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Clube de Leitura 5º Livro: Madame Bovary – Gustave Flaubert

Gabriel,

achei o Flaubert muito crítico com a Igreja no geral, talvez seja isso, mas passei batido nesse detalhe especifico. Parece que o autor não curte muito esses lances da igreja católica e a vida dos padres.

No primeiro capítulo da Segunda Parte, um dos personagens, o farmacêutico Homais, apesar de dizer que acredita em Deus, criticou várias crenças do catolicismo.
 
Bom, não sou nenhum professor de literatura, longe disso, não dava muito valor ao estudo da Literatura na escola, pois não caia no vestiba.
O que eu quero dizer é que a meses atrás fizemos o Clube da Leitura de Senhora do José de Alencar e frases buriladas eram com esse escritor do Romancismo brasileiro. O Flaubert parece mais um Alencar moderado e/ou um Machado de Assis exagerado, seria algo como um pré-realismo ainda com influências românticas... rsrsrs

Ai! "Alencar moderado", não!
Não compara o Flôbérr com o pénosaco do José de Alencar, pelamordideuz! :ahhh:

Na minha visão (a saber, entendo pouco ou quase nada de Literatura) José de Alencar é romanticamente rebuscado, enquanto que Flaubert está sempre em busca da precisão, para nos transportar, para fazer-nos "sentir na pele" o que o personagem está vivendo.
Sentir o calor do sol, o frio que penetra entre as frestas da roupa, o olhar (de amor, de ódio, de desprezo) que alguém lança em direção ao personagem, o cheiro das flores (ou do capim, ou de esterco) enquanto ouve uma revelação...

José de Alencar era aquela coisa de, mesmo em uma história interessante como "Senhora", escrever com o dicionário do lado e tacar em todos os parágrafos coisas como: "pantufas mimosas" no lugar de "chinelos delicados"; "brincos ridículos" em vez de "brincadeiras bobas"; "órgão da palavra viril" em vez de "boca masculina"; :gotinha: "aromática bebida dos poetas sibaritas" em vez de... café (!) e por aí vai .
 
Li os primeiros 6 capítulos da Segunda Parte, onde percebemos o crescente desespero de Emma com a vida que está levando em seu novo lar (incluindo o seu marido) e, como contraste, verificamos o amor que ela está sentido por Leon.

1- Descrição do Yonville-l'Abbaye e seus principais moradores: Homais, Lestiboudois, Binet, Bournisien e Lheureux;

2- Emma conhece Léon Dupuis, escrevente do advogado;

3- Emma dá a luz a Berta; visita-a na casa da ama com Léon;

4- Um jogo de cartas; amizade de Emma com Léon cresce, transformando-se em amor;

5- Emma está resignada com a sua vida;

6- Emma visita o padre Bournisien; Léon viaja a Paris.
 
Nos dois próximos capítulos dessa Segunda Parte, verificamos:

7- A mãe de Carlos proíbe Emma de ler; esta, que está muito triste desde a partida de Léon, acaba conhecendo Rodolfo Boulanger;

8- O comício sobre agricultura; Rodolfo planeja conquistar Emma e começa a por em prática o seu plano.

Achei muito interessante no oitavo capítulo a maneira que Flaubert alterna os discursos que ocorrem no comício e, ao mesmo tempo, o diálogo de Rodolfo e Emma, em que aquele começa a cortejar Madame Bovary.
 
Entrei aqui e a primeira coisa que vi foi, spoilers. :ahhh:
Aí acionei mecanismo [ignora]. Uffa!

Acho o Charles medíocre mesmo.
Mas não quero falar mais porque já conheço a história mas assim, quando li pela primeira vez não senti empatia nenhuma por ele. =/
Considerando que o Carlos nunca opina a nada ou manifesta sua própria vontade, exceto quando decidiu casar-se com Emma, e até nisso estou pensando...
Mas ainda tenho mais apreço a ele que a Emma. Sim, lamentações de sonhos idealizados que não deram certo me dão nos nervos, claro que até o fim do livro posso vir aqui e quotar esse post mudando de ideia.
Ex: Tem um capítulo que ela fala do Charles não ser um bom marido, pois não ensina os mistérios da vida, blá, blá, bla. Ela tinha perguntado algo sobre cavalos.

Resumindo, pra mim, hoje, Emma é idiota por usar a inteligência como motivo de sua infelicidade.


Post duplo para comentar mais um pouco.

Sobre as leituras da Emma. Há as que são mencionadas e as que ficam subentendidas também.

  • Paulo e Virgínia (1787) de Bernardin de Saint-Pierre - A primeira obra citada. Normalmente incluído no pré-romantismo, trata dos amores de duas crianças enquanto se tornam adolescentes nas Ilhas Maurício, que moram com suas mães, o escravo Domingo e o cão Fiel (há um episódio em que Virgínia se perde e Paulo vai com Fiel atrás dela na noite). Mais ou menos como A Lagoa Azul =P. Uma tia nobre de Virgínia a convida para ir morar com ela e receber educação na França. Ela vai, mas não suporta o ambiente "civilizado" de Paris e foge de volta para a ilha só para morrer no naufrágio do navio que a levava na chegada ao porto, durante um furacão, com Paulo assistindo a tudo desesperado à beira-mar...
Credo, quanto drama.

Adoro a escrita do Flaubert, exatamente por isso!
A precisão em descrever as situações, o clima, o ambiente.
Lima Barreto também é assim, por isso gosto das histórias dele também. :yep:
Gosto muito desse estilo de escrita. Algo mais detalhado, lento e que o ritmo de leitura, ao invés de ser algo a parte, também faça parte da composição do cenário.


Desculpem o comentário corrido, só pude ler parte dos posts, comento mais no fim de semana, que provavelmente sobrará tempo. =]
 
Última edição:
Mas ainda tenho mais apreço a ele que a Emma. Sim, lamentações de sonhos idealizados que não deram certo me dão nos nervos, claro que até o fim do livro posso vir aqui e quotar esse post mudando de ideia.
Ex: Tem um capítulo que ela fala do Charles não ser um bom marido, pois não ensina os mistérios da vida, blá, blá, bla. Ela tinha perguntado algo sobre cavalos.

Resumindo, pra mim, hoje, Emma é idiota por usar a inteligência como motivo de sua infelicidade.

Em primeiro lugar gostaria de dizer que acho Emma Bovary um dos personagens mais detestáveis da literatura mundial.
Ela é egoísta, cretina, antipática e, em muitas ocasiões, totalmente escrota.
E nada, repito, nada do que acontece (ou não acontece) com ela é desculpa pra tanta insensatez

Pronto.

Mas o que será que o Flaubert quis nos mostrar com um personagem tão detestável, e ao mesmo tempo tão digno de pena, como a madame Bovary?

Porque sim, eu fico com pena dela, às vezes.
Como quando ela fica encantada com o baile no castelo do Visconde (baile que, como o Jorge bem lembrou, vai ver nem era grande coisa) e depois pensando, com saudades, em retrospectiva: "Há uma semana eu estava lá...".
(É uma coisa que eu fazia muito quando era criança. =/ )

Fiquei com pena dela quando conhece o Leon e começa a se lamentar por não tê-lo conhecido antes.
E no entanto o Leon, pra mim pelo menos, é tão babaca e vazio.
Ele é como a Emma, vive os mesmos devaneios infantis da Emma, com uma diferença apenas (e que faz toda a diferença): ele é homem!

Acho que o Flaubert foi um dos primeiros escritores feministas.
Ou pelo menos um dos primeiros a descrever a mulher como um ser humano de verdade (não a deusa bela e pura, a sofredora calada) e a observar o quanto a sociedade impõe limitações ao sexo feminino.

Ao mesmo tempo inerte e flexível, a mulher tem a seu desfavor as fraquezas da carne e as dependências da lei. Sua vontade, como o véu do chapéu retido por uma fita, palpita ao sabor de todos os ventos; sempre há algum desejo que arrasta, alguma conveniência que retém.

Perfeito.
 
Última edição:
Nos próximos capítulos da Segunda Parte verificamos:

9- Seis semanas mais tarde Rodolfo regressa e os dois saem a cavalo; ele a seduz e o caso começa;

10- Emma encontra Binet no caminho, Rodolfo fica nervoso; uma carta de seu pai faz Emma se arrepender do caso que tem;

11- Operação no pé torto de Hipolito realizada por Carlos Bovary, que mostra-se mal sucedida; Canivet tem que amputar a perna; Emma volta a ficar com Rodolfo;

12- Extravagâncias de Emma; ela briga com a mãe de Carlos; os dois amantes planejam fugir

Para mim Emma mostra-se interesseira, pois quando seu marido, aparentemente, consegue sucesso com a operação que realiza em Hipólito, ela volta a ficar bem com Carlos; no entanto, após verificar que, ao contrário, a cirurgia foi um enorme fracasso, passa a ter novamente ódio de seu marido e, com isso, aumenta a vontade de partir com Rodolfo.
 
Terminei a Segunda Parte, com os últimos três capítulos:

13- Rodolfo se arrepende e foge; Emma, que recebeu uma carta de despedida de Rodolfo, cai gravemente doente ao vê-lo sair da cidade;

14- Carlos é assolado por dívidas; Emma fica excessivamente religiosa; Homais e Bournisien discutem, sendo que aquele consegue convencer Carlos a ir com sua esposa à ópera;

15- Emma encontra Léon no teatro de ópera.

Nesse final de parte vemos o quanto Emma foi ingênua em acreditar em Rodolfo e quanto este foi canalha ao enganá-la.
 
Estou no capítulo 6 da segunda parte (atrasado com o cronograma, eu sei :osigh:) rindo dos amores adolescentes de Emma e Leon. Não sei quem é mais adolescente. É como a Clara falou:
E lendo os primeiros capítulos vejo como, no começo, ela era ingênua. Mas também, era praticamente uma criança, ou melhor, uma adolescente, só que naquele tempo não devia existir "o adolescente" como vemos hoje.

Na verdade ela passou do convento ao casamento sem muita experiência na vida, né? O casamento se tornou uma prisão.

Mas acho a identificação entre os dois bonita, tenho que admitir. O que vocês acham: eles são hipersensíveis ou os outros é que são insensíveis demais? Ambos se acham presos a um mundo de mediocridade e de pessoas insossas. Leon ridiculariza a mulher de Homais, Emma acusa Charles de não perceber seu sofrimento. Aliás, a mulher de Homais é bem humana ao contrário de Emma (do que ela tenta parecer), não é? Ela aparece desarrumada na frente de Leon, por exemplo, enquanto Emma se esconde.

O Leon parece ser tudo o que o Charles não é também: um artista, um poeta, em uma palavra, um romântico! Aliás, o romantismo dos dois é bem ridicularizado em algumas cenas, como na primeira conversa deles sobre montanhas, o mar, o ideal... Depois quando Leon declama poesia e alguém bate um dominó na mesa, coitado... Coisas assim.

A ver se termino a segunda parte e começo a terceira nesse fim de semana.
(Spartaco, não estou colocando as notas, porque não eram tantas assim também, desculpe. Mas se surgir alguma coisa interessante trago).
 
Começamos a Terceira Parte:

1- Emma e Léon conversam; eles se encontram na catedral de Rouen e, após, saem de carruagem pelas ruas da cidade;

2- Emma vai a casa de Homais, onde recebe a notícia da morte do pai de Bovary;

3- Ela visita Léon em Rouen; lá passam três dias de idílio amoroso.

No início da última parte, Flaubert nos apresenta de uma forma sui generis como ocorreu o primeiro encontro amoroso entre os dois amantes. Achei bem interessante.
 
Estou no capítulo 6 da segunda parte (atrasado com o cronograma, eu sei :osigh:) rindo dos amores adolescentes de Emma e Leon. Não sei quem é mais adolescente.

Na verdade ela passou do convento ao casamento sem muita experiência na vida, né? O casamento se tornou uma prisão.

E acho que todos os casamentos eram assim naquela época.
A primeira mulher do Charles é que talvez tenha sido a exceção, por ser mais velha.


Mas acho a identificação entre os dois bonita, tenho que admitir. O que vocês acham: eles são hipersensíveis ou os outros é que são insensíveis demais? Ambos se acham presos a um mundo de mediocridade e de pessoas insossas. Leon ridiculariza a mulher de Homais, Emma acusa Charles de não perceber seu sofrimento. Aliás, a mulher de Homais é bem humana ao contrário de Emma (do que ela tenta parecer), não é? Ela aparece desarrumada na frente de Leon, por exemplo, enquanto Emma se esconde.

O Leon parece ser tudo o que o Charles não é também: um artista, um poeta, em uma palavra, um romântico! Aliás, o romantismo dos dois é bem ridicularizado em algumas cenas, como na primeira conversa deles sobre montanhas, o mar, o ideal... Depois quando Leon declama poesia e alguém bate um dominó na mesa, coitado... Coisas assim.

:lol:
Acho engraçado isso, o dominó é meio que um tapa na cabeça dos dois, como dizendo "acordem pra vida, bocós!".
É nessas horas que tenho pena da Emma, ela quer viver e se apaixonar e encontrar homens como os dos livros.
E isso não existe.
(Que o digam todas aquelas mulheres, desde o século XVIII, que se apaixonaram pelo Mr.Darcy de "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen. :hahanao: )

Mas parece que ela não quer admitir isso, acha que merece viver uma fantasia.
E é aí que vemos todo o egoísmo da moça.

Isso fica bem claro quando ela, nos primeiros dias do casamento, arrumava a casa e orientava os criados, se embelezava e se vestia bem, e tudo isso não era pra agradar ao marido (ele achava que era, coitado) era pra viver um sonho de ter a própria casa, os criados, como se fosse a dama de um romance.

Quando ela foi buscar a filha naquele lugar horroroso onde a bebezinha era criada, não era por amor à criança.
Era pra se mostrar comprando roupinhas e vestindo a menina como boneca. Era pra mostrar status.

Tudo o que a Emma faz é para deleite dela própria.
Não a vejo amando nem se preocupando com ninguém.
O próprio Leon, ela "se apaixona" por ele quando percebe que ele está apaixonado por ela.
E quer "encaixá-lo" em uma história de amor que parece só existir na cabeça dela. =/
 
Sobre o feminismo de Flaubert que a Clara citou, tem uma outra coisa que é mencionada pela mãe de Charles. A frase dela (parte 2, capítulo 7) é mais ou menos:
Se ela se visse como tantas outras forçada a ganhar seu pão, ela não teria esses 'vapores' que ela tira das ideias que coloca na cabeça, e do estado de ócio em que ela vive" e que a cura dela seriam "trabalhos manuais".

Ou seja, há um elemento de classe aqui. Isso aparece também na discussão com o padre Bournisien (capítulo 6). Por ser a mulher de um burguês, Emma que "tem tudo" (comida e conforto), não tem nada para fazer/não faz nada. Sua ocupação é mandar na criada para cuidar da casa. Nem cuidar da filha quando nasceu, ela não cuidou. Se ela fosse pobre, teria que trabalhar e não teria tempo para "idealizações". Por outro lado, e se ela fosse nobre, será que a vida dela seria diferente?

Acho que o que Flaubert faz aí é criticar a situação da mulher burguesa nessa sociedade. Aparentemente ela não tem lugar próprio que não o de dona de casa, mãe e esposa. Se ela tem outra aspiração, não tem como alcançá-la.

Talvez a gente possa ver aí também mais uma crítica à arte romântica destinada só a pessoas ricas, que tem tempo livre para ela, ou ainda à arte como um todo que continua distante do "povo" desde o Renascimento, só mudando no século XX com as indústrias culturais. Viajei demais?

Isso fica bem claro quando ela, nos primeiros dias do casamento, arrumava a casa e orientava os criados, se embelezava e se vestia bem, e tudo isso não era pra agradar ao marido (ele achava que era, coitado) era pra viver um sonho de ter a própria casa, os criados, como se fosse a dama de um romance.

Quando ela foi buscar a filha naquele lugar horroroso onde a bebezinha era criada, não era por amor à criança.
Era pra se mostrar comprando roupinhas e vestindo a menina como boneca. Era pra mostrar status.

Tudo o que a Emma faz é para deleite dela própria.
Não a vejo amando nem se preocupando com ninguém.
Ela é mesmo muito ensimesmada e egoísta. Não se preocupa com a felicidade de Charles, nem vê, por exemplo, o sofrimento dele com a "doença" dela (fiquei com pena quando ele chora), não se preocupa com a felicidade da filha...

Ela está sempre buscando a felicidade em outro lugar, longe. Paris, o baile (distante no tempo também), os lugares citados pelo sogro: Berlim, Viena, Estrasburgo (parte 2, capítulo 3)... Quando o Léon estava perto, ela vivia em fantasias, quando ele viaja, ela se arrepende de não ter feito nada e vive de recordações. Ela nem tenta ser feliz com o que tem
 
Última edição:
Ou seja, há um elemento de classe aqui. Isso aparece também na discussão com o padre Bournisien (capítulo 6). Por ser a mulher de um burguês, Emma que "tem tudo" (comida e conforto), não tem nada para fazer/não faz nada. Sua ocupação é mandar na criada para cuidar da casa. Nem cuidar da filha quando nasceu, ela não cuidou. Se ela fosse pobre, teria que trabalhar e não teria tempo para "idealizações". Por outro lado, e se ela fosse nobre, será que a vida dela seria diferente?

Acho que o que Flaubert faz aí é criticar a situação da mulher burguesa nessa sociedade. Aparentemente ela não tem lugar próprio que não o de dona de casa, mãe e esposa. Se ela tem outra aspiração, não tem como alcançá-la.

Talvez a gente possa ver aí também mais uma crítica à arte romântica destinada só a pessoas ricas, que tem tempo livre para ela, ou ainda à arte como um todo que continua distante do "povo" desde o Renascimento, só mudando no século XX com as indústrias culturais. Viajei demais?

Não acho que você viajou, não.

Eu não tinha pensado nesse negócio de a arte destinada só aos ricos.
A crítica do Flaubert à sociedade burguesa e a situação da mulher eu já tinha me ligado.

Mas faz todo sentido que se a Emma fosse uma pobre que tem que trabalhar, não viveria esses devaneios.
Porém acho que isso não aconteceria porque se ela fosse pobre, naquela época, não teria acesso a livros mas não porque não tivesse tempo, mesmo sendo uma trabalhadora braçal ela arranjaria momentos pra algumas "escapadas sonhadoras", eu acho. =/
Veja o caso da empregada adolescente que a Emma arruma e que pega um punhado de açúcar todas as noites, pra comer antes de dormir.
Não é por fome que ela faz isso (imagino que tenha o que comer na casa do Dr Bovary) porque ela faz isso senão como uma forma de escapismo de sua vida tão dura e vazia?
Ela não estaria literalmente "adoçando sua vida" um pouco?

Vou pensar mais um pouco depois volto a escrever aqui.
Porque estou pensando na outra discussão que tivemos de Mme.Bovary (no Meia Palavra) e de que alguém comparou este livro com Primo Basílio (Eça de Queiroz) que também parte dessa ideia, mulher burguesa que lê histórias românticas e resolve "viver" um desses romances com o primo do título. :yep:
 
O canal Arte 1 vai começar hoje a passar uma mini-série, feita em 2000, baseada no romance que estamos lendo, Madame Bovary. Alguem tem conhecimento sobre tal série?
 
Última edição:
Não conhecia, Spartaco, mas tem umas informações no site do canal. Já tinha visto? Parece que vai passar todos os dias essas semana. Bem que eu tinha pensado que Madame Bovary não daria um bom filme, só uma boa série... São muitos detalhes.

Bom, terminei a segunda parte! Muitas coisas para comentar:
Achei muito interessante no oitavo capítulo a maneira que Flaubert alterna os discursos que ocorrem no comício
e, ao mesmo tempo, o diálogo de Rodolfo e Emma, em que aquele começa a cortejar Madame Bovary.
Também adorei essa alternância de "discursos". A gente vê bastante isso em obras modernistas. Acho que com isso ele quis mostrar o vazio de ambos, a conversa furada. O Rodolfo nessa parte fala como um livro, como um artista romântico, se dizendo perseguido pela sociedade, exatamente o que Emma queria ouvir... Engraçado que, mais pra frente, quando ela fala assim, "cheia de paixão" (feito a doida que ela é), para ele é algo vazio, que ele já viu várias vezes antes. É como se fosse um Romantismo vulgarizado, decorado, e ele não acredita.

O que vocês acharam da figura do Rodolfo? Ele amou ela de verdade em algum momento? Ele me pareceu um conquistador Casanova barato... Também fiquei impressionado com a rapidez com que a Emma esqueceu seu "amor" por Léon... Então tanto poderia ser o Rodolfo quanto o Léon quanto qualquer um outro? O que ela quer é fugir. Não importa com quem, né?


Nos próximos capítulos da Segunda Parte verificamos:

11- Operação no pé torto de Hipolito realizada por Carlos Bovary, que mostra-se mal sucedida; Canivet tem que amputar a perna; Emma volta a ficar com Rodolfo;

Para mim Emma mostra-se interesseira, pois quando seu marido, aparentemente, consegue sucesso com a operação que realiza em Hipólito, ela volta a ficar bem com Carlos; no entanto, após verificar que, ao contrário, a cirurgia foi um enorme fracasso, passa a ter novamente ódio de seu marido e, com isso, aumenta a vontade de partir com Rodolfo.
Acho que a Clara deve concordar. Mas será só interesse? Parece que a carta do pai teve uma influência, bem como o arrefecimento das paixões com Rodolfo e (aqui entra o interesse talvez) a possibilidade de sucesso e fama do marido. Fiquei bastante triste por ela não ter tido compaixão dele no momento em que mais precisou. Que tipo de mulher vive com o homem por três-quatro anos e não consegue nem ter compaixão dele? =/ Aff... Assim fica difícil defender a Emma...

Uma coisa que não parece existir no casamento dos dois é diálogo, o que nos é mostrado de maneira irônica no capítulo 12, na parte dos sonhos de cada um. Charles tem um sonho de felicidade caseira: é ver a filha crescer e a mulher envelhecer com ele. Ela sonha em fugir para países exóticos, para viver na beira da praia, quando é interrompida pela tosse da filha (aliás, ela nunca considera a filha no sonho...).

Uma pergunta que fica: o Charles tem culpa por ser traído? É verdade que ele praticamente joga a mulher nas mãos dos outros? Seria excesso de confiança? Inocência?


Terminei a Segunda Parte, com os últimos três capítulos:
13- Rodolfo se arrepende e foge; Emma, que recebeu uma carta de despedida de Rodolfo, cai gravemente doente ao vê-lo sair da cidade;
Será que o Rodolfo se arrependeu mesmo? Acho que ele nunca esteve tão disposto a seguir os planos da doida da Emma. E quanto a essa doença? Não é muita doença por muito pouco não? Acho que ela sofre de depressão, né? (A Clara discorda? =P) Já desde antes de eles se mudarem para Yonville eu achava isso. Depois os sintomas voltaram com a partida de Léon e aí com o Rodolfo de novo, mais intensos.
 
Última edição:
Não conhecia, Spartaco, mas tem umas informações no site do canal. Já tinha visto? Parece que vai passar todos os dias essas semana. Bem que eu tinha pensado que Madame Bovary não daria um bom filme, só uma boa série... São muitos detalhes.

O que vocês acharam da figura do Rodolfo? Ele amou ela de verdade em algum momento? Ele me pareceu um conquistador Casanova barato... Também fiquei impressionado com a rapidez com que a Emma esqueceu seu "amor" por Léon... Então tanto poderia ser o Rodolfo quanto o Léon quanto qualquer um outro? O que ela quer é fugir. Não importa com quem, né?

Mas será só interesse? Parece que a carta do pai teve uma influência, bem como o arrefecimento das paixões com Rodolfo e (aqui entra o interesse talvez) a possibilidade de sucesso e fama do marido. Fiquei bastante triste por ela não ter tido compaixão dele no momento em que mais precisou. Que tipo de mulher vive com o homem por três-quatro anos e não consegue nem ter compaixão dele? =/ Aff... Assim fica difícil defender a Emma...

Uma pergunta que fica: o Charles tem culpa por ser traído? É verdade que ele praticamente joga a mulher nas mãos dos outros? Seria excesso de confiança? Inocência?

Será que o Rodolfo se arrependeu mesmo? Acho que ele nunca esteve tão disposto a seguir os planos da doida da Emma. E quanto a essa doença? Não é muita doença por muito pouco não? Acho que ela sofre de depressão, né?

Jorge, são muitas as questões, as quais, como tudo na vida, podem ter várias respostas.

1) Não conhecia a mencionada série que, para mim, não começou bem, pois ficou sem aparecer a infância de Carlos, os seus estudos, o primeiro casamento, etc. Assim, acho que fica difícil tentar extrair a personalidade deste personagem.

2) No tocante ao personagem Rodolfo, tudo leva a crer que ele agiu como Don Juan, ou seja, apenas tentando obter mais uma conquista.

3) Para mim foi claramente por interesse que Emma quis tentar dar uma chance ao seu marido Carlos, pois achou que ele estava tendo sucesso em sua nova empreitada e poderia, desta maneira, tirar proveito disso.

4) Em minha opinião não há apenas culpa de Carlos pelas traições de Emma, mas é obvio que ele também tem sua parcela no que acaba ocorrendo, pois em seu relacionamento conjugal, Carlos se mostra alheio a todos os anseios de sua esposa, ficando quase que exclusivamente voltado para a sua profissão.

5) Por fim, creio que Rodolfo se arrependeu sim, mas de ter levado muito longe o seu relacionamento com Emma e, assim, ter ficado difícil o rompimento, que, de certa maneira, originou nela uma forte depressão.

Bom, por enquanto é isso; essas são minhas ilações quanto às questões colocadas.
 
Continuando a Terceira Parte:

4- Ela recomeça as fictícias "lições de piano", às quintas-feiras, quando ela, na verdade, se encontra às escondidas com seu amante;

5- Continuam os encontros com Léon; Emma começa a mexer nas contas de seu marido, conseguindo dele procuração;

6- Emma torna-se visivelmente ansiosa, sendo que as dívidas acabam ficando fora de controle.

Uma das coisas que me chamaram a atenção nessa parte do enredo foi o personagem L'Heureux, que abusa da ingenuidade de Emma para atingir seus objetivos, não tendo nenhum remorso dos meios que utiliza para tanto.
 
Também adorei essa alternância de "discursos". A gente vê bastante isso em obras modernistas. Acho que com isso ele quis mostrar o vazio de ambos, a conversa furada. O Rodolfo nessa parte fala como um livro, como um artista romântico, se dizendo perseguido pela sociedade, exatamente o que Emma queria ouvir... Engraçado que, mais pra frente, quando ela fala assim, "cheia de paixão" (feito a doida que ela é), para ele é algo vazio, que ele já viu várias vezes antes. É como se fosse um Romantismo vulgarizado, decorado, e ele não acredita.

O que vocês acharam da figura do Rodolfo? Ele amou ela de verdade em algum momento? Ele me pareceu um conquistador Casanova barato... Também fiquei impressionado com a rapidez com que a Emma esqueceu seu "amor" por Léon... Então tanto poderia ser o Rodolfo quanto o Léon quanto qualquer um outro? O que ela quer é fugir. Não importa com quem, né?

Não acho que ele se apaixonou pela Emma, não.
Pro Rodolfo conquistar mulheres era quase um esporte, a Emma foi só mais uma.

E quanto a Emma, ainda acho que ela não "ama" ninguém de verdade, mas acredito que ela foi bem ingênua nessa história do Rodolfo.
Não me lembro de ter lido um livro que tenha me feito sentir tanta raiva e pena de um personagem, ao mesmo tempo, como sinto pela Emma Bovary.
Assim, ela é patética se a gente for pensar bem. =/



Uma coisa que não parece existir no casamento dos dois é diálogo, o que nos é mostrado de maneira irônica no capítulo 12, na parte dos sonhos de cada um. Charles tem um sonho de felicidade caseira: é ver a filha crescer e a mulher envelhecer com ele. Ela sonha em fugir para países exóticos, para viver na beira da praia, quando é interrompida pela tosse da filha (aliás, ela nunca considera a filha no sonho...).

Uma pergunta que fica: o Charles tem culpa por ser traído? É verdade que ele praticamente joga a mulher nas mãos dos outros? Seria excesso de confiança? Inocência?

Será que o Rodolfo se arrependeu mesmo? Acho que ele nunca esteve tão disposto a seguir os planos da doida da Emma. E quanto a essa doença? Não é muita doença por muito pouco não? Acho que ela sofre de depressão, né? (A Clara discorda? =P) Já desde antes de eles se mudarem para Yonville eu achava isso. Depois os sintomas voltaram com a partida de Léon e aí com o Rodolfo de novo, mais intensos.

Mas será que existia diálogo entre os casais daquela época?
Acho que não.
Os casamentos eram praticamente arranjados (pelo padre da paróquia, pelo salsicheiro, lembra do começo?) então era uma coisa acho que meio automática: se casar com quem era mais conveniente, ter filhos, envelhecer (o que devia acontecer quando? acho que alguém com 50 anos já era considerado idoso, não?) de maneira que não existia esse negócio de "discutir a relação", a mulher reclamar que se sente "sufocada" no casamento e essas viadagens todas que só apareceram no mundo burguês acho que na metade do século XX.

É por isso que Mme Bovary é um livro fora de série.
Imagina essas coisas sendo ditas naquela época, uma mulher que não aceita sua condição, que tenta sair da vidinha medíocre que leva.
É certo que a Emma é uma paspalha metida e escrota, mas não tem como negar que ela estava à frente do seu tempo.
Ou melhor, acho que o Flaubert é que estava à frente de seu tempo. :yep:

E não, não acho que o Charles é culpado por a Emma tê-lo transformado em um fura-fronhas.
Ele está inserido em sua época e sociedade, é uma marido "genérico" digamos assim.
A Emma é que tem fogo na periquita e age como deviam agir muitos homens de sua época (e de épocas posteriores) só que pra eles isso era normal, pras mulheres não era, e não é até hoje se a gente for pensar bem. =/
 
Última edição:
É por isso que Mme Bovary é um livro fora de série.
Imagina essas coisas sendo ditas naquela época, uma mulher que não aceita sua condição, que tenta sair da vidinha medíocre que leva.

... acho que o Flaubert é que estava à frente de seu tempo. :yep:

Com toda a certeza. Assino embaixo.
 
Terminei o livro. Nos últimos capítulos da Terceira Parte:

7- Emma pede dinheiro a várias pessoas, Léon entre elas;

8- Emma vai até Rodolfo para pedir ajuda, mas este diz que não pode ajudá-la; ela toma arsênico; a ajuda de vários médicos de nada adianta e Emma morre;

9- Preparativos para o funeral de Emma; chegada de Rouault, que fica incosolável;

10- O funeral de Emma;

11- Charles descobre as traições de Emma e morre; Berta vai morar primeiro com a avó paterna e depois com uma tia, tendo que trabalhar para seu sustento; Homais é condecorado.

O que mais me deixou intrigado nesse final foi a morte de Carlos Bovary; será que foi de tristeza ou de raiva após ter descoberto as traições de sua esposa? Fica aí a minha pergunta.
 

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