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Amazon-dependência, Lei Cortez e o preço do livro

  • Criador do tópico Criador do tópico DiegoMP
  • Data de Criação Data de Criação

DiegoMP

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Sei que eu vou arriscar chover no molhado, mas como o assunto voltou à tona no meio dos quadrinhos achei que valia o espaço por aqui também.

Saiu na Folha agora no dia 19 que a tal lei, lá de 2015 - agora de nome Lei Cortez, que visava limitar o desconto do livro em até 10% no primeiro ano após o lançamento está de novo em pauta, e ao que aparece com alguma concordância sobre sua aprovação. A matéria tá aqui ó.

Por outro lado, a Amazon deu um primeiro oi em terras-tupininquins no ano de 2012 vendendo apenas e-book, e 2 anos após iniciou com a venda de livros físicos, isto é 2014, então estamos cá fazendo 10 anos de Amazon por essas paragens, e aí que o cenário já mudou bastante desde então.

O pessoal dos quadrinhos andou se reunindo recentemente pra discutir o cenário, e tentar enxergar um pouco melhor sobre pra onde estamos indo nessa novela. Daí que essa semana o assunto anda forte em alguns canais de quadrinho e na tal "gibisfera" como um todo.

Sobre a Amazon, a gente sempre soube que a solução de hoje seria o problema de amanhã, né. Não sei se esse amanhã já chegou. Mas tá osso a situação, olhando de relance só na pré-venda da Cia das Letras temos um título a preço de capa de 300 conto e outro a 170, coisa impensável uns tempos atrás, vai lá... pro livro custar isso como preço de capa teria que vir embalado a ouro. Sei que o aumento não é de hoje, tem o dólar, tem a alta do preço do papel, tem pandemia, tem demanda... enfim, todo um alfabeto de variáveis que anda deixando a conta toda bastante salgada. E também nem tudo se resume a Amazon, ainda que ela tenha um peso considerável na questão.

Deixo aqui 2 vídeos recentes sobre o tema e uma análise breve. O que cês pensam sobre isso tudo?

1. Do canal Fora do Plástico, bem interessante a abordagem, analisando a questão ponto a ponto, no sentido de frete, capacidade de desconto, distribuição e afins.

2. Canal 2 quadrinho faz uma análise bacana também da questão. Começa ali pelo minuto 8 e vai até o 16, mais ou menos. Dá uma destrinchada breve em como se distribui o custo de produção do quadrinho.

3. E por fim, o Érico Assis fez um sequência de tweets (ou xizes, como preferir) sobre a questão, que eu tomo a liberdade de reunir aqui. mas dá um confere lá no twitter que tá rendendo o assunto:

Amazon x livrarias e comic shops. O tema voltou a ficar muito sério pq (1) papel tá estourando de caro, (2) poder de compra do brasileiro tá em queda e (3) só Bezos do bolso infinito consegue desconto que faz livro caber no bolso.Eu tenho a solução mágica: bibliotecas.
Foi assunto do @2quadrinhos News de ontem - eu participei na redação. E também foi assunto do Giro do @foradoplastico de ontem. É difícil tirar da minha cabeça que o problema do livro no Brasil é DEMANDA.Sim, o Brasil tem leitores, mas poucos entre os 215 milhões. E desses poucos, poucos conseguem COMPRAR livros.O problema do livro (e do quadrinho) é que livro (e quadrinho) vende MUITO POUCO.
Livro (e quadrinho) têm problema de distribuição? Tem, porque vende pouco. Se vendesse bem, chegaria fácil a qualquer parte do "país de dimensões continentais" como Coca-Cola, Boticário, Elma Chips e seus equivalentes chegam. Falta demanda.
Livro é caro? É, porque vende pouco.O quadrinho capa dura a R$ 150 se paga com mil vendas. O mesmo quadrinho poderia custar R$ 50 em edição mais simples, mas precisaria ter dez mil vendas - e não consegue. Não tem demanda. Por isso, capa dura a R$ 150, para poucos.
Livro caro não forma leitor. Aí você tem menos leitores e livros mais caros. Mais livros mais caros, menos leitores ainda. Sim, tem um círculo vicioso.
Aí megaempresa estrangeira vem ao Brasil com estratégia predatória e monopoliza o mercado porque não precisa de margem de lucro com livro. Vem mesmo, por causa de tudo acima.
Se o problema é o preço, o passo inicial é eliminar o preço. Botar livro na mão das pessoas.Bibliotecas. Gratuitas, abertas no fim de semana, bem abastecidas.
Biblioteca com uma cacetada de livro infantil. Biblioteca com coleção inteira de Dragon Ball. Biblioteca com os lançamentos do ano e os clássicos. Biblioteca com todas as capas duras da Darkside. Biblioteca com contação de histórias, com visita de autor, com sessão de cinema e com wifi. Biblioteca com um funcionário que saiba responder pra uma criança de 8 anos "por onde eu começo?".
Biblioteca que seja o espaço pra criança descansar de telas, pra dona de casa fugir de casa, pra atendente da loja gastar meia hora do almoço.E pra tudo que ler faz bem, não faz bem, serve ou não tem que servir. Com livros bons e ruins. Biblioteca pra ler e ponto.
O que falta no Brasil é estímulo à leitura. Então: bibliotecas. Formando leitores vai ter demanda de livros. Com demanda de livros, vai ter demanda de papel, de gráfica, de distribuição, de livrarias. E de livros mais baratos.
Quem vai pagar por isso? Não é o governo. Sei que vai irritar muita gente, mas quem deveria pagar por essas bibliotecas é uma certa empresa predatória multinacional que também vende livros.Vai custar quinze minutos do faturamento que ela tem por ano. E vai dar retorno.
E, pelamor, não bibliotecas pra São Paulo, Curitiba e Recife. Que comece por bibliotecas em cidades do interior, com IDH mais perto do zero. Colada na escola ou no centro do município. Cidades a 50, 100, 200km da livraria mais próxima. Depois se chega nas outras.
Repito: nada me tira da cabeça que todas essas discussões sobre preço do livro, lei do preço e desconto predatório têm a origem no mesmo problema: falta estímulo à leitura no Brasil. O que tem é uma soma de desestímulos.
E dói quando as pessoas vêm dizer "vamos fazer como na França" ou "vamos fazer como na Argentina", países que já tinham apreço pelos livros anos antes de o Brasil ter um índice decente de ALFABETIZAÇÃO. (E que ainda é fraco, aliás.)
Livros na mão das pessoas. Biblioteca gratuita. Vai levar uma geração ou duas, mas é isso q vai resolver o problema do preço do livro e da concorrência desleal entre livrarias no Brasil.E, já que a minha solução é mágica, também digo: vai resolver vários outros problemas.

Pra quem interessou, twitter do Erico aqui.
 
Mas tá osso a situação, olhando de relance só na pré-venda da Cia das Letras temos um título a preço de capa de 300 conto e outro a 170, coisa impensável uns tempos atrás, vai lá... pro livro custar isso como preço de capa teria que vir embalado a ouro.
Isso virou um angu de caroço e eu realmente não faço a mínima ideia de como minimizar isso. Não lembro quem foi que comentou em tópicos passados, mas acho que perdemos o timing e as chances disso passar são praticamente nulas.

De todo modo, já ouvi, há um bom tempo, que parte do que explica esses preços lá nas alturas é justamente essa dinâmica doida dos descontos. Ou seja, a editora já publica com um preço mais alto pensando, justamente, não em vender menos com o preço de capa e sim com o preço já com desconto. Sei lá se isso procede, mas explica porque algumas tantas editoras vivendo aparecendo com descontos de 50%, 60% em seus sites...
 
Como bacharel em Biblioteconomia, sou suspeito pra falar, mas também acho que boa parte do problema do Brasil começa a se resolver com muito mais bibliotecas, bibliotecários bem pagos e orçamento para desenvolvimento de coleções sempre atualizadas. :dente:
 

A Convenção Nacional de Livrarias iniciou sua 32ª edição nesta quarta-feira (4), no Distrito Anhembi, em São Paulo, reunindo cerca de 250 profissionais do livro e com o objetivo de discutir em diversos aspectos O valor do livro.

“O livro precisa ter seu valor reconhecido, no sentido figurativo, como objeto essencial para cultura de qualquer sociedade. Mas é fundamental que ele tenha também seu valor justo, no seu sentido mais literal: monetário. Afinal, é a renda obtida através da sua comercialização que viabiliza e remunera toda uma cadeia de produção”, disse o editor e livreiro Alexandre Martins Fontes, presidente da ANL, em seu discurso de abertura.

O primeiro painel da Convenção discutiu exatamente o valor do livro e a sustentabilidade do mercado, reunindo André Conti, da editora Todavia; Leonardo Ferreira, da Lis Gráfica; e Marcus Teles, da Livraria Leitura. A discussão se focou na ideia de que é preciso conscientizar a população de que o livro não é um objeto caro.

“A população tem essa cultura de achar que o livro é caro. Acho que essa visão tem que ser mudada e que isso só pode acontecer com o trabalho de toda a cadeia unida”, disse Leonardo.

“Essa história de falar que o livro é caro é, no mínimo, falta de pesquisa”, disse Teles. Já conhecido pelo seu apreço aos números, o dono da Livraria Leitura apresentou um estudo no qual comparou o preço de 20 livros em diversos países.

Em dólares, a obra É assim que acaba, por exemplo, escrita por Colleen Hoover, publicada aqui pela Galera e um dos livros mais vendidos no país, sai na média de US$ 7,68 no Brasil; US$ 34,50 na Argentina; US$ 20,51 no Chile; US$ 20,68 na Colômbia; US$ 10,98 nos EUA; e US$ 15,10 no México. “A renda do Brasil é mais baixa em relação aos países desenvolvidos. Por isso o preço de todos os produtos no país em comparação à renda fica caro, inclusive o do livro. Mas ao comparar os países da América Latina, com nível de renda similar ao Brasil, o preço do livro por aqui é o mais barato”, resumiu Teles.

Para falar sobre o preço do livro, é preciso entender que as editoras tentam constantemente recuperar os preços e o valor historicamente encolhidos. “Desde 2014, o preço do livro vem sendo corroído e o preço de capa não está remunerando a cadeia como deveria”, disse Leonardo. “Se vocês prestarem atenção, a metade dos meus concorrentes fechou, e nem por isso melhorou para mim. Não teve aumento na demanda, não teve mais trabalho. Por isso precisamos melhorar o preço de capa dos livros”, pediu Ferreira. A fala do gráfico pode ser comparado aos resultados apresentados no artigo "Os Fatores de Transformação do Mercado Editorial Brasileiro", elaborado por Nielsen BookData, Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL) e Câmara Brasileira do Livro (CBL) apresentado no último mês

Toda essa discussão do mercado retorna para o pedido feito – por vários anos – em outros eventos do setor: a união entre os elos da cadeia.

“A solução se encontra na capacidade de se estabelecer um diálogo”, disse André Conti ao explicar que, atualmente, livrarias e editoras têm prioridades diferentes.

Enquanto as livrarias clamam pelo andamento da Lei Cortez, as editoras estão mais preocupadas em resolver problemas que envolvem o PNLD, verbas que prefeituras não liberam e os demais programas de compras governamentais e políticas públicas que estão paradas. “O mercado não está unido, temos duas vertentes diferentes e precisamos que o governo volte a comprar livros, é isso que muitas vezes dá musculatura para as editoras”, explicou.

A conclusão do primeiro painel da Convenção, além dos dados que apontam que o livro não é caro no Brasil, é que editoras e livrarias precisam se unir para mudar a percepção do leitor sobre o assunto. “Precisamos também de tempo para mostrar aos leitores o espaço das livrarias. A livraria é um lugar de encontro, aconchegante, um ponto de encontro. Sinto que as editoras fazem um trabalho interessante ao envolver as livrarias na divulgação dos livros, mas o diálogo tem que [ser conduzido] de forma coletiva”, concluiu Conti.
 
Tudo isso pode ser verdade, mas não aborda um ponto fundamental que afeta o consumo de livros no Brasil, que é a renda da maioria dos brasileiros não dar muitas vezes nem para o urgente e imediato, então achando barato ou não, vão continuar não comprando livros...
 
Mas não cabe ao mercado editorial aumentar a renda média do brasileiro. Até por isso é dito ali, mais para o final, que o setor espera mais compra por parte do Estado rs.
 
Mesmo que o livro esteja mais barato e disponível bem próximo da casa das pessoas, sem o principal que é criar o hábito de leitura, fica difícil.
 

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