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Fama à Mesa (Fabiano Dalla Bona)

Anica

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Em casa para o Natal, o curitibano Fabiano Dalla Bona não vai embora sem comer o escargot do restaurante Île de France. “É o melhor que eu comi na vida”, diz o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em língua e literatura italiana. Vivendo na capital fluminense, ele acaba de publicar o livro Fama à Mesa pela editora Tinta Negra.

O escritor nascido em 1969 defende há tempo a proximidade entre literatura e gastronomia, aliando dois de seus interesses mais caros nos livros O Céu na Boca (Tinta Negra, 2010) e, justamente, Literatura e Gastronomia (Itália Nova, 2005). O segundo versa sobre a culinária do sul da Itália, tema de seus estudos acadêmicos.

Dalla Bona acredita que os livros que compilam receitas, hoje, precisam oferecer algo mais, pois o modo de fazer é acessível a qualquer um na internet. Difícil é encontrar referências confiáveis.

A proposta de Fama à Mesa é coligir receitas e dar o contexto em que surgiram, explicando o motivo dos nomes e as particularidades do preparo. São fragmentos de história gastronômica. O resultado é um compêndio de pratos saborosos com anedotas e curiosidades culturais. Há também receitas de bebidas, entre elas, o bloody mary, o dry martini e o alexander, símbolo dos anos 1970 e 80 (qualquer um com mais de 30 anos já ouviu falar do drinque).

Tendo como referência algumas celebridades, o pesquisador procura discutir a fama, uma noção que muda bastante com o tempo. Se a Grécia Antiga cultuava seus heróis, o mundo atual tem essa fixação estranha em pessoas que aparecem em capas de revistas de fofoca.

Uma peculiaridade da lista de Fama à Mesa é colocar lado a lado pessoas de fato (o cantor Frank Sinatra, ítalo-americano chegado em almôndegas, é uma delas) e figuras fictícias (como a Miss Marple, de Agatha Christie).

Sem preconceitos na mesa ou na literatura, Dalla Bona aprecia de tudo (menos chuchu e ouriço-do-mar). Podem ser os romances policiais do italiano Andrea Camilleri, de 75 anos, que criou o inspetor Montalbano, ou O Leopardo, obra-prima de Giu­­seppi Tomasi di Lampedusa (1896-1957), que inspirou Fama à Mesa e serviu de referência para uma das receitas.

“Aliar literatura e gastronomia é a coisa mais fácil do mundo”, diz Dalla Bona, e cita o clássico fundador Odisseia, de Homero, como um exemplo de história que se passa ao redor da mesa, durante um banquete.

Para o escritor, a comida é semelhante a uma narrativa. “Se você der um texto para cinco pessoas, elas farão cinco leituras diferentes, cinco variações para uma mesma história. O mesmo acontece com uma receita. Comida também é uma interpretação. Minha colher de farinha é diferente da sua”, diz.

“Extremamente curioso”, como ele mesmo se define, Dalla Bona percebeu que é comum as receitas receberem nomes de pessoas, ao menos no Rio, mas pouco se sabe a respeito delas.

Um dia, se pegou discutindo a origem do filé à Oswaldo Aranha, uma receita com muito alho, batizada pelo político gaúcho. Quando se dispôs a pesquisar os pratos e seus surgimentos, usou referências escritas e orais. No primeiro caso, usou a Biblioteca Nacional, sebos, “paciência” e “sapato”. No segundo, colheu depoimentos e versões para as receitas e acabou eliminando aquelas que pareciam incertas quanto ao modo de preparo.

Levou em conta também os ingredientes e evitou incluir pratos complicados de fazer ou com matéria-prima difícil de encontrar. Cozinheiro diletante, o curitibano prepara comida quase todos os dias, mas nem sempre faz alta cozinha porque, afinal, “tudo que é demais, enjoa”.

Hoje, parece estar na moda o interesse por gastronomia. Muitos se inspiram a cozinhar e a buscar paladares diferentes à mesa. Esse é um público que deve apreciar a comida contextualizada, que não se satisfaz apenas com um bom prato e que exige também uma história para acompanhá-lo. Fama à Mesa tem esses ingredientes e os utiliza de maneira inspirada.

Dalla Bona vê a disposição de apreciar boa comida como algo que está nos genes. O bom gosto seria hereditário, estaria no DNA, mas pode também ser adquirido. Na verdade, dizem que a experiência com sabores é um caminho sem retorno. “Sem dúvida”, diz o pesquisador. “O paladar é relativo e muito pessoal.”

Depois de comer uma feijoada bem feita, o sujeito nunca mais vai se satisfazer com outras meias-bocas.

Serviço:
Fama à Mesa, de Fabiano Dalla Bona. Tinta Negra, 184 págs., R$ 37.

Banquete

As receitas explicadas em Fama à Mesa vão da omelete afrodisíaca de Luís XV às tortinhas Dona Sophia, criada para a atriz Sophia Loren. Confira alguns pratos célebres que fazem parte do livro:

> Bacalhau à Gomes de Sá (Portugal)

> Bolo-esponja da Rainha Vitória (Inglaterra)

> Frango atropelado de Tom Jobim (Rio de Janeiro)

> Almôndegas de Frank Sinatra (Estados Unidos)

> Risotto Giuseppe Verdi (Itália)

> Vitela balsâmica de Pavarotti (Itália)

> Camarão à Marta Rocha (Paraná)

> Filé à Oswaldo Aranha (Rio de Janeiro)

> Filé à Bismarck (Alemanha/Itália/Espanha)

> Ovos Benedict de Agatha Christie (Estados Unidos)

> Sopa de caranguejo de Martha Washington (Estados Unidos)

> Madeleines de Proust (França)

Fonte: Gazeta do Povo
 

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