada, e sim morrendo de curiosidade pra saber qualé a do cara. Não foi uma crítica e sim um elogio, sacou? :mrgreen:
 

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