Reler
O pequeno Príncipe renova minhas esperanças, me acalma, me faz rever conceitos, atitudes. A cada leitura, aprendo mais.
Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos, Se tu queres um amigo, cativa-me!
Tenho dois sobrinhos: uma, de oito anos, e o irmãozinho dela, de dois anos e oito meses. Ela sempre passa as férias aqui. E, quinta-feira, ela pediu para brincar no PC. Deixei, e avisei para ela não se assustar quando ele desligasse (coisa de tia coruja, mesmo, pensar que uma criança vai se assustar com um computador desligando

).
Então, uns quinze minutos depois, ela me chamou, e eu vi que ela tinha, entre declarações de "você é linda" e "te amo", feito um versinho para mim: "seus cabelos são mais amarelhos que o sol...". Imediatamente, eu me lembrei da raposa e do Pequeno Príncipe. Lembrei-me da fala da raposa sobre o trigo lembrar-lhe o Pequeno Príncipe, por causa do amarelo dos cabelos dele. Crianças têm o dom de nos cativar, não é? Mais ainda, crianças, quando são cativadas, demonstram isso, não sentem vergonha disso.
O príncipe não disse que o que embeleza o deserto é que ele esconde poço em algum lugar? Acredito que o processo de cativar torna-se prazeroso por isso. Queremos descobrir os poços, o interior das pessoas, mais do que descobrir, queremos sentir. Queremos ver com o coração. E que horror deve ser a incapacidade de sentir. A incapacidade de cativar e se deixar ser cativado. Prefiro a morte a insensibilidade.