Charlie Brown disse:
O fána não precisava de descanso?
O "Do início dos tempos" diz que os Valar, especialmente Tulkas e Aulë, estavam exaustos, a ponto de repousarem e negligenciarem sua atenção e guarda em Arda. Tulkas chega até a adormecer!
Não sei se isso tudo é de alguma forma linguagem figurada, mas realmente acho que não. Esse cansaço faz parte do enredo, é a oportunidade que Melkor encontra para começar a escavar as profundezas do mundo. Eu acho que talvez nós possamos associar isso mais ao espírito em si do Ainu, se considerarmos que o fána não o limita: o trabalho todo devia-se mais a um esforço no trabalho de sub-criar e construir, além de expressar "sua naureza individual e funções".
Swanhild disse:
Isso de o hröa limitar o Ainu e impedir que ele use seus ponderes precisa ser adaptado dos Istari para o caso de Melkor se admitirmos que ele usava um hröa. Melkor tinha muito mais poder que um Maia, portanto sua relação com o hröa era diferente do que a de um Maia (ou ao menos os limites sobre o que ele podia ou não fazer enquanto hospedado naquele hröa o eram).
Eu concordo que as possibilidades de Melkor eram estupendamente maiores, talvez até únicas, afinal, ele vai ser capaz de reerguer-se do seu estado enfraquecido, e mais uma vez invadir o mundo, no final dos tempos. Uma grande exceção, Melkor foi feito o maior dos espíritos criados por Eru, mas ainda estava sujeito às imposições de sua estadia em Eä, e sabemos que muitas delas o irritavam pois vinham a impedir muitos dos seus desejos.
Swanhild disse:
Sobre seu comentário de que um hröa limitaria Melkor, o que se pode dizer é que Melkor se encarnou para controlar a matéria; isso é inescapável, está dito no Myths VII; e lá também diz que essa encarnação foi num corpo feito de matéria. Com isso o seu argumento de que encarnar fisicamente atrapalharia o controle da matéria por parte de Melkor cai.
O Mitos Transformados diz:
Melkor 'incarnated' himself (as Morgoth) permanently. He did this so as to control the hroa, the 'flesh' or physical matter of Arda. He attempted to identify himself with it. A vaster and more perilous, procedure, though of similar sort to the operations of Sauron with the Rings. Thus, outside the Blessed Realm, all 'matter' was likely to have a 'Melkor ingredient', and those who had bodies, nourished by the hroa of Arda, had as it were a tendency, small or great, towards Melkor: they were none of them wholly free of him in their incarnate form, and their bodies had an effect upon their spirits.
A expressão "encarnar a si mesmo" não se refere especificamente a um hröa enquanto corpo físico - as aspas não devem ter sido colocadas em vão, inclusive; não era um simples "encarnar" no sentido usual e mais imediato.
No trecho do The Road Goes Ever On em que explica-se os fánar, Tolkien diz que os Valar se "auto-encarnam" ; portanto, a expressão em si não é precisa, apesar do radical "carne", em tese, poder ser relacionado ao termo hröa em um sentido mais amplo da obra.
A carta 200 também deixa implícita a idéia de que aquele "auto-encarnar-se" a que se refere é em relação aos fánar, na medida em que faz a mesma comparação dos corpos dos Valar que o Ainunlindalë e o Valaquenta: todos falam neles como "vestes". O Valaquenta ainda fala que são "trajes da Terra", sugerindo que eram aparências específicas do e no mundo físico.
Os fánar são tangíveis e passíveis de serem feridos e "mortos", assim eles são também "matéria". Ou o que Glamdring teria cortado ao atingir o balrog de Moria? O trecho do HoME X é mais específico em um outro sentido: ele explica concisamente como foi que Melkor desfigurou Arda. "Identificar a si mesmo" com o mundo significa que ele espalhou sua essência por toda a matéria, e toda ela teria uma parte dele. Aquela seria sua última forma física já que ele enfraqueceu, e apesar de ainda poder corromper e usar seus poderes em muitas outras atividades cruéis, era incapaz de moldar um corpo que camuflasse seus pensamentos perversos.
Melkor começou sua corrupção de Arda desde que entrou no mundo. Arda sem a desfiguração nunca existiu - desde que os Valar procuraram tornar aquilo que haviam determinado na Música em prática, Melkor pôs-se a destruir e corromper, e "a Primeira Guerra começou antes que Arda estivesse totalmente formada, e antes mesmo que qualquer criatura crescesse ou caminhasse sobre a terra".
O fána, forma física e 'encarnada' natural dos Ainur, "expressão dos desejos, temperamentos, vontades e funções" (carta 200), era mais vantajoso nessa tentativa (em grande parte bem-sucedida) de Melkor de arruinar e desfigurar Arda que um corpo como o de Homens e Elfos.
Pandatur disse:
Swan, você tocou no ponto que eu queria na discussão, que é esse lance do tempo para se fazer o corpo. Se Sauron conseguia alterar sua forma com aquela rapidez, e e estando em um fána, então o fána levaria um tempo mais que mínimo para ser "montado" ao meu ver.
O parágrafo que fala sobre esse assunto é esse:
It was because of this pre-occupation with the Children of God that the spirits so often took the form and likeness of the Children, especially after their appearance. It was thus that Sauron appeared in this shape. It is mythologically supposed that when this shape was 'real', that is a physical actuality in the physical world and not a vision transferred from mind to mind, it took some time to build up. It was then destructible like other physical organisms. But that of course did not destroy the spirit, nor dismiss it from the world to which it was bound until the end. After the battle with Gilgalad and Elendil, Sauron took a long while to re-build, longer than he had done after the Downfall of Númenor (I suppose because each building-up used up some of the inherent energy of the spirit, which might be called the 'will' or the effective link between the indestructible mind and being and the realization of its imagination). The impossibility of re-building after the destruction of the Ring, is sufficiently clear 'mythologically' in the present book.
Tolkien fala que havia um consumo da "vontade" do Ainu nessas construções dos fánar. Estes corpos seriam 'reais' no mundo físico, mas precisar quanto tempo levaria para se formar cada um é complicado. Sauron talvez tivesse mesmo uma característica especial - assim como muitas outras ordens de espíritos eram dotadas de características únicas - que o permitisse tomar tantas formas em intervalos de tempo tão pequenos.
Entretanto, sendo verdade ou não essa suposição, até a vontade de Sauron passou a diminuir muito, e a cada vez que era 'morto', a reonstrução tomava mais tempo.