• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Resenhas: até que ponto elas são feitas com seriedade?

Katrina

Usuário
Pensei em iniciar essa discussão no twitter, mas acho que aqui ela encontrará terreno mais fértil.


Recentemente ocorreu um bafafá no twitter, uma autora nacional (que não, não irei citar nomes) reclamou de uma usuária no skoob que abandonou seu livro, o evento tomou proporções de bulying literário e inúmeras pessoas como forma de protesto marcou o livro da referida como abandonado também. Hoje eu estava passando pela página do livro novamente e lendo algumas resenhas e uma delas me fez refletir sobre o quanto estamos sendo verdadeiros nas resenhas que fazemos.

Resenhamos um livro e colocamos na resenha nossa opinião ou o que achamos que as pessoas acharão legal? Porque conhecemos um determinado autor deixamos de colocar nossas reais impressões do livro no texto? Ou ainda: blogs que têm parceria com editoras se vêem obrigados a fazerem resenhas que agradem e que contribuam para a venda dos livros? Até que ponto essas resenhas são verdadeiras?

Não quero dizer com isso que devemos "massacrar" um determinado livro, contudo, também não acho errado apontar defeitos ou emitir uma opinião acerca de uma obra ainda que a mesma não seja positiva. Alguns acham que falar negativamente de um livro não é legal, porque aí você não está incentivando a leitura. Eu costumo ler resenhas (principalmente a de pessoas que costumam não utilizar spoilers) antes de me decidir a comprar um livro e mesmo quando as resenhas não são favoráveis, caso tenha ficado curiosa irei ler. Às vezes gosto de pagar para ler, pois é. Como diz um sábio provérbio popular, gosto é igual... e cada um tem o seu. Porque então tanto receio de alardear o seu gosto para os outros?
 
Eu acredito que muitas vezes a pessoa pode ter receio de dar uma oinião contrária à maioria. Ou então porque conhece o autor. Espera fazer uma resenha que agrade a todos e deixa o principal de lado: a crítica. A avaliação da obra.

Hoje parece que muitos blogs são criados para que recebam livros de graça. E por isso falam bem de praticamente tudo que leem. Daí a questão de falar bem do livro nem é querer ajudar nas vendas: é falar bem e, com isso, pensar que vai ganhar mais livros ainda e vai fazer parcerias com mais editoras.


Eu, quando faço uma resenha, procuro ser o mais sincera possível, e felizmente vejo isso em muitos outros lugares (principalmente aqui no blog do Meia). Um livro pode ser resenhado pelas mais diferentes óticas, e sempre escolho uma para dar mais destaque. Não importa se conheço o autor, se a maioria dos leitores gostou, se é de editora parceira: se não gostei, vou falar isso e vou mostrar pq não gostei. Não tem nenhum embasamento teórico, é tudo subjetivo, é minha e só minha opinião.
 
O pior não é só o minha e só minha opinião. O que eu percebo é que muitos se inibem, deixam de emitir a própria opinião para só falar bem (mesmo quando o livro não é tão bom assim).

Eu acho legal resenhas que avaliam a obra, aliás acho que é isso mesmo que uma resenha deve fazer, mas também acho legal ela possuir a opinião de quem está escrevendo. É com base no que eu conheço das pessoas de quem leio as resenhas e com base na sua opinião que muitas vezes me decido por comprar um livro. Aliás Izze tu me fez comprar Eu Mato e Uma Crença Silenciosa em Anjos, vamos ver se nossas opiniões combinam... XD

Eu tento sempre que possível avaliar a obra, mas sempre tento deixar a minha opinião também. Talvez seria legal fazer resenhas mais técnicas, mas não consigo e não adianta ir contra ao que faço hoje em dia.
 
Concordo com a .Izze., tenho visto muitos blogs literários nascendo todos os dias (particularmente eu até acho bom, pelo interesse na leitura e as promoções), mas difícilmente leio uma resenha sem pensar que o que está escrito pode ter sido apenas um agrado a editora (ao autor também, mas como na maioria das vezes são livros internacionais...).

Quando escrevo minhas resenhar (o que ainda não sei fazer muito bem) pretendo sempre ser sincera com minhas opiniões e criticar quando preciso - claro que sem ofender ninguém.
 
Recentemente ocorreu um bafafá no twitter, uma autora nacional (que não, não irei citar nomes)

argh, fiquei curiosa ><

Resenhamos um livro e colocamos na resenha nossa opinião ou o que achamos que as pessoas acharão legal?

eu dou minha opinião, antes de tudo. estive conversando com a izze sobre isso no twitter há uns dias. sei que por um lado eu acabo nadando contra aquela coisa de "incentivo à leitura" falando mal de um livro, mas se eu falar bem de um livro ruim, posso levar alguém a ler esse livro, odiá-lo e achar que o problema é da literatura do mesmo jeito. um livro é o que é, não tem razão para deixá-lo melhor ou pior se o que você faz ao resenhar é dizer o que achou dele.

Ou ainda: blogs que têm parceria com editoras se vêem obrigados a fazerem resenhas que agradem e que contribuam para a venda dos livros?

tem algum tempo que estamos para publicar um texto de esclarecimento sobre isso, e acho importante fazer um comentário à parte. no meia palavra ao assumirmos parcerias deixamos bem claro que resenharemos os livros dando nossas opiniões, boas ou ruins. já aconteceu de publicarmos resenhas negativas de livros de parceiros, mas como na maior parte das vezes escolhemos o que vamos resenhar, fica mais difícil pegar algo que não vamos gostar, por isso um número maior de resenhas positivas.

de qualquer forma, não estamos presos a nenhum compromisso com as editoras de só falar bem dos livros, então se elogiamos é porque realmente achamos isso da obra.

Porque então tanto receio de alardear o seu gosto para os outros?

eu acho que aprender a lidar com a opinião dos outros é um exercício. lembro que quando comecei a escrever no hellfire eu ficava fula se alguém aparecia me xingando porque falei mal de algum livro ou filme. hoje em dia eu nem tchuns. mas são aí mais de sete anos escrevendo, né.

***

Antes que eu me esqueça: curiosamente uma das resenhas que mais têm voto positivo para mim no skoob é uma que eu falo mal de um livro. Por outro lado, falei mal de Pride and Prejudice and Zombies e tomei um negativo hehehehe Fazer o quê? Não vou deixar de falar o que penso por causa disso, até porque o skoob é o último lugar que publico minhas resenhas sempre :dente:
 
Anica disse:
Resenhamos um livro e colocamos na resenha nossa opinião ou o que achamos que as pessoas acharão legal?

eu dou minha opinião, antes de tudo. estive conversando com a izze sobre isso no twitter há uns dias. sei que por um lado eu acabo nadando contra aquela coisa de "incentivo à leitura" falando mal de um livro, mas se eu falar bem de um livro ruim, posso levar alguém a ler esse livro, odiá-lo e achar que o problema é da literatura do mesmo jeito. um livro é o que é, não tem razão para deixá-lo melhor ou pior se o que você faz ao resenhar é dizer o que achou dele.

Exato. Eu me sinto muito mais enganada quando leio um livro que alguém resenhou maravilhas e que não era toda essa coca-cola, do que quando leio um livro que alguém resenhou 'verdadeiramente' (ou seja, emitiu o que achava mesmo do livro, ainda que ruim) e que no fim das contas eu tenha gostado. Entramos na velha questão do gosto e sua última frase encerra isso muito bem.

Anica disse:
Ou ainda: blogs que têm parceria com editoras se vêem obrigados a fazerem resenhas que agradem e que contribuam para a venda dos livros?

tem algum tempo que estamos para publicar um texto de esclarecimento sobre isso, e acho importante fazer um comentário à parte. no meia palavra ao assumirmos parcerias deixamos bem claro que resenharemos os livros dando nossas opiniões, boas ou ruins. já aconteceu de publicarmos resenhas negativas de livros de parceiros, mas como na maior parte das vezes escolhemos o que vamos resenhar, fica mais difícil pegar algo que não vamos gostar, por isso um número maior de resenhas positivas.

de qualquer forma, não estamos presos a nenhum compromisso com as editoras de só falar bem dos livros, então se elogiamos é porque realmente achamos isso da obra.

Isso é algo que acontece com as minhas resenhas, na maioria das vezes são livros que eu comprei, então fica difícil eu comprar algo de que eu não vá gostar (nem que seja um pouco). Por vezes, há fatos que me desagradam mas na maioria das vezes os elogios são feitos porque eu realmente curti e gostei da leitura.
 
[align=justify]Quando resenho alguma coisa procuro ter em mente duas coisas (não necessariamente em ordem de prioridade):

1. minha subjetividade. Tem coisas que gosto e coisas que desgosto, mas ao "falar mal" de um livro, procuro apontar que aquilo é um gosto meu, que não necessariamente quer dizer que aquilo é "de fato" ruim.

2. o tal do "valor literário" (por não encontrar um termo melhor). Tenho uma mania/compulsão de querer comparar o que leio a outras coisas similares. OK, isso é um processo mental natural, mas não se deve julgar somente a sombra de outras obras, justamente porque elas sempre serão, ao menos em alguns aspectos, diferentes, concebidas com propósitos diferentes, por sujeitos diferentes que tiverem vivências, leituras e opiniões diferentes. Isso, contudo, não invalida as comparações e algumas generalizações (com muita cautela). Perceber o diálogo da obra com o "mundo da literatura", analisando similaridades, diferenças, inovações, recorrências, revisitações etc. é uma das partes mais legais de resenhar a meu ver.

O que não gosto de ver em resenhas é quando as pessoas acham que a subjetividade é elástica demais, de modo que ela se sobreponha a reconhecimentos, discussões, conteúdos e parâmetros clássicos ou "universais" sobre a literatura ou obra específica. Por exemplo, você não é obrigado a gostar de Memórias Póstumas de Brás Cubas, mas, se você não gostar (você não sabe nada mesmo! brincadeira :timido: ) diga porque não gosta e saiba reconhecer o valor que essa obra tem em relação ao seu tempo e ao cânone literário em geral. A incompreensão dessa relação às vezes tolda completamente a resenha para um subjetivismo que beira perigosamente o relativismo.[/align]
 
"A única coisa pior que falarem de você é não falarem de você". Assim falou Wilde?

Tento não falar mal do que não gosto. Melhor ainda é gostar da mais variedade de coisas possíveis, sem ver antagonismos. Posso gostar de muitos livros, mas prefiro falar de meus favoritos.

Falar mal das coisas é um grande desperdício de tempo. É nivelar por baixo. Se alguém pretende que um livro não seja lido não deve proibí-lo. No mínimo alguém vai gostar só pra contrariar.
 
Falar mal das coisas é um grande desperdício de tempo. É nivelar por baixo. Se alguém pretende que um livro não seja lido não deve proibí-lo. No mínimo alguém vai gostar só pra contrariar.

Não acho que ao se falar mal de um livro a pessoa busque proibir ou algo que o valha. Eu pelo menos não tento convencer ninguém a ler ou deixar de ler quando resenho, quero apenas colocar minhas impressões sobre um livro e a pessoa faz dela o que quiser - ler o livro para contrariar, ler o livro porque ficou curioso porque achei ruim, ler o livro porque já queria mesmo assim.
 
[align=justify]Eu mesmo fico com mais vontade de ler (ou assistir, ouvir etc.) quando a pessoa fala mal do que quando fala bem. :dente: [/align]
 
Anica disse:
Falar mal das coisas é um grande desperdício de tempo. É nivelar por baixo. Se alguém pretende que um livro não seja lido não deve proibí-lo. No mínimo alguém vai gostar só pra contrariar.

Não acho que ao se falar mal de um livro a pessoa busque proibir ou algo que o valha. Eu pelo menos não tento convencer ninguém a ler ou deixar de ler quando resenho, quero apenas colocar minhas impressões sobre um livro e a pessoa faz dela o que quiser - ler o livro para contrariar, ler o livro porque ficou curioso porque achei ruim, ler o livro porque já queria mesmo assim.

Verdade, eu por exemplo nunca deixei de ler um livro por ter lido uma resenha desfavorável ao dito cujo, mesmo que eu respeite bastante a opinião do(a) resenhista que escreveu.
O contrário também é verdadeiro, se não estou a fim de ler um determinado autor por exemplo, dificilmente me convenço a ler por causa da resenha.
E não estou falando de Paulo Coelho ou quetais, não há resenha ou resenhista que me convença a ler outro livro do Jorge Amado ou do José de Alencar.

Vejo as resenhas mais como uma espécie de guia (se ainda não li o livro) ou, no caso de já ter lido, curiosidade mesmo, pra saber o que outra pessoa achou.
Por isso gosto tanto dos textos aqui do fórum e do blog do Meia! :lol:
 
[align=justify]As resenhas me chamam a atenção por te darem um norte na leitura, servindo até um certo ponto para quem não leu, como também para quem leu.

As resenhas que faço costumam ter uns parágrafos para inteirar o leitor em relação ao livro, principalmente sobre a estrutura da trama e detalhes internos da história (o que acabo sendo, de alguma forma, um incentivo para a leitura); e uns parágrafos de pós-leitura, com divagações, significados, leituras e questões que apreendi durante a leitura.

Sou péssimo para sintetizar a história do livro em uma pequena sinopse no início das minhas resenhas, o que gosto mesmo é a problemática pós-leitura, ali é que as divergências começam e a discussão fica boa (o que não quer dizer necessariamente amigável, hehe).O fórum é legal bem por conta disso, tem um espaço bem legal para essa discussão.[/align]
 
.Izze. disse:
Eu acredito que muitas vezes a pessoa pode ter receio de dar uma oinião contrária à maioria. Ou então porque conhece o autor. Espera fazer uma resenha que agrade a todos e deixa o principal de lado: a crítica. A avaliação da obra.

concordo


Anica disse:
Recentemente ocorreu um bafafá no twitter, uma autora nacional (que não, não irei citar nomes)

argh, fiquei curiosa ><
2


****
Eu não me importo se o autor é conhecido ou se o livro é de parceria... eu dou minha opinião. Costumo deixar bem claro que é uma opinião, no entanto. O meu problema (qualidade?) é que eu sempre procuro a ótica mais favorável para tal livro, e que, mesmo me considerando uma pessoa razoavelmente crítica, costumo me apaixonar perdidamente pelo que leio.

Como meu "emprego" no blog é prazer puro, só resenho o que não gosto se for absolutamente obrigada (livro de parceria, por exemplo), ou como um alerta para aqueles que confiam no meu gosto...do tipo: ó, eu não gostei por isso, isso, isso ou aquilo.

O que não farei (promessa de campanha :P ) é falar negativamente de algum aspecto do livro sem me justificar. acho que faz parte do respeito pela obra, e pelo leitor que porventura me acompanhar. Enfim, tenho só um ano e alguns meses como resenhista...tenho MUITO o que aprender
 
lhrodovalho disse:
Falar mal das coisas é um grande desperdício de tempo. É nivelar por baixo. Se alguém pretende que um livro não seja lido não deve proibí-lo. No mínimo alguém vai gostar só pra contrariar.

Nivelar pra baixo é xingar. Dizer que não gostou do livro e escrever sobre isso é apenas dar uma opinião. Falar mal ou não do livro vai aumentar ou baixar suas vendas. Isso acontece mais pela reação do leitor que "não resenha" (o boca a boca de que o livro é bom, até atingir um grande meio midiático) é que faz isso.

É que nem ir comer em um restaurante onde te atenderam mal, a comida não era lá essas coisas e, quando alguém pergunta o que você falou, você dar de ombros. Você provavelmente vai falar que não gostou por isso, isso e aquilo. Que você foi mal atendido porque provavelmente estava lotado demais e o restaurante não tem capacidade pra lidar com muitos clientes, ou que poderia ter um desfalque de funcionários naquele dia... Você dizer que não gostou por uma experiência só não vai impedir as pessoas de continuarem frequentando aquele restaurante. Você só deu uma opinião.


Aí entra a questão de não falar só bem de livros. Se faz só isso, tudo parece uma "miguxice" forçada. Perde credibilidade, digamos. Como assim tudo é bom? Não tem nem um livro mais ou menos? Não tem nada ruim? A literatura toda é perfeita e tem histórias maravilhosas? Não. Tem coisas ruins (que pra você e outra parcela de pessoas é ruim, enquanto para outras é maravilhoso). Não há problema em dizer que não gostou. É até saudável. Mostra que todos tem uma experiência ruim algum dia com a literatura e nem por isso largou toda ela de vez.

Dizer que não gostou não é proibir. Dar de ombros ou dizer apenas "não gostei" também não é saudável. Como tudo, é preciso apresentar o que te fez não gostar da obra. Assim outros leitores percebem que foram utilizados critérios pessoais teus na resenha, e como cada pessoa é diferente uma da outra, esses mesmo critérios não precisam necessariamente combinarem com as dela. E ela vai continuar querendo ler tal livro mesmo ele recebendo um negativo na contagem do Skoob...
 
Eu valorizo muito o meu curso de Letras. Sério. Eu realmente mudei muito a minha visão sobre o que é Obra de Arte e sobre o que não é, aprendi a valorizar as porcarias como... bem... porcarias, aprendi que nem tudo que eu gosto é algo fantasticamente fabuloso (postura da maioria das pessoas) e agora também sei reconhecer o valor artístico de uma pancada de coisas.

O que eu vejo sobre esses blogs, resenhas e o diabo a quatro que surge mais que formiga em volta de doce no verão é a falta de propriedade da pessoa em falar o que se fala. Querendo ou não, se você vai emitir um opinião de valor sobre determinada coisa, você faz uma crítica e essa crítica vai influenciar aquele que o ler.

O problema não é só o lance de querer ganhar livros de graça, desconto, amigos no MySpace e tudo isso. O maior problema nessa miguxisse é que a maioria age dessa forma porque não sabe o que realmente falar sobre uma obra literária que, por pior que seja, existem marcas para se falar dela num viés científico que muita gente por aí faz há anos e, como eu já vi citarem por aqui, "não dão bola pra esses velhos babões".

Sério, cara. Se você quer começar a falar com propriedade sobre um assunto e realmente começar a emitir um juízo decente sobre uma obra e o trabalho de alguém (que é algo muito sério), que você tenha muito tempo de estrada e muita experiência com a leitura antes de falar qualquer coisa, ou que você tenha cursado uma faculdade de Letras ou coisa parecida.

Depois de um tempo na área e estudando essas coisas, é possível fazer uma resenha que termine com "o livro é uma bosta, mas eu adorei!", ou "o livro é um dos maiores clássicos da literatura, com todas as técnicas impecáveis apontadas por todas, mas, sabe, eu não gostei.".

Fazer crítica sobre obra de arte exige um conhecimento imenso sobre uma pancada de coisa. Escrever um resuminho da história e dizer que não gostou porque o personagem A é meio irritante, o cara demora nas descrições e a capa do livro é azul-escuro com laranja-bebê é infantil.

Em tudo que você vai fazer na vida, você teve que começar lá do começo. Aprender os básicos, ir devagar, ver os maiores, estudar a fundo as grandes mudanças e entender determinadas diretrizes que norteiam a postura daquela profissão.

O engraçado é que, o que eu mais vejo por aí é resenhista literário que nunca nem ouviu falar de Thomas Mann, nem chegou perto duma Odisséia e diz que os clássicos não são tão clássicos assim porque, quando leu no colegial Memórias Sentimentais de João Miramar, achou o enredo fraco, sem descrições e confuso.

Aí essa galera faz uma resenha falando bem um livreco que eles gostaram e acabam, aí sim, matando a leitura e a literatura. Incentivar a leitura não é falar bem sobre os livros ou falar mal sobre os livros. É saber falar sobre livros.

Coisa que a maioria não sabe fazer.

EDIT: nivela-se alguma coisa por baixo quando você elogia demasiadamente alguma coisa que está lá embaixo. Se você estabelece um juízo crítico elevado sobre alguma coisa, a sua nivelação nunca será abaixo, será acima.
 
Acho essa questão que o Pescaldo colocou BEM complicada... ok, eu concordo que para falar mal de algo, deve-se falar com propriedade. Mas... a um tempo atrás eu ouvi uma discussão sobre alguma obra brasileira - já nem lembro qual - que se baseava no seguinte: um lado dizia que o livro era importantíssimo pelo seu valor histórico, porque inaugurou o movimento tal e tal e por isso foi revolucionário, e o outro lado dizia: "mas o de que tudo isso importa se o livro é uma porcaria?"
Provavelmente o tal livro não era de todo ruim se era revolucionário, mas aí entra uma questão: até que ponto o contexto deve ser levado em conta pra se analisar uma obra? Lógico que avaliar só a história em si não basta - tem também a técnica utilizada.... mas nós não conseguimos avaliar uma obra, mesmo a sua tecnica, isoladamente? Uma obra não deveria sustentar-se por "si própria" se ela é tão boa assim? Até porque clássicos não são atemporais?
Não estudo letras e não entendo nada de literatura, mas acho que é um ponto interessante a ser discutido.
 
Trillian....pergunta difícil... eu também não tenho formação em letras, me formei em Direito. Tudo que sei de literatura aprendi na escola. Eu gosto de saber um pouco mais sobre o autor e o contexto da história, mas é mais curiosidade minha do que qualquer coisa. Na maior parte das vezes isso facilita meu entendimento da obra. Mas daí a definir uma obra por seu contexto, e só por seu contexto, não dá.

Eu ACHO (e me enrolei um monte né?) que vou passar essa para os literatos estudados...
 
Pois é... hoje mesmo eu estava discutindo isso... a pessoa disse: "ah, quando eu li tal livro não entendi o porque daquilo... depois quando me explicaram o contexto histórico é que entendi o que o autor quis dizer."

A questão é definir qual é o real impacto desse contexto para o entendimento das obras...
 
O contexto é importante, sim, até porque explica o que o resenhista está levando em consideração ao falar da obra. Em crítica literária é possível abordar diversos aspectos: o social, o histórico, o linguístico, etc. O problema é que muito resenhista de blog só considera o enredo, ou seja, se é uma história divertida (é bom) ou não (é ruim) ou ainda, se tem aquelas frases bonitonas que você até anota na agenda depois. Não consideram alguma inovação que tenha feito em estilo de narrativa, por exemplo. Aquela coisa, vc pode odiar James Joyce, mas não pode negar a importância dele para a literatura moderna - tem coisa que só se faz hoje em dia por causa dele.
 
O caminho é o que a Anica comentou: existem várias linhas de pesquisa e várias abordagens possíveis.

Entretanto, como alguém já deve ter reparado, eu sou da linha daqueles que acreditam que a obra deva se sustentar por si mesma no mundo. Ela deve ser boa (ou se permitir ser boa) em qualquer época, independente do autor e do momento que ela é feita. Até porque, depois que você estuda História da Literatura (que é a aula que se tem no Ensino Médio, não Literatura) e estuda algum texto literário mais a fundo, você percebe que aquela separação entre as escolas é puramente didática.

Um exemplo é Camões que foi Clássico, Romântico, Barroco e até Simbolista. Um outro bom exemplo é Olavo Bilac que tem as melhores poesias de tom romântico, mesmo sendo o melhor poeta Parnasiano. E o que dizer de Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos que nem se encaixam em nenhuma escola literária? Aí enfiam os dois no Pré-Modernismo e tá sussa.

No final das contas, o contexto histórico vai estrangular e limitar a obra, assim como a biografia dum autor. Geralmente, quem leva em conta apenas isso, esquece que um livro sem leitor só serve pra endireitar mesa ou segurar papel.

Entendam que uma obra de arte, quando feita, não comunica apenas uma coisa, o autor não pode (e nem tem como) prever quem lerá e em que situação lerá a obra e que significância ela terá. Assim, a obra passa a ter interpretações diversas e nenhuma certa, mas todas plausíveis.

Avaliar só a história e o tema do livro é outra falha infantil. As histórias e os temas são os mesmos desde a Grécia Antiga, o que muda é ambientação e nome de personagens. Tem amigo meu que se irrita quando assiste um filme pela primeira vez (que eu também não assisti) comigo, é fácil matar o final do filme de praticamente todos, sem meias palavras aí.

Por isso, também, eu não acredito em Spoiler como eu falei outro dia no blog da Izze, vou até fazer um copy paste:

"Eu vejo a resenha como uma espécie de resumo do que seria a crítica literária, um “melhores momentos” dum texto que poderia ser bem maior e bem mais elaborado.

Quem estuda literatura com afinco já faz algum tempo, sabe que praticamente toda obra literária, fílmica e afins se tornam previsíveis do ponto de vista estrutural. Depois de Campbell, ficou perceptível que todo filme heróico tem uma mesma estrutura, variando em um ou dois pontos.

E, mais uma vez, eu entro no quesito que não é O QUE se conta, mas COMO se conta e é exatamente isso que nenhuma obra ou livro ou coisas assim acabam sendo estragadas por eu saber o final da coisa.

Exemplifico com o meu recente baque choroso que tive com Dr. Fausto de Thomas Mann. É ridiculamente óbvio que ele faz uma retomada de Fausto de Goethe e que seu personagem principal seguirá rigorosamente os passos do pacto faustiano: faz o pacto pra sobreviver 24 anos de pura inspiração e depois morrerá e descerá ao inferno.

No final das contas, o grande ápice de Dr. Fausto é justamente o COMO se conta e não O QUE se conta que torna um livro memorável e digno de representatividade futura.

Avatar também (a série animada) me surpreendeu não em termos de roteiro ou trama que segue rigorosamente o percurso gerativo do herói, mas o ato de contar e as cenas como o são colocadas.

Spoiler verdadeiramente não existe, pois contamos as mesmas histórias com as mesmas estruturas há séculos. O que existe é falta de estudo ou memória fraca, hehehehe."

Eu acredito que a imensa maioria dos resenhistas não têm o necessário para fazer uma boa resenha literária justamente por serem limitado em termos literários.

Entretanto, não se é preciso estudar uma faculdade de Letras pra conseguir esse conhecimento. Aproveitem o gosto pela Literatura e estudem as estranhas dela lendo os livros teóricos e filosóficos que existem aos montes por aí.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo