Saiu um arquivo bem interessante na revista TIME a respeito da operação de guerra que está sendo montada pela editora americana responsável pela publicação. Os caras estão a beira da paranóia pra preservar o que eles chama de momento mágico. O texto é grande, mas bem bacana!
Harry Potter e os spoilers sinistros
Você pode estar pensando que o produto mais importante que a Scholastic lançará este verão é Harry Potter e as Relíquias da Morte, o sétimo e último livro na recente e quase infinita série de fantasia de J. K. Rowling. Mas você pode estar errado.
Relíquias da Morte, que começará a ser vendido exatamente a meia noite do dia 21 de julho, é meramente um item secundário, o catalisador para algo mais. O verdadeiro produto é algo que os executivos da Scholastic chamam, na surdina, em tons de reverência, "o momento mágico."
Este é o momento do inefável, êxtase intangível que ocorre quando um leitor abre sua cópia nova em folha de Relíquias da Morte pela primeira vez. "Durante todo o processo, todos que toca neste manuscrito tem o mesmo objetivo em mente," diz Arthur A. Levine, o editor de Rowling. "Meia-noite crianças."
O momento mágico é uma coisa rara e delicada: ocorre somente quando o leitor chega ao livro em um estado de puta ignorância, com nenhum conhecimento prévio do seu conteúdo. àra que o momento mágico aconteça, segundo a teoria, a mente do leitor deve ser preservada em um estado de absoluta inocência - em linguagem de internet, livre de "spoilers".
Então para preservar o momento mágico contra disseminação de informações via Internet, ou conversas de corredor, ou das Rita Skeeters da mídia global - a editora criou uma infraestrutura em torno de Relíquias da Morte, diferente de qualquer coisa que o mundo editorial jamais viu.
Na terça-feira, 3 de julho, se eles agirem como de costume, aproximadamente uma dúzia de pessoas se reunirá na sala de conferências no sexto andar do quartel general da Scholastic em Manhattan, como eles tem feito quase toda terça este ano.
Eles são membros do Comitê Harry Potter, as pessoas responsáveis por cada aspecto da sétima chegada de Harry Potter nos EUA. O grupo inclui, entre outros, Levine, Lisa Holton, presidente da divisão comercial da Scholastic; o diretor de arte da editora e os gerentes de vendas, marketing, produção, comunicações e produção; e o conselho geral da companhia. "Esta sala é realmente a mais paranóica," diz Holton. "Nós não falamos a nossos filhos e esposos por meses."
A seriedade com a qual cada um dos membros do Comitê Harry Potter cumpre sua missão coletiva, não pode ser menos exagerada. "Nós sempre soubemos que a série já é um clássico moderno," afirma Holton. "Se pensarmos em termos de literatura, Eu não consigo imaginar outra série - não apenas de literatura infantil, mas na adulta também - que faça o que J.K. Rowling faz. Até mesmo Dickens não chega nem perto.
O trabalho do Comitê começa quando o processo criativo de Rowling termina. No caso de Relíquias da Morte, que aconteceu em 11 de janeiro de 2007, quando Rowling (cujo nome, seja dito agora e o tempo todo, rima com bowling, não howling) escreveu a última palavra da saga de Harry Potter em uma suíte hotel Balmoral em Edimburgo.
A tarefa de viajar até a Inglaterra para pegar o manuscrito ficou a cargo de Mark Seidenfeld, advogadoque cuida de todas as coisas relacionadas a Harry Potter na editora. Para ter certeza de que o manuscrito estava completamente seguro no avião, ele veio sentado sobre ele. Mas ele não o leu.
Mesmo estando tão próximo do lançamento do livro, muito poucas pessoas na editora tiveram qualquer contato com o conteúdo de relíquias sagradas-"um punhado," de acordo com Kyle Good, gerente de comunicações da Scholastic.
Entre este "punhado" estava Levine, o qual teve que editar a maior escritora do mundo. ("Ela é muito firme, mas não é cega", ele diz. "Ela realmente valoriza quando nós fazemos perguntas a ela. Ela diria, 'Oh, eu sabia aquilo que estava na minha cabeça, mas se não for desse jeito, porque não dizemos X.'").
Outra que leu em primeira mão foi uma estudiosa de 28 anos chamada Cheryl Klein, cujo cargo é editora de continuidade. Os livros de Rowling se tornaram tão complexos - e seus fãs tão obssessivamente detalhistas - que é preciso um Potterologista em tempo integral, pra garantir que o universo ficcional de Rowling continue fatualmente consistente. "Eu fico atenta a todos os diversos nomes próprios que aparecem na série," diz Klein.
"Por exemplo, com os Feijõezinhos de todos os sabores de Bertie Bott, eu tenho que garantir que é sempre B-o-t-t-apóstrofe-s(no original em inglês). Cada sabor não é hifenizado e Sabor não tem um 'u". É uma tarefa difícil: o conhecimento de Klein, por exemplo, que em Harry Potter e a Câmara Secreta, Murta que Geme fica nos toaletes em U, enquanto em Harry Potter e o Cálice de Fogo, ela ocupa os toaletes em S. Klein tem ao mesmo tempo o melhor e pior trabalho do mundo, dependendo de como você encara.
Como cada um na editora, Klein mantém o código de silêncio de Harry Potter. "A maior parte das pessoas sabe que é melhor não perguntar," ela diz. "Isso inclui meus amigos e família e os demais." Depois de Rowling ter revisado o manuscrito, com as sugestões de Levine e Klein, ela vôou até a Inglaterra para pegar o novo documento.
Na volta, ela foi parada para uma checagem de segurança aleatória no aeroporto Heathrow. "A mulher abriu minha mochila e começou a mexer lá. E aí ela diz, 'Nossa! Você tem bastante papel aqui.' E eu pensei, Oh, Deus, ela vai olhar e vai ver os nomes Harry, Ron e Hermione. Mas eu apenas sorri e disse, 'Sim, bastante papel!' E ela disse, "Uh-huh' a fechou o zíper. Este foi o fim dos dois minutos mais aterrorizantes da minha vida."
O número de cópias do manuscrito de Relíquias Mortais foi mantido no mínimo absoluto. Uma foi para a ilustradora dos livros. Mary GrandPré também foi admitida no círculo interno, a artista moradora da Florida que ilustrou as edições americanas. (Se você já viu a capa Inglesa de Relíquias Sagradas, você sabe o quão sortudos são os americanos por terem GrandPré.)
"Ela é uma mulher incrível," diz Good. Ela tem uma imagem de como Harry Potter parece, mas quando ela teve que desenhar seu rosto teve muitos problemas. Ela fez o cabelo bagunçado, os óculos, mas como seu queixo pareceria? Então ela foi até um espelho, olhou sua imagem refletida e desenhou o próprio rosto."
Enquanto GrandPré estudava seu queixo no espelho buscando inspiração, as engrenagens do motor harry Potter já funcionavam. Quanto mais cópias de um livro são impressas pela editora, mais os problemas com segurança multiplicam-se e Relíquias da Morte teve a maior 'primeira impressão' do que qualquer livro já publicado. Em 21 de julho a Scholastic terá entregue 12 milhões de cópias, só nos EUA.
A ameaça ao momento mágico é real. Em 2003 um motorista de empilhadeira de uma gráfica britânica foi pego roubando páginas de Harry Potter e a Ordem da Fênix. Um mês antes de Harry Potter e o Príncipe mestiço(sim, eu ainda prefiro este título, rs) chegar as lojas, dois homens foram presos na Inglaterra por tentar vender uma cópia a um repórter.
Como resultado, a Scholastic não informa os locais onde os livros estão sendo impressos, ou quantas são as gráficas. (Da mesma forma Bloomsbury, editora Inglesa da série, nega ferozmente um rumor de que estaria forçando trabalhadores a imprimir o sétimo livro quase no escuro). Depois de impressos os livros chegarão as lojas em plataformas, lacradas com plástico preto, em caminhões rastreados por GPS.
Fonte: http://www.time.com/time/specials/2007/article/0,28804,1637886_1637891,00.html