Gostaria que todos prestassem atenção ao que eu tenho a dizer:
Tipo, sou da teoria que diz que um erro não conserta o outro.
Ou seja, pq ferraram a vida dele e de sua família significa que ele faria a mesma coisa iria trazer de volta?
Calma, explico minha posição. Acredito que eu me vingaria do mundo se preciso fosse, pela minha família. Mas isso não me faria INOCENTE das mortes q viriam a seguir. Eu mataria por tudo que sofri, pra me vingar, pra exteriorizar meu ódio que seja.... MAS EU MATARIA e isso já me faz culpada!
[...]
Ou seja, Túrin de fato É CULPADO POR TODO E QUALQUER ATO QUE TENHA CAUSADO independente do que o levou a fazer isso. Uma vez que ele teve a escolha. Ou se vinga, ou tenha uma vida... e ele ESCOLHEU a primeira opção.
Eu concordo plenamente com isso tudo: se a Madre Tereza de Calcutá tivesse matado alguém, ela deveria ser punida por este crime, não importa quantas coisas boas ela ja tivesse feito na vida ou viesse a fazer.
Contudo, esta é a sistemática do Direito Penal da maioria dos países, que tem como função (ou pelo menos diz ter) garantir uma sociedade com padrões mínimos de segurança e tranquilidade.
Temos que ter em mente, entretanto, que essa não é a mesma sistemática do Círculo da Lei (ou pelo menos não deveria ser, na minha opinião). Quem acompanhou as discussões sobre o CL no VtBBC há mais tempo já está cansado de me ouvir falar que o nosso objetivo não é impedir que criminosos fiquem à solta ou que voltem a cometer crimes, pelo simples fato de que esses criminosos (ou supostos criminosos) não existem. Tem uns dois anos que eu insisto na ideia de que não devemos enxergar o CL como um julgamento comum, pelo menos não com relação ao seu objetivo final. De que adianta dizer que Túrin vai cumprir uma pena de 30 de reclusão em regime fechado? Isso não vai acontecer porque ele sequer existe.
Deste modo, do meu ponto de vista, não faz o menor sentido em julgar personagens das obras com o intuito de decidir se eles cometeram ou não determinado crime (genocídio, formação de quadrilha, etc.). Isso cabe a cada um decidir, conforme seu próprio convencimento. Se Tolkien narra que "Fulano foi tomado por um acesso de ira e, inconsequentemente, assassinou Beltrano fria e cruelmente, sem nenhum motivo justificável", é óbvio para todo mundo que o Fulano é culpado de ter assassinado o outro. E digo mais: não faz sentido julgar os personagens por eventuais crimes que eles tenham cometidos porque
só é crime aquilo que a lei disser que é. Muita gente tem dificuldade em entender isso por achar que
crime é qualquer conduta moral ou socialmente reprovável. Mas não é assim. Só se pode dizer que determinada conduta é criminosa se houver alguma lei prevendo isso (essa é uma das primeiras coisas que se aprende no curso de Direito Penal).
Como não existe, até onde sabemos, nenhuma lei penal em Arda cujo conteúdo nos seja acessível, torna-se inviável acusar qualquer personagem do legendarium de ter cometido qualquer crime. Não é à toa que o Edu, na apresentação original do Círculo da Lei disse algo como "
decida o destino de todos os aqueles que tenham ofendido a moral e os bons costumes Ardenses". Nem moral nem bons costumes são leis.
Por isso tudo, eu entendo que o que deve ser analisado no CL é simplesmente se o personagem foi um "bom" ou um "mau" personagem, tendo em vista o saldo geral de toda a sua vida. Se ele fez mais bem, inocente; se fez mais mal, culpado. Acusações de um ou outro crime devem sim ser levadas em conta, mas não deveriam ser fator determinante para a condenação ou absolvição do réu. Vejam o caso Brodda: Túrin o matou? Sim, matou. Precisava ter matado? Não, não precisava. Se aplicarmos a lógica penal, ele seria culpado de homicídio, sem sombra de dúvida. Se aplicarmos a lógica que eu proponho para o Círculo da Lei (e que já foi, de algum modo, utilizada por alguns neste julgamento), este incidente isolado não seria suficiente para condenar o réu.
Se o assassinato de Brodda tivesse sido o único deslize na vida de Túrin, por exemplo, ele ainda assim poderia ser declarado inocente, pois o fato se deu em circunstâncias que podem ser consideradas desculpáveis. No caso específico do assassinato do oriental, os jurados deste CL parecem ter sido mais flexíveis com relação à culpa ou não de Túrin. Na minha modesta opinião, as circuntâncias do caso praticamente exigiam que Túrin matasse o sujeito. E isso, para mim, não faz dele uma mau personagem. Faria dele uma má pessoa se ele vivesse no nosso mundo, mas não posso considerá-lo um personagem cruel de um romance de fantasia medieval.