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Para que serve a crítica

Zzeugma

Usuário
http://bravonline.abril.com.br/blogs/outra-babel/2011/01/19/para-que-serve-a-critica/#more-85

(Por Vinicius Jatobá)

O suplemento literário do New York Times é, claramente, a mais fraca da cobertura cultural do poderoso jornal. É inconsistente e previsível, quando não absurdamente mal escrito. Há momentos luminosos, mas é sempre uma leitura superficial e rasteira. O problema talvez seja mais do péssimo momento literário estadunidense. Se Philip Roth, um ótimo autor cujos novos livros sempre leio, tivesse publicado nas décadas de 1940-60 dos EUA, ele seria claramente um escritor de terceira linha. O que não é ruim, de forma alguma, nem diminui a argúcia de Roth: apenas indica como a arte literária estadunidense era elevada, inclusive no romance de entretenimento policial, naquele período. Foi a Era de Ouro da literatura estadunidense. Os críticos do NYT têm que se virar com que existe no mercado editorial deles, e uma vez que os EUA não traduzem, os críticos vivem com as mãos atadas.

No entanto, o recente especial Why criticism matters do NYT foi interessante. Li todos os artigos com atenção. É um investimento inesperado e excêntrico dos editores do jornal. Escrevo resenhas de livros há uma década. E a cada vez que escrevo uma resenha, sempre me surge a questão da utilidade daquilo. A resposta padrão seria “ajudar na discussão cultural, separar o joio do trigo no caos contemporâneo” e um longo etcétera. Essa resposta não me satisfaz porque não reflete realmente o que penso quando escrevo uma resenha. Desde que li o especial ponderei sobre essa atividade que exerço por uma década já, e é realmente difícil determinar uma razão, um motivo e uma missão para a crítica. Cada resenha me parece muito particular.

O ponto de partida é factual: lê-se de forma diferente quando a intenção é escrever uma crítica. A relação que se tem com o livro determina o lugar de onde se lê esse livro, e a relação de um crítico com o livro é sempre frustrante porque um bom livro provoca muitas possibilidades de leituras, dezenas de fios possíveis. Então, é necessário escolher um impulso essencial. Há críticos que querem educar e gerar conhecimento, iluminar os leitores; outros que possuem uma agenda secreta e escrevem em jornais com imensa circulação para duas ou três pessoas; alguns desejam a comunhão, se integrar com certo grupo, e suas resenhas parecem propostas de namoro. Eu sempre desejei que o livro fosse lido. Parto desse ponto: quero seduzir o leitor a ler o livro porque esse livro me importa. Isso sempre limitou a imensa maioria de minhas resenhas à um grupo muito limitado de possibilidades porque o mercado editorial brasileiro publica muita coisa chata. Mas essa escolha tornou minha atividade de crítico uma festas sem fim: escrever apenas sobre o que gosto. Minha posição de crítico é hedonista: o que eu gosto e me dá prazer. E tento passar esse entusiasmo ao leitor.

Essa escolha pelo prazer, no entanto, entra em tensão com o caráter mais básico do jornalismo: informar. A posição do jornalismo hoje é completamente fragilizada pelo excesso do mundo contemporâneo: tudo é demais. Vivemos mergulhados, quando citadinos, em uma maré de estímulos. A informação hoje está disseminada (não digo democratizada, o que não é verdade), e o jornalismo parece confuso diante desse universo de coisas ágeis e frenéticas. O jornalismo cultural, principalmente, parece não se encontrar com muita facilidade. O jornalista que dá todas as coordenadas ao seu leitor, que informa datas de nascimento, que se limita a informar detalhes que o leitor pode encontrar em excesso em menos de um segundo em qualquer sistema de busca da internet, esse jornalista está à deriva. O leitor que se debruça sobre um suplemento literário tem acesso à toda essa informação, e suspeito que boa parte dos suplementos se tornaram obsoletos porque os críticos e jornalistas escrevem textos que são abertamente redundantes. Pode parecer equivocado, mas a função do crítico não é mais informar: é contagiar.

Sempre me pareceu contraditória a posição de objetividade do jornalista cultural: textos frios e calculados, com frases papai-e-mamãe, apegados aos famosos leads, etcétera. Livros provocam emoção – mesmo que seja de natureza racional. “O que pensa em mim está sentindo”, escreveu o poeta, e há insuspeitado Eros inclusive no onanista catedrático. O que me espanta é a luta dos suplementos para retirar toda e qualquer sombra de prazer de seus textos. É impossível escrever sobre livros ou cinema sem o uso de adjetivos, porque somente prazeres cínicos vêm desacompanhados; e toda essa assepsia provoca o estado das resenhas atuais: o medo do advérbio, a obsessão pelo ponto-final, o terror ao ponto-e-vírgula, o exílio do travessão. Correção, estoicismo, total bons-modos à mesa: e um total desinteresse do público ao que os suplementos oferecem.

É por isso que acredito ser a função do jornalismo cultural, e da crítica literária, contagiar e entreter. Contagiar, porque tem carga emocional, porque leva o público ao livro, porque encontra formas de transformar a literatura (ou cinema) de objeto à instrumento. E entreter porque deve ser escrita de forma a roubar o foco do leitor para o texto: seja pelo adjetivo bizarro, pela sintaxe maliciosa, o texto deve sempre colocar o leitor numa posição de se perguntar sobre o quê, afinal, está lendo. E deve entreter porque ninguém deveria ocupar o espaço público para entediar as pessoas. Como o século passado foi o século que encontrou seu maior vilão na “massa”, os abundantes pernósticos de plantão foram velozes em criar uma separação que nunca existiu antes na história cultural: cultura de massa e cultura “cultura”. Poucas palavras foram tão degradadas quanto entretenimento, a ponto de hoje ser quase um xingamento. Qualquer artista hoje em dia tem horror a dizer que quer entreter as pessoas (até mesmo pelo simples fato de que, no fundo, não deve possuir o domínio técnico e a argúcia necessários para raptar a atenção da audiência e/ou leitor). E creio que a função da crítica é apenas essa: raptar essas mentes, contagiá-las com emoção e idéias, e devolvê-las ao mundo com algum enlevo estético.
 
Achei o texto do Vinicius Jatobá ótimo e até calhou com o momento em que li, porque estava me fazendo exatamente a pergunta que foi título da postagem e do texto dele. O engraçado é que o Vinicius expõem uma série de tipos de críticos e toca numa realidade mais próxima da visão do leitor.

Sempre achei que o papel do crítico e da crítica é servir de indicador. Depois que você lê um texto de determinado crítico fica conhecendo um pouco dos gostos dele e se eles forem parecidos com os seus,então o reconhecimento se torna mais fácil e faz com que qualquer boa crítica feita por ele acabe servindo de indicação.

Olhando o crítico como uma tabela de indicação, fica clara que críticas são bem mais fáceis e dão mais resultados do que simples resenhas, porque elas colocam a frente o gosto pessoal de quem a está escrevendo. O chato é quando se mata toda a técnica e o foco fica apenas no gosto pessoal.

Só não curto a idéia de que um bom crítico gosta de pouca coisa, é sempre nostálgico e destrói completamente a obra, porque não importa o quanto você deteste o livro lido, ele sempre terá um pouco de valor, mesmo que seja mínimo.
 
Concordo bastante com o texto, e com as ressalvas que o Breno fez. E também chego a perguntar a mesma coisa às vezes: "okay, faço resenhas, digo o que achei de livro tal, mas isso ta servindo pra que? Tem realmente alguma importância?". Confesso que às vezes não vejo importância alguma, geralmente quando acho que o texto não ficou legal e que não consegui encontrar palavras para o que realmente tinha a dizer sobre o livro. Nesse caso, tudo não passa de um exercício para mim mesma, para memorizar as obras, lembrar do nome do livro, do autor, do enredo... Mas quando vem alguém e diz que leu tal livro por conta de uma resenha minha, gostando ou não do livro, vejo que serve sim. Apresentar leituras é sempre bom, e nisso aí reside uma clara importância.

Sobre o espaço para a cultura no jornal, vejo que hoje os jornais oscilam entre a sensibilização e a impessoalidade. Em coberturas de crimes, o que impera é a emoção, fazer o leitor se indignar e se emocionar com a vítima, criar um sentimento de justiça naquele que lê a matéria. Já a cultura não passa de agenda: que livro lançou, que filme estreou, o que eles tem de legal, datas, preços, horários, poucas entrevistas e deu. O leitor não tem ideia alguma do que ele vai realmente ler ou ver, são textos insossos que não despertam curiosidade alguma. Por isso acabei trocando os jornais por bons sites e blogs, leio blogs dos jornalistas de culturas, com seus textos informais, e muitas vezes não leio as matérias deles. Não tenho acesso à muitos cadernos culturais, então não tenho como dizer que todos são ruins. Deve ter algum bom, mas para uma certa parcela de leitores sortudos.
 
Mas quando vem alguém e diz que leu tal livro por conta de uma resenha minha, gostando ou não do livro, vejo que serve sim. Apresentar leituras é sempre bom, e nisso aí reside uma clara importância.

né? é o que me motiva a escrever para o blog do meia e o hellfire. mas aí é prazer, coisa para fazer no tempo livre. quando penso em profissão, caio na minha pira só, é quanto ao outro termo crítica, aquela acadêmica. depois que terminei a faculdade comecei a pensar para que diabos serve uma graduação em estudos literários, no final das contas. vejo minha irmã fazendo órteses e aprendendo um monte de coisa para melhorar a vida das pessoas com dificuldades motoras e afins, e penso "uau, e eu faço estudos de obras literárias, grandes bostas.
 
Esse seu questionamento é perigoso, Anica, e infelizmente muito arraigado já no meio acadêmico. Sempre que levantam essa questão, lembro-me de imediato deste texto de Mauri Furlan, sobre a importância de se estudar latim (mas podem-se estender os argumentos para todas as áreas das Humanidades), do qual transcrevo apenas este passo que nos interessa:


Já abordei tangencialmente o ponto aonde quero chegar.
Brasil, UFSC, 2005. Um professor do Centro Tecnológico afirma não entender porque ainda existem cursos de Letras. Deduz-se que o que não for técnica e tecnológico não tem valor. E nós, velhos humanistas indefesos, nos calamos. A realidade é muito mais profunda do que a percebemos e de como a apresentamos. O pensamento daquele professor é repulsivo, mas também profundamente entristecedor. Para mim, o ponto último a que aponta uma tal concepção técnico-pragmático-utilitarista da educação, fruto de um capitalismo desumanizador, é o de que nosso sistema o cegou para o fato de que EXISTE VIDA ALÉM DO TRABALHO E DO FATOR ECONONÔMICO ! EXISTE VIDA ALÉM DO TRABALHO! E VIDA É CULTURA! ¡¿Seria necessário que eu me estendesse com argumentos e exemplos sobre estas afirmações?!
Podemos reinterpretar aqui o belíssimo pensamento de São Mateus (XVI, 26) “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?”, questionando sobre o valor da técnica sem a cultura, do trabalho sem o prazer da vida. O que é que caracteriza essencialmente o ser humano senão a capacidade de desenvolvimento do intelecto e do espírito? Minha perspectiva aqui é existencialista, sim! E não temo ser tachado de anacrônico. Não podemos ser apenas a técnica e a esteira mecânica.

O espaço das Humanidades dentro da Universidade deve ser defendido. A dignidade do ser humano deve ser garantida! Não se questiona que a universidade deve adequar o sistema educacional à necessidade de mão-de-obra para o desenvolvimento industrial, e, oxalá, social, mas sem perder o lado humano.
A defesa da sobrevivência do ensino do latim é, em última instância, a defesa da aquisição de cultura, de nossa história, de conhecimento de um longo passado que nos forjou, de auto-conhecimento (”Conhece-te a ti mesmo!”, dizia o oráculo na entrada do templo de Apolo, em Delfos. Do que resultou o pensamento socrático de “sei que nada sei”, que caracteriza o mesmo homem aristótelico naturalmente amante do saber. Este “sei que nada sei” paradoxalmente ao seu primeiro sentido, não é fruto da ignorância mas de um profundo conhecimento originado pela reflexão e cultivo do pensamento).

Fonte: http://www.latim.ufsc.br/CC031E19-1534-44BC-81FF-85F5E8BF51DA.html
 
Calib, o meu questionamento vem mais do fato de que hoje em dia qualquer blogueiro que escreve resenhas (??) de livros entitula-se crítico literário. Ou ainda, que qualquer um se acha apto a resenhar/criticar uma obra, como se a formação acadêmica fosse dispensável, bastasse apenas leitura.

Mais ou menos assim: eu não vou sair operando pessoas por aí, nem construindo prédios. Por outro lado, existem pessoas que fazem o que eu me preparei na faculdade para fazer, o que de certa forma tira o valor dessa preparação. Porque afinal de contas, as pessoas podem fazer isso sem passar por uma faculdade.

O mesmo vale para quem estuda tradução e perde trabalho para alguém que é fluente na língua, mas nunca recebeu qualquer tipo de instrução específica para ser tradutor. Ou o sujeito fluente que dá aulas de inglês como bico, enquanto não terminou a faculdade de biologia.

Enfim, não é nem o que faço que eu questiono, mas esse "já que todo mundo pode fazer, então por que eu deveria fazê-lo?". Blé, não sei se consegui explicar. =S
 
Agora percebo. Não foi o que deu entender antes, mas está explicado. Daí o questionamento é outro bem diferente.

Bem, fica aí o texto para quem quiser ler assim mesmo. XD
 
Excelente o texto, alias é bem o assunto que não sai da minha cabeça a tempos, concordo com o Breno, acabo siguindo indicações daqueles com quem me identifico - minhas almas gêmeas literárias, ainda assim acompanho outros apenas por achar os textos ótimos - mas não seguir dicas por não bater em preferências.

Eu discordo sobre a formação ser dispensável, eu tenho um blog e comento livros, mas nem em sonho me considero crítica literária, livros mais complexos parecem bem difíceis de entender, sinto muita falta de uma base para interpretar e analisar a leitura, fica aquele sentimento de que algo se perdeu ... e olha que eu tento aprender a teoria por conta própria.

Claro que se essa discussão de vocês é mais filosófica, sobre fazer a diferença no mundo e etc, bom daí acho que pessoas de quase qualquer área podem se questionar sobre isso.
 
Também vejo do mesmo modo, Clau. Não sou crítica literária. Não tenho base teórica pra ser, nem leituras o bastante para dizer que lide tudo e que conheço os trejeitos de autores, saiba identificar épocas, estilos etc. Sou só alguém que gosta de comentar as coisas que li (mas com o máximo de profissionalismo que puder colocar nisso xD).
 
Anica disse:
Mais ou menos assim: eu não vou sair operando pessoas por aí, nem construindo prédios. Por outro lado, existem pessoas que fazem o que eu me preparei na faculdade para fazer, o que de certa forma tira o valor dessa preparação. Porque afinal de contas, as pessoas podem fazer isso sem passar por uma faculdade.

O mesmo vale para quem estuda tradução e perde trabalho para alguém que é fluente na língua, mas nunca recebeu qualquer tipo de instrução específica para ser tradutor. Ou o sujeito fluente que dá aulas de inglês como bico, enquanto não terminou a faculdade de biologia.Mais ou menos assim: eu não vou sair operando pessoas por aí, nem construindo prédios. Por outro lado, existem pessoas que fazem o que eu me preparei na faculdade para fazer, o que de certa forma tira o valor dessa preparação. Porque afinal de contas, as pessoas podem fazer isso sem passar por uma faculdade.

O mesmo vale para quem estuda tradução e perde trabalho para alguém que é fluente na língua, mas nunca recebeu qualquer tipo de instrução específica para ser tradutor. Ou o sujeito fluente que dá aulas de inglês como bico, enquanto não terminou a faculdade de biologia.



Isso acontece em muitas profissões hoje. Ensino na Universidade em um curso de Computação. E todos entram "sabendo" e saem se questionando da mesma forma que vc, pois tanto Matemáticos, como Engenheiros pode fazer o que eles fazem. Atualmente os melhores designers de sites do mundo são arquitetos.

Anica, nunca duvide do valor de sua formação. Mas vc deve muito bem saber que de todos os que se formaram com vc nem todos são bons somente por terem conseguido o diploma. Ele é um passo super importante se bem aproveitado. Devemos sim, brigar por um bom lugar no mercado fazendo sempre o melhor que podemos. Nunca gostei muito de leis ou medidas que retringem quem pode fazer o que e com qual formação.
 
Me formei em engenharia recentemente. Pode ser muita arrogância minha, mas acho que boa parte do que aprendi na universidade eu poderia ter aprendido sozinho. Na verdade, pelo que aprendi na faculdade, descobri que eu vou ter que aprender muita coisa sozinho antes de poder me chamar de engenheiro. Infelizmente, sem diploma, sem CREA, sem trabalho.

Nem toda a vida é o mercado. Nem tudo pode ser vendido. Mas pode ser prostituído. Algum estudante de letras faz um curso superior pensando em que será mais qualificado para o mercado? Se os cursos são bons mesmo, os resultados são melhores. Infelizmente, o consumidor gosta mais do barato que sai caro. A crítica literária de alguém que se formou em letras têm muito mais chance de ser melhor do que de um réles blogueiro. E daí? A sugestão é que os formados em letras diminua a qualidade de seus produtos.

Sou um mal leitor. Leio poucos livros por ano. Acho que quem lê mais e lê porque gosta têm muito mais conhecimento sobre leitura simplesmente por causa da experiência. Existem críticos literários com formação acadêmica que não gostem de ler? Que não lêem muito? Que não têm senso crítico?
 
Me formei em engenharia recentemente. Pode ser muita arrogância minha, mas acho que boa parte do que aprendi na universidade eu poderia ter aprendido sozinho. Na verdade, pelo que aprendi na faculdade, descobri que eu vou ter que aprender muita coisa sozinho antes de poder me chamar de engenheiro. Infelizmente, sem diploma, sem CREA, sem trabalho.

Nem toda a vida é o mercado. Nem tudo pode ser vendido. Mas pode ser prostituído. Algum estudante de letras faz um curso superior pensando em que será mais qualificado para o mercado? Se os cursos são bons mesmo, os resultados são melhores. Infelizmente, o consumidor gosta mais do barato que sai caro. A crítica literária de alguém que se formou em letras têm muito mais chance de ser melhor do que de um réles blogueiro. E daí? A sugestão é que os formados em letras diminua a qualidade de seus produtos.

Sou um mal leitor. Leio poucos livros por ano. Acho que quem lê mais e lê porque gosta têm muito mais conhecimento sobre leitura simplesmente por causa da experiência. Existem críticos literários com formação acadêmica que não gostem de ler? Que não lêem muito? Que não têm senso crítico?
 
Formado e com diploma, é claro. Infelizmente, quem não tem diploma não pode ter CREA. E quem não tem CREA não pode fazer o trabalho do engenheiro, que é assinar os projetos feitos pelos técnicos.
 
Luís Henrique Rodovalho disse:
Me formei em engenharia recentemente. Pode ser muita arrogância minha, mas acho que boa parte do que aprendi na universidade eu poderia ter aprendido sozinho. Na verdade, pelo que aprendi na faculdade, descobri que eu vou ter que aprender muita coisa sozinho antes de poder me chamar de engenheiro. Infelizmente, sem diploma, sem CREA, sem trabalho.

Nem toda a vida é o mercado. Nem tudo pode ser vendido. Mas pode ser prostituído. Algum estudante de letras faz um curso superior pensando em que será mais qualificado para o mercado? Se os cursos são bons mesmo, os resultados são melhores. Infelizmente, o consumidor gosta mais do barato que sai caro. A crítica literária de alguém que se formou em letras têm muito mais chance de ser melhor do que de um réles blogueiro. E daí? A sugestão é que os formados em letras diminua a qualidade de seus produtos.

Sou um mal leitor. Leio poucos livros por ano. Acho que quem lê mais e lê porque gosta têm muito mais conhecimento sobre leitura simplesmente por causa da experiência. Existem críticos literários com formação acadêmica que não gostem de ler? Que não lêem muito? Que não têm senso crítico?

Achei interessante o que você disse.

Recentemente assisti a um vídeo com um debate sobre a literatura brasileira contemporânea.

Uma das partes comentou que os novos autores não saem da Academia. Da Academia saem críticos e professores. Quem está dando a cara pra bater é este povo que luta pra ser publicado. Será que a Academia só serve para pra coroar de louros áqueles mestres que todos já conhecem bem?

Lembro de um jornalista cultural que fez um comentário que achei bem inteligente: a crítica não pode só ficar erguendo "Cânones". Se ela quiser ser "científica", ela precisa entender e catalogar o que está acontecendo. Eu já li um livro do crítico Franco Moretti que elencava uma série de subgêneros e gêneros de romances ingleses do século XIX... A maioria nunca ouvira falar.
 
Acho que há vários assuntos sendo tratados ao mesmo tempo nesse tópico. Primeiro é óbvio que qualquer um pode escrever sobre suas leituras, não há nada que desabone à prinicípio quem se arrisca a ser também escritor (crítico, quero dizer). Tenho certeza que muita coisa interessante pode ser escrita por pessoas que não tiveram a devida formação na área, que se orientam pela subjetividade.
Mas o crítico que estuda para isso não pode se limitar a destacar apenas a dimensão da fruição estética (que me desculpe o colega que abriu a discussão), pois ele sabe que a arte não existe como uma esfera à parte no mundo. Os criadores respondem e dialogam com o passado (e por isso a necessidade de conhecer escolas, estilos, polêmicas para que a crítica não fique no vazio). Não digo que o trabalho do crítico cultural seja debater profundamente a obra, isso cabe à academia, mas ele deve dar um pouco dessa história a seus leitores, para que estes saibam em que solo estão pisando. Uma leitura verdadeira das obras é, com o perdão da palavra, bastante chata, porque necessita estabelecer relações que podem não estar óbvias à "leitura comum". Sei que a posição de Vinicius Jatobá é diferente, mas ele despreza que acesso à informação não significa necessariamente que as pessoas estão melhor informadas (antes, parece, o contrário, porque costumamos nos perder diante da infinidade de possibilidades sem qualquer orientação ou fio condutor). O papel do crítico é contagiar sim, mas também é traçar antes de tudo um caminho que oriente o leitor (e me parece que as coisas não se excluem como muitos pensam, elas podem coexistir e acredito que esse é o melhor caminho, inclusive). Porque se o crítico não fizer esse papel como o leitor vai se orientar para ler um Ulisses, por exemplo? Vai pegar o livro e pensar que Joyce fez tudo aquilo só por capricho? Não se trata de tornar a leitura mais complicada e menos divertida, mas de dar a chance aos que não tem a formação para compreender mais profundamente o texto que tem em mãos. Me parece que a maioria dos jornalistas, no entanto, não tem essa formação e simplesmente se aventuram apenas com sua técnica de escrita, como se dominar a maneira de escrever uma matéria fosse suficiente para tal, dispensando o conteúdo. Sou sociólogo e enfrento diariamente discussões com pessoas que consideram que minha formação é inútil, porque elas entendem melhor do que eu de política, etc. Respeito o direito de todos à opinião, e até incentivo que o façam, mas minha formação me permite inclusive analisar o que as pessoas pensam se tratar de uma crítica à sociedade. Acho que o crítico cultural deveria estar na mesma posição: acolher a opinião dos leitores e dialogar com ela. Caso contrário, só ficamos num debate cheio de "eu acho..." que não leva a nada.
Assim, esse fato mencionado por Vinícius me parece mais um sintoma da falta de uma formação mais adequada dos críticos do que propriamente de uma decisão pessoal ebem intencionada de algum dissidente. Espaço para todo tipo de leitura sempre vai existir, mas porque se limitar ao básico se pode fazer o melhor?
 
A tradução é uma atividade que exige muito conhecimento. Conheço muito bem as consequências de manuais técnicos mal traduzidos. Na engenharia elétrica, bus significa barramento no caso de computadores e sistemas elétricos de potência. Más traduções fazem muito estrago na formação acadêmica. E pensando pelo lado da literatura, não basta ser apenas fluente na língua original do livro traduzido, nem mesmo também fluente na língua destinada a tradução. Necessita-se também ter muito conhecimento sobre a obra do autor, além das particularidades geográficas e históricas.

Tenho minhas reservas sobre a crítica de coisas subjetivas. Acredito que mesmo a cultura não deve ser nivelada por baixo. Gosto de coisas simples, mas depois de consumir muito o entretenimento de massas, é natural procurar algo mais complexo. Leituras pesadas como Ulisses não foram feitas para agradar e serem claras para leitores comuns. Se existe crítica literária com formação acadêmica, com certeza foi feita pra guiar uma nata de leitores que não encontra graça nenhuma em Dan Brown. Mas, se precisa de um crítico literário pra entender O Velho e o Mar? Se alguém não me explicar, eu não conseguirei apreciar a leitura de O Pequeno Príncipe?
 
Engraçado, eu tendo a escollher as críticas (literárias) que eu leio pelo site ou jornal em que são publicadas, não por quem fez a crítica.
 
Luís Henrique Rodovalho disse:
Sou um mal leitor. Leio poucos livros por ano. Acho que quem lê mais e lê porque gosta têm muito mais conhecimento sobre leitura simplesmente por causa da experiência.

discordo. uma pessoa que só lê romances não consegue sair do trivial, analisar enredos e quiçá personagens, justamente porque não sabe o que buscar nesse texto além disso. qualquer análise mais profunda requer sim uma carga de estudos. não digo que necessariamente graduação em estudos literários, mas no mínimo uma carga de leitura teórica a pessoa tem que ter.

de qualquer forma, você tocou em um ponto importante, o de nivelar por baixo. hoje em dia as pessoas querem resumos, não resenhas. querem saber do que se trata, e, mais ainda, querem uma lista de leituras essenciais para pagar de inteligentes. isso sim, qualquer um pode fazer, não requer qualquer estudo.
 
Zzeugma disse:
É por isso que acredito ser a função do jornalismo cultural, e da crítica literária, contagiar e entreter. Contagiar, porque tem carga emocional, porque leva o público ao livro, porque encontra formas de transformar a literatura (ou cinema) de objeto à instrumento. E entreter porque deve ser escrita de forma a roubar o foco do leitor para o texto: seja pelo adjetivo bizarro, pela sintaxe maliciosa, o texto deve sempre colocar o leitor numa posição de se perguntar sobre o quê, afinal, está lendo. E deve entreter porque ninguém deveria ocupar o espaço público para entediar as pessoas. Como o século passado foi o século que encontrou seu maior vilão na “massa”, os abundantes pernósticos de plantão foram velozes em criar uma separação que nunca existiu antes na história cultural: cultura de massa e cultura “cultura”. Poucas palavras foram tão degradadas quanto entretenimento, a ponto de hoje ser quase um xingamento. Qualquer artista hoje em dia tem horror a dizer que quer entreter as pessoas (até mesmo pelo simples fato de que, no fundo, não deve possuir o domínio técnico e a argúcia necessários para raptar a atenção da audiência e/ou leitor). E creio que a função da crítica é apenas essa: raptar essas mentes, contagiá-las com emoção e idéias, e devolvê-las ao mundo com algum enlevo estético.

Depois de ler 400 páginas com a descrição de mais de 100 mulheres sendo mortas e violadas, eu espero que ninguém fique entretido.
Espero que ninguém tem nenhum "enlevo estético". E se elas ficam entediadas, tanto pior, mas, no mínimo, é isso que elas devem a certos livros: tempo, tempo vital. E mais certos que aos livros , a certo fatores que tornam esse mundo infâme, principalmente porque muita gente se "entretem" e tem "enlevos estéticos".

Não existe A crítica, senão gestos críticos, que começa por um encarar certa fatores que fundamento o nosso modo de vida com dureza, de frente. Ser honesto e corajoso para com livros é o início de um pensamento que vale alguma coisa...

Realmente, a Bravo é uma porcaria... mais que isso, ela é obscena...
 

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