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O Imortal (Machado de Assis)

Clara

Perplecta
Usuário Premium
Uma das coisas mais bacanas que eu vejo em Machado de Assis é o fato de ele me surpreender, principalmente em seus contos.

Foi assim com "O Espelho" com seu tema fantástico-freudiano e com o esplêndido "A Causa Secreta" que é praticamente uma história de terror.

Hoje, numa dessas "cavoucações na internet" em que você começa procurando uma coisa e acaba encontrando outra, completamente diferente, me deparei com o conto "O Imortal" que também tem um tema fantástico e cujo início lembra um pouco "O Espelho": o narrador contando uma história pra um círculo de amigos curiosos porém incrédulos.

O médico homeopata dr. Leão conta a vida e as aventuras de seu pai, Rui de Leão (óbvia referência a Ponce de Leon) o imortal da história, e as aventuras que ele viveu indo do sertão de Pernambuco às cortes inglesa e francesa, passando por lugares como India, Constantinopla e finalmente retornando ao Brasil onde se torna o pai do narrador.

Bem, vale a pena ler a história por várias razões.
Porque é do Machado de Assis e tem aquelas coisas legais que a gente sempre encontra em suas histórias: detalhes psicológicos dos personagens e suas relações humanas; o desenvolvimento da história com o suspense que te faz querer chegar logo ao desfecho; e o final, filosófico, sobre a vida e a morte, a eternidade e... a medicina homeopática. :hahano:

Vale lembrar que o conto (tem dezessete páginas) está em domínio público, então você pode ler aqui, rapidinho em menos de uma hora e no computador mesmo.
 
Talvez a @Melian como fã do Machado já tenha lido.
Adoro este conto! Ele faz todo um percurso típico de "historia pra boi dormir", o que só faz com que a coisa toda fique ainda mais interessante. É espetacular o paralelo que se pode estabelecer entre a imortalidade e o adiamento do contar; entre a imortalidade do pai do narrador e a imortalidade do texto literário (ou não, visto que o próprio narrador se questiona se os ouvintes ainda se lembrariam da história que lhes fora contada).

O conto, todo, é recheado de adiamentos, como o é, também, a vida do pai do narrador. O porvir é constitutivo do conto: "o dr. Leão contou enfim a vida do pai, nos termos em que o leitor vai ver, se se der o trabalho de ler o segundo e os outros capítulos"; "mas não antecipemos", "Este caso do falecimento é que é maravilhoso: peço-lhes a maior atenção"; "Meia-noite! Vamos dormir; é tarde; amanhã direi o resto"; "Pela sua parte, o Dr. Leão parara um pouco; podia ser uma lembrança dolorosa; podia também ser um recurso para aguçar mais o apetite".

No que tange ao humor Machadiano, eu adoro a parte em que o pai do narrador foi vítima de fake news, bem no estilo: "plagiou um frade". hahahahaha

Acho de um deboche único a imortalidade ser curada por quem a criou: a homeopatia (cês sabem o que eu penso sobre a homeopatia, né? hahahah). Similia similibus curantur (o igual com igual se cura). Isso suscita várias questões; entre elas, poderíamos pensar na seguinte: a imortalidade dos clássicos se cura com a efemeridade do discurso literário, nos nossos tempos? Questões, questões...

P.S.: O post deve ter ficado confuso, porque tô concentrada no jogo do Galo.
 
Excelente análise, @Melian ! Depois que leio alguma coisa sempre gosto de ver os comentários de outras pessoas porque sempre captam alguma coisa que eu deixei passar.

Aí fica no ar o seguinte: O pajé que fez a bebida sabia do efeito dela, certo? Sobre a bebida o Pirajuá disse: "foi feito por um velho pajé de longe, muito longe..." E pra saber o efeito da bebida ela certamente tinha que ter sido testada por alguém antes, certo? Então...
...tinha outros imortais andando por aí?! 8O8O8O8O8O "Quem bebe isto, um gole só, nunca mais morre." Na boa, só pude pensar na trilha sonora do Arquivo X. Será que o criador da bebida era alguém de sei lá, 5000 mil anos de idade ou algo assim?! Sinistro.
 
Outra coisa que me intriga no conto é a seguinte: o pajé ter dado o elixir para o homem branco seria uma maneira de ele garantir a imortalidade da sua tribo? Se fosse um indígena que tivesse bebido o elixir e sobrevivido ao massacre, provavelmente passaria o resto da vida como prisioneiro dos homens brancos que dizimaram a tribo. Capturado, ele seria vítima de uma tortura eterna por parte daqueles que iriam tentar descobrir o porquê de sua imortalidade. O homem branco, ao tomar o elixir, tornou-se, também, a pessoa responsável por manter a memória da tribo viva, imortal, e atualizada, sempre que contasse a história dela.
 
🤯🤯🤯🤯🤯
COM CERTEZA O MACHADÃO FAZIA ESSAS COISAS DE PROPÓSITO. 😵😵😵
É o tipo de nuance que a gente não vê logo de cara ao ler a história, só depois quando tá pensando nela a gente diz "mas peraí..." e depois de cinco segundos a nossa reação é tipo: "eita porra."
 
Sei que este tópico é sobre "O Imortal", mas só pra deixar registrado: acabei de ler os dois contos mencionados pela Clara anteriormente, "O Espelho" e "A Causa Secreta". Gostei mais do primeiro, o narrador faz as suas reflexões de um jeito bem leve apesar de serem profundas, sem ser excessivamente abstrato ou arrastado; achei bem interessante essa discussão sobre a alma interior e a alma exterior e qual dessas a pessoa acaba valorizando mais e reivindicando para si como o seu verdadeiro eu. Mas não creio que o que se aplicou ao personagem (Jacobina) possa ser aplicado de forma universal, acho que o resultado dessa reflexão seria diferente para cada pessoa pois
o Jacobina, ao menos na situação narrada por ele, se identificou mais com a alma exterior, o cargo ao invés do homem, a imagem que as pessoas tinham dele; como eu disse, de fato reivindicando aquilo como o seu verdadeiro eu, colocando a alma exterior acima da alma interior; porém, outras pessoas poderiam chegar e de fato chegam a um resultado diferente, a alma interior prevalecendo sobre a chamada alma exterior, realmente focando no ser humano como ele de fato é e deixando de lado qualquer possível coisificação de sua natureza.

O segundo conto eu não gostei muito; acho que de todos os que eu li do Machado esse foi de longe o mais macabro, e esse tipo de tema realmente não é do meu gosto. Mas concordo que de fato é uma história de terror, nada difícil de imaginar o Stephen King contando uma história parecida... mas provavelmente se passando no Maine no século XX ou XXI. Sou fã do King, entretanto. Menos quando ele decide ser nojentinho. Aí não.
 
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