Voltando um pouco no que aconteceu com Thingol acho que começo a entender um pouco o significado do encontro dos dois e de alguns detalhes que podem ter acontecido.
Para aquele que ama o amor é o lugar e o tempo perfeito o qual não precisa de retoques, nem de passado ou futuro. Os que amam desejam que o tempo permaneça inalterado como o que aconteceu durante o encontro encantado na floresta de Doriath entre o rei elfo e a Maia. E buscam fazer com que o amor perene seja a única coisa capaz de sustentá-los vivendo naquele sentimento sem perdas.
Os amantes não querem ficar para trás do que viveram ou serem deixados no passado por aquele momento de amor que viveram e que num mundo perecível passa e não volta e na melhor das hipóteses se torna uma lembrança. Eles buscam uma complementaridade incansável e um lugar no mundo, uma casa para construir e viver.
Infelizmente como diz em um dos livros, os modos desse mundo são encontrar e perder e Beren ao ser expulso de sua casa na verdade foi expulso daquilo que amava e acreditava.
Ao vagar perdido com frio e fome este era apenas a metade do significado de ser expulso de casa. A outra metade foi ser obrigado a vagar sem ter um tempo e lugar de repouso, como uma pedra a rolar igual Gandalf dizia ter que viver como uma obrigação, diferente do espaço próprio encontrado por Tom Bombadil.
Ser abandonado pelos momentos bons era algo que os homens sofriam com rapidez, perdendo agudamente o seu lugar no mundo, com um tempo mínimo para amar e se lembrar do amor. E bem era verdade que a infelicidade sempre foi um dos fatores mais prejudicias da memória pois quem sofre não consegue se lembrar dos dias felizes e daquilo que vale a pena.
Beren precisava muitíssimo de alguém que pudesse curar a memória e lembrá-lo de que ele não era a escuridão e esta pessoa não poderia ser um humano comum pois seu sofrimento interior já havia passado do ponto de retorno e ele havia caminhado na beira do precipício de Morgoth, vislumbrado os filhos horrendos de Ungoliant e se perdido nos caminhos confusos de Melian (que representa os caminhos cruéis do mundo tanto quanto Melkor, funcionando como uma das representantes dos poderes).
O personagem Beren perde o lar muitas vezes, incluindo ter que morrer 2 vezes.
Lúthien viu o pior caso de abandono que já houve, alguém que deveria ter saído do futuro, do fim dos tempos quando o mundo estivesse a beira de ser jogado na destruição para ser novamente refeito, antes da derrota definitiva de Melkor. Para alguém que vive de curar a natureza como Melian vivia, Beren deve ter se apresentado a ela com uma aparência tão indecentemente machucada que ela nunca havia visto tamanha necessidade de ajuda em uma criatura de natureza indomada (pois em essência ele nunca havia se dobrado ao mal. Devia ser como encontrar um homem com a pele toda queimada se arrastando para pedir ajuda.