O Serra foi burro.
Não que eu ache ele grande porcaria, mas penso que quanto menos PT, melhor. Nenhum outro partido é inimigo dos valores tradicionais.
Agora, o Serra é menos inimigo? De jeito nenhum, só se aproximou dos conservadores no último momento, e de desespero pra conseguir alguma coisa, e bem do lado do conservadorismo mais tosco, fanático e triste, neo-pentecalhada, malafaietes e afins. Não vi nenhuma tentativa de diálogo mais sério com lideranças protestantes e católico-romanas, isso só no nível religioso. No nível conservador puramente político nem ouvi nada. Foi uma patetice, um circo, uma piada de mal gosto.
Quem ele achou queia enganar? Só os mais imbecis entre os neo-pentecas, no geral, por todos os amigos conservadores (direita) que tenho, nenhum tinha nada a falar dele a não ser desprezo, que era um esquerdista moderado, sem coragem, um palhaço fazendo os conservadores de palhaço. Do outro lado, os tradicionalistas (esquerda, centro e afins), que o veem (o vemos) como um velho em fim de careira política se agarrando desesperadamente a uma caricatura dos valores tradicionais, caricatura aliás que SEMPRE nos é impingida, por causa do discurso dessa esquerda petista (discurso intelectualmente institucionalizado, aliás), que não tem coragem nem de abandonar a cartilha antiga e assumir o conservadorismo (no que poderíamos endossá-lo, ainda que a contragosto) nem o mínimo de conhecimento, decência e moralidade pra se assumir como algo novo na esquerda brasileira, uma esquerda tradicional, renovada, firmada nos valores autênticos. Aliás, poucos sequer imaginam que tal esquerda possa ser possível, quanto mais ele!
No final, acabou a carreira política dele. No máximo vira deputado federal, se tiver sorte, ou tenta a candidatura estadual, mais suave.
E os valores tradicionais levaram um tapa na cara. Pelo mesmo motivo de sempre: não temos quem fale pela Tradição. Triste, mas esse é o Brasil, que nunca soube o que eram valores tradicionais, pelo menos há uns 100 anos, nem voltará a saber, pelo jeito. E o conservadorismo está aí, cada vez mais isolado, mais patético, preconceituoso, alienado de si mesmo e de novas perspectivas para se articular, se formar, criar algo novo e que possa ser oferecido como válido.
E ficamos todos com cara de palhaço.
E o que a Chauí está falando é simplesmente reduzir um problema de consciência política e moral nacional a um problema de consciência política e moral classista. Típico da esquerdalha uspiana. Mas em termos gerais, ela tem muita razão.