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Dom Casmurro: Capitu traiu ou não traiu?

Essa dublagem do Bentinho parecendo o Rei Julien. :rofl: Achei que ele ia sair cantando "Eu me remoo muito..."
 
Olá, primeiro vou dar minha visão: não achei nenhum sinal convincente que ela tenha traído. Se o fez, fez bem feito.

Bom, não me recordo da fonte, mas acho que chegaram a perguntar para o Machado se ela tinha traído ou não ele disse que não sabia. A intensão dele era mesmo deixar a discussão em aberto. Como foi falado muito na discussões, esse livro gerou muitas teses com ambas as opiniões, até que nos anos 2 mil surgiu a primeira tese que Bentinho era gay, e que tinha ciúmes de Escobar!

Quando à semelhança de Ezequiel com Escobar, pela personalidade de Bentinho não sabemos se era paranoia dele. Por isso minha professora de Literatura entrou em contato com uma editora e a criticou agressivamente por colocar na capa o Ezequiel com a cara do Escobar. É um livro, podemos visualizar eles conforme nossa imaginação conceber. Não sei se tem filme, mas um filme seria inconcebível pois deixaria clara a posição do produtor.
 
Estou lendo Dom Casmurro, na edição da Ateliê Editorial. Tem um belo texto de apresentação, de umas 80 páginas, do Paulo Franchetti, historicizando a crítica sobre o livro, elegendo alguns textos fundamentais, representativos das linhas de força das interpretações. E ele avança algumas contribuições, criticando ou relativizando aspectos dessas linhas interpretativas.

Há um ponto do texto em que ele coloca a pergunta: por que Bentinho escreve o livro? Diz que a maioria responderia, sob a influência da Caldwell, que Bentinho escreve para inculpar Capitu, repisando a tese do narrador pouco confiável.

Mas argumenta que se esse é o objetivo, Bentinho, sendo tão inteligente para "manipular" o "júri", teria acabado por construir um "inquérito" bem pouco favorável a ele próprio. E desenvolve esse argumento, como crítica à tese da Caldwell ou, ao menos, de algumas leituras dela derivadas. :think:

Então iniciei a leitura, que ainda está pela metade, no ânimo de tentar me desarmar um pouco - só um pouco - em relação ao narrador.

Mas estou falhando nisso e fico catando cascas de banana em tudo aquilo que ele diz de Capitu, com base nos desdobramentos da história que eu conheço, e naquilo que está entranhado no senso comum sobre o romance.

Apesar disso, concordo com o Franchetti que Bentinho em diversos momentos pinta um retrato muito pouco favorável de si mesmo.

Por exemplo, quando a sua mãe está doente e manda José Dias buscá-lo no Seminário. Bentinho confessa que, por um momento, viu na morte da mãe a esperança de se livrar do seminário.

É um lado "feio" da natureza humana. Um lado egoísta, mesquinho. Qualquer ser humano poderia sentir isso, mas de ordinário as pessoas não admitem esse tipo de coisa. Me lembrou um pouco o conto Antes do Baile Verde, da Lygia, em que uma filha se prepara para um baile de Carnaval enquanto o pai agoniza no quarto ao lado.

Mas enfim...

Se Bento escreve com o intuito de inculpar Capitu, despreocupa-se, ao menos em alguns momentos, da imagem que o "júri" dele fará.

Ou isso pode ser lido de outras formas.

Mas voltando ao texto do Franchetti. Gostei muito de como ele mostra, em diálogo com a fortuna crítica, que, no fim das contas, este é um romance muito rico de possibilidades de leitura; e tranquiliza o leitor, dizendo a este que não parta do pressuposto de que Dom Casmurro é um enigma completamente decifrado.

A despeito disso, pra mim está sendo difícil me livrar de algumas dessas pré-noções e acho que, de qualquer modo, é inevitável essa "contaminação" da leitura.
 
eu acho que já até comentei nesse tópico mesmo, mas tem uns anos que estou encasquetada com ressurreição, e acho que dom casmurro é meio que parte do exercício do machado iniciado no primeiro romance. no ressurreição tem uma advertência do machado que fala que o livro é uma tentativa de trabalhar aquele trecho "nossas dúvidas são traidoras" do shakespeare.

o romance não tem um desfecho feliz porque félix acredita que lívia é infiel (e como em ressurreição o narrador não é personagem, a gente SABE que lívia não é infiel com toda certeza). félix cancela o casamento, depois se arrepende e aí lívia basicamente diz "aqui, não, mané", argumentando que ele sempre teria dúvida sobre o comportamento dela e portanto eles não poderiam ser felizes juntos. ela opta por não ficar com a pessoa que ama.

aí saltam os anos, outro romance de machado com um ciumento questionando a fidelidade do amor da vida. e capitu...

... capitu não tem qualquer opção a não ser aceitar o exílio. e se for notar, é um desfecho igualmente infeliz, onde o bentinho acaba só e não podendo viver o relacionamento com capitu (a quem amava) por causa do ciúmes e ainda causa a infelicidade da esposa e filho, por causa da dúvida. é exatamente o que aconteceria com félix e lívia se lívia não tivesse acabado com a relação.

e aqui a escolha do narrador-personagem ajuda justamente a gente ver a cabeça do cara ciumento, de como o monstro que ele cria (a certeza do adultério) parece tão real, ao ponto de estragar completamente uma vida que tinha tudo para ser perfeita. por isso mais e mais a minha leitura é que não importa se a capitu traiu ou não, o ponto central é a dúvida do bentinho, e como a existência dessa dúvida estragou qualquer chance do cara ser feliz.
 
eu acho que já até comentei nesse tópico mesmo, mas tem uns anos que estou encasquetada com ressurreição, e acho que dom casmurro é meio que parte do exercício do machado iniciado no primeiro romance. no ressurreição tem uma advertência do machado que fala que o livro é uma tentativa de trabalhar aquele trecho "nossas dúvidas são traidoras" do shakespeare.

o romance não tem um desfecho feliz porque félix acredita que lívia é infiel (e como em ressurreição o narrador não é personagem, a gente SABE que lívia não é infiel com toda certeza). félix cancela o casamento, depois se arrepende e aí lívia basicamente diz "aqui, não, mané", argumentando que ele sempre teria dúvida sobre o comportamento dela e portanto eles não poderiam ser felizes juntos. ela opta por não ficar com a pessoa que ama.

aí saltam os anos, outro romance de machado com um ciumento questionando a fidelidade do amor da vida. e capitu...

... capitu não tem qualquer opção a não ser aceitar o exílio. e se for notar, é um desfecho igualmente infeliz, onde o bentinho acaba só e não podendo viver o relacionamento com capitu (a quem amava) por causa do ciúmes e ainda causa a infelicidade da esposa e filho, por causa da dúvida. é exatamente o que aconteceria com félix e lívia se lívia não tivesse acabado com a relação.

e aqui a escolha do narrador-personagem ajuda justamente a gente ver a cabeça do cara ciumento, de como o monstro que ele cria (a certeza do adultério) parece tão real, ao ponto de estragar completamente uma vida que tinha tudo para ser perfeita. por isso mais e mais a minha leitura é que não importa se a capitu traiu ou não, o ponto central é a dúvida do bentinho, e como a existência dessa dúvida estragou qualquer chance do cara ser feliz.

Eu concordo. Estou convencido de que saber se ela traiu ou não, em si, não é relevante.

Mas uma coisa que o Franchetti coloca e pra mim faz todo o sentido é a pergunta sobre o que leva Bentinho a escrever o livro. A resposta que se der a essa pergunta orienta a interpretação que se tem do romance.

O próprio Bentinho dá uma resposta a essa pergunta logo no início do livro. A questão é saber se ela é convincente ou não.

E nesse ponto, me chama atenção ainda o caso da doença da mãe. Logo após de confessar ter esperançado na morte da mãe, Bentinho vai até a Igreja pedir perdão por esse pecado (além de agradecer à Deus pelo restabelecimento da mãe e convencê-Lo a liberá-lo da promessa de rezar 2000 ave marias... rsrs). E ali ele chega a cogitar se confessar ao padre, mas não tem coragem. E anota o narrador nesse ponto que é engraçado como o homem muda. Aquilo que ele não ousaram dizer na privacidade e no sigilo do confessionário, agora ele publicava em livro.

E aí me volta a pergunta: por quê?

Ainda não tenho um veredito seguro, porque não tenho a leitura concluída. Mas uma das chaves de leitura de que fala o texto do Franchetti seria a de um sentido expiatório na decisão de Bento de escrever a história.

Isso é válido mesmo que ele tenda a se justificar na história ou, quem sabe, mesmo que ele tente se convencer de que ele tinha razão sobre Capitu e Escobar? Acho que sim. O que vocês acham? :think:

Essa leitura do "sentido expiatório" seria, talvez, compatível com essa questão que você aponta, Ana, de que o cerne da história estaria no fato de que Bento arruinou a própria vida movido por esses ciúmes.

________
Por outro lado, há um trecho que me deixou encafifado.

Há um momento nos capítulos iniciais que Bento refere a teoria de um músico de que a vida seria como uma Ópera. No capítulo seguinte ele diz adotar essa tese e diz ali algo como: às vezes a verossimilhança é toda a verdade.

Essa frase me deixou pensativo, dentro dessa chave de leitura que quer entender o que motiva Bento a escrever. Ainda estou pensando sobre isso... :think:

E aí ele emenda: primeiro cantei um duo, depois um trio, depois um quartuor. E aí ele diz que estava se adiantando na história.
 
Pessoalmente eu acredito que o Bentinho escreve o que e como escreve muito por falta de noção de que aquela imagem seria ruim.

O tom em geral, pelo que me lembro, é de um desabafo.

E como eu ja vi pessoas reclamando e desabafando como so fossem as vítimas e contarem casos em que foram semelhantemente lamentáveis, a ponto de quando eu comentei minha discordância do seu proceder, sairam brigas e discussões.

Então eu acho que o Bentinho está desabafando e, quase tudo que ele relata é na visão dele, a forma correta de agir e ver as coisas.
 
eu acho que já até comentei nesse tópico mesmo, mas tem uns anos que estou encasquetada com ressurreição, e acho que dom casmurro é meio que parte do exercício do machado iniciado no primeiro romance. no ressurreição tem uma advertência do machado que fala que o livro é uma tentativa de trabalhar aquele trecho "nossas dúvidas são traidoras" do shakespeare.

o romance não tem um desfecho feliz porque félix acredita que lívia é infiel (e como em ressurreição o narrador não é personagem, a gente SABE que lívia não é infiel com toda certeza). félix cancela o casamento, depois se arrepende e aí lívia basicamente diz "aqui, não, mané", argumentando que ele sempre teria dúvida sobre o comportamento dela e portanto eles não poderiam ser felizes juntos. ela opta por não ficar com a pessoa que ama.

aí saltam os anos, outro romance de machado com um ciumento questionando a fidelidade do amor da vida. e capitu...

... capitu não tem qualquer opção a não ser aceitar o exílio. e se for notar, é um desfecho igualmente infeliz, onde o bentinho acaba só e não podendo viver o relacionamento com capitu (a quem amava) por causa do ciúmes e ainda causa a infelicidade da esposa e filho, por causa da dúvida. é exatamente o que aconteceria com félix e lívia se lívia não tivesse acabado com a relação.

e aqui a escolha do narrador-personagem ajuda justamente a gente ver a cabeça do cara ciumento, de como o monstro que ele cria (a certeza do adultério) parece tão real, ao ponto de estragar completamente uma vida que tinha tudo para ser perfeita. por isso mais e mais a minha leitura é que não importa se a capitu traiu ou não, o ponto central é a dúvida do bentinho, e como a existência dessa dúvida estragou qualquer chance do cara ser feliz.
Excelente. Já havia vislumbrado uma correspondência, um eco de Ressurreição em Dom Casmurro, mas não de forma mais elaborada assim.

Félix quer acreditar na infidelidade de Lívia; basta o menor dos sinais para que ele sinta que aquilo apenas confirma o que ele sente em seu coração. Faz parte do ego de Félix, é algo intrínseco a ele. Lívia depreende isso de forma magistral, e, sem se resignar, ainda que o ame, manda que "As dúvidas o acompanharão onde quer que nos achemos, porque elas moram eternamente no seu coração". Lívia preferiu a impossibilidade da relação à possibilidade — ou certeza — da dúvida, da suspeita e da paranoia; ou seja, houve uma escolha, ao contrário do caso de Capitu, em que não houve sequer a possibilidade de escolha.

Há um momento nos capítulos iniciais que Bento refere a teoria de um músico de que a vida seria como uma Ópera. No capítulo seguinte ele diz adotar essa tese e diz ali algo como: às vezes a verossimilhança é toda a verdade.

Essa frase me deixou pensativo, dentro dessa chave de leitura que quer entender o que motiva Bento a escrever. Ainda estou pensando sobre isso... :think:

E aí ele emenda: primeiro cantei um duo, depois um trio, depois um quartuor. E aí ele diz que estava se adiantando na história.
Marcolini defende que a vida é uma ópera em que o tenor e o barítono (duas vozes masculinas) lutam pela soprano (voz feminina); o quarteto (quatuor) é composto por tenor, barítono, soprano e (geralmente) contralto. Será que não é uma metáfora do relacionamento de Bentinho, Escobar, Capitu e Ezequiel?
 
Última edição:
Marcolini defende que a vida é uma ópera em que o tenor e o barítono (duas vozes masculinas) lutam pela soprano (voz feminina); o quarteto (quatuor) é composto por tenor, barítono, soprano e (geralmente) contralto. Será que não é uma metáfora do relacionamento de Bentinho, Escobar, Capitu e Ezequiel?

Isso com certeza. Inclusive ele diz que naquele momento, com a "denúncia" de José Dias, descobrira que ele já cantava.

Mas o que me intriga aí é essa ideia de que a verossimilhança, a aparência de verdade, é muitas vezes toda a verdade. Fico pensando no alcance dessa frase para o romance.

Os ciúmes de Bentinho tornam a traição de Capitu verossímil. A traição parece verdade, logo se deve assumi-la como verdadeira?

Divago. :dente:
 
quatuor é bentinho, capitu, escobar e sancha. eu não vou lembrar exatamente do capítulo porque a última vez que li dom casmurro foi um pouco antes do início da pandemia ( :dente: ), mas tem um capítulo que o bentinho claramente fica ouriçadinho com um aperto de mão da sancha. já até imagino mr. darcy e o hand flex hahahaha:


até deu vontade de dar uma relida, porque eu acho que tinha mais um outro momento no livro que era muito evidente que o bentinho mandaria um oi casada fácil para a sancha caso ela não fosse amiga da capitu. :think: dá até aquela dúvida se a pira com o escobar na realidade não vem depois que ele dá uma cobiçada na mulher do outro (o que aumentaria ainda mais a culpa da personagem, porque toda a meleca é coisa da cabeça dele e só dele, e se for assim - se nem o leitor acreditar que há uma chance de ele estar certo - foi tudo em vão.)
 
Terminei a leitura e estou muito fascinado com o livro.
Ah... e maratonei uns vídeos do João Cezar de Castro Rocha, por culpa do @Mavericco , e fiquei ainda mais fascinado pelo livro.

Acho que o Bento escreve o livro movido por um ímpeto de expiação.
Acho que, em boa medida, o narrador acusa a si mesmo. Definitivamente, Bento Santiago não faz qualquer esforço para se apresentar como um modelo de virtude. Nessa linha, a passagem na qual ele esteve a ponto de envenenar Ezequiel é especialmente impactante.
Ao mesmo tempo, parece haver um ponto de honra para Bento: ele parece mesmo querer estabelecer a culpa de Capitu [e de Escobar]. Termina o romance dizendo que a Capitu adúltera já estava dentro da Capitu de Matacavalos, como se o adultério fosse um desenvolvimento lógico e natural de sua personalidade. Como se trair fosse da natureza dela. Esse "ponto de honra" talvez decorra da necessidade de se convencer de que ele não teve responsabilidade pela infelicidade em que enredou a própria vida.

O último capítulo é como se Bento apresentasse as suas conclusões ao júri.
Mas ele não tem nenhuma evidência de que o adultério ocorreu. O João Cezar faz um comentário bastante espirituoso, dizendo que é como se o Bento apresentasse o Power Point do Dalagnol, com todas as setas apontando para Capitu. Convicção, sem provas materiais...

Inicia por dizer que teve outras mulheres, mas que nunca pôde superar Capitu. Por que motivo? E Bento aventura: talvez porque nenhuma delas tivesse aqueles olhos de ressaca e de cigana oblíqua e dissimulada - o que é um paradoxo, né? Como comenta o professor João Cezar, esses olhos de ressaca e de cigana oblíqua e dissimulada foram justamente o elemento que, aos olhos de Bentinho, condenou Capitu. Ele surtou por conta da maneira como aqueles olhos de ressaca olhavam para o defunto Escobar, no velório.

Em seguida, Bento diz que restava estabelecer se a adúltera já estava contida na Capitu de sua infância; ou se algum fator mudou esta naquela. E ele mesmo diz que fator seria esse - os seus ciúmes. Diz acreditar, no entanto, que os seus ciúmes não contribuíram para o adultério de Capitu e que os leitores concordarão com ele se se lembrarem de Capitu menina.

E termina por dizer que, "qualquer que seja a conclusão", o que fica, "o resto do resto", "a suma das sumas", é que quis o destino que a sua primeira amiga e o seu maior amigo se unissem para enganá-lo.
É curioso. Se ele se vale de uma expressão como "qualquer que seja a conclusão", é como se a questão anterior que ele próprio levanta não tivesse qualquer relevância para o estabelecimento da culpa de Capitu.

De fato, não tem. Mas talvez tivesse relevância para estabelecer a culpa que ele próprio teve no caso. Afinal de contas, a hipótese recusada por Bentinho aqui era a de que a Capitu adúltera não estava contida na Capitu de matacavalos, de modo que teriam sido os seus ciúmes o vetor que teria conduzido ao suposto adultério. No entanto, como a Capitu adúltera é um desdobramento natural da Capitu de Matacavalos, a traição estava destinada a acontecer. E aqui vale mencionar que Bento de fato nomeia o "destino": "quis o destino que a minha primeira amiga... etc etc".

Uma pergunta que eu coloco aos senhores: se Bento assume que a traição foi obra do destino, ele está atenuando a culpa que ele próprio lança sobre as costas de Capitu e de Escobar? Ele próprio, "magnânimo" (as aspas aqui são minhas), emenda: "A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios."

E aí um ponto que novamente eu pesquei dos vídeos do professor João Cezar... no segundo capítulo, o próprio Bento Santiago, ao falar sobre aquilo que o movia a escrever, disse que teria cogitado escrever uma História dos Subúrbios. Entretanto, descartou a ideia porque isso demandava o recurso a documentos - ou seja, demandava o respeito às evidências.

Ele acaba decidindo escrever as suas memórias, segundo alega, movido pelo mesmo ímpeto que supostamente o teria levado a reproduzir no Engenho Novo a casa em que se criara, em Matacavalos. Isto é, o que o movia a escrever essas memórias seria a ânsia de querer "restaurar na velhice a adolescência". Entretanto, termina apresentando um libelo acusatório contra Capitu e Escobar, ausente qualquer evidência de culpa. Como ele disse no capítulo que citei mais acima, há circunstâncias em que a verossimilhança é toda a verdade. :think:

Bento não escreve a História dos Subúrbios porque isso demandava o recurso a evidências, mas terminou escrevendo uma peça acusatória também destituída de qualquer evidência, a não ser as fantasmagorias criadas por ele próprio. E termina o romance dizendo que escreverá a História dos Subúrbios... 🤯

Capitu pode ter traído? Pode. Mas a dúvida é insolúvel. E se fôssemos recorrer à linguagem jurídica de que o próprio Bento aqui e acolá se vale*, como diz o brocardo latino: In dubio pro reo. Na dúvida, favorece-se o réu. Capitu sai desse tribunal absolvida.

Possivelmente misturei alhos com bugalhos nesse post. Mas precisava exorcizar essas questões. :dente:

______________
* chamar aquele capítulo, no qual Bento, saindo da ópera mais cedo, volta pra casa e encontra Escobar à porta, de "embargos de terceiro" é uma ironia genial... :lol:
 
Última edição:
O professor João Cezar é maravilhoso! Atualmente, é o único estudioso de Machado (E Shakespeare) que acompanho, e não me arrependo. Fiz um curso, on-line, com ele, sobre Otelo, no qual ele faz uma leitura excepcional do texto shakespeariano e nos mostra, NO TEXTO, que o ciumento era Iago, não Otelo. Todo mundo ficou sem rumo, no primeiro dia do curso.

Como você está encantado pela magia do Bruxo do Cosme Velho, migo @Mercúcio , vou te sugerir a leitura do melhor texto que já li sobre Dom Casmurro. É um texto longo, tem trinta páginas, mas é muito maravilhoso. Nele, pretende-se ler o romance machadiano a partir do capítulo IX, o da ópera. É um primor de estudo das relações entre os personagens. Tive o privilégio de estudar com o Audemaro no Mestrado. Ele também é um dos grandes estudiosos da obra de Machado de Assis.​
 
O último capítulo é como se Bento apresentasse as suas conclusões ao júri.
Mas ele não tem nenhuma evidência de que o adultério ocorreu. O João Cezar faz um comentário bastante espirituoso, dizendo que é como se o Bento apresentasse o Power Point do Dalagnol, com todas as setas apontando para Capitu. Convicção, sem provas materiais...
Alguém precisa fazer essa imagem! Eu faria, se tivesse com a leitura fresca na cabeça, para saber que elementos incluir nas bolinhas... :rofl:
 
O professor João Cezar é maravilhoso! Atualmente, é o único estudioso de Machado (E Shakespeare) que acompanho, e não me arrependo. Fiz um curso, on-line, com ele, sobre Otelo, no qual ele faz uma leitura excepcional do texto shakespeariano e nos mostra, NO TEXTO, que o ciumento era Iago, não Otelo. Todo mundo ficou sem rumo, no primeiro dia do curso.

Como você está encantado pela magia do Bruxo do Cosme Velho, migo @Mercúcio , vou te sugerir a leitura do melhor texto que já li sobre Dom Casmurro. É um texto longo, tem trinta páginas, mas é muito maravilhoso. Nele, pretende-se ler o romance machadiano a partir do capítulo IX, o da ópera. É um primor de estudo das relações entre os personagens. Tive o privilégio de estudar com o Audemaro no Mestrado. Ele também é um dos grandes estudiosos da obra de Machado de Assis.​

Vou ler com certeza. Obrigado! :cerva:
 
O professor João Cezar é maravilhoso! Atualmente, é o único estudioso de Machado (E Shakespeare) que acompanho, e não me arrependo. Fiz um curso, on-line, com ele, sobre Otelo, no qual ele faz uma leitura excepcional do texto shakespeariano e nos mostra, NO TEXTO, que o ciumento era Iago, não Otelo. Todo mundo ficou sem rumo, no primeiro dia do curso.

Como você está encantado pela magia do Bruxo do Cosme Velho, migo @Mercúcio , vou te sugerir a leitura do melhor texto que já li sobre Dom Casmurro. É um texto longo, tem trinta páginas, mas é muito maravilhoso. Nele, pretende-se ler o romance machadiano a partir do capítulo IX, o da ópera. É um primor de estudo das relações entre os personagens. Tive o privilégio de estudar com o Audemaro no Mestrado. Ele também é um dos grandes estudiosos da obra de Machado de Assis.​

A propósito, @Melian . Li o artigo.
Essa discussão que ele faz, com base em Derrida, no sub-item 2 do paper, não é muito a minha praia. Então fiz uma leitura um tanto descompromissada... :dente:

Mas li.

Achei muito interessante a discussão em cima do capítulo da Ópera, da identificação entre as vozes e os personagens (tenor = Escobar; barítono = Bentinho-personagem; baixo = Bento-Narrador; soprano = Capitu; contralto = Sancha; os comprimários = Dona Glória, Tio Cosme, José Dias, etc); a identificação do que representam o "terceto do Éden", a "Ária de Abel"... os coros da guilhotina e da escravidão; o libreto da ópera e a sinfonia, os papéis de Deus e de Satanás...

Tinha passado batido por isso na leitura. Mas muita coisa ali fez sentido pra mim. :think:

Na minha leitura, a única coisa que tinha ficado clara era aquela coisa do duo terníssemo, do terceto e do quatuor, que já comentamos mais acima.
 

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