Tem um trequinho do Decálogo do Leitor (Por Alberto Mussa), com o qual eu concordo quase que inteiramente:
V – Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.
Escrevo nos livros (não chego a anotar telefones e endereços, mas coloco 'risadas' em determinadas passagens e, quando retomo a leitura, anos depois, lembro exatamente o porquê da risada, e é como se eu tivesse voltado no tempo), assinalo as frases marcantes, marco página com o quê estiver perto (se eu estiver na cama lendo, e tiver de sair correndo para atender telefone ou o portão, uso o edredom para marcar a página
).
A questão é, não faço isso em todos os meus livros. O meu Rei Lear é todo grifado, cheio de anotações, risadas, emoticons do tipo Oo, xD, ^^, etc. Mas o meu Travessuras da menina má, não é. As anotações referentes a ele eu fiz em uma agenda. E, por mais estranho que possa parecer, eu anotei até o dia em que comecei a leitura (não só a data, o dia da semana também; btw, foi em um sábado) e o dia em que terminei. Agora, eu não consigo estabelecer uma lógica para essas escolhas. Sei que não consigo grifar 'Memórias Póstumas'. Até comprei um, especificamente para isso, há alguns meses, mas não adianta. Não consigo. O mesmo acontece com meus dois exemplares de 'Grande Sertão'. Meus livros do Roberto Drummond (
) parecem que nunca foram lidos, de tão bem cuidados que estão. Agora, tudo o quê tenho do Murilo Rubião, está cheio de anotações e grifos (ok, inevitável o trocadilho mitológico, já que estamos falando do Murilo Rubião). O meu 'Nada me faltará' tem anotações em TODAS as páginas.
Uma coisinha, eu empresto livros. Sempre emprestei. Muitos deles nunca mais voltaram, mas nem reclamo. Mas tem uns livros (o Rei Lear é um deles) que de tanta anotação, eu até me sinto meio despida pelas pessoas para as quais o empresto. Sério. Acho que as partes grifadas, as anotações feitas, acabam por serem a expressão de uma subjetividade assustadora.