Voltando ao assunto do livre-arbítrio de Túrin, estive repassando o diálogo de Manwë e Eru e o de Finrod e Andreth. Algumas observações são bem curiosas.
-Manwë e os Valar tinham receio em ser dignos para lidar com os corpos dos filhos. Foi preciso Eru para convencê-lo a não regular a concessão dessas coisas e lembrá-lo mais uma vez que Manwë já tinha autoridade para isso.
-Sabendo disso Melkor fez exatamente o contrário de tudo o que os outros Valar tinham receio, inclusive contaminar e corromper a matéria do mundo e dos corpos dos filhos contidos nele.
-A livre-escolha de Eru precisava de instrumentos em seu mundo para concretizar e realizar. Manwe foi estabelecido como o principal instrumento na música a combater Melkor. E houve então a livre escolha e a concretização da livre-escolha. Duas coisas diferentes. A primeira dependia de uma pessoa, a segunda dependia de várias.
-Túrin decidiu usar sua livre-escolha, um dom da alma. Entretanto, a manifestação dela, o seu instrumento e corpo, foi condenado por Melkor a sempre traí-lo. E havia ainda um dilema. Se os homens deviam ser capazes de usar o livre arbítrio em meio aos destinos do mundo, então como Túrin não conseguia escolher?
-A resposta é que ele conseguia escolher, mas a única vontade do mundo capaz de fazer escolhas livres e concretizá-las sem haver armadilhas de Melkor era Eru. Até mesmo Manwë e seus irmãos aprendiam lentamente a usar seus próprios dons. Houve épocas em que Melkor enfrentou todos os Valar ao mesmo tempo e os poderes tinham a vantagem de ter vidas longas, diferente dos homens.
Já no começo do Silma conta-se que os homens não tinham pleno conhecimento da vontade do único para com eles, o que nos indica que as criaturas livres de Eru não eram proficientes ainda no dom do livre arbítrio e que no futuro apenas os homens entenderiam seu lugar, o que significa ter plena consciência de seus dons.
Resultado, Túrin passou a ser traído por seu próprio corpo depois que Melkor debruçou o ódio do universo sobre ele. Tudo o que ele amava iria traí-lo também, numa vida solitária e insuportável. No final observa-se que não ter filhos foi um ato de misericórdia, pois havia chances de os frutos do mal de Melkor continuarem a perseguir a prole de Túrin.
Afinal, Manwë estava correto em consultar Eru na questão dos corpos, o corpo das criaturas é algo realmente muito delicado. Mesmo que precisasse passar por sovina nessa questão, mudar e construir a vestimenta/casa dos seres não devia ser uma questão qualquer.