Re: "Inheritance Trilogy" (Christopher Paolini)
Direto ao ponto. Definitivamente, eu não gostei de Eragon. É bastante superestimado [embora eu não ligue muito se é superestimado ou não, só se é bom ou não], e ainda assim é ruim. O que eu simplesmente não gostei foi do alto número de clichês de fantasia e o "timing" perfeito que torna o livro tão... tedioso.
Provavéis spoilers do livro, uma vez que não consigo falar nada sem entregar coisas para discuti-las ponto por ponto.
Não me entendam mal. Eu geralmente não ligo para clichês, mas isso quando o autor/diretor/cara no comando da coisa/o que o valha trabalha com eles de uma forma saudável, que agrade e tudo [exemplo? o próprio Tolkien. Não neguemos que tinha algumas partes da obra dele que eram meio clichês, mas que sequer sentimos isso por causa do excelente trabalho dele.]. Infelizmente mesmo, não é o que acontece aqui. Tipo, eu simplesmente estava prevendo quase tudo o que ia acontecer, e não me agradou quando aconteceram [tipo, novamente, se acontecer de prever o futuro do livro mas o que acontecer for legal e bem feito, nem ligo. Não foi o que aconteceu aqui, infelizmente].
A morte do Brom, por exemplo. O Paolini tinha
TODAS as armas para fazer com que isso chocasse alguém, mas isso não aconteceu por alguns motivos um tanto quanto incômodos:
- O fato do Brom ser um tanto quanto desinteressante [de fato, eu esperava um pouco mais de profundidade no personagem. Claro que ele tem seus momentos, mas em muitas partes me pareceu existir somente para preencher a lacuna de "velhinho sábio comum a um bocadão de livros de fantasia".
]
- O fato de eu não ter ligado muito para a relação Brom/Eragon/Saphira, ou nem me importado com o que aconteceu com ele pelo livro e tal.
- E a morte dele em si, que deveria pesar bem mais que a morte do Garrow [pense: ele perdeu justamente aquele que lhe oferecera a mão. Aquele que lhe ensinara poder e chance, aquele que iria lhe ajudar..., isso não dava para ser melhor explorado?]
- E por fim, o impacto que isso teve no Eragon. Quer dizer, uma mera frase dizendo que o Eragon chorou não basta. Cadê uma descrição dos sentimentos dele? Tive esse mesmo pensamento na morte do Garrow.
Isso nos leva direto a outro ponto: o desenvolvimento dos personagens. Definitivamente não senti interesse algum no Eragon. Digo, eu nunca achei nenhuma emoção vinda dele, nada que me fizesse sentir simpatia por ele ou algo assim. E também não me senti muito a vontade nem com o Durza, o Galbatorix e os Ra'zac. Imagino, por exemplo, que a chacina em Yazuac foi totalmente desnecessária, apenas fazendo papel de Ei-Olhe-Nosso-Rei-É-Mau-Mesmo, mas não senti aquele "Ar" que eu sentia em torno de vilões como, sei lá o Saruman, o Voldemort [de Harry Potter] ou a Sra. Coulter [de Fronteiras do Universo, quando ela era insensível, fria, calculista e tal]. Nem mesmo senti ódio pelo Durza - coisa que o autor deveria nos fazer sentir, não é só um assassinato simples, emboscadas ou chacinas que fazem uma pessoa odiar um vilão. Tudo vai depender de
como ele mostra isso -, ou pelos Ra'zac [por causa da dupla perda que deram à Eragon].
Também não gostei do Brom. Não,
não digo que ele plagiou o Gandalf ou qualquer outro. O fato é que ele pareceu ser só "mais um velhinho tutor", e ele poderia também ser um personagem foda caso o Paolini perdesse mais tempo nele do que mostrando o corpo de um bebê empalado numa lança [digo, isso
até que poderia funcionar - o treco de Yazuac - mas isso serviu apenas para encher o livro por ser tão pouco desenvolvido. Yazuac é uma das partes que eu mais critiquei em
Eragon, entretanto, poderia dar algo extremamente foda e talz. Pena que não dá.]. Claro que ele tem seus bons momentos - até
Sétimo tem -, mas ainda assim poderia ter sido incrivelmente melhor, do tipo que faz a gente pensar "Eles o mataram? Eles o mataram? Eles o MATARAM?". A luta dele com Morzan e tudo, simplesmente não acho que faria mal mostrá-lo em alguma noite sentado com o Eragon revelando partes de seu passado. Não todas, claro, reconheço que poderia até doer no personagem - será? - e que tão ruim como fazer a coisa de "esconder a qualquer custo" é entregar a história [não que isso importe, já que muitas partes estavam entregues], mas simplesmente não faria mal algum se o Brom contasse um pouco mais de detalhes sobre sua vida para o Eragon. Quer dizer, poderia até funcionar mostrar o Brom como um antigo Cavaleiro de Dragões lá pela metade da caça deles.
Anyway, o Murtagh e a Arya são os únicos que têm potencial para algo - o Murtagh, por carregar todo o fardo de ser o filho de Morzan, o que pode dar uma ótima sub-trama; e a Arya, por ainda não termos visto tudo o que ela sabe fazer, preservando surpresas para Eldest.
A Saphira é até legal de vez em quando - já que o Paolini também tem que se dar ao trabalho de desenvolvê-la -, e gostei da ânsia dela por voar junto com o seu Cavaleiro. E só.
Alguns personagens secundários foram estranhos e ruins, outros até legais. O Jeod, por exemplo, ficou um pouco superficial. Eu SEI que personagens secundários têm sempre que deixar espaço para os principais, mas ainda assim, o Paolini tinha um bom espaço para moldá-lo, deixá-lo mais "redondo". E o "rancor" da Helen pelos dois [quer dizer, ela fica olhando para Eragon e Brom o tempo todo com cara fechada] foi totalmente dispensável, uma vez que não atrapalhou em nada a aventura deles. Confesso que quando vi aquilo fiquei intrigado:
Wow, será que ela vai fazer algo legal que atrapalhe a jornada dos dois? . Adivinha minha surpresa. E ela também poderia ter sido mais desenvolvida.
Por outro lado, eu gostei da Angela. Não morri de amores por ela, mas ainda assim toda aquela história de "
sapos não existem" foi divertida. A parte da previsão que ela fez para Eragon foi um tanto quanto tosca - hum, rápido demais, um tanto clichê demais [tipo, se o Paolini quisesse mencionar a mãe do Eragon na fala da bruxa, nada contra. Mas aí entra a parte do
bem-feito e talz]. Anyway, a Angela foi divertida, gostei dela e talz.
Por falar da mãe de Eragon, uma coisa que me desagradou no livro foi que ela só ganhou um parágrafo na "lembrança de Eragon bem no comecinho do livro". Sinceramente, esperei que ele fosse voltar a ela através do livro,mas não da maneira que foi - penso que o Paolini colocou alguns personagens que não conheceram/não viram muito/não interagiram muito com a mãe apenas para colocar na cabeça do leitor uma dúvida "Hum, a mãe de algum deles é a mãe de Eragon". No meu caso, pelo menos, essa dúvida passou dentro de outra: "Será que o Paolini colocou alguns personagens que não conheceram/não viram muiito/não interagiram muito com a mãe apenas para colocar na cabeça do leitor a dúvida 'Hum, será que a mãe de algum deles é a mãe de Eragon?'?". E isso faz uma diferença muito grande na história que ele quer passar.
Eu vou apostar com alguém que a mãe do Murtagh é a mãe do Eragon, alguém quer? Preciso de dinheiro, etc. [ou é a da Nasuada, sei lá, mas como Murtagh me parece mais clichê, arrisco nele.]
Agora sobre a narrativa: O Paolini escreve toscamente no começo do livro. Não tem algo que "flua" ali. Claro que ele melhora em sua escrita lá pelo final - Paolini finalmente aparenta tomar controle da situação e particularmente me diverti com o último capítulo -, de modo que a leitura flui bem mais. Só precisava melhorar um pouco a história.
E eu gostaria bem mais que o Paolini nos desse mais detalhes sobre a Alagaësia. Mostrassem bem mais, por exemplo, Teirm, Daret, a destruição em Yazuac, a corrupção de Dras-Leona [achei a volta da escravidão um tanto quanto forçada do modo como foi mostrada], detalhasse mais a dificuldade que era atravessar o deserto Hadarac, a vida em Carvahall, os negócios, as políticas, as religiões... Não me senti "infiltrado" na Alagaësia acompanhando o Eragon e o Brom/Murtagh. Outro problema que me incomodou foi que tinha certas coisas "empurradas demais" em cima da gente. Assim, uma explicação, Bang!, acabou, sem nenhuma adição mais para algum leitor mais curioso que quisesse descobrir mais sobre a Alagaësia [eu, por exemplo, que estive ansioso para ler e esperava encontrar um livro divertido, intrigante e gostoso de ler].
[apenas para os mais exaltados: eu não comparei o livro de maneira alguma com Tolkien. Simplesmente não consegui achar
Eragon um bom livro.]
Enfim, sim, teve coisas que eu gostei nesse livro. Exemplo? O mapa da Alagaësia [realmente bem-feito], a Angela e a Saphira [e seu desejo de voar, de glória e talz]. É uma prova de que o Paolini
tem potencial e que pode evoluir para um bom escritor. Mesmo assim, eu não recomendaria
Eragon não.
Sinto que serei encontrado morto esta noite.