ExtraTerrestre
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Na moral, eu sou feminista e não conheço vários dos termos da coluna do Morfindel. "Empoderamento" eu conheço da luta das mulheres pelo parto vaginal a todo custo, parto domiciliar, sem intervenções médicas, e eu sou contra isso. "Queridinha" não pode mais usar? Ops! Por favor, não reduza o feminismo a termos que podem ou não são usados, isso é preguiçoso.
Sobre pisar em ovos em conversas, vou dar um exemplo. Tenho uma panela composta por homens e mulheres. Dois desses homens estão no Tinder e SEMPRE têm histórias pra contar. Eu e as outras mulheres nunca nos incomodamos com as histórias, até que um dia eles falaram que "mulheres que estão no Tinder e transam no primeiro encontro são putas". Se isso fosse uma crença deles, eu até respeitaria, mas eles são homens que estão no Tinder e transam no primeiro encontro! Lógico que eu e minha amiga reclamamos! Mas isso não é porque eles se descuidaram, mas porque foram machistas, porque pensam assim, porque trataram mulheres que transam e homens que transam de forma diferente. Se eles vivem contando essas histórias, é porque se orgulham de serem comedores do Tinder, mas as mulheres são putas?
Só para deixar bem claro, eu discordo da afirmação "mulheres que estão no Tinder e transam no primeiro encontro são putas". Eu concordo com você, as mulheres que procedem assim estão fazendo qualquer coisa, menos se vendendo, isso é, trocando sexo por alguma coisa. Talvez elas estejam atrás de... prazer? Mas isso é simétrico e não existe sem ambos, não há a soma zero que caracteriza a relação de troca.
Sendo um pouco menos literal, tudo bem, vamos assumir que por "puta" eles quiseram dizer "mulher incapaz de serem fiéis em relacionamentos mais longos, trocando de parceiros a todo momento e sem sobreaviso", "mulher só pra transar". Também discordo, mulheres que estão no Tinder e transam no primeiro encontro tampouco são necessariamente "putas" nesse sentido, e falo por conhecer contraexemplos.
Mas o que leva alguém a pensar assim?
A primeira hipótese é um preconceito bobo de alguém que não teve experiências reais com o que estão falando, seja por relacionamentos ou seja dentre as próprias amizades femininas. No caso de um juninho, a moral para falar qualquer coisa é perdida rapidamente assim que o desconhecimento é revelado.
Um segundo caso é um homem que teve relacionamentos dessa forma, e que, devido a alguma razão que pode incluir um preconceito estabelecido, interpretou errado suas experiências. Pode ser que a mulher só estava atrás de uma transa ou de algum lance mais curto, que ele desenvolveu o desejo por algo mais profundo e ela não, pelo que ela deu o pé na bunda do cara, ou qualquer coisa do tipo. Ele não se tocou, e, juntando a fome com a vontade de comer, o preconceito com a tendência humana de jogar a culpa no mundo, demonizou a antiga parceira encontrada no Tinder.
E por fim pode rolar que tenha sido verdade para ele, que mais de uma vez ele tenha passado por situação do tipo, no fim da qual a mulher descumpriu compromissos emocionais que assumiu (de forma declarada ou não). Nesse caso, é necessária a citação de contraexemplos, quanto mais concretos melhores, pro universo de amostras do cara evoluir.
Melhor que reclamar e se sentir ofendido/a é desconstruir essa ideia de "mulher putinha que dá na primeira noite". Em se tratando de amigos ou mesmo de bons colegas, não há motivos para lançar mão de interdições de vocabulário, já que faz parte da razão de ser das companhias o diálogo franco. Pode-se apontar onde está o erro, e, se a pessoa não conseguir conviver com seu equívoco, daí sim, mandar às favas e se retirar do convívio.
Só o reconhecimento da igualdade de homem e mulher enquanto ser humano, enquanto categoria comum que supera as diferenças fisiológicas entre ambos, pode livrar o mundo do mal do sexismo. A não ser que seja necessário para a defesa do próprio espaço, devemos evitar nos projetarmos de maneira hostil para o outro.