Valinor tem inspirações paradisíacas diversas. Mas no caso do ponto de vista bíblico, o paraíso é um mundo muito mais claro e definido que o nosso.
O reino abençoado era basicamente uma casa de cura da lembrança do mundo, e como os curadores dos museus a responsabilidade do lugar inclui a preservação da cultura do mundo como deveria ser.
Claro que cultura do mundo é um termo geral. O mais correto é dizer que eles preservavam a memória do mundo. E lá os Valar criavam coisas a partir de suas próprias memórias da canção original.
Na bíblia se diz que as formas de nosso mundo (cores, sons etc...) são apenas uma sombra das que existem no paraíso/céu. Na terra-média as formas perderam a fidelidade e variedade por causa da presença de Morgoth e aquela parte menos destrúida e contaminada que havia restado os Valar cercaram e isolaram contra seu inimigo.
Mesmo com a ausência de Melkor no mundo, haveria muitas falhas na hora de construi-lo pois havia verdadeiros buracos na memória de cada Valar. Eles usavam sua memória para lembrar da música, mas só conseguiam expressar uma parte dela no mundo. Eles sabiam quase tudo da sua especialidade e bem pouco da música cantada por seus irmãos, a exceção de Melkor que havia estudado a música dos irmãos para destruir a memória das coisas em todas as especialidades.
Em Aman, toda informação era memória. Quantos tipos de memória havia? É só pegarmos o exemplo de nosso cérebro. Havia a memória física (a forma das estruturas sólidas), a memória química (propriedades dos mensageiros e moléculas), a memória eletro-magnética... Cada uma dessas coisas possuía um formato que podia ser desenhado a partir de uma memória primordial. A canção dos Ainur e de Eru.
Quando as águas de Ulmo vão perdendo a magia elas vão perdendo na realidade a sua memória primordial. São como aquelas pedras preciosas do livro "A Cadeira de Prata" de CSS Lewis. Para ele as gemas que conhecemos eram pedras mortas e por isso não podiam ser comidas ou fazer um suco de rubis e esmeraldas, pois não estavam mais vivas como deveriam ser. Elas haviam sido desvirtuadas.
E o trabalho dos Valar era parecido com o daqueles artistas policiais que fazem retrato falado de criminosos. A expressão da memória de alguém era sempre inferior a da memória verdadeira (por causa da limitação do meio utilizado e da comunicação que sempre perdia informações de memória).
Os elfos preservavam a memória élfica (também chamada de cultura élfica) e apagavam ou construíam as coisas que desejavam aperfeiçoar, recuperando de certo modo a memória original da música. Nesse ponto os homens conseguiam recuperar muito pouco da canção original. Os homens tinham péssima memória e por isso a quantidade de malfeitores homens era muito maior que a dos elfos.
Os homens confundiam tudo e não sabiam usar a memória. Escolhiam para si lembranças malignas como se fossem sagradas e as sagradas como se fossem malignas. E o próprio Melkor nunca se lembrava de que quem mandava era Eru.
A forma mais eficaz de combeter Melkor era lembrá-lo. E o paraíso estava lá também para isso, razão pela qual o paraíso não deve ser considerado um lugar aborrecido. Na verdade, nosso mundo é que é aborrecido pois enxergamos mal, ouvimos mal, cheiramos mal e por aí vai.