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Dom Casmurro (Machado de Assis)

Meia Palavra

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Dom Casmurro é um romance do escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis. Foi publicado em 1899, e é um dos livros da literatura brasileira mais traduzidos para outros idiomas. A história se passa no Rio de Janeiro do Segundo Império, e conta a trajetória de Bentinho e Capitu. É um romance psicológico, narrado em primeira pessoa por Bentinho, o que permite manter questões sem elucidação até o final, já que a história conta apenas com a perspectiva subjetiva dele.

Nas palavras de Alfredo Bosi em A História Concisa da Literatura Brasileira:

Na verdade, um romance de Machado de Assis não se deve resumir: e como fazê-lo se o que neles importa não é o fato em si, mas a constelação de intenções e ressonâncias que o envolve?

Portanto trazemos para vocês não um resumo, mas opiniões sobre essa que é uma das obras mais conhecidas de Machado de Assis na terceira edição do Meia Palavra Explica.

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[align=justify]Estava conversando sobre Dom Casmurro com meu pai esses dias e falando que (agora vem a parte que corro um risco tremendo de ser execrado) o conteúdo não é a parte marcante da obra, não é o diferencial. A dúvida sobre a traição ou não, as cruéis dúvidas que enchem a cabeça de Bentinho não seriam assim tão legais se não fosse por outra dimensão da obra: a forma.
Justamente nesse quesito é que Machado de Assis consegue ser genial. Ele conta uma história de maneira tão bela, irônica, significativa, espirituosa, que é impossível não gostar dela. As frases de conversa com o leitor, o uso cuidadoso e perfeccionista do português, a genialidade do enfoque, enfim, o modus operandi da escrita dele é que deixa Dom Casmurro tão agradável. Não que o conteúdo seja vulgar ou desprezível, mas a forma, essa sim é sublime.[/align]
 
Tá, eu vou mesmo ser crucificada aqui, mas eu 'quase odeio' ele livro. Mas isso não afeta os outros livros de Machado pra mim. É só Dom Casmurro mesmo. Eu não gosto do fato de ter dúvidas sobre a história após terminá-la. Eu sei que se não houvessem as dúvidas que esse livro traz, ele não seria O Livro, mas é só o meu estilo, eu não gosto de dúvidas. ;p
 
Mas duvida não há, isso de Capitu não ter traído vem daquelas teorias mirabolantes de Helen Caldwell. Em suas exaltações, Caldwell prendeu a obra de Machado em duas tendencias da dúvida: ou Capitu traiu e é culpada, ou não traiu e é inocente, quando na verdade uma das grandes questões é porquê Capitu traiu Bentinho.
 
[align=justify]Essa dúvida é um troço bem complicado. Parece ser um negócio evidente mesmo, quando ele vê a cara de Escobar nas feições do filho acho que é prova suficiente, mas não sei porque, essa dúvida parece permanecer, embora com o passar dos anos e do gasto de saliva em discussões quase intermináveis sobre essa questão, acho difícil acreditar em outra hipótese que não a traição de Capitu. O que quero atentar aqui é que, como o Machadão não disse com todas as letras a existência de adultério ou não, a sutileza tomou lugar, e a contestação ficou, digamos assim, legítima.[/align]
 
Anne. disse:
Tá, eu vou mesmo ser crucificada aqui, mas eu 'quase odeio' ele livro. Mas isso não afeta os outros livros de Machado pra mim. É só Dom Casmurro mesmo. Eu não gosto do fato de ter dúvidas sobre a história após terminá-la. Eu sei que se não houvessem as dúvidas que esse livro traz, ele não seria O Livro, mas é só o meu estilo, eu não gosto de dúvidas. ;p

[align=justify]Que pena que não gostaste Anne., é uma obra de muito significado tanto para a Literatura Brasileira quanto para a Mundial. A multiplicidade de interpretações em relação a esse final "ambíguo" (se é que pode ser assim descrito) gera polêmicas e a obra é mais lembrada por isso do que pela beleza de sua escrita e a maneira como as questões são postas. Isso pode influenciar a maneira como as pessoas lêem o livro. Uma pena, pois o mote da coisa, ao menos na minha opinião, não é necessariamente a traição (ou não) da Capitu, mas as indagações de Bentinho, que, afinal de contas, é quem nos narra a história e é sob seu prisma que a história nos chega. Tem outros aspectos que valem a pena serem apreciados além dessa suposta subjetividade de interpretação.[/align]
 
-Arnie- disse:
Mas duvida não há, isso de Capitu não ter traído vem daquelas teorias mirabolantes de Helen Caldwell. Em suas exaltações, Caldwell prendeu a obra de Machado em duas tendencias da dúvida: ou Capitu traiu e é culpada, ou não traiu e é inocente, quando na verdade uma das grandes questões é porquê Capitu traiu Bentinho.

Há dúvida sim, por causa da escolha do foco narrativo não é possível saber ao certo. Se a obra fosse narrada por Aires como acontece com Esaú e Jacó, ou mesmo por narrador que não fosse uma personagem, a dúvida seria certamente minimizada, porque não carrega o peso do juízo de valor de Bentinho, um ciumento tentando desde o início se explicar sobre como cagou com a própria vida. Mas o que acho absurdo fazer é diminuir a obra a essa questão (como o Lucas_Deschain acabou colocando há pouco, no final das contas).
 
[align=justify]Essa coisa de resumir a obra a traição ou não é um pouco frustrante. A obra tem um valor literário enorme, na minha opinião especialmente pela forma. Como quem conta a história é o Bentinho (o fio condutor da narrativa são as memórias dele) não temos a visão do narrador onisciente, logo, isso abre o espaço para questionamentos, já que a subjetividade de Bentinho pode lho ter feito ver Escobar em seu filho ou algo do tipo, embora eu não ache que ele "viu coisas". A traição ocorreu.
Apesar de tudo eu acho bem divertido ler sobre a outra hipótese, de que a Capitu não tenha traído o Bentinho.[/align]
 
Anica disse:
Há dúvida sim, por causa da escolha do foco narrativo não é possível saber ao certo. Se a obra fosse narrada por Aires como acontece com Esaú e Jacó, ou mesmo por narrador que não fosse uma personagem, a dúvida seria certamente minimizada, porque não carrega o peso do juízo de valor de Bentinho, um ciumento tentando desde o início se explicar sobre como cagou com a própria vida.

Perdão, mas não vejo dessa forma. O narrador é a voz do autor, ele é a verdade. Imagine ler uma obra onde não se pode confiar no narrador! Se o narrador não é confiavel, e, sendo ele a única voz narrativa, não há parâmetro comparativo que alterne suas conclusões, e a obra torna-se qualquer coisa sem valor. Tudo pode ser mentira, desde o primeiro capitulo, onde na verdade ele não se chama Dom Casmurro (vá saber, pode ser Zé do Picadinho, querendo enganar moças castas do século XIX) até qualquer concepção social e moral das personagens.

Esses ias andei pensando sobre a obra, vou até pretendo reler, pois uma visão meio a mente: nossa Capitu é mais próxima de uma Virgília tentando escapar de ser Emma Bovary. A relação entre a ela e Bentiho é complexa, tanto que, antes de construir a grande obra que marcaria sua vida pública (mesmo problema de Brás Cubas), Bentinho dá prioridade em entender o porquê de ter-se tornado Casmurro, o que havia de errado com ele para não merecer o amor de Capitu. Talvez assim o passao não mais o atormentasse, e ele pudesse voltar a ser apenas Bentinho.
 
Bom, concordo com a Anica!

Afinal de contas, mesmo que a voz do autor seja dita pelo narrador em primeira pessoa, isso não tira dúvida. Afinal, todas as dúvidas de Bentinho nos são ditas e reditas, pois ele fica com o assunto na cabeça e repensando naquilo. Por isso acho que realmente há muitos pontos controversos na história, não somente da traição.
 
-Arnie- disse:
Anica disse:
Há dúvida sim, por causa da escolha do foco narrativo não é possível saber ao certo. Se a obra fosse narrada por Aires como acontece com Esaú e Jacó, ou mesmo por narrador que não fosse uma personagem, a dúvida seria certamente minimizada, porque não carrega o peso do juízo de valor de Bentinho, um ciumento tentando desde o início se explicar sobre como cagou com a própria vida.

Perdão, mas não vejo dessa forma. O narrador é a voz do autor, ele é a verdade. Imagine ler uma obra onde não se pode confiar no narrador! Se o narrador não é confiavel, e, sendo ele a única voz narrativa, não há parâmetro comparativo que alterne suas conclusões, e a obra torna-se qualquer coisa sem valor. Tudo pode ser mentira, desde o primeiro capitulo, onde na verdade ele não se chama Dom Casmurro (vá saber, pode ser Zé do Picadinho, querendo enganar moças castas do século XIX) até qualquer concepção social e moral das personagens.

Bentinho não é só narrador. É narrador-personagem. Há uma diferença entre se interpretar uma obra a partir de uma voz onisciente e imparcial e outra que fez parte da história e só sabe dos eventos nos quais esteve presente e com a tendência de puxar a sardinha para o próprio lado.

Você não pode simplesmente ignorar o fato de que Bentinho não é só um narrador. Porque essa escolha é relevante. É aquela coisa: você não duvida de tudo que um amigo está te contando, mas dependendo do teor da história você vai querer saber dos eventos por outros amigos que presenciaram a cena.

Aliás, vale pensar que se não houvesse a questão, seria só um crítico ou pouquíssimos a alardeá-la por aí. O que não é o caso, se você já estudou a obra na faculdade (ou se sequer está cursando letras.).

Volto a insistir: a questão "Traiu ou não?" não é importante, justamente porque a) nunca poderemos ter resposta certa e b) são detalhes como esse, da escolha do narrador, que fazem essa questão mínima perto da genialidade do Machado ao escrever. Mas não dá para dizer que essa questão não existe. Na verdade, dizer que ela não existe é simplesmente jogar na lama um dos fatores que fazem de Dom Casmurro um romance genial, e não só mais uma história de amor que não deu certo.
 
-Arnie- disse:
...quando na verdade uma das grandes questões é porquê Capitu traiu Bentinho.

Concordo com a Anica, e afirmar que umas das grandes questões ser o porque de Capitu trair não faz o mínimo sentido, não há sequer comprovação da traição, e se alguém trai, para mim, é simplesmente na grande maioria das vezes por não estar satisfeito com a relação, não há nenhuma grande questão nisso.
 
-Arnie- disse:
Perdão, mas não vejo dessa forma. O narrador é a voz do autor, ele é a verdade. Imagine ler uma obra onde não se pode confiar no narrador! Se o narrador não é confiavel, e, sendo ele a única voz narrativa, não há parâmetro comparativo que alterne suas conclusões, e a obra torna-se qualquer coisa sem valor. Tudo pode ser mentira, desde o primeiro capitulo, onde na verdade ele não se chama Dom Casmurro (vá saber, pode ser Zé do Picadinho, querendo enganar moças castas do século XIX) até qualquer concepção social e moral das personagens.

Arnie, comecei a ler agora, ainda estou bem no comecinho. Mas... de tanto que se ouve falar dessa obra, entendo o seguinte... Não é que o narrador esteja mentindo. Ele simplesmente diz o que acredita ter acontecido. Ele diz no livro que presenciou o fato?
 
É relevante até o ponto em que fazemos de sua opinião ser duvidosa. Machado de Assis nos deu a voz de um Dom Casmurro para que pudessemos entender a sirtuação da familia Santiago. Po em xeque o que Machado nos oferece, pelo menos para mim, é um erro.

O primeiro grande defeito num narrador não confiavel, que quer contar vantagem, é que ele pode mentir em vários pontos. O livro é, antes de ser ficção, intensão. Ninguem que leu estava lá, logo, ninguem pode saber até que ponto o narrador está tentando nos enganar. Numa edição de Dom Casmurro que possuo há um momento épico logo no inicio, quando Bento diz o motivo pelo qual recebeu o nome de Casmurro ele pede para que não consutemos dicionários "Casmurro não está lá não está aqui no sentido que lhe dão." Numa nota de rodapé, o diz-se que essa é a primeira a primeira armadilha iterpretativa do romance, pois Casmurro tem como primeiro significado "teimoso, cabeçudo e implicante", e como segundo "triste, sorumbático". Sempre que leio isso acho graça (acho que por isso nunca me desfiz dessa edição), é quase um romance policial, para descobrir-se onde está a verdade.

A questão de que Bentinho é um narrador não tão confiavel não é óbvia, é popular. Ainda bem que não estou só, mês passado descobri que também críticos como Wilson Martins, Alfredo Bosi e Otto Maria Carpeaux pensam como eu, ou parecido, porque falta muita salada e soja pra eu ser alguma coisa.

Arnie, comecei a ler agora, ainda estou bem no comecinho. Mas... de tanto que se ouve falar dessa obra, entendo o seguinte... Não é que o narrador esteja mentindo. Ele simplesmente diz o que acredita ter acontecido. Ele diz no livro que presenciou o fato?

A teoria em voga é de que Bentinho não é confival, pois, como ele narra a história, as coisas são de acordo com a visão dele, além do que, o livro é uma tentativa dele provar que Capitu é uma traidora. Uma teoria absurda que ficou popular graças à Helen Caldwell, e que não tem o menor sentido. Se o narrador não é confiavel, e ele pode está maquiando absolutamente tudo, e não temos como saber onde nem como. Tudo isso por ser um narrador personagem, coisa que nunca levantou suspeita de sua honestidade em qualquer época, seja o Paulo Honório de Graciliano Ramos, ou o cínico H.H de Nabokov.
 
Que legal, nabokov leu? :P
Mas não existe a possibilidade também de ele simplesmente acreditar naquilo que estava escrevendo? Ele era ciumento, talvez um simples abraço, ou aperto de mãos, e ele já desconfiou e começou a criar toda uma traição em sua cabeça?

Eu não vou dizer mais nada, até porque não li o livro, então estou fazendo suposições. Aliás, mesmo após ler o livro as pessoas fazem suposições. Estou fazendo suposições pelo que sei dele, ouvi falar, li... :rofl:
 
Nunca vi nenhum ensaio deles sobre isso, apenas eles falando sobre Machado e Dom Casmurro, e usando de uma visão parecida com minha, o que não me deixa sozinho nesse mundo.
 
Arnie, vc não pode colocar nomes em uma argumentação sem ter uma citação para te sustentar. Fica de lição de casa: corre atrás de citações que exemplifiquem o seu ponto de vista (lógico, com fonte e tudo o mais). :timido:
 
Wilson Martins disse:
Ninguém escreve como Machado de Assis: os que já o tentaram, como Léo Vaz e Ciro dos Anjos, por exemplo, não conseguiram ir além de páginas tediosamente cloróticas ou cloroticamente tediosas. Ninguém, tampouco, reescreve Machado de Assis: os que já o tentaram, como Lygia Fagundes Telles ("Capitu", 1993) e Fernando Sabino ("Amor de Capitu". São Paulo: Ática, 1998), acabaram por propor obras que nem são deles mesmos, nem de Machado de Assis.

Prova que, sob as falsas aparências de hímen complacente e ambíguo, "Dom Casmurro" é, na verdade, um sólido bloco degranítica resistência.

É igualmente perigoso escrever sobre Machado de Assis e, em particular, sobre o romance que parece exercer sobre os exegetas a irresistível tentação de reescrevê-lo. O mais famoso de todos foi a norte-americana Helen Caldwell (com alguns discípulos brasileiros), empenhada em fazer com que Bentinho desminta Machado de Assis. Desejariam outro romance, não o que está escrito e no qual Capitu seria inocente, tudo por meio de laboriosas raciocinações e imaginoso instrumental teórico, nomeadamente a idéia do "narrador inconfiável". Romance é ficção: os que não acreditam nos narradores terão ainda menos motivos para acreditar nos romancistas, esses notórios mentirosos.

O problema está em que nada existe fora do que está escrito -sem o adultério de Capitu não existiria o romance chamado "Dom Casmurro". O "enigma de Capitu", sobre o qual Eugênio Gomes publicou todo um volume em 1967, não tem qualquer realidade porque nada há a decifrar. Ou aceitamos o livro como foi escrito, ou devemos passar a outras leituras: o autor é Machado de Assis, não o leitor devaneante. Assim, a crítica machadiana é terreno minado e traiçoeiro, em que, à parte dois ou três estudos fundamentais, os intérpretes não conseguem se livrar das paráfrases e das repetições, além dos lugares-comuns, como o estafado "bruxo de Cosme Velho" que muitos ainda não se constrangem de repetir como luminoso juízo crítico.

São esses os inimigos ocultos e bem-intencionados de Machado de Assis, figuras simétricas e paralelas aos inimigos ostensivos e implacáveis, estudados por Josué Montello, nossa maior autoridade em estudos machadianos ("Os inimigos de Machado de Assis". Rio: Nova Fronteira, 1998). Noventa anos depois do seu falecimento, era realmente tempo de compor o tratado geral do ódio e da obtusidade crítica que o acompanharam enquanto viveu - e até depois de morto, porque o artigo histórico de Hemetério dos Santos foi escrito sobre o seu cadáver ainda quente. Deve-se-lhe a primeira configuração de Machado de Assis como traidor de sua raça e inescrupuloso arrivista, acusações que se repetem até hoje, apesar de todas as evidências em contrário.
Fonte (legal é que ele fala de Josué Montello e eu nem sabia ?~)

Não é para exemplificar meu ponto de vista, é para provar que eles pensam isso. Exemplificar meu ponto de vista é uma coisa estranha. :think:

E não achei os de Otto Maria nem de Bosi, pois o do primeiro encontrei por acaso, procurando coisas Kafka na net, e o outro foi também na net sei lá como nem porque. Se eu achar, edito aqui haha.
 

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