Swanhild disse:
Se os Elfos iam ter a função de lembrar, eles tinham que continuar sendo imortais, e portanto os homens iam continuar sendo mortais.
E por que alguém teria que ser mortal? O que eu quis sugerir com essa indagação era o seguinte:
O que tornava Arda desfigurada um lugar desgastante para os hröar de elfos e (principalmente) homens era justamente o fato de ela ser desfigurada: o "elemento Morgoth".
A função do dom dos homens (a mortalidade) era exatamente depurar o mundo da mácula imposta por Morgoth, criando um mundo novo e imaculado, à medida que os homens levassem seus corpos para junto de suas almas, para fora dos círculos de Arda. Aí está a esperança: os homens vão salvar os elfos, e ambas as raças viverão nesse novo mundo, sem mácula, sem desfiguração, sem Morgoth...
Mas se o dom dos humanos foi concedido apenas para depurar o Mundo de Morgoth, não haveria razão para existir mortalidade no novo mundo, onde Morgoth jamais tocaria.
Essa carta citada pelo Deriel não me parece esclarecer o que ele apontou como resolvido por ela... A carta simplesmente fala que a mortalidade era uma coisa que os Valar não poderiam alterar (e isso já fica claro pelo Silmarillion). Não esclarece se a mortalidade é uma decorrência da corrupção de Arda ou se de qualquer forma os homens seriam "programados para morrer" mesmo que Melkor não tivesse dissipado seu poder por Arda, desfigurando-a...
Estou agora me inclinando a acreditar que a mortalidade dos homens foi assim concebida desde o início, como uma resposta à desarmonia criada na Ainunlindalë por Melkor (o terceiro tema, como bem lembrou Swanhild), mas que ela não seria "eficaz" se Arda não tivesse sido corrompida. Não me parece que fosse, assim, "eficaz" em Aman, e desse modo, se Ar Pharazon tivesse realmente alcançado o continente imaculado teria vivido para sempre.
Penso assim porque acredito que no hipotético "outro mundo" imaginado por Finrod, embora os elfos fossem os hóspedes, eles não teriam porque ser mortais (ainda que fossem em certa medida desarmônicos entre corpo e alma, como os humanos são em Arda), uma vez que esse novo mundo seria livre da influência de Morgoth, ou seja: a sua mortalidade não teria razão de ser.
Esquematizando o meu pensamento atual:
Num mundo desfigurado, os corpos dos Filhos Hóspedes teriam menos condição de resistir com vigor através do tempo às agruras impostas pelo "elemento Morgoth" do que os corpos dos Filhos Nativos, pois as almas dos Filhos Hóspedes são menos harmônicas em relação aos seus corpos do que as almas dos Filhos Nativos em relação às suas almas (esse negócio de harmonia eu sugeri num post acima). Mas passado muito (muito mesmo!) tempo, mesmo os Filhos Nativos (os elfos no caso de Arda) morreriam de velhice e decrepitude.
Num mundo perfeito, não haveria o "elemento Morgoth" e tanto os Filhos Nativos como os Hóspedes (ainda que desarmônicos entre corpo e alma) poderiam viver para sempre, pois não haveria desgaste.
É mais ou menos assim: imaginem um motor com uma peça original e uma peça improvisada. Se esse motor estiver funcionando perfeitamente, tanto a peça original como a improvisada poderiam durar indefinidamente; se estiver desregulado, a peça improvisada quebra antes, mas a original também vai acabar estragando, ainda que demore um pouco mais...