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Prosa-poema-prosa da vida-processo semi-automática não autêntica de um garoto legal

[align=center]Prosa-poema-prosa da vida-processo semi-automática não autêntica de um garoto legal



[/align][align=center]Minha mãe é legal
Meu pai é legal
Minha casa é legal
Por que eu vou querer ir pra escola?

De fato Caio não via razões que o convencessem de que ir pra aula poderia ser mais proveitoso do que ficar em casa se afogando em aconchego e carinho. Aprender química? Pra quê? Passar no vestibular, se matar mais cinco anos na universidade, arranjar um emprego chato, envelhecer e morrer. Caio era um cara rebelde, desses que não se conformam com uma vida-processo semi-automática não autêntica. Se fosse uma arma nas mãos de Caio, faria estrago, mas o tempo passa...
O problema é que nosso garoto inconformado não pertence a uma família muito abastada. Digamos que ele passará bons tempos até seu 25º ano. Aí seus pais começarão a reparar que os filhos de todos os seus amigos já estão trabalhando, formados, casados e domiciliados. Eles ficarão aflitos com a situação de Caio. Ele mesmo já não tem toda aquela rebeldia que o faria sair de casa como um hippie ou beatnik sem rumo, provido de vinho barato e erva fina e feliz pra sempre. Não, o pequeno Caio seria um ótimo paisano se tivesse lido Tortilla Flat, mas temos que lembrar que ele não gostava da escola; ele não gostava do café que ficava na esquina da rua onde morava. Se um dia ele tivesse ido até lá e batido um bom papo com os vagabundos que procuravam as putas na esquina do café... ah, se ele tivesse ido, o mundo teria mais um militante da contra-cultura universal de botequim.
No café ele escutaria Baudelaire recitado por Boêmios Errantes. Um estrangeiro amante das nuvens; sem pai nem mãe, sem irmãos nem amigos, despatriado e deserdado, mas amante da beleza e das nuvens.
O pobre garoto tinha uma casa legal, uma mãe legal e um pai legal... ele não tinha amigos legais nem uma namorada legal. Caio e seus pais legais assistiam a telenovela e aquele magnífico reality show, dia após dia. Seus pais não se importavam que ele faltasse a escola e no alto de sua 25º primavera, com um currículo sepultado, todos os esforços da família eram na busca de um emprego legal para esse pequeno garoto que não gostava do café da esquina. Ah, se ele tivesse ido até lá... a primavera coroaria o túmulo da sua ignorância. Sobre o túmulo floresceriam incomparáveis flores poéticas, flores do mal, mas ele é apenas um garoto legal.
A escola acabou, o café fechou... e agora Caio? Lá, ele conheceria um rapaz tristonho chamado Poe.
Mas esse tempo já se foi e Caio, o garoto que não foi pra escola e nem pro café, vê as coisas se ajeitarem como podem.
Na sombra de uma vida-processo semi-automática não autêntica, deita sua existência e a de seus pais, de onde não se levantará nunca mais.[/align]
 

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