MAIS UMA VEZ, DE VOLTA!
Capitulo 41 – Um Velho Conhecido.
Tâmara, com um avental sujo, um pano na cabeça e as unhas do pé todas quebradas, está varrendo o chão com uma havaiana verde desgastada. Sentada na cadeira de rodas, Margareth, mãe de Jorge, a observa.
Tâmara sente vontade de pegar uma faca, pular em cima da velha e estripá-la. Mas, como é uma mulher direita, nobre e refinada, não vai fazer isso. Por mais que ela cuspa no chão só para vê-la ajoelhada, por mais que ela tenha criado o Jorge (o que, para nossa protagonista, É um crime), por mais que atropele seu pé com a cadeira de rodas o dia inteiro.
Agora, já está arrependida de ter saído da Itália daquele jeito. Ela deixou Diogo, Magda e Marco para trás, para se entenderem sozinhos. Ela fugiu. E não, não se sente bem por isso. Se sente péssima. Ela ama Diogo, tem certeza disso. Marco... Marco foi só uma diversão. Não! Foi só um prazer carnal, uma bobeirinha.
Ela sabe muito bem o que aconteceu: ela tinha a desconfiança de que Diogo tinha lhe traído, por isso lhe traiu. Só que ela errou demais, primeiro desconfiando dele e depois tirando proveito da situação, experimentando como era trair alguém.
Mas, agora, Tâmara sabe que trair não é tão legal. Nem deixar seu amante preferido triste – pobrezinho!. Ela fica pensando, pensando se ele já voltou, se ele vai ficar para sempre por lá. Se ele deu umas belas porradas em Marco (porque ele merece!).
Está ficando cansativo trair, perdoar, brigar... Tâmara só quer que tudo volte ao normal. E ela sente que PRECISA contar tudo o que está vivendo para alguém, falar da velha maligna, por exemplo.
Faz dias que ela vem explorando Tâmara, fazendo com que ela varra o chão, cozinhe, limpe o banheiro, troque sua fralda, afie seus dentes... Ela mal está tendo tempo para cuidar de si mesma, sua pele está toda rachada... Ela odeia Margareth, mas, fazer o que? É a sua sogrinha!
Jorge, pelo menos, mal tem aparecido. Pelo que Tâmara percebeu, ele foi promovido. Agora vende cachorro quente na avenida Paulista, ao invés de milho verde. Para ela tanto faz, mas ele está todo contente.
Ela ouve algum barulho na rua. O roncar de um motor conhecidíssimo por ela, o de Diogo! Põe a vassoura pro lado, tira o avental em cima da velha e sai correndo, desengonçada, pra janela. Por trás da cortina, ela vê Diogo passando com Magda sentada no banco do passageiro, falando sem parar. No banco traseiro, Tâmara vê sacolas e mais sacolas de compras e imagina que ainda tem muitas outras no banco traseiro.
Ela se sente burra. Muito burra. Trocou aquela vida, dias lindos na Itália regados de amor, sexo e presentes, por uma vida de escrava no Brasil. Muito burra mesmo. Deu tudo para Magda, de mão beijada! Se bem que Diogo deveria ter voltado para buscá-la; é, é isso! A culpa foi de Diogo, que deixou as coisas como estavam.
Ele é o único culpado. Ele traiu primeiro, ele disse para ela que ela podia traí-lo, ele deixou que ela fosse embora, ele ficou por lá... Tâmara acha que as coisas estavam difíceis demais e, agora, seu deus grego estava optando pelo fácil e pelo convencional: Magda.
Diogo, aquele homem maldito, maligno... Tâmara está sentindo muita raiva. Abre a porta e fica olhando para a rua. Quando olha para baixo, procurando o jornal, vê uma rosa vermelha com um laço preto. Estranho. Tâmara sente um calafrio.
Fecha a porta, entra em casa pensativa e dá de cara com a sua sogra, com a cabeça pendendo pro lado, os olhos arregalados e aquele barulho estranho de velociraptor que ela faz. “Que dia medonho”, pensa.
Vai para a cozinha. Lá, tem a nítida impressão de que está sendo observada. Olha para os lados. Nem Margareth está lá. Ninguém está a observando, mas ela sente o contrário. Algum barulho lá fora. Derrepente, alguma coisa a atinge no braço.
Tâmara olha para seu ombro e vê uma rosa fincada pelos espinhos na sua pele. Não consegue acreditar. Tira a rosa e vê de novo aquela faixa preta. “Estranho”. Vai para a sala e, quando ouve o relógio bater nove vezes, sente um arrepio horrível. É a hora. Não adianta fugir, seu tempo chegou.
Margareth a olha nos olhos e, se pudesse dizer, Tâmara aposta que ela diria: “Há! Hora de dar banho em mim, sua maldita! Hora de pagar seus pecados!”. Mas, ainda bem que ela não fala. Tâmara empurra a cadeira de rodas para o banheiro, cabisbaixa. “Se o banheiro não ficasse no terceiro andar...”.
Porém, logo que acaba de subir, pisa em alguma coisa pontuda e, tamanha a dor, que, sem querer – juro que foi sem querer, ela diria depois para Jorge -, ela acaba jogando Margareth escada abaixo. Furiosa, olha para o seu pé já imaginando o que vai encontrar: mais uma rosa vermelha com um maldito laço preto.
Irritada, vai até a porta e olha para a rua. Não é possível. Tem que ter alguém por perto. Seu medo já virou raiva. Ela vai batendo pé de um lado para o outro, olhando para todo canto, que nem uma ave de rapina. Priscila, a filha dos Mignelli, passa de bicicleta, sorrindo, com seu gatinho na coleira.
- Oi, senhora Tâmara! – ela diz
- Oi o cacete – Tâmara responde. Priscila, por entre soluços, fala:
- Tchau
- Vai embora, sua maldita. Chispa!
Priscila some logo, pedalando rápido sua bicicleta, quase sufocando o gato. Tâmara continua “vai, vai sua pirralha, some!”. Tâmara odeia ficar de mau humor. É quando ela ouve uma música vindo lá da casa de Dona Ruth – casa esta que ela tem visitado todo santo dia, porque finalmente se tornou uma mãe presente.
É uma música tétrica, ela a conhece... Mas não se lembra que música é. Resolve ir pedir para Plêiades abaixá-la. Toca a campainha. Dona Ruth, soando frio, atende e, depois de olhar em volta, fecha a porta e diz:
- Acho melhor você ir até lá em cima.
- Eu sei, vim falar com o Plê.
- Não. Até O Quarto – um trovão cai.
- Ahn – Tâmara hesita – Ok.
Agora que não está entendendo nada. Mas, então, vêm um pensamento: Diogo! Será? Não, seria um sonho, mas Tâmara sabe que não é possível. Mesmo assim, sobe as escadas com o coração na mão e abre a pesada porta de ferro. O Quarto está escuro, mas a música vem de lá mesmo, ensurdecedora. E derrepente pára. Ela olha para trás e vê que a porta fechou-se e ela – naquele barulho – nem percebeu.
Uma mão segura sua cintura por trás enquanto a outra oferece uma última flor a ela. Ela não vê quem está ali, mas ela sabe. Empurra-o, vai para longe e tenta divisá-lo, nas sombras. Mas, a única coisa que consegue ver é a meia máscara branca, envolta na escuridão.
Reconhece a figura: O Fantasma da Ópera. Sente vontade de desmaiar, mas se segura. Vai até ele, devagar, e o beija. Depois, o deita na cama. Ele está silencioso, não fala nada. Eles fazem amor a noite inteira; de madrugada, sexo. E a coisa vai evoluindo.
De madrugada, acorda e vê que ele dorme. Quer tirar sua máscara, no entanto falta coragem. Deixa ser e volta a dormir com aquele misterioso homem que, desde sua juventude, povoa suas fantasias eróticas. Mas, nos sonhos, é com Diogo que ela sonha. Porque, por mais que goste do Sr. Fantasma da Ópera, é com Diogo que quer estar.