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Sobre uns resenhistas por aí

DiegoMP

Usuário
Num tempo em que os canais no Youtube e perfis no Instagram floreceram sobre o túmulo dos blogs literários, talvez a única coisa que persista em outra plataforma sejam os guerreiros do newsletter, que em geral tem uma periodicidade sofrível, e um ou outro solitário escrevendo coluna em algum grande veículo de mídia.

Tem um nicho antigo que já existia lá na época do blog, de forma um pouco tímida, mas que persiste bravamente hoje em dia, sem muito sinais de estar em fase final de vida, que é o resenhista de loja virtual ou comunidade de livro (goodreads, skoob e por aí vai).

Criei esse tópico pra falar de duas pessoas em específico, o Arsênio e a Leila. Da história do Arsênio eu já sabia há algum tempo, e já havia topado com as resenhas da Leila por aí, ontem por curiosidade aleatória fui buscar as últimas avaliações dela e não encontrei nada recente, buscando um pouco mais vi que a história se repetiu.

Sobre a Leila. Ela residia em Jundiaí, era aposentada, e não precisa ir muito longe na Amazon que a gente já cai em alguma avaliação dela, em geral destoando da média e muito bem escrito, não à toa ela era avaliada como resenhista número 1 na versão BR da loja. Ela tinha uns 60 e tantos anos, e levava esse ato de resenhar quase como ofício. Já saiu, até onde encontrei, por duas vezes na mídia em decorrência disso, uma no G1 e outra na Folha, vale a leitura de ambas. Ela tinha colangite esclerosante e realizou um transplante hepático há uns anos, quando então foi afastada do serviço e se dedicou a ler e escrever sobre livros por aí. Tinha cerca de 5mil livros quando ganhou um kindle em 2012 e mais de metade da biblioteca virou doação. Faleceu no ano passado, buscando nas resenhas dela é fácil encontrar algum comentário elogioso ou notando sua ausência.

G1: https://g1.globo.com/sao-paulo/soro...-mil-obras-de-graca-em-site-meu-trabalho.html
Folha: https://www1.folha.uol.com.br/ilust...1348-livros-de-loja-on-line-em-mil-dias.shtml

Sobre o Arsênio. Ele tinha 48 anos, era advogado mas com um pé na vontade de fazer Letras. Residia em Recife e amava o Sport Clube e literatura, em especial poesia. Lá no Skoob o Arsênio conta com 278 resenhas, 1.770 livros lidos, 9 lendo e mais uma milha de livros na seção “quero ler” (como todo bom leitor que se preze). Tanto no gosto quanto na qualidade das resenhas o Arsênio é um ponto fora da curva, a gente percebe isso fácil vendo como o pessoal interagia com as avaliações dele lá pela comunidade. O Arsênio faleceu tem 3 anos, morreu na sua biblioteca, até onde apurei sofreu um infarto. Na época, um dos livros que lia era o Grande Sertão: Veredas, em um comentário rápido lá no skoob escreveu “este livro não pode ter fim, é isto”. Tal como a Leila, é curioso notar como as avaliações tocam as pessoas e a galera ao sentir falta se manifesta através dos comentários.

Página cinco: https://entretenimento.uol.com.br/c...ua-morte-desafia-o-tempo-numa-rede-social.htm

Enfim, só isso. Achei que valia trazer o nome deles por aqui. Por um mundo com mais Leilas e Arsênios.
 
O Arsênio eu não conhecia porque não leio resenhas no Skoob; mas a Leila morreu? Eu a via comentado no Facebook de um conhecido (acho que do Daniel Dago)... E, claro, já tinha topado muitas resenhas dela na Amazon, por isso mesmo a reconheci no FB, quando a vi com o mesmo avatar. 🥺
 
O Arsênio eu não conhecia porque não leio resenhas no Skoob; mas a Leila morreu? Eu a via comentado no Facebook de um conhecido (acho que do Daniel Dago)... E, claro, já tinha topado muitas resenhas dela na Amazon, por isso mesmo a reconheci no FB, quando a vi com o mesmo avatar. 🥺

Béla, faleceu sim. Estranhei a pausa longa nas publicações dela. Aí fui atrás e vi esse link aqui.
 
Descobri sobre o falecimento da Leila esses dias. Uma pena. Já era uma tradição ir nas resenhas do Skoob e Amazon para saber mais sobre um livro e encontrar alguma resenha dela por lá.
 
Que tópico bacana, @DiegoMP !

Os relatos sobre a Leila e o Arsênio me fizeram pensar nesse mesmo Forum Valinor e nas ausências sentidas que temos por aqui. Esse Fórum é também um espaço de memória, que registra as opiniões, as visões de mundo, os desabafos de gente que passou pelo mundo e deixou algumas garrafas ao mar. A propósito, o episódio do podcast Radio Novelo Apresenta, dessa semana, é um pouco sobre isso...

Por incrível que pareça, outro dia topei nessa resenha do Arsênio, sobre uma antologia da Cecília Meireles. Não conhecia o resenhista, mas bem...

Basta um relancear de olhos pra saber que é uma resenha MUITO acima da média do que costumamos encontrar no Skoob, né? Deixo o texto dele falar por si:

A eterna Poesia do que é efêmero

É lugar comum que a perda traz uma dor inquestionável. E mais: resgata a efemeridade do ser e sua incapacidade de dominar o tempo que escoa pela memória, a qual não deixa de ser criação ficcional os domínios da poesia e aqui já não há mais lugar comum algum, pois refiro-me ao temperamento melancólico e diáfano de umas das maiores poetas da língua portuguesa, Cecilia Meireles, presença garantida na "Coleção Melhores poemas" da editora Global, volumes que resgatam um quinhão valiosíssimo da poesia brasileira, por meio de antologias bem cuidadas e devidamente organizadas por quem de direito. Aqui, a antologia foi organizada e apresentada pela filha caçula da Poeta, a atriz Maria Fernanda.

Talvez nenhum outro poeta brasileiro, no tocante especificamente ao aqui exposto, tenha manejado as palavras de maneira dissonante para captar esse tempo que se esvai por ele mesmo, essa memória e paisagem que se confundem entre lembrança e criação, entre presença e esquecimento. E Cecilia jamais duvidou: "Quando as águas escurecem-te juro/ todos os barcos se perdem/ entre o passado e o futuro/ São dois rios os meus olhos/ noite e dia correm, correm." Os olhos, vistos pela cultura ocidental como portais da alma, trazem o pranto que é a água da dor e da tristeza, enquanto o barco é a solidão concretizada em objeto. Os olhos, o pranto e o barco compõem uma cena que eterniza o presente e manifesta o absoluto; que é o título, diga-se, de um dos seus livros mais festejados: "Mar Absoluto". Já os rios representam com suas correntezas a própria passagem do tempo. Para a poeta, entre o biológico e a tristeza como sintoma de um mal físico e psíquico, e o simbólico em relação à melancolia como busca de captura do efêmero, existe a catarse que o texto literário suscita.

Muito já se escreveu e foi cantado que a beleza é sempre triste e que o efêmero, provocador eminente da beleza, reflete o não domínio do ser diante do tempo. A efemeridade é na verdade a morte que se sofre a todo instante enquanto se vive. A perda é uma morte, o tempo é uma morte porque faz escorrer as coisas e o outro que se vão para sempre. Ler Cecilia é apreender lições neste sentido: O tempo era ríspido e amargo/ Vinha um negro vento do mar./ Tudo gritava, noite e dia/ e nunca ninguém ouviria/ aquele coração a chorar. Para Cecília, não existe nada que permanece mais do que uma lembrança no vento, a memória liga-se diretamente à sensação e a consciência de que toda experiência é efêmera, de que todas as coisas são efêmeras, e embora busque o eterno, ele é impossível. Nasce a angústia primeiramente, mas a melancolia derivada desta parece resolvê-la quando ela assume sua postura trágica diante do mundo porque diz sim à vida. O dizer sim à vida não elimina a compaixão e o pavor, mas vai além desses afetos e faz o ser: ser em si mesmo o eterno prazer do vir a ser esse prazer que traz em si também o prazer no destruir (NIETZSCHE in Ecco Hommo, como alguém se torna o que é. São Paulo: trad. Paulo César Souza, Companhia das Letras, 2004.)

Por isso, há uma corporização na poesia da dor e da tristeza; por isso Cecilia faz a noite e o dia ganharem bocas e gritar, porque o corpo e principalmente o rosto são o relógio mais vivo da efemeridade do tempo, os marcadores do íntima agonia que cada um de nós carrega ou carregará um dia, inevitavelmente.
 
Última edição:
Como boa pessoa desligada que sou — e como não frequento redes sociais de livros — não conhecia os resenhistas citados, mas achei lindos os comentários sobre eles.

Confesso que houve uma época em que lamentei a debandada dos resenhistas de blogues para o formato de vídeos, mas, atualmente, já me acostumei ao fato de que não se encontra mais resenha de nada (detalhe: estou falando de coisas em língua portuguesa, né? Não sei se isso se aplica aos trens de língua inglesa, porque não leio em inglês).​
 
Como boa pessoa desligada que sou — e como não frequento redes sociais de livros — não conhecia os resenhistas citados, mas achei lindos os comentários sobre eles.

Confesso que houve uma época em que lamentei a debandada dos resenhistas de blogues para o formato de vídeos, mas, atualmente, já me acostumei ao fato de que não se encontra mais resenha de nada (detalhe: estou falando de coisas em língua portuguesa, né? Não sei se isso se aplica aos trens de língua inglesa, porque não leio em inglês).​

tá bem difícil mesmo. e a gente se acostumou mal, porque no tempo dos blogs era uma coisa mais detalhada, mais caprichada. hoje em dia o que eu considero resenha por escrito na real é o equivalente de um post mais comprido aqui na valinor (eu leio lá no goodreads). e não bastou a mudança para vídeo (que já prejudicava um pouco, mas vá lá, tem vlogueiro que capricha e faz roteirinho legal e tudo o mais), agora está ainda pior. uma tendência que tenho notado (e me irrita um monte) é no instagram, por exemplo, o "resenhista" coloca uma foto cheia de firula do livro (ou uma foto lendo o livro), escreve um parágrafo que é basicamente o press release do livro e aí dá uma quantidade x de estrelas. ou quando tende mais para o comercial, uma foto do livro com flechinhas indicando que tipos de tropes você vai encontrar na história. é fueda.

***

vou deixar registrado que me emocionei um monte com o post inicial. é muito lindo ver pessoas deixando sua marca por aí. eu acho tão engraçado que a leitura é um hábito ao mesmo tempo solitário e social. você lê sozinho e a experiência que você tem de leitura é única. mas aí você compartilha essa experiência e encontra outras n pessoas que também foram tocadas por aquele livro, ou que foram atrás do livro por sua causa, etc. é lindo demais isso.
 
uma tendência que tenho notado (e me irrita um monte) é no instagram, por exemplo, o "resenhista" coloca uma foto cheia de firula do livro (ou uma foto lendo o livro), escreve um parágrafo que é basicamente o press release do livro e aí dá uma quantidade x de estrelas. ou quando tende mais para o comercial, uma foto do livro com flechinhas indicando que tipos de tropes você vai encontrar na história. é fueda.
Eu fico para morrer com o modelo de Censo de livros do Instagram. É isso aí que você falou: foto artística/alternativa/com iluminação pretensamente foda e um quê de profundidade de um pires com creme de estrelinhas. Ranço. Estou velha e rabugenta.​
 
Vi essa publicação no twitter e fiquei pensando neste tópico e no que a Anica disse. Saudade dessa internet dos blogs... A sensação era de clicar em uma página e encontrar um novo mundo! Mesmo para quem ainda se dá o luxo de manter um, a sensação de escrever uma nova publicação depois de muitos anos é sempre a de volta ao lar.

 

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