• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Liberdade (Jonathan Franzen)

O hype ajuda na decepção, mas não é o grande culpado. Se deve mais ao povo que leu As Correções anteriormente e esperava invencionismo. O grande feito de Liberdade é ser um romance com começo, meio e fim; tramas e subtramas bem amarradas; personagens extremamente realistas e ao mesmo tempo só isso. Só isso? Sim. Para a literatura pós-moderna um romance realista com pano político explícito parece não excitar os entusiastas da literatura contemporânea. Voltando a questão do hype, ele só atrapalha se, como sempre, a pessoa que lerá o livro não sabe absolutamente nada dele e espera algo mais moldado para o gosto atual do que para leitores clássicos.
 
O hype ajuda na decepção, mas não é o grande culpado. Se deve mais ao povo que leu As Correções anteriormente e esperava invencionismo. O grande feito de Liberdade é ser um romance com começo, meio e fim; tramas e subtramas bem amarradas; personagens extremamente realistas e ao mesmo tempo só isso. Só isso? Sim. Para a literatura pós-moderna um romance realista com pano político explícito parece não excitar os entusiastas da literatura contemporânea. Voltando a questão do hype, ele só atrapalha se, como sempre, a pessoa que lerá o livro não sabe absolutamente nada dele e espera algo mais moldado para o gosto atual do que para leitores clássicos.

Os personagens são o ponto forte do livro sim. Aliás, a julgar pelos personagens e pelas tramas e subtramas, Liberdade é um livro muito interessante. Para mim Liberdade é um livro que se voltou mais aos personagens do que propriamente na preocupação com um enredo, embora esse esteja até que bem amarrado, a meu ver.

O que você quer dizer com 'pano político explícito', Pips?
 
O que quero dizer é que, por exemplo, Infinite Jest é uma crítica ao entretenimento e ao detrimento das relações humanas. Porém isso nunca é exaltado no livro, você sabe porque saca o que está de pano de fundo.

Em Liberdade há citações sobre a crise, o envolvimento de Joey com políticos, etc. Tudo envolve, de alguma forma, a política de maneira bem explícita.
 
O que quero dizer é que, por exemplo, Infinite Jest é uma crítica ao entretenimento e ao detrimento das relações humanas. Porém isso nunca é exaltado no livro, você sabe porque saca o que está de pano de fundo.

Em Liberdade há citações sobre a crise, o envolvimento de Joey com políticos, etc. Tudo envolve, de alguma forma, a política de maneira bem explícita.

Ah tá, entendi. :sim:

Mas não acho que seja esse um problema necessariamente, mas o que ele faz com isso. Franzen cita essas informações mais como forma de constituir um pano de fundo, não como forma de se integrarem na história. Há ganchos por toda a parte, com relação aos eventos de 11 de setembro, por exemplo, ou as operações e fraudes financeiras do pós-11 de setembro no Afeganistão, o detalhe é que Franzen não ousou sair muito do senso comum, não disse nada que nos fizesse pensar profundamente sobre aquilo que ele estava falando, justamente porque as críticas que ele aponta no livro são as que a gente acabou ouvindo com maior ou menor radicalidade.

O que acho que seja o acerto do livro foi uma certa mordacidade com que ele trata de temas que ainda pululam pelo imaginário atual através da figura do Walter, como a preservação da mariquita-azul (é esse o nome daquele passarinho, né?) O entendimento do Walter sobre o tema e a paixão com que ele se move para tentar resolvê-lo, para mim, foram retratados com certa mordacidade e ironia, justamente pelo fato de terem redundado, tanto 'profissional' como pessoalmente.

O que tu achou desse Walter-verde Pips?
 
Ah tá, entendi. :sim:

Mas não acho que seja esse um problema necessariamente, mas o que ele faz com isso. Franzen cita essas informações mais como forma de constituir um pano de fundo, não como forma de se integrarem na história. Há ganchos por toda a parte, com relação aos eventos de 11 de setembro, por exemplo, ou as operações e fraudes financeiras do pós-11 de setembro no Afeganistão, o detalhe é que Franzen não ousou sair muito do senso comum, não disse nada que nos fizesse pensar profundamente sobre aquilo que ele estava falando, justamente porque as críticas que ele aponta no livro são as que a gente acabou ouvindo com maior ou menor radicalidade.

Eu não disse que é um problema, mas quando as pessoas precisam criticar alguma obra, precisam pegar o óbvio, falar que é óbvio e por isso perde a graça.

O que acho que seja o acerto do livro foi uma certa mordacidade com que ele trata de temas que ainda pululam pelo imaginário atual através da figura do Walter, como a preservação da mariquita-azul (é esse o nome daquele passarinho, né?) O entendimento do Walter sobre o tema e a paixão com que ele se move para tentar resolvê-lo, para mim, foram retratados com certa mordacidade e ironia, justamente pelo fato de terem redundado, tanto 'profissional' como pessoalmente.

O que tu achou desse Walter-verde Pips?

Não entendi onde você quer chegar exatamente.
 
Eu não disse que é um problema, mas quando as pessoas precisam criticar alguma obra, precisam pegar o óbvio, falar que é óbvio e por isso perde a graça.

É, eu acabei confundindo o que você disse sobre os entusiastas da literatura contemporânea com a sua própria opinião. Pois é, um dos detalhes foi tratar do óbvio, digamos assim, sem explorar algo de maneira mais ousada ou sob outro prisma. De minha parte insisto no fato de que tratar explicitamente de algo não é o problema, mas o que você faz com isso é.

O Franzen não explorou as implicações do 'pano político' na vida dos personagens, eles fizeram mais parte do background do que da trama individual que ele criou e orquestrou bastante bem para cada um desses personagens, com exceção do Walter, mas isso é uma opinião minha. Por exemplo, o Joey se envolveu com a exploração econômica que a invasão do Afeganistão propiciou, mas a informação a esse respeito se encerra por aí, não é usada para entrelaçar-se com o destino que lhe cabe no livro. Parece que quando ele tem o gancho para 'voar mais alto' ele permanece na individualidade, centrado mais no personagem no que nas implicações dele em relação a outros ligados ao evento, ou sobre as implicações morais, políticas etc. sobre o investimento dele.

Não entendi onde você quer chegar exatamente.

O que quis dizer é que, com exceção do final (que achei meio melancólico), a história do Walter contém uma certa mordacidade por parte do autor a respeito das opções políticas dele. Ao mesmo tempo em que Walter paga de bom moço e quer servir de modelo e exemplo para o ativismo, sua vida particular vai degringolando, sua relação com Patty vai indo por água abaixo.

Por isso é que há certa ironia na forma como Franzen conta a história de Walter, porque ele [Walter] parece ser o supra-sumo do bom moço. Ao mesmo tempo quem realmente rouba a cena é o Richard Katz, justamente por não corresponder ao estereótipo do bom moço. Assim como Walter encontra-se em tal situação, também a maneira como ele procura levar a cabo seus projetos se torna questionável. A preocupação dele com a mariquita-azul é várias vezes cômica (só que de uma mordacidade sutil), os que estão ao seu redor, com exceção de Lalitha e da filha dele (que não me lembro o nome), vêem aquilo como algo politicamente correto mas insuficiente diante da magnitude das mazelas ou da especificade daquela preocupação diante de outras tão grandes.

O que 'podou' o potencial de Liberdade é a mesma coisa que faz com que seus personagens sejam tão realistas: é uma história sobre os personagens, não é sobre algo maior ou alguma grande questão metafísica, transcendental ou que versa sobre a natureza humana. Por isso é que falei sobre o hype, talvez essa não fosse a 'intenção' do Franzen, e, ao chamarem Liberdade de 'livro do século' criou-se uma expectativa que não condizia com as ambições do livro.

Mas essa é só uma hipótese, não conheço-o suficientamente para afirmar com mais certeza.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo