Não me lembro com clareza... Tirando conto de fada (normal, né?) e Marcelo, Marmelo, Martelo e a série os Karas, acho que meu primeiro clássico foi Volta ao Mundo em 80 dias.
(Senta que lá vem a história)
Eu tinha 12 anos e foi o bacilo de Fogg que me fez desenvolver a Síndrome de Cultwannabe. Culpa do meu tio, que deixou uns livros dele lá em casa, com capa dura e feia, dizendo que "aqueles sim que eram livros". Escondidinha, num domingo à tarde em que todos dormiam, peguei o primeiro deles: O Elogio da Loucura. De cara não gostei do narigão horroroso do Rotterdam, e tentei ler o complicadíssimo e superlativíssimo primeiro paragrafíssimo e larguei pra lássimo. Pulei pro segundo. Verne? Que nome engraçado, quase que é berne. Mas pronto, foi destruidor. Lia com a avidez de quem tá quase virando o Super Mário na última vida.
Aí, na terça-feira, a professora manda a gnt fazer uma redação na escola. O que a mocinha aqui faz? Enfia "fleumático", "carmesim" e mais outra palavra completamente destoante do seu estilo juvenil de escrita só pra se gabar de saber palavras que ninguém sabia (nota: eu até lia dicionário, sempre. Amava. E adorava folhear enciclopédia, hobby master até em dia de sol. Vida de filha única não é fácil, meu caros, mas eleva o espírito
) De sorte que a professora me chamou à mesa e mostrou na minha folha três palavras circuladas com caneta vermelha.
- De onde vc tirou isso?
Eu, orgulhosona:
- Do Júlio Verne, ué. (Pois é, né, já me gabava do autor, não da obra, que nojentinha do caramba, deurmelivre).
- Júlio Verne?
- Aham. Voltaomundoitentadias.
- Sei... E o que significa "carmesim"?
- Ah, é um vermelho forte que nem sangue.
Ela me olhou de um jeito que eu não tive maturidade pra decifrar e voltei toda saltitante pra minha cadeira. Adivinhem o que aconteceu depois? Cheguei em casa toda prosa dizendo pra minha mãe que eu sabia uma palavra que nem a professora de português conhecia. ¬¬ É, pois é.
Depois disso, comecei a ler desenfreadamente Júlio Verne (meu sonho na vida era ser a namorada do Miguel Strogoff) e todos os livros de capa dura e sem figura da biblioteca. Me sentia a sabichona só porque não ia mais na seção infanto-juvenil. Pobre criança.
Pronto, fim da história. Mas não perguntem porque tem mais.