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Dom Casmurro (Machado de Assis)

Exemplificar meu ponto de vista é uma coisa estranha.

É porque seu ponto de vista não foi claro (sobretudo no post #14) e achei que as palavras de um crítico seriam melhores colocadas e ilustrariam (portanto, exemplificariam) o que você quis dizer.

Batuta a citação do Wilson Martins, mas ainda gosto mais da minha interpretação, empresta mais brilho para o romance. Quando achar o Bosi e o Carpeaux não esqueça de colocar aqui, é sempre bacana ler outros pontos de vista, mesmo que não se concorde com eles. :pipoca:
 
Alfredo Bosi disse:
Dom Casmurro já está velho e desengenganaso, lembrando de seus primeiros encontros com Capitu, mostrou uma menina esperta, muito dissimulada, muito capaz de armar situações que levariam, realmente, primeiro a desistência de dona Glória de com que Bentinho continuasse no seminário,e, depois, ao casamento. Bom, daí por diante tudo vai crescendo, a suspeita de que ela fosse uma pessoa capaz de enganar permeia todo o romance e toda a expressão do narrador. Então uma feminista assumida dirá: mas isto é a narração do acusador! Será que ele não mente de propósito? Bom, a pergunta em si é levemente ridícula, porque achar que o narrador mente é ter suspeita, não só suspeita, mas tambem conhecer uma verdade oposta. Até hoje, nenhum daqueles que acha que o narrador mente escreveu outro romance, aliás, a gente pediria que eles escrevessem um romance do ponto de vista de Capitu, seria um romance em que ela contasse toda a verdade que estamos tao ansiosos para saber; mas, como nenhum crítico se arriscou a escrever um outro romance, então nós só temos esse romance, não temos outro. Então com o que é que ficamos? Com a idéia de que Machado de Assis não só faz o narrador nos enganar, mas que nos dá pista para saber que o narrador nos está enganando. Até hoje nenhuma delas me convence, quer dizer, eu posso sempre suspeitar que ele engana, isso, evidentemente, porque o narrador está na primeira pessoa.
Fonte

Falta um, mas não prometo nada uaheuahe
 
Bom, de acordo com o Brasil Escola

O narrador-personagem conta na 1ª pessoa a história da qual participa também como personagem.
Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer ao mesmo tempo essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.

Logo,considero a narrativa do Bentinho subjetiva e aberta a discussões, sim. Pensem em Othelo escrevendo um romance sobre Desdêmona... O ciúme é uma venda poderosa, logo ele poderia estar errado. Para mim esta é a beleza deste romance. O fato de ser tão profundo, e os personagens tão reais que nos perguntamos sobre os outros lados da moeda.
Quanto a não terem escrito um romance de resposta, fala sério. Quem quer competir com o Machadão?
 
[align=justify]Otto Maria Carpeaux é muito bom, fiquei curioso agora também -Arnie-, dá teu jeito e acha o que o cara escreveu. Pra quem costuma criticar estudos literários, Carpeaux é ótimo, o cara dá uma esmiuçada sobre a questão da análise da Literatura engendrada em seu contexto histórico que é revelador. Tem no Scielo mesmo um artigo do Bosi em que ele explora a relação entre Literatura e História (coisa que muito me interessa e casa com a meu curso e minha pesquisa) e que se apóia em Carpeaux em vários pontos. Quero muito saber o que é que um cara desses escreveu sobre o Machadão.[/align]
 
Vou ter o prazer de ler de novo essa obra (por causa da FUVEST), pra mim a triste história de um corno, contada de uma forma genial!
 
Alan Creep disse:
Vou ter o prazer de ler de novo essa obra (por causa da FUVEST), pra mim a triste história de um corno, contada de uma forma genial!

[align=justify]De modo grosseiro, talvez seja verdade. Mas o interessante, Creep, é pensar justamente como andava a Literatura na época do Machadão. Esse é considerado o romance inaugural da "fase realista" do Machado, dá para perceber como ele estende um olhar não-idealizado sobre a musa, a mulher; ao mesmo tempo em que o frêmito da beleza e dos olhos de ressaca de Capitu lhe roem o espírito. Ele parece estar ainda "se libertando" da prosa romântica e botando os pés na prosa realista. Nessa prosa em transformação a mulher já não é mais posta sobre um pedestal e reverenciada como musa inspiradora, Machado aos poucos a despe de suas vestes divinizadas, de seus nuances de superioridade, e a põe como passível de falha, de erros. A ambiguidade que ele escolheu para "dar fim" ao conto talvez seja reflexo dessa transição, ainda não consumada, mas que já exerce influência sobre sua obra.[/align]
 
Livro interessante sobre Dom Casmurro (pelo menos é uma abordagem diferente e tal):

Figurino de "Dom Casmurro" oferece pistas sobre ações dos personagens

Machado de Assis é o responsável por grandes títulos da literatura brasileira. O escritor criou personagens que marcaram por sua crítica social, como Brás Cubas, ou pelo mistério, como Capitu e sua traição. Mas a produção machadiana também é responsável por fazer um retrato do Brasil no século 19.

Partindo dessa premissa, Geanneti Tavares Salomon desenvolveu "Moda e Ironia em Dom Casmurro".

Salomon é mestre em Literaturas de Língua Portuguesa, pela PucMinas e graduada em Letras e no curso de Estilismo e Modelagem do Vestuário na UFMG.

Unindo seus conhecimentos nos dois campos distintos, analisa os aspectos psicológicos das personagens do clássico "Dom Casmurro" partindo de sua vestimenta.

Segundo a autora, as roupas descritas por Machado de Assis são reflexos de suas emoções e intenções. Para Salomon, pequenas dicas do comportamento ao longo da história são oferecidas pelo figurino.

Por tabela, o texto de Machado fornece bases para compreender o momento histórico no qual a obra se passa. Por exemplo, passado no final do século 19, "Dom Casmurro" revela nos trajes a mudança que a sociedade essencialmente agrária começa a sofrer, vivendo a expansão capitalista da época.

Da mesma forma, a evolução da moda pode ser observada na história de Capitu e Bentinho. Fiel ao cenário em que viveu, Machado de Assis transfere para o papel todos os hábitos da sociedade, o que incluiu a forma como se vestiam.

Fonte: Folha
 
Pra mim, Bentinho era perturbado e ele nao foi traido.

Em dom Casmurro tem varias alusões à Otelo, de shakespeare.Um personagem desta obra é IAGO, que é mentiroso e mau carater. o nome do personagem de Dom Casmurro é bento santIAGO.E como disse, tem claras alusoes de Otelo em Dom Casmurro.Coincidencia? E nao , nao da pra confiar no bentinho, ele se contradiz varias vezes,e quer fazer que acreditem no ponto de vista dele, e pra isso dissimula,e ludibria o leitor.
Mas é claro, a obra nao se resume á traição.É uma obra maior que isso.
 
Vitinho disse:
Pra mim, Bentinho era perturbado e ele nao foi traido.

Em dom Casmurro tem varias alusões à Otelo, de shakespeare.Um personagem desta obra é IAGO, que é mentiroso e mau carater. o nome do personagem de Dom Casmurro é bento santIAGO.E como disse, tem claras alusoes de Otelo em Dom Casmurro.Coincidencia? E nao , nao da pra confiar no bentinho, ele se contradiz varias vezes,e quer fazer que acreditem no ponto de vista dele, e pra isso dissimula,e ludibria o leitor.
Mas é claro, a obra nao se resume á traição.É uma obra maior que isso.

Talvez o grande problema é que ele possa ser perturbado mesmo, e ainda assim ter sido traído.

Agora, uma coisa é certa: essa dúvida pertence exclusivamente ao leitor, porque Bentinho tem certeza que foi traído.
 
Essas coisas são teorias - da conspiração - que gente como Roberto Schwarz publica em teses declaradamente marxistas, e os professores, igualmente marxistas, explalham como verdade única do século XXI.

Bentinho não era pertubado, a argumentação em relação a isso é na sua forma geral absurda, quando não risível. Capitu desde cedo dava sinais de uma espírito dominante e fingido, combinando com o também dissimulado Escobar - atração inevitável, ao contrário de Bentinho, que sempre foi fraco e dependente da mãe (Você tem medo?).

Me chateia bastante ver toda a obra machadiana submetida a essas teorias mirabolantes de burguesia venenosa, em Brás Cubas, e de pertubação mental doentia, em Dom Casmurro. Diferente do que se diz, a resposta não cabe ao leitor, pois toda obra possui um objetivo próprio, mesmo que seja densamente difusa, como no caso de Kafka. Está tudo lá, e apenas conhecendo a mente do autor é que se chega a conclusão da obra.
 
Me chateia bastante ver toda a obra machadiana submetida a essas teorias mirabolantes de burguesia venenosa, em Brás Cubas, e de pertubação mental doentia, em Dom Casmurro. Diferente do que se diz, a resposta não cabe ao leitor, pois toda obra possui um objetivo próprio, mesmo que seja densamente difusa, como no caso de Kafka. Está tudo lá, e apenas conhecendo a mente do autor é que se chega a conclusão da obra.

Não é bem assim. Um texto se configura de maneiras diferentes de acordo com experiência de vida/conhecimento de mundo do leitor (indivíduo). Negar isso é negar anos de estudo de recepção literária.

Há, sim, a intenção do autor - e ela é importante quando se entra no "o que ele quis dizer com...". Mas intenção do autor não tem nada a ver com "conhecer a mente do autor". Propor a possibilidade de conhecer a mente de um autor é absurda, porque o tal conhecimento, assim como a leitura de um texto, depende de quem o faz - de seus valores e conceitos.

E intenção do autor você considera quando há lá um registro dessa, dizendo que fez x pensando em y e por aí vai. Mas se basear só em "conhecimento da mente do autor" não cabe a ninguém, até por ser impossível (para não dizer arrogante, do tipo "eu sim, compreendo machadão!"), e nesse contexto é válida a ideia de leituras múltiplas.

Então, seja qual for a leitura, ela é válida como leitura pessoal de um indivíduo - do que ele captou daquela obra, como decodificou o texto. Você não pode negar isso, porque é um processo natural de quando se lê. Você pode citar intenção do autor se tiver algum registro disso, mas não pode falar em leitura errada se ela depende da relação entre texto e leitor.
 
Só como exemplo, a relação feminista de Dom Casmurro é algo totalmente deturpado que não há no original, algo bem claro nos estudos de Helen Caldwell, bem como o Machado de Assis socialista de Roberto Schwarz.

São interpetações de cunho ideológico que refletem a mente e as crenças de quem lê e não do que está escrito. Serve como tese acadêmica ou como ensaio, mas nunca como base de aprendizado, ainda mais quando é tratada como a verdade universal da obra e não como um "redimensionamento que se reproduz fora do âmbito reflexivo do livro" (Roberto Schwarz, Um Mestre na periferia do capitalismo), que foi o que você falou, Anica, e concordo bastante na medida que fosse mostrado o que essas interpretações são.

Antes de expor o que eu penso deve-se entender a intenção original, o que não é impossível, mas difícil e trabalho para poucos capacitados (Antônio Cândido foi um dos grandes que conseguiu perceber vários pontos e contrapontos machadianos sem negar o origial), ainda mais quando é pregado que - mais uma grande verdade - tudo é relativo.

Eu já cheguei até a ver pessoas dissertando sobre o quando Dostoiévski foi um revolucionário idelógico; logo ele, o mais reacionário dos escritores! O que o leitor não deveria esquecer é que a obra de ficção é autosuficiente, possui lógica interna e uma intenção (ou intenções, que é mais correto).

Enfim, coisas!
 
Não, o texto é uma máquina preguiçosa completa pelo leitor com as ferramentas que ele tem em mãos (parafraseando o Eco). Eu admiro o trabalho de muitos críticos brasileiros, mas as leituras que eles fazem de Dom Casmurro são apenas isso: leituras. Se baseadas em mais ou menos estudos da obra de Machado, podem ser consideradas mais ricas (por não bater no mesmo prego, digamos assim), mas não as mais acertadas. Mas não muda o fato que são visões pessoais de uma obra, nem que cada qual tem sua própria visão.

:tchauzim:
 
As leituras que alguns dos nossos melhores críticos fazem se baseiam, antes de tudo, no que o texto expõe, pois a lingua possui capacidade comunicativa e o autor usa delas para expor suas - não as minhas - ideias no texto. Se isso é fácil? É lógico que não, demanda conhecimento em várias áreas, porque quem sabe apenas literatura não sabe nem literatura.

Mas, enfim, o assunto do tópico não é exatamente esse e sim Dom Casmurro, né. Meu capítulo favorito, não sei se já disse, é "O Penteado" (XXXIII), acho que um dos mais belos em toda a nossa literatura:

Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite. Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao Céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes.

??
 
-Arnie- disse:
As leituras que alguns dos nossos melhores críticos fazem se baseiam, antes de tudo, no que o texto expõe, pois a lingua possui capacidade comunicativa e o autor usa delas para expor suas - não as minhas - ideias no texto.

a parte que você ainda não captou é que cada leitor decodifica a língua de jeito diferente. sendo bem simplista: o amarelo para mim significa uma coisa, para você significa outra. Se um autor escreve sobre um campo de flores amarelas, pode criar em mim um efeito que não criará em você. Isso é o básico de linguística, signo e significado.


-Arnie- disse:
Se isso é fácil? É lógico que não, demanda conhecimento em várias áreas, porque quem sabe apenas literatura não sabe nem literatura.

concordo. por exemplo, com todo seu blablabla vc continua esquecendo a parte de teoria da recepção (que tem mais a ver com linguistica do que com literatura, no final das contas). insisto: nada contra o trabalho de críticos, eu os respeito e bem, meu diploma me faz colega deles, no final das contas.

mas o que não dá é para colocar por baixo outras leituras, como se a deles fosse possível. não é. o dom casmurro que eu li aos 14 não é o mesmo que li aos 21 e não tem nada a ver com o que li recentemente. imagine de indivíduo para indivíduo, que diferença isso não pode fazer.
 
Anica! Apertaram o F5 e tudo que eu escrevi foi apagado... quando eu me recuperar dessa rasteira talvez tente reescrever tudo, era tanta coisa... puta merda! Não, deixa, perdi qualquer tesão. Outro dia em outro tópico, quem sabe! Ou não, pois ao que parece só eu estou afim de discutir. ):
 
eu estou discutindo, quem está só se repetindo aqui é você. aliás, se o "post perdido" foi só para citar novamente bosi e candido como se o que eles dizem sobre machado fosse a única possível interpretação do texto, ainda bem que vc apertou o f5 ;)
 
Anica disse:
(...) o dom casmurro que eu li aos 14 não é o mesmo que li aos 21 e não tem nada a ver com o que li recentemente. imagine de indivíduo para indivíduo, que diferença isso não pode fazer.

Minha pequena contribuição (ou pitaco) pra essa discussão (apesar de eu não entender de literatura).

Essa frase acima da Anica me lembrou uma aula que tive no primeiro semestre da faculdade (há quatro anos) a matéria era História da Arte e a professora (de literatura) discutiu "Dom Quixote" com a classe e, numa certa altura, falou sobre a interpretação que cada sociedade, em épocas diferentes, fez dessa mesma obra.

Infelizmente não vou lembrar de cada interpretação que ela nos mostrou (teria que procurar minhas anotações que nem sei onde estão) mas era bem bacana ver todas as leituras pelas quais o livro passou; Cervantes o escreveu como uma comédia e posteriormente ele foi visto como um romance e até como uma tragédia psicológica do homem moderno, incompreendido e tendo que lutar com seus medos e incertezas (os moinhos).
(Ah! Lembro que tinha uma leitura marxista também! O Arnie ia amar! XD )

Talvez seja essa mais uma característica das grandes histórias né?
Cada um (indivíduo, sociedade) interpreta de uma maneira diferente mesmo.
 
O problema está em que nada existe fora do que foi escrito. O autor é Machado de Assis, não o leitor.

Se alguém escreve, é porque deseja passar algo, do contrário estará apenas coligindo orações e conjunções numa prosa bonita, mas vazia. Não havendo qualquer intenção durante a criação, não há valor qualquer no resultado, muito menos diferença entre um grande escritor e um medíocre, pois todos podem ser lidos conforme eu achar melhor e mais conveniente.

Em suma: o que você não consegue notar é que eu não leio o que quero, e sim o que está lá - e que isso não significa que uma obra não terá várias interpretações. É algo difícil e por isso sempre gera mil diferenças, no entanto, se eu tento interpretar a obra, não posso anulá-la. Mas é exatamente o que faz as interpretações marxistas e feministas, por exemplo, já que os autores estão declaradamente recostruindo uma obra à sua imagem e semelhança, fazendo de Machado um prosador antiburguês vanguardista dos direitos da mulher.

(Ah! Lembro que tinha uma leitura marxista também! O Arnie ia amar! XD )

o_O haha
pena que nunca li Dom Quixote. Mas eu queria ver uma leitura comunista de Dostoiévski! haha, seria algo como um árabe escrevendo sobre a bíblia.
 

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