• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Resenhas: até que ponto elas são feitas com seriedade?

qdo autores e editoras começaram a me mandar livros pra resenhar, elaborei uma ética bem ordinária sobre resenhas. mas dae uma editora teve a ideia brilhante de me pedir para dar uma aliviada: se o livro fosse bom, q falasse bem dele, mas se fosse uma bela merda, bastava ficar calado. a parceria acabou depois q me enviaram 5 livros em 1 mês para eu resenhar e depois de lê-los respondi q ñ iria falar sobre nenhum e q isso seria mto melhor para eles.
 
Anica disse:
O contexto é importante, sim, até porque explica o que o resenhista está levando em consideração ao falar da obra. Em crítica literária é possível abordar diversos aspectos: o social, o histórico, o linguístico, etc. O problema é que muito resenhista de blog só considera o enredo, ou seja, se é uma história divertida (é bom) ou não (é ruim) ou ainda, se tem aquelas frases bonitonas que você até anota na agenda depois. Não consideram alguma inovação que tenha feito em estilo de narrativa, por exemplo. Aquela coisa, vc pode odiar James Joyce, mas não pode negar a importância dele para a literatura moderna - tem coisa que só se faz hoje em dia por causa dele.

Eu considero o contexto importante... mas como qualquer outra parte da obra, eu acho que sozinho não se sustenta... talvez eu tenha me expressado mal....
 
A discussão está ótima, gente. Mas eu gostaria de voltar à pergunta inicial:

Katrina disse:
Eu costumo ler resenhas (principalmente a de pessoas que costumam não utilizar spoilers) antes de me decidir a comprar um livro e mesmo quando as resenhas não são favoráveis, caso tenha ficado curiosa irei ler. Às vezes gosto de pagar para ler, pois é. Como diz um sábio provérbio popular, gosto é igual... e cada um tem o seu. Porque então tanto receio de alardear o seu gosto para os outros?
(grifo meu)

Katrina, há um detalhe que faz toda a diferença. Resenha é uma coisa e palpite é outra.

Lucas_Deschain disse:
As resenhas me chamam a atenção por te darem um norte na leitura, servindo até um certo ponto para quem não leu, como também para quem leu.

As resenhas que faço costumam ter uns parágrafos para inteirar o leitor em relação ao livro, principalmente sobre a estrutura da trama e detalhes internos da história (o que acabo sendo, de alguma forma, um incentivo para a leitura); e uns parágrafos de pós-leitura, com divagações, significados, leituras e questões que apreendi durante a leitura.

Mais didático impossível. O propósito da resenha não é alardear seu gosto para os outros; é situar o leitor. O problema é que há muita coisa sem qualidade por aí, autodenominado de resenha quando na verdade é mero palpite. Pescaldo já disse tudo.

Considerando isso, eu responderia a pergunta que encabeça o tópico ("até que ponto as resenhas são feitas com seriedade?") da seguinte forma: até o ponto em que não sejam feitas com amadorismo. Saiba diferenciar crítica de achismo, isso é muito importante. Em que o resenhista se baseia para dizer algo sobre o livro: a) em seu gosto ou b) em seu conhecimento? Se a resposta for a, é papo de boteco: interessante, talvez te aponte algo q vc nunca tinha pensado, mas é só parole parole e no dia seguinte não faz diferença nenhuma.

Pescaldo disse:
Fazer crítica sobre obra de arte exige um conhecimento imenso sobre uma pancada de coisa. Escrever um resuminho da história e dizer que não gostou porque o personagem A é meio irritante, o cara demora nas descrições e a capa do livro é azul-escuro com laranja-bebê é infantil.

É isso. De boas intenções a internet está cheia. =)
 
Já eu considero que o gosto de uma pessoa é formado por sua experiência e seu conhecimento, entre outros aspectos. A resenha é um texto que envolve a opinião de seu autor. E se ele realmente leu o livro, sua opinião não seria um palpite, e sim sua visão sobre a obra. Claro que quanto mais o autor conhecer sobre a obra resenhada, e ou sobre o nicho que a envolve (contexto histórico, características do autor etc) mais embasada será sua opinião, mas não acho que deixe de ser uma.
 
O gosto pessoal de uma pessoa é, obviamente, formado por sua experiência e conhecimento. Tem diversas coisas que eu aprendi a gostar durante meus anos de faculdade, enquanto que outras eu passei a desgostar. Kant fala bem sobre isso.

Porém, kika, é possível você dizer que uma obra literária é genial sem gostar dela nem um pouco. Gosto de usar o exemplo da minha namorada que é tão literata quanto eu e odeia Machado de Assis, mas acha o cara genial.

Por mais que achem que não, Crítica e Teoria Literária são ciências e têm um modus operandi que não se aprende facilmente.

E o palpite é uma coisa que se dá sem muito embasamento teórico sobre determinada coisa. É o leigo falando sobre algo que não entende. É uma opinião? Sim, mas uma opinião manca.
 
Não nego que seja possível. Mas uma opinião normalmente vai envolver gostos... se o cara colocar na resenha "Machado é genial por isso por isso e por aquilo e não gostei por isso e por aquele outro", continua sendo uma opinião, e vai falar do gosto da pessoa. Mas é que palpite é um achismo. E gosto, pra mim, não é achismo. É formado de várias outras coisas, e a pessoa sabe que gosta ou não gosta por um motivo específico, e não pq acha que não gostou pq não conhece Crítica literária. Palpite, em minha opinião, seria dizer: "eu acho que esse livro não presta porque nunca ouvi falar desse autor e a capa é horrível", sem dar chance ao texto...
 
Acho que entendi seu ponto de vista, Kika, entretanto penso diferente, mesmo não conhecendo teoria da crítica literária, rs. Quando vc não dá chance ao texto, vc não está sendo palpiteiro, está sendo é preconceituoso. Gosto é achismo? Não sei. Mas sei que um autor pode ser genial por inovar (ou usar com maestria) a estrutura narrativa, por exemplo, e isso é um fato. Mas eu posso achar isso tremendamente chato, e isso é um gosto. No meu entender, uma resenha de qualidade deve evidenciar fatos, não preferências. Enfim, sobre resenhas, esse é o meu gosto. :hihihi:
 
eu acho que por isso é importante explicar sempre o pq qdo se fala algo negativo (e positivo tb, ué). chegar e dizer "é bom" sem explicar, dá margem para essa questão: é bom tecnicamente? a história me divertiu? foi importante historicamente? etc. sempre deixando bem claro quando é levantado apenas o caráter subjetivo da coisa (e acreditem, literatura tb tem um caráter objetivo. do mesmo jeito que se alguém arranhar um violino vc sabe que aquilo não é boa música, dá para reconhecer o que não é um bom texto, certo?).
 
Falo como leitor. E 'resenho' como leitor.

Não tenho menor formação teórica (pretendo ter no futuro), mas acho um erro limitar apenas aos acadêmicos o privilégio da opinião. Só fala quem estuda.

Não gosto desse pensamento, até por que acredito demais que se determinado livro não chacoalha o espírito, não passará de um objeto interessante de estudo (como pra mim é Madame Bovary, um ótimo estudo sobre a sociedade, mas longe de ser uma obra de arte).

Uma coisa eu concordo e eu cheguei a escrever isso no post que fiz sobre o blogue da Izze lá no Sanduba. Muito se tem resenhado pela internet, e a impressão que fica, é que tudo, ABSOLUTAMENTE TUDO é de incrível qualidade - tanto no passado como no presente. Tudo é bom. Não tem um livro ruim sendo publicado? Eu duvido muito.
 
Eu também acho um erro limitar aos acadêmicos, principalmente porque tem muito conflito de ego nas instituições, mas prefiro restringir àqueles que tem conhecimento teórico sobre o assunto para emitir uma opinião com mais propriedade sobre os livros.

Penso que é uma questão do profissional que você busca pra coisas específicas. Se teu carro quebra, ou você quer uma opinião bem construída sobre o assunto, você vai procurar ou alguém que entende muito de mecânica, ou um mecânico que trabalha há anos nisso, não vai perguntar pra sua avó, por exemplo.

Assim como, se você quiser fazer uma boa faxina na casa e não sabe que produto utilizar, ou quer fazer aquela comidinha gostosa fodona, a autoridade que você vai buscar é a sua avó, que há anos entende disso, ou então um estudado no assunto sobre produtos de limpeza ou gastronomia.

A questão aqui é que quando se resenha apenas como um leitor, você se limita ao seu gosto particular e mesquinho. É a inundação eminente do grande mar que é a literatura que o leitor acaba se sujeitando como Bloom diz no Angústia da Influência.

Além disso, a maioria dos leitores comuns (que são a imensa maioria dos resenhistas de blogs) não entende uma poesia bem construída como, por exemplo, Maçã do Manuel Bandeira:

Por um lado te vejo como um seio murcho
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário
És vermelha como o amor divino.

Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente

E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.

Ou então esse poema, chamado Os Príncipes:

Tudo é inexistente, disseram os príncipes deitados na areia.
E veio o grande pálio aberto e se estendeu sobre o céu sem manchas.
Destroços, ruínas, podridões ameaçavam desabar.
E veio o lírio boiando brando e manso.
O mar ficou alto e agressivo,
Os barqueiros cantaram remando.
E tudo se encaminhou implacavelmente para a noite mais próxima.

Tudo é inexistente, disseram os príncipes deitados na areia;
Ninguém atingirá a última noite,
Porque virão sempre outras noites
E os mesmos pássaros ficarão espalmados no ar.
Mas os barqueiros tinham sêde
E correram com os príncipes.
Mas os barqueiros tinham fome e mataram os príncipes.

O lírio veio boiando docemente
E era a filha do rei
E era a única irmã dos príncipes mortos.
E o lírio ficou no sangue dos mortos como a gota de orvalho na rosa nascida.
Os barqueiros ficaram escravos do lírio
E o seguem de joelhos chorando no deserto.

Poesia é o maior grau de elaboração linguística que existe. Dessa forma, alguém que não entende poesia (ou não se sensibiliza com uma que seja), não está realmente apto a escrever sobre qualquer coisa literária.

Esse lance de absolutamente tudo ser de qualidade é justamente porque a imensa maioria não consegue fazer uma crítica, pois se baseia apenas na pouca experiência de leitor para escrever.

Como eu disse, a maioria se baseia nas experiências do Ensino Médio ou em fontes mais duvidosas como o gosto pessoal. Isso acaba caindo em declarações como essa de que Madame Bovary não é nada mais que um bom estudo sobre a sociedade e passa longe de ser obra de arte. Quando que é bem o contrário disso.

Como eu já falei diversas vezes em diversos lugares, o estudo da Arte é objetivo (por mais subjetivo que seja) já faz algum tempo, por isso é necessário um bocado de experiência pra se elaborar uma resenha decente.

Como eu já disse: ou você estuda alguns anos a fio em alguma universidade, ou você estuda por conta própria e vá ler a maioria dos clássicos literários.

Saber o enredo da maioria dos livros clássicos não lhe garante a experiência da obra porque a maioria desconhece técnicas narrativas, metrificação e coisas parecidas empregadas em sua composição.

Se a obra de arte, para ser criada, tem necessidade de elaboração contínua e incansável, por que os textos sobre elas não devem ter o mesmo nível de estudo?

Qualquer um pode palpitar e mostrar seus gostos, mas só os mais estudados podem estabelecer uma boa relação de causa e consequência relacionados dentro da obra.
 
A leitura é uma atividade essencialmente individual. A crítica literária não.

Se uma obra foi criada em algum contexto, por exemplo, época, seria um crítico com formação acadêmica o melhor indicador da qualidade dessa obra? Monteiro Lobato escreveu textos com conteúdo racista porque na época dele ainda não era politicamente incorreto. Um leitor pode então recorrer a: a própria obra em si, sem outras influências; críticas literárias da época da obra; críticas literárias atuais; ou conversar com gente mais velha que viveu com mais proximidade aquela realidade, independente da erudição que tenha.

A opinião fomenta o debate. Discutir livros faz da literatura uma atividade social. Falar mal é questão de gosto. Aceitar críticas de gente que não leu, ou só puxa saco porque ganha brindes pra falar bem, é uma atividade autodestrutiva. Mais cedo ou mais tarde, apenas críticas de qualidade sobrevivem. A não ser que se leia a crítica e não se leia a obra.

Quanto a objetividade, deixem esse trabalho para os computadores. Se quiserem analisar uma obra por critérios científicos, um computador com algoritmos manjados consegue detectar se uma obra é plágio ou não com maior precisão e imparcialidade que qualquer doutor.
 
Concordo que levar o contexto em que a obra foi escrita é muito importante para se avaliar um livro.

Mas nos blogs, principalmente, o objetivo é apenas falar do que o livro causou em ti, com teoria acadêmica ou não. Eu espero estudar literatura para poder falar de livros com mais propriedade. Mas respeito totalmente a opinião de leitor, baseada em seus gostos pessoais mesmo. Afinal, é o leitor quem importa. Ele é o consumidor final da cadeia do livro. É para ele que os livros são feitos. Quando um leitor sem conhecimento nenhum de teoria literária escreve um texto baseando-se em seus gostos pessoais, comparando com outras obras que leu, e explica bem porque gostou, porque não gostou, qual importância da obra que ele leu, que entende que todo livro teu seu papel nesse processo de leitura (seja de bom ou mau exemplo), bem, a opinião dele, para mim, vai ser tão importante quanto a de um doutor em letras.

E afinal, o conhecimento sobre técnicas de escrita, elaboração de enredo, e tudo o mais acaba vindo com o tempo, conforme a gente lê. Só não sabemos falar profundamente do que autor tal quis dizer com tal expressão e o que ela causou em tal época. Mas podemos entender sua importância.
 
lhrodovalho disse:
A leitura é uma atividade essencialmente individual. A crítica literária não.

Se uma obra foi criada em algum contexto, por exemplo, época, seria um crítico com formação acadêmica o melhor indicador da qualidade dessa obra? Monteiro Lobato escreveu textos com conteúdo racista porque na época dele ainda não era politicamente incorreto. Um leitor pode então recorrer a: a própria obra em si, sem outras influências; críticas literárias da época da obra; críticas literárias atuais; ou conversar com gente mais velha que viveu com mais proximidade aquela realidade, independente da erudição que tenha.

A opinião fomenta o debate. Discutir livros faz da literatura uma atividade social. Falar mal é questão de gosto. Aceitar críticas de gente que não leu, ou só puxa saco porque ganha brindes pra falar bem, é uma atividade autodestrutiva. Mais cedo ou mais tarde, apenas críticas de qualidade sobrevivem. A não ser que se leia a crítica e não se leia a obra.

Quanto a objetividade, deixem esse trabalho para os computadores. Se quiserem analisar uma obra por critérios científicos, um computador com algoritmos manjados consegue detectar se uma obra é plágio ou não com maior precisão e imparcialidade que qualquer doutor.

Justamente pela crítica literária não ser individual que esse mundaréu de resenhas sujeitas a uma medida completamente pessoal é nociva para se conhecer uma bora.

Um crítico literário pode fazer diversas abordagens possíveis para se analisar a obra, incluindo o contexto histórico. Eu geralmente não confio muito nesses críticos (incluindo aqui a maioria dos historiadores) por acharem que o contexto social da época é o único fator determinante da obra artística quando, ainda bem, é bem diferente.

Ninguém falou em plágio por aqui. Analisar uma obra de arte objetivamente não é tarefa de computador porque ela não se limita a analisar se é plágio ou não.

Aliás, duvido muito que um computador identificasse com precisão as obras que Machado e Shakespeare plagiaram, por mais avançado que ele fosse.
 
[align=justify]A objetividade e a subjetividade são assunto para discussões espinhosas, seja na História ou na Crítica Literária também, assim como deve o ser nas Ciências Humanas como um todo, justamente porque elas não são exatas.

Porém, não ser exata não quer dizer que se pode relativizar tudo. Creio que a objetividade de que o Pescaldo falou foi justamente em relação a isso, porque existem sim padrões, conceitos, teorias e estruturas que ajudam a entender uma obra literária ou um determinado evento histórico, mas isso não quer dizer que entendê-los passa por adequa-los a essas mesmas teorias. Isso limita e homogeniza, o que não ajuda em nada.

A objetividade e a subjetividade tem que ser postas em questão, refinadas para que delas se tire o melhor proveito, para que não tornemos as resenhas somente em "relatos da experiência individual" e possamos nos aproximar mais de uma análise que contemple também o relacionamento dessa Literatura com suas componentes culturais, literárias e históricas. O emaranhado de fatores, ligações, influências e aspectos que moldam a Literatura são complexos e diversos, o que, obviamente, não invalidade que sejam analisados, mas que requer atenção e reflexão. Essa atividade só tende a melhorar quanto mais a pessoa conhece Literatura, Teoria Literária, História etc., enfim, quanto mais seu arsenal intelectual lhe permitir analisar a obra sobre prismas diversos.

Vamos continuar esse debate.[/align]
 
Nunca escrevi uma resenha na minha vida, nem, a bem da verdade, tenho baseado minhas opções de compras e leituras nelas, pelo que não sou o mais indicado a opinar.

Contudo, parece-me claro que algum grau de insinceridade sempre há de existir em uma resenha. Há aqueles que têm receio de contrariar o gosto dominante do momento e há aqueles que adoram ser "do contra". Em meu ver, nenhum dos dois está sendo absolutamente fiel à sua visão e a seu sentimento frente à obra.

Acho, ainda além, que a proliferação de opiniões literárias na internet e a evidente ligação de alguns resenhistas com o interesse de editoras vão, pouco a pouco, dilapidando a credibilidade desse meio de análise de obras.
 
Mas aqui há de se fazer uma distinção que talvez não está sendo feita.

A crítica literária, que façam os estudiosos, os acadêmicos, os teóricos.

Não adianta eu achar que posso sair fazendo uma crítica literária. Aí sim estamos falando de um especialista que tratará nosso carro muito bem.

A resenha, que faça quem sabe escrever, se expressar. Falo de resenha aquele texto que busca por em evidencia sua opinião sobre determinada coisa, criando um juízo de forma que você passe para outra pessoa a vontade ou não de experimentar aquilo.

Ainda no carro: qualquer 'sentante' no carro pode emitir uma opinião. E toda opinião é discutível.

O que eu acho errado é desmerecer toda e qualquer opinião, apenas por que o cara não é bacharel em letras. Eu valorizo muito mais o sentimento de alguém que chega a mim e diz: Proust é incrível, li coisas ali que balançaram meu dia. Sem ter a menor noção de quem é Proust, o que foi, quando escreveu e etc. Assim como prezo mais a opinião de quem jogou o livro na lareira e disse: estou perdendo meu tempo, são as poesias de Bukowski que me enlouquecem.

E acho que a literatura, ou a crítica literária melhor dizendo, está muito refém das explicações geniais, do que o que sentem as pessoas.

Cara, todo grande autor que eu conheço pelo menos (na história, não falo pessoalmente, hehe) falam o quê sobre os críticos literários? Que são escritores frustrados, ruins e patatitatá. E se uma galera grande e boa diz isso. Eu só temo pelo pior, haha.
 
Uma coisa é uma resenha sobre um livro e outra é uma tese sobre a vida, obra e influências de um autor utilizando-se de fontes confiáveis e métodos bem sistematizados. Não é apenas uma opinião passional.

Gosto mais das opiniões passionais. Crítica imparcial é objeto de estudos, talvez algo que seja uma referência para as futuras gerações. Uma opinião informal, oras, é uma boa influência para uma futura leitura e discussões sem compromisso. Que os acadêmicos fiquem no canto deles e respeitem os leigos. Os leigos preferem ler livros do que livros sobre livros.
 
[align=justify]Um pouco baseado nisso que tu disseste lhrodovalho, que quando resenha procure estabelecer alguma similaridade com obras parecidas, mesmo que não necessariamente de literatura. Comparações sempre são problemáticas, mas ainda assim, se elas não colarem 100%, pelo menos vão despertar a curiosidade de alguém que ler.

O diálogo da obra com a literatura em geral é um dos pontos mais legais de se notar quando lê a obra. Procuro levar em consideração isso.[/align]
 
O problema é que os leigos lêem livros sobre livros o tempo todo e não percebem porque não tem pessoas competentes pra mostrar que isso acontece o tempo todo. É a questão da intertextualidade que acaba elevando uma obra a um outro nível só por dialogar com outra obra.

Pra usa um exemplo recente e bem tosquinho, o diálogo que existe entre Crepúsculo e Romeu e Julieta. Meyer entende um pouco de literatura (apesar de usar seu talento para o mal :rofl:) e não colocou a peça do Shakespeare sem motivo algum ou só por ser um clichê adolescente. Existe um diálogo aí, uma retomada.

Outro exemplo são as citações do Selvagem em Admirável Mundo Novo.

Uma crítica literária não precisa ser um tratado pormenorizando em 52 páginas um conto do Machado de Assis, mas ela precisa ser embasada de alguma forma em algum conhecimento que o crítico tem. A diferença real entre uma resenha e uma monografia é o tamanho, em momento algum eu defendi que as pessoas lessem tratados imensos sobre uma obra em específico, de ler, como dito acima, livros sobre livros.

Vocês confundem embasamento teórico com academicismo. Quando algum amigo me pergunta sobre determinado livro ou autor, eu não recomendo pra ele que vá ler um Bosi da vida pra saber se o livro é bom. Emito a minha opinião de forma sucinta e com embasamentos breves. Além do mais, você sabe quando está diante de alguém com algum embasamento e quando não está.

E, mais uma vez, muita gente confunde crítica literária com pesquisa histórica e bibliográfica sobre uma obra (culpa do colegial). Não é necessário nada disso para se escrever uma boa crítica sobre um livro, é possível (e mais comum, inclusive) focalizar os sentimentos de alguém ao mesmo tempo em que você embasa bem o seu texto.

Bruno Masei disse:
Cara, todo grande autor que eu conheço pelo menos (na história, não falo pessoalmente, hehe) falam o quê sobre os críticos literários? Que são escritores frustrados, ruins e patatitatá. E se uma galera grande e boa diz isso. Eu só temo pelo pior, haha.

Sabe o que é curioso? A imensa maioria dos escritores são crítico literários, questão de conhecer. Se não me engano, Mário de Andrade emitiu uma crítica sobre Machado de Assis dizendo: "se Machado tinha algum talento, ele estava em seus contos, nunca nos romances".

A descida de lenha que Machado deu em Eça de Queiróz quando este lançou o Primo Basílio também foi homérica. Curioso que dois anos depois Machado lança Dom Casmurro, hehehehe.

Sem contar as tretas entre os dramaturgos ingleses da época de Shakespeare. Este sofreu duras críticas (e também criticava abertamente) outros dramaturgos da época.

E o que falar de Umberto Eco? Um belo dia ele acordou e disse: "vou escrever um best-seller". O nome da rosa virou até filme.

No final das contas, quando se conhece bem a literatura, você descobre que todo mundo que escreve é frustrado. Ninguém escreve porque está feliz, porque está comemorando alguma data especial... nunca. É sempre uma inquietação que impulsiona o escritor a escrever e, depois, ver o texto flutuar fora de seu controle. É angustiante.

Querem um exemplo de resenha que eu considero bem-feita?
Thomas Mann no século 21, com um gole de Coca-Cola
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo