E é engraçado como as experiências de vida vão ressignificando certos aspectos dos livros que amamos e até introduzindo nuances e aspectos completamente novos. Isso é verdade para qualquer livro, é uma verdade ainda maior para aqueles livros com um profundo significado moral e uma beleza espiritual própria como este. A questão é que eu li tanto, tantas vezes, tão intensamente esse livro ao longo de dez anos (desde 2011) que não achei que isso fosse possível, é aquela coisa, né, sempre achamos que nossas experiências atuais são as mais perfeitas e acabadas, finais, que concluem um passado de sonhos idílicos e desilusões e apontam para um futuro brilhante. Tanto essa fé na perfeição da experiência e do sentimento atuais quanto a interpretação de toda a nossa vida em torno dessa experiência, as lições do passado e o sentido do futuro, são produto dessa coisa complicada que é ser humano, porque ser humano é, fundamentalmente, ser-aí, estar jogado no mundo, na indeterminação, no devir sem sentido. Essas experiências que nos transformam, nos abalam, essa coisa que mexe com a gente se torna tão destacada do mar cinzento sem sentido, cor e brilho que é a vida cotidiana, que nós os canonizamos, glorificamos de pé, igreja, e o tornamos o evangelho da religião atual de culto do nosso eu. Assim nasceram as religiões, os movimentos políticos, todas as grandes e pequenas realizações do espírito humano, especialmente a arte: uma experiência noética, espiritual, que, destacada do todo cinzento da vida, se torna o referencial novo, não apenas uma novidade, mas a Grande Ideia em torno do qual todas as demais experiências de vida, aliás, a própria vida, idealizada e objetificada, é reinterpretada, funcionalizada e reinterpretada.
Eu lembro do Pequeno príncipe ter me encantado por trazer questões tão universais e humanas à baila sem se referir exatamente a nenhum desses 'aspectos' da vida em particular, mas no fundo, era sempre meu espírito atual que estava sendo acolhido ali. Era um Caio que enfrentava a derrocada de uma vida religiosa que acreditava real e duradoura, mas não passava de ilusão. Era um rapaz se decepcionando com a fé de seus pais e seguindo o caminho arriscado e obscuro de uma nova religião, cheia de promessas, beleza externa, misticismo interior e seduções, perigos, tentações. Era a época em que se desaprendia um idioma com o qual se aprendera a falar com D'us, e aprender outro. Era a época de estudos, de grandes transformações. Foi descobrir um caminho com amigos novos, experiências novas, e foi também se despedir de 'amigos' que não entenderam a mudança. Foi descobrir novos amigos no fórum, saber que já não se tratava mais de um lugar na internet onde eu fazia graça e arrumava confusão, mas onde poderia manter vínculos reais de amizade em uma época em que eu acreditara ter perdido boa parte das minhas já débeis habilidades sociais, alguns desses amigos permanecem até hoje, os poucos e bons, outros foram me decepcionando ou só nos abandonando, mas tudo bem, eu abandonei e decepcionei muita gente também. Foi o fim do celibato e praticamente o reinício da vida sexual para um jovem que do amor só conhecera um amor platônico de adolescência, uns casinhos da época da escola técnica e que era virgem de tudo no que se referia a sentimento, exceto no sentir, porque antes de escrever sobre sentimento, ele sentia, sentia muito, e profundamente. Foi a época em que falei online pela última vez com a special someone, quando ela partia de volta de uma viagem internacional para fixar residência em outra cidade, e levava com ela meu sonho antigo de amor, que eu aprendi a encerrar no peito, enterrar e esquecer, 'tornar uma lembrança'.
O Pequeno Príncipe é um livro que nos ajuda a passar por fases difíceis da nossa vida, porque o consolo que ele traz não é particular, mas universal, sua linguagem é entendida por todos e, exatamente por isso, não nos sentimos ludibriados. Não há tentativas de se 'compreender' nada, porque toda a vida possível, se é que isso é possível, está concentrada ali. Não existem soluções psicológicas fáceis, nada ali existe para justificar a covardia diante da vida, amenizar as decepções, oferecer receitas de coachs do bem-viver, ou remédios milagrosos contra a dor. A dor é assumida desde o início. Aprendemos a dor do amor com a convivência difícil do principezinho com a flor (ela, que sempre me fazia lembrar, com seus espinhos e caprichos, dela),
"É bem complicada essa flor!"
a dor do ego com o rei,
"Eu te ordeno que me interrogues."
o vaidoso,
"Dá-me esse gosto! Admira-me mesmo assim!"
o empresário e,
"Sem dúvida. Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele é teu. Quando achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens uma idéia primeiro, tu a fazes registrar: ela é tua. E quanto a mim, eu possuo as estrelas, pois ninguém antes de mim teve a idéia de as possuir."
na sua forma mais aguda, com o bêbado,
- Por que é que bebes? perguntou-lhe o principezinho.
- Para esquecer, respondeu o beberrão.
- Esquecer o quê? indagou o principezinho, que já começava a sentir pena.
- Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça.
e muitas vezes essa dor é assumida já como sem salvação, e nada faz o livro para salvar o insalvável, porque o livro não mente, e respeitamos o livro por isso: respeitar a dor é admitir que ela existe e que, talvez, ela seja incurável. O encontro com a raposinha é doloroso per se, porque ele revela a maior alegria possível: a comunhão pelo amor,
"Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste. Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo..."
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me disse ela.
mas o amor da amizade que pressupõe o fim, que assume a saudade antes da partida, que entende que os fins são parte essencial da vida, tanto quanto os começos e que não devem ser evitados, como a dor da perda jamais deve ser justificativa para que se deixe de amar:
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse ...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
É provavelmente um dos diálogos mais belos e profundos da literatura ocidental, incluindo aqui as obras de Shakespeare, a Bíblia Sagrada, Homero, Dante, em um livro infantil dos anos 40! Por quê? Como? Não sei exatamente, mas o autor conseguiu transmitir em linguagem singela e estrutura simples os maiores dilemas da sociedade ocidental, até da humanidade, com sua universalidade, visceralidade, essencialidade, dilemas envolvendo a afetividade, o amor, a lealdade, o que significa mesmo, realmente, essa coisa da vida compartilhada, da união, da comunhão. É preciso, talvez, ter passado pelas experiências traumáticas (e, por isso mesmo, tremendamente solitárias) da guerra para se entender o valor da vida e se entender que a vida é qualquer coisa de imprestável se se é vivida apenas em função de si mesmo, dos próprios interesses mesquinhos, e não de uma ideia, um valor, uma relação, mas não valores abstratos pelos quais supostamente seja válido matar ou morrer, mas valores concretos, baseados em relações concretas de amor, companheirismo, fidelidade:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
O diálogo é claramente o centro do livro, não apenas pela sua centralidade estética e emocional, mas como clímax, como ponto referencial a partir do qual todas as experiências de vida do príncipe são ressignificadas, revalorizadas e ele coloca seu passado em perspectiva, tendo em vista um ideal possível de futuro mais consciente, de maior entrega ao amor. Podemos dizer, então, que o livro inteiro é um encontro com a raposinha no interior de cada um de nós, é aquela experiência, aqui, estética, a partir do qual reavaliamos e ressignificamos toda a nossa vida, vemos o passado a partir do presente e projetamos a consciência purificada de agora sobre o melhor futuro possível. É o ponto nevrálgico das reflexões do autor sobre o que ele considera realmente essencial e valioso nas relações humanas, o que ele toma como belo em si mesmo e enxertado no texto com tal poesia que a universalidade grita ao coração dos maiores poetas, sábios, filósofos e santos de todas as tradições, povos e religiões:
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa... - Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
Combinações tão simples de palavras, uma escolha tão cuidadosa e lapidar de expressões, de imagens e ideias tão simples, até triviais, e organizadas de forma quase mítica na sua forma e expressão carregam o legado de sabedoria tradicional e universal de todas as mensagens espirituais, do Ocidente e do Oriente. O credo de fé não é em uma divindade, mas na fé mesma, fé na fé, na capacidade de se colocar espiritualmente para além dos fenômenos externos e dos desejos e apetites imediatos, para se colocar no lugar do outro. O coração é um símbolo do amor, do máximo compartilhamento de experiências e vida comum, é a própria vida compartilhada, vivida em conjunto, em comum união, comunhão, símbolo por excelência da união espiritual perfeita que as diversas tradições trarão sob diversos outros trajes simbólicos. União de bastos com copas, solve et coagula, mercúrio com enxofre, Cristo com a Igreja, o Eterno e Israel, atman e Brahman. A perfeita união espiritual, superando os particularismos e condicionamentos sociais, culturais, econômicos, étnicos, é trazida pelo diálogo, pela abertura do coração, pela empatia, os valores mesmos trazidos ao longo de todas as demais passagens do livro e, aliás, por todos os capítulos da história mundial que mostram as grandes catástrofes e tragédias causadas pela ausências dessas virtudes e valores. Dito de forma mais simples: verdadeiro e bom não é o que se conforma com juízes descritivos e morais, por mais racionais que sejam, mas aquilo que interiormente vivemos e compartilhamos entre nós na dimensão da intersubjetividade, da troca, do real encontro entre almas. A mística parte final, assombrada pelos fantasmas pouco claros da morte, perda, separação, da inevitabilidade do fim, que sempre marcou presença no livro, até nos momentos mais alegres e expansivos, mesmo nos cômicos, não tem outra função: marca o fim das jornadas, da aventura, da busca pelo sentido do amor, para que possa empreender, enfim, a prática concreta do amor. Se olharmos por esse prisma, é indiferente que o príncipe tenha morrido ou não, porque, de certa forma, a vida pode ser relacionada a essa busca fundamental, essa busca do Graal, e a satisfação desse amor após a conquista do seu sentido interior na vida frequentemente não se concretiza na vida vivida, mas apenas na memória, ou mesmo, nas próximas encarnações, não se trata de algo mundano e que se encerra no horizonte limitado de uma vida, tornando o livro verdadeira jornada iniciática.
Eu poderia me estender aqui ainda mais e traçar paralelismos, por exemplo, com Dostoievski, Joyce etc, mas a verdade é que esses autores, como tantos outros, apenas compartilham da mesma fé, das mesmas crenças nessa dimensão da troca, da intersubjetividade contra uma tradição que se engessou em um dogmatismo religioso, social e cultural. No fundo, é a mesma revolta, o mesmo sentido de rebelião contra esse engessamento a partir do vivenciamento de experiências reais e concretas de entrega ao outro, afetividade, amor e lealdade. Mas as referências aos simbolismos das tradições basta por aqui. Essa dimensão do encontro, infinito, entre as almas livres, é o que o autor chama de cativar, e todos os deveres de responsabilidade que daí acarretam, em nada diminuem a autorresponsabilidade do indivíduo com relação às suas próprias necessidades físicas, sexuais, sociais e emocionais (ao contrário do que muitos detratores do livro defendem, atacando um espantalho), apenas revela que, contrariamente aos dogmas do psicologismo individualista e faustiano de coachs quânticos e misticismo de Instagram, nós precisamos do outro, precisamos do compartilhamento de vida, da comunhão, da entrega e troca emocional. E, principalmente, por mais espinhos que devamos cultivar para nos defender dos males do mundo, a recusa à entrega não é força, mas fraqueza, é a recusa em viver plenamente.
Mas falar assim, dessa forma geral e abstrata, é ainda pouco, é faltar à necessidade do livro de enfrentar nossos problemas e questões mais concretas, se, em cada post meu falando do livro, eu não me referir à minha questão concreta. E hoje, Caio? O que te faz chorar, vibrar, se emocionar com o livro? Algo mudou? Tem alguma parte nova preferida? Eu diria que quando me emocionei, lá atrás, com o diálogo com a raposa eu simplesmente identifiquei, como todos os leitores, o caráter fundamental, referencial e fundante daquela narrativa e a sombra que ela lança sobre todo o livro, principalmente nas partes finais, eu compreendi e senti, inconscientemente, como aquilo ressignificava as profundas transformações pelas quais eu mesmo passava, e que alteraram minha autoconsciência, minha percepção e ideia de quem eu sou, como sou, e para que existo. No fundo, eu havia pacificado e aceitado que mesmo se celibato e vida religiosa chegassem ao fim, eu precisaria redescobrir o amor, porque o sonho antigo estava morto e enterrado. Acontece que Saturno não liga muito para nossas ressignificações interiores, não quando elas contrastam com os desígnios divinos, e quis o destino, como geralmente Saturno faz, que o que não foi resolvido, finalizado, aceito lá atrás, retornasse, e retornasse com vigor, paixão, medo, com muito ocultamento e todo tipo de dificuldade, obstáculo, mas... não mais a distância física, brigas, mas a distância emocional, psicológica, a dificuldade de se abrir, se escavar o sentimento do outro. Meu sonho de amor voltou e eu me vejo no começo do livro cheio de dúvidas, recriminações e culpa, como o principezinho, ferido pelos espinhos e exigências da rosa:
- Ah! eu acabo de despertar. . . Desculpa... Estou ainda toda despenteada...
O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:
- Como és bonita!
- Não é? respondeu a flor docemente. Nasci ao mesmo tempo que o sol... O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era tão comovente!
- Creio que é hora do almoço, acrescentou ela. Tu poderias cuidar de mim...
E o principezinho, embaraçado, fora buscar um regador com água fresca, e servira à flor. Assim, ela o afligira logo com sua mórbida vaidade. Um dia por exemplo, falando dos seus quatro espinhos, dissera ao pequeno príncipe:
- É que eles podem vir, os tigres, com suas garras!
- Não há tigres no meu planeta, objetara o principezinho. E depois, os tigres não comem erva.
- Não sou uma erva, respondera a flor suavemente. Perdoa-me ... Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror das correntes de ar. Não terias acaso um pára-vento?
"Horror das correntes de ar... Não é muito bom para uma planta, notara o principezinho. É bem complicada essa flor..."
Então hoje, diferente das decepções recalcadas de 2011, já mais maduro para equilibrar a vida nos seus eixos certos, começo a perceber a importância da rosa e, sem jamais relativizar a importância do diálogo com a raposa, vemos que as preocupações com rosa estão desde o começo do livro, perpassam o diálogo com a raposa e até a suposta 'morte' do príncipe é algo que precisa ocorrer em função da rosa. O que é especificamente a rosa? A rosa é tudo. É tudo no sentido de que ela simboliza a totalidade essencial do sonho de amor não como uma realidade ideal, afinal, a rosa simplesmente nasceu no pequeno planeta do principezinho, ou seja, como sonho de uma realidade que foi aceita, acolhida e, principalmente, nutrida. A rosa é o centro da jornada iniciática do pequeno príncipe, é seu objetivo, mas é em função dela que as experiências mais fundamentais são ressignificadas e reinterpretadas, tanto que o ponto nevrálgico, o encontro com a raposa, é valioso em função do aprendizado que traz na questão da rosa. A viagem pelo ego dos habitantes dos pequenos planetas existe, também, para que o principezinho entenda a miséria do ego, sua insuficiência. A viagem para a Terra, sua imensidão despersonalizante, e o encontro com tantas rosas, tão belas quanto a sua, nada únicas e igualmente bem dispostas em um pequeno jardim, revelam outros desafios para além das armadilhas do ego: o confronto com o outro, o vazio imenso das falsas expectativas, a decepção, a rejeição. Após a iniciação recebida pelo primeiro grande mestre, a raposa, e primeiro grande amigo, o principezinho passa a ver a verdade, e a enxergar que não pode haver utilidade nenhuma na caminhada da vida além do compartilhamento, da vivência do amor, de cativar, porque é só assim que não buscaremos mais infinitos crepúsculos, por mais belos que sejam, cultivar o amor, cativar alguém, é encher a própria vida de sol!
Então é por isso que atualmente é ainda meu livro preferido. A rosa, o referencial que serve para ressignificar o passado e projetar para o futuro os valores aprendidos pela experiência atual, atualmente, é o meu sonho de amor que, agora, retorna, por não ter sido finalizado, cuidado. É a minha rosa. Estou sendo ferido pelos seus espinhos, mas... a jornada se aproxima do fim, para o rompimento final, ou o coroamento. E é assim como tudo na vida: para o fracasso ou para o sucesso, você será mais e mais jogado para o primeiro quanto mais recusar se deixar ser cativado e cativar, e se esquecer suas responsabilidades. E o sucesso virá, naturalmente, pela aceitação da dor do medo, da dúvida, do risco, para que se possa abrir o coração, se deixar ferir pelos espinhos da rejeição, do medo, da ignorância, para que possa conhecer as borboletas.
Mas eis que sucede uma coisa extraordinária. Na mordaça que desenhei para o principezinho, esqueci de juntar a correia! Não poderá jamais prendê-la no carneiro. E eu pergunto então: "Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor."
Ora eu penso: "Certamente que não! O principezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro." Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.
Ora eu digo: "Uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto! Esqueceu uma noite a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, sem que fosse notado. Então os guizos se transformam todos em lágrimas.
Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa...
Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente...
E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância!